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Talvez nem tanto, mas, de qualquer modo, fazia o que desejava<br />
antes de me casar. Você me sugou, tornou minha vida intolerável, preso<br />
a você. Sanguessuga! Vaca tonta!<br />
— Já passou <strong>para</strong> mim. Eu sou a culpada? Carlota lembrava que<br />
Quincas, antes de se casar, era um homem divertido, alegre e bondoso,<br />
não o amargo e desesperado que estava à sua frente; “Por que será?”<br />
Pensava a mulher: “Será verdade que eu sou uma carga prejudicial na<br />
vida dele?” Ela sentia uma opressão no coração, lamentava-se, mas ao<br />
mesmo tempo ficava com pena dele. Aproximou-se do marido pouco<br />
a pouco, e olhando-o nos olhos, foi se encostando carinhosamente no<br />
peito dele, esperando acalmá-lo.<br />
— Ora! Não vai me dizer que agora você vai me lamber que nem<br />
uma cadela... resmungava Quincas, fingindo-se de zangado e fazendo<br />
de conta que queria afastá-la de si. Ela sabia que não o faria e apertava<br />
seu braço. Ele se desmanchou em instantes, mudando o tom de voz e<br />
o conteúdo do discurso:<br />
— Oh, Carlota, minha velha! Vivemos mal, muito mal! Brigamos<br />
como feras. Por que será? Será que tudo isso foi determinado<br />
por Deus? Mas por quê? O que fiz <strong>para</strong> merecer isto? Vai ver que isso é<br />
minha sina.<br />
— Nada, nada - disse, aproximando-se mais dele e gostando do<br />
contato.<br />
— Que posso fazer com meu gênio? Agrido-a, sempre que tenho<br />
algum tempo <strong>para</strong> conversar com você. Sei disso. Mas sei também que<br />
só tenho você n<strong>esse</strong> mundo de Deus... Não tenho mais ninguém, o<br />
resto acabou ou está acabando.<br />
— Acalme-se, será melhor <strong>para</strong> você. Abraça-me! Lembre-se do<br />
nosso primeiro abraço.<br />
— Na hora da raiva não me lembro de nada. Não me lembro<br />
do primeiro abraço e nem que estamos sozinhos n<strong>esse</strong> mundo, um<br />
agarrado ao outro, ninguém se interessa em nos socorrer, pois todos,<br />
como nós, estão também se afundando. Todos os velhos como nós<br />
esperam a morte.<br />
— Ora, ainda vamos viver muitos anos.<br />
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