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Assim, a Rachel desajeitada e escondida nos dias comuns, durante<br />
o carnaval tornava-se uma personagem mítica. Ela se tornava<br />
aquela que dizia ser sua fantasia, ora uma rainha, ora um palhaço, às<br />
vezes Colombina. Numerosos julgamentos aceitos pelo mundo inteiro<br />
e que a história consagrou, são tão bem fundados quanto os julgamentos<br />
feitos acerca da “Nova Rachel”.<br />
Durante o carnaval, ao vê-la fantasiada, os homens e talvez também<br />
algumas mulheres imaginassem ser ela uma formosa dançarina,<br />
uma prostituta pronta <strong>para</strong> receber seu cliente ou uma princesa linda.<br />
Ela se transformava em tudo isso durante o desfile. O que importava<br />
era o desejo estimulado através de sua roupa cintilante e dos seus requebros,<br />
ainda que incipientes.<br />
Rachel, durante e somente durante o carnaval, estimulava a<br />
imaginação e memória dos homens de Lumeeira. N<strong>esse</strong> período ela<br />
fazia nascer imagens adormecidas em cada uma das cabeças dos que a<br />
fitavam. A partir do estímulo, dentro de cada mente brotavam imagens<br />
coloridas e descoloridas, animadas ou desanimadas, ou qualquer outra<br />
característica existente na mente pronta <strong>para</strong> criar.<br />
Para alguns moradores de Lumeeira e <strong>para</strong> Rachel, este era o período<br />
de felicidade, pois durante o carnaval Rachel se transformava de feia em<br />
bonita, conseguindo, durante os três dias de folia, notoriedade e mesmo a<br />
admiração dos homens que estavam sempre pensando em mulheres.<br />
Assim, durante o desfile, tudo passava a girar em torno de<br />
Rachel, ela era o agente propulsor da felicidade e do prazer dos homens<br />
do lugar. Era seu dia de glória.<br />
Entretanto, essa fantasia sempre teve curta duração, apesar de<br />
seu esforço <strong>para</strong> enganar a si mesma. Aos poucos, a cruel realidade esfacelava<br />
a “rainha” criada artificialmente. Assim, <strong>para</strong> sua infelicidade,<br />
seu sonho durava pouco.<br />
O carnaval de rua, quando ela atingiu sua maioridade, era dirigido<br />
pelo padre Leão. À noite, a partir das 20:00 horas, se reuniam, numa rua ao<br />
lado da rodoviária, o prefeito da cidade, os meninos, os loucos, as prostitutas<br />
e todos os jovens da cidade, acompanhados naturalmente dos pais. Ali,<br />
na rua, todos dançavam juntos, sem discriminações de classe e cor.<br />
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