09.05.2013 Views

Arquivo - Departamento de Matemática

Arquivo - Departamento de Matemática

Arquivo - Departamento de Matemática

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Configurações <strong>de</strong> Pontos<br />

na Fronteira e no Interior<br />

do Espaço Hiperbólico Real H n R<br />

Lia Feital Fusaro Abrantes<br />

Belo Horizonte 2010


Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

Instituto <strong>de</strong> Ciências Exatas<br />

<strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong><br />

Dissertação <strong>de</strong> Mestrado<br />

Configurações <strong>de</strong> Pontos<br />

na Fronteira e no Interior<br />

do Espaço Hiperbólico Real H n R<br />

por<br />

Lia Feital Fusaro Abrantes<br />

Orientador: Prof. Francisco Dutenhefner<br />

Belo Horizonte 2010


Banca examinadora:<br />

Configurações <strong>de</strong> Pontos na Fronteira e no<br />

Interior do Espaço Hiperbólico Real H n R<br />

Prof. Francisco Dutenhefner.<br />

Prof. Nikolai Alexandrovitch Goussevskii.<br />

Prof. Mário Jorge Dias Carneiro.<br />

Heleno da Silva Cunha (suplente).<br />

Este exemplar correspon<strong>de</strong> à redação<br />

final da dissertação <strong>de</strong>fendida por Lia<br />

Feital Fusaro Abrantes.<br />

Belo Horizonte, 29 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2010.<br />

Prof. Francisco Dutenhefner.<br />

Orientador<br />

Dissertação apresentada ao Instituto <strong>de</strong><br />

Ciências Exatas, ICEX, como requi-<br />

sito parcial para obtenção do título <strong>de</strong><br />

MESTRE EM MATEMÁTICA.


Resumo<br />

Este trabalho consiste em apresentar uma resposta para a seguinte pergunta: dados<br />

(p1, . . . , pk) e (q1, . . . , qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distintos na fronteira do<br />

espaço hiperbólico real, quais são as hipóteses necessárias e suficientes para que exista uma<br />

isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi, para i = 1, . . . , k ?<br />

Primeiramente, tomamos levantamentos dos dois conjuntos pontos na fronteira para<br />

vetores do espaço R n,1 e <strong>de</strong>monstramos que existe uma transformação ortogonal que leva um<br />

conjunto <strong>de</strong> vetores no outro conjunto <strong>de</strong> vetores se, e somente se, as matrizes <strong>de</strong> Gram dos<br />

respectivos conjuntos são iguais. Porém, como cada conjunto <strong>de</strong> pontos possui uma infinida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> levantamentos, as matrizes <strong>de</strong> Gram não são unicamente <strong>de</strong>terminadas. Introduzimos,<br />

então, o conceito <strong>de</strong> matriz <strong>de</strong> Gram normalizada, que é uma matriz <strong>de</strong> Gram com uma<br />

forma especial e única. Daí, resolvemos o problema proposto.<br />

Entretanto, como para o cálculo da matriz <strong>de</strong> Gram normalizada fazemos uma escolha<br />

bastante especial <strong>de</strong> levantamentos, é interessante formular a classificação <strong>de</strong> classes <strong>de</strong><br />

equivalência <strong>de</strong> k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />

em uma linguagem que utilize invariantes<br />

do espaço hiperbólico. Então, respon<strong>de</strong>mos a pergunta proposta mais uma vez, utilizando o<br />

invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann.<br />

Consi<strong>de</strong>rando o caso particular n = 3 e o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior para o espaço<br />

hiperbólico H3 R , conseguimos reescrever os principais resultados obtidos em termos da razão<br />

cruzada clássica.<br />

Por fim, <strong>de</strong>monstramos resultados análogos aos que vimos para pontos na fronteira, e<br />

caracterizamos quando dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos no interior do espaço hiperbólico<br />

real são equivalentes por uma isometria.<br />

Palavras-chave: espaço hiperbólico real, fronteira, isometria, matriz <strong>de</strong> Gram, matriz<br />

<strong>de</strong> Gram normalizada, teoremas <strong>de</strong> Witt, razão cruzada clássica, invariante <strong>de</strong> Korányi-<br />

Riemann, espaço <strong>de</strong> módulos, espaço <strong>de</strong> configurações.


