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— Sua cadela que não tem mais cio! Acha que entende alguma<br />

coisa? Carrapato rodoleiro que não desgruda da gente.<br />

— Berrou e berrou feito boi no matadouro, agora late feito cão<br />

danado...<br />

— Sua obrigação é ficar calada. Lugar de mulher é no fogão, pois<br />

não serve mais <strong>para</strong> cama. Não sou criança <strong>para</strong> ficar ouvindo besteiras<br />

ditas por uma professora caduca.<br />

Mas os dois não podiam ficar longe um do outro, talvez eles continuassem<br />

a se amar. A vida que levavam foi mal construída, era aborrecida,<br />

vazia demais. Não tinham inter<strong>esse</strong>s e distrações <strong>para</strong> serem<br />

perseguidos com entusiasmo, permitindo que cada um descansasse do<br />

outro por algum tempo e, d<strong>esse</strong> modo, pud<strong>esse</strong>m alcançar a tendência,<br />

tão humana, que é viver, seguir um caminho, buscar alguma coisa.<br />

Eles estavam presos demais um ao outro, nunca se soltavam, nenhum<br />

vivia <strong>para</strong> si. Se cada um deles tiv<strong>esse</strong> um alvo próprio na vida, nem<br />

que fosse apenas o de colecionar borboletas, plantar orquídeas, cuidar<br />

de um cão ou economizar tostão por tostão, até morrer com milhões,<br />

a vida ser-lhes-ia mais amena e interessante. Mas eles não tinham essas<br />

preocupações, tolas na verdade, mas capazes de dar algum sentido<br />

<strong>para</strong> a suas vidas sem sentido. Eles não tinham nem uma moeda sobrando<br />

<strong>para</strong> guardar num cofrinho.<br />

Mesmo quando não discutiam, tanto um como o outro se queixava,<br />

não <strong>para</strong> fazer acusações, mas apenas como hábito, <strong>para</strong> encher o<br />

tempo vazio. N<strong>esse</strong>s momentos, sem coisa melhor <strong>para</strong> pensar e fazer,<br />

cada um falava a primeira coisa que lhe vinha à cabeça, desconectada<br />

do que o outro falara:<br />

— Eu, mentira?<br />

— Então! Qual vida poderei ter? Qual inter<strong>esse</strong> terei? Não me interessa<br />

nada. Por isso, vou tirar leite, cortar capim, comprar pão. Tudo isso<br />

me diverte, me impede pensar em coisas piores. Quem não é assim?<br />

Não havia claridade na luz que entrava naquelas cabeças: eram<br />

somente raios opacos e oblíquos. Respiravam com dificuldade devido<br />

ao mofo disseminado que penetrara em seus corpos e nas paredes<br />

esburacadas.<br />

-35-

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