Clique aqui para baixar esse livro! - Galeno Alvarenga
Clique aqui para baixar esse livro! - Galeno Alvarenga
Clique aqui para baixar esse livro! - Galeno Alvarenga
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Na escola, a não ser <strong>para</strong> os professores, jamais ofereceu parte do<br />
lanche <strong>para</strong> suas colegas, nem mesmo <strong>para</strong> Lúcia. Mas com frequência,<br />
<strong>para</strong> seu sofrimento, um menino mais atrevido, num gesto rápido, roubava-lhe<br />
a maçã ou o bolo. Em seguida saía correndo e gritando pelo<br />
pátio, seguido por companheiros, <strong>para</strong> comemorar a vitória. Rachel,<br />
impotente, chorava copiosamente. Com lágrimas nos olhos procurava<br />
a diretora onde apresentava queixa, que era anotada, como sempre,<br />
pelo encarregado da disciplina. Na saída da escola o incriminado, que<br />
havia sido chamado pelo disciplinador, impreterivelmente a ameaçava<br />
e xingava pelas ruas da cidade.<br />
Mas a pior e mais temível vingança surgia quando o moleque<br />
mais desinibido e lépido, passando por trás do seu corpo desengonçado<br />
e lento, levantava sua saia azul da escola. N<strong>esse</strong> momento ele<br />
gritava <strong>para</strong> todos seus amigos que assistiam à tragicomédia:<br />
—Tá sem, tá sem, tá sem....<br />
Todos olhavam <strong>para</strong> as partes baixas de Rachel. Esta, desajeitada<br />
e cheia de manchas vermelhas, abaixava o mais rápido possível sua saia<br />
e chorava. Rachel jamais xingara alguém usando um nome feio, diante<br />
dos atrevimentos dos colegas. Ela chorava, sinalizando fraqueza e<br />
pedido de clemência, um ato que nunca foi notado e respondido adequadamente.<br />
Na realidade ela sempre estava com suas calcinhas, que<br />
todos viam e todos na cidade já sabiam, eram sempre lisas e brancas.<br />
A brincadeira continuava durante seu trajeto da escola <strong>para</strong> casa e só<br />
terminava com sua chegada.<br />
— Pai, pai! O menino levantou minha saia!<br />
N<strong>esse</strong> momento seu pai era chamado <strong>para</strong> defendê-la. Este, cansado<br />
dessa cena repetitiva, xingava, sem muita convicção, o moleque:<br />
— Moleque safado! Vou falar com seu pai. Se você fizer isso outra<br />
vez eu te pego e chamo o soldado <strong>para</strong> te prender. O menino corria<br />
pela rua, rindo dos dois. Dias depois, a cena era repetida.<br />
Aos dez anos, quando as crianças começam a crescer rapidamente,<br />
ela, por azar, parou de cresceu. Ao entrar na puberdade, seu corpo<br />
mudou. A princípio ficou mais magra ainda do que era, sendo apelidada,<br />
nessa ocasião, de “palito”.<br />
-60-