Abstract<br />

This work consists of presenting an answer to the following question: given (p1, . . . , pk)<br />

and (q1, . . . , qk) two or<strong>de</strong>red sets of k distinct points on the boundary of the real hyperbolic<br />

space, which are the necessary and sufficient hypothesis so that there exists an isometry f<br />

of H n R such that f(pi) = qi for i = 1, . . . , k?<br />

First, we consi<strong>de</strong>r lifts of two sets points on the boundary for the vectors on space<br />

R n,1 and <strong>de</strong>monstrate that there is an orthogonal transformation that takes a set of vectors<br />

to another set of vectors if and only if the Gram matrices of the sets are equal. However,<br />

as each set of points has an infinite number of lifts, the Gram matrices are not uniquely<br />

<strong>de</strong>termined. Then, we introduce the concept of normalized Gram matrix, which is a special<br />

and unique Gram matrix. So, we solve our problem.<br />

However, as we choose a very special lift for the calculation of normalized Gram matrix,<br />

it is interesting to formulate the classification of equivalence classes of k-tuple of distinct<br />

points in ∂H n R<br />

in a language which uses invariants of hyperbolic space. Then, we answer the<br />

proposed question again, using the Korányi-Riemann invariant.<br />

Consi<strong>de</strong>ring the particular case n = 3 and the mo<strong>de</strong>l of upper semi-space for the<br />

hyperbolic space H3 R , we rewrite the main results obtained in terms of classical cross-ratio.<br />

Finally, we show similar results to those we saw at the boundary points, and<br />

characterize it when two or<strong>de</strong>red sets of k points in the interior of the real hyperbolic space<br />

are equivalent by an isometry.<br />

Keywords: real hyperbolic space, boundary, isometry, Gram matrix, normalized Gram ma-<br />

trix, Witt theorems, classical cross-ratio, Koranyi-Riemann invariant, moduli space,<br />

configurations space.


Sumário<br />

Introdução 5<br />

1 O espaço <strong>de</strong> Lorentz 9<br />

1.1 O Grupo Ortogonal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11<br />

2 O Espaço Hiperbólico Real H n<br />

R<br />

2.1 O Mo<strong>de</strong>lo Projetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17<br />

2.2 O Mo<strong>de</strong>lo do Hiperbolói<strong>de</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18<br />

2.3 O Mo<strong>de</strong>lo da Bola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19<br />

2.4 O Mo<strong>de</strong>lo do Semi-espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21<br />

2.5 Algumas mudanças <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24<br />

2.6 Translação, dilatação, rotação e inversão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />

2.7 Uma nova base em R n+1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28<br />

2.8 O Grupo Ortogonal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />

2.9 O Espaço Hiperbólico: base E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31<br />

2.10 Translação, dilatação, rotação e inversão: base E . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />

3 A Fronteira 34<br />

4 Formas quadráticas em R n e o Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt 38<br />

4.1 Formas quadráticas em R n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38<br />

4.2 Teoremas <strong>de</strong> Witt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44<br />

4.3 Aplicações do Teorema <strong>de</strong> Witt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50<br />

5 Preliminares Algébricas 59<br />

5.1 Posto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59<br />

5.2 Matrizes <strong>de</strong>finidas positivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61<br />

3<br />

17


6 A matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> k pontos em ∂H n<br />

R<br />

6.1 Classes <strong>de</strong> congruência <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> Gram . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73<br />

6.2 Caracterização <strong>de</strong> matrizes simétricas que são matrizes <strong>de</strong> Gram . . . . . . . 78<br />

6.3 O invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85<br />

6.4 Matrizes <strong>de</strong> Gram e o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann . . . . . . . . . . . . . 87<br />

6.5 O espaço <strong>de</strong> Módulos para C(k, n) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89<br />

7 Quatro pontos distintos na fronteira <strong>de</strong> H 3<br />

R<br />

7.1 A razão cruzada clássica em C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91<br />

7.2 A razão cruzada clássica e o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann . . . . . . . . . 94<br />

8 O espaço <strong>de</strong> k pontos distintos na fronteira <strong>de</strong> H 3<br />

R<br />

8.1 O espaço <strong>de</strong> PSL-configurações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102<br />

8.2 O espaço <strong>de</strong> configurações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104<br />

9 A matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> k pontos no interior <strong>de</strong> H n<br />

R<br />

Bibliografia 116<br />

72<br />

91<br />

102<br />

107


Introdução<br />

O objetivo principal da presente dissertação é apresentar uma resposta para a seguinte<br />

pergunta: quais são as hipóteses necessárias e suficientes para que, dados (p1, . . . , pk) e<br />

(q1, . . . , qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distintos na fronteira do espaço hiperbólico<br />

real, exista uma isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi, para i = 1, . . . , k ?<br />

Para atingir este objetivo, utilizaremos o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann, e para isso<br />

precisamos utilizar o mo<strong>de</strong>lo projetivo para o espaço hiperbólico real. Este mo<strong>de</strong>lo é <strong>de</strong>finido<br />

do seguinte modo: em R n+1 consi<strong>de</strong>re a forma bilinear simétrica 〈·, ·〉 dada por<br />

〈X, Y 〉 = x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1,<br />

sendo X = (x1, . . . , xn, xn+1) e Y = (y1, . . . , yn, yn+1). O espaço vetorial R n+1 munido <strong>de</strong>sta<br />

forma bilinear será <strong>de</strong>notado por R n,1 . Se<br />

V− = {X ∈ R n+1 : 〈X, X〉 < 0}, V0 = {X ∈ R n+1 : 〈X, X〉 = 0}<br />

e se P : R n+1 \ {0} → RP n <strong>de</strong>nota a projeção natural sobre o espaço projetivo real, então o<br />

espaço hiperbólico real H n R po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como P(V−). A fronteira <strong>de</strong> H n R<br />

5<br />

é então dada<br />

por P(V0), os vetores em V− são chamados <strong>de</strong> vetores negativos e os vetores diferentes <strong>de</strong> 0<br />

em V0 são chamados <strong>de</strong> vetores isotrópicos.<br />

Começamos a dissertação, então, apresentando algumas noções básicas sobre o mo<strong>de</strong>lo<br />

projetivo do espaço hiperbólico real. Além disso, <strong>de</strong>finimos outros mo<strong>de</strong>los relevantes para<br />

e apresentamos mudanças <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas que os relacionam. E como no mo<strong>de</strong>lo do semi-<br />

Hn R<br />

espaço superior é bem sabido que o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> Hn R<br />

é gerado por translações,<br />

rotações, dilatações e a inversão, apresentamos matrizes que agem como transformações<br />

ortogonais <strong>de</strong> R n,1 e que induzem estas isometrias em H n R .<br />

Agora observe que se (p1, . . . , pk) e (q1, . . . , qk) são dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos<br />

distintos na fronteira do espaço hiperbólico real, consi<strong>de</strong>rando levantamentos <strong>de</strong>stes pontos


para vetores em R n,1 , obtemos dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> vetores isotrópicos (P1, . . . , Pk)<br />

e (Q1, . . . , Qk). Se T : R n,1 → R n,1 é uma transformação ortogonal tal que T (Pi) = Qi para<br />

todo i, então T induz uma isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi. Deste modo, se carac-<br />

terizamos quando existe uma tal transformação ortogonal T para dados vetores isotrópicos<br />

(P1, . . . , Pk) e (Q1, . . . , Qk), teremos uma resposta para a pergunta que <strong>de</strong>sejamos respon<strong>de</strong>r.<br />

Uma caracterização da existência <strong>de</strong> uma transformação ortogonal T , como no parágrafo<br />

anterior, é apresentada no capítulo 4 da dissertação. Entretanto, em tal capítulo, caracteri-<br />

zamos a existência <strong>de</strong>sta transformação num caso mais geral. Lá consi<strong>de</strong>ramos dois conjuntos<br />

or<strong>de</strong>nados (P1, . . . , Pk) e (Q1, . . . , Qk) <strong>de</strong> quaisquer k vetores em R n,1 , não<br />

necessariamente <strong>de</strong> vetores isotrópicos, e caracterizamos quando existe uma transformação<br />

ortogonal T : R n,1 → R n,1 tal que T (Pi) = Qi para i = 1, 2, . . . , k. Para enten<strong>de</strong>r esta<br />

caracterização, observe primeiramente que se existe uma tal transformação ortogonal T ,<br />

então 〈Pi, Pj〉 = 〈Qi, Qj〉 para todo i, j = 1, 2, . . . , k. Assim se consi<strong>de</strong>ramos a matriz<br />

<strong>de</strong> Gram GP = ( 〈Pi, Pj〉 ) dos vetores (P1, . . . , Pk) e se consi<strong>de</strong>ramos a matriz <strong>de</strong> Gram<br />

GQ = ( 〈Qi, Qj〉 ) dos vetores (Q1, . . . , Qk), então estas duas matrizes <strong>de</strong>vem ser iguais:<br />

GP = GQ<br />

Além disso, se existe uma tal transformação ortogonal, como T é um isomorfismo linear<br />

<strong>de</strong> R n+1 , se existir algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência linear entre os vetores P1, . . . , Pk, então o<br />

mesmo tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência linear também existe entre os vetores Q1, . . . , Qk. Esta condição<br />

po<strong>de</strong> ser resumida através da equivalência:<br />

se λ = (λ1, λ2, . . . , λk) ∈ R k então, k<br />

i=1 λi Pi = 0 ⇔ k<br />

i=1 λi Qi = 0 . (**)<br />

Deste modo, as condições (*) e (**) são condições necessárias para a existência da<br />

<strong>de</strong>sejada transformação ortogonal T tal que T (Pi) = Qi. Na seção 4.3 da dissertação,<br />

<strong>de</strong>monstramos que estas condições também são condições suficientes para a existência <strong>de</strong> T ,<br />

ou seja, <strong>de</strong>monstramos o seguinte teorema.<br />

Teorema: Sejam (P1, . . . , Pk) e (Q1, . . . , Qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em R n,1 .<br />

Existe uma transformação ortogonal T <strong>de</strong> R n,1 tal que T (Pi) = Qi para i = 1, 2, . . . , k se, e<br />

somente se, as condições (*) e (**) são satisfeitas.<br />

Como na <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ste teorema utilizamos o Teorema <strong>de</strong> Witt, apresentamos,<br />

nas seções 4.1 e 4.2, um estudo <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> formas quadráticas e formas bilineares simétricas<br />

em R n que permitiram incluir na dissertação uma <strong>de</strong>monstração do Teorema <strong>de</strong> Witt.<br />

6<br />

(*)


No capítulo 5, utilizamos o teorema enunciado acima para o caso <strong>de</strong> vetores isotrópicos.<br />

Neste caso, consi<strong>de</strong>ramos dois conjuntos or<strong>de</strong>nados (p1, . . . , pk) e (q1, . . . , qk) <strong>de</strong> k pon-<br />

tos distintos em ∂H n R<br />

e, consi<strong>de</strong>rando levantamentos, obtemos dois conjuntos or<strong>de</strong>nados<br />

(P1, . . . , Pk) e (Q1, . . . , Qk) <strong>de</strong> k vetores isotrópicos. Se este é o caso, <strong>de</strong>monstramos que<br />

a condição (**) é uma consequência da condição (*) e <strong>de</strong>monstramos então o seguinte<br />

teorema.<br />

Teorema: Sejam (p1, . . . , pk) e (q1, . . . , qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distin-<br />

tos em ∂H n R e, consi<strong>de</strong>rando respectivos levantamentos <strong>de</strong>sses pontos, sejam (P1, . . . , Pk) e<br />

(Q1, . . . , Qk) conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores isotrópicos em R n,1 . Então existe uma trans-<br />

formação ortogonal T <strong>de</strong> R n,1 tal que T (Pi) = Qi para i = 1, 2, . . . , k se, e somente se, a<br />

condição (*) é satisfeita.<br />

Entretanto, este teorema ainda não apresenta uma caracterização para a existência<br />

<strong>de</strong> uma isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi. Isto porque, neste teorema consi<strong>de</strong>ramos<br />

levantamentos <strong>de</strong> p1, . . . , pk e <strong>de</strong> q1, . . . , qk e apresentamos uma condição, GP = GQ, em<br />

termos <strong>de</strong>sses levantamentos. Entrentanto, como um ponto em ∂H n R<br />

possui uma infinida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> levantamentos, o teorema anterior não caracteriza a existência da isometria f, pois as<br />

matrizes GP e GQ não são únicamente <strong>de</strong>terminadas pelos conjuntos <strong>de</strong> pontos (p1, . . . , pk)<br />

e (q1, . . . , qk). Para ultrapassar esta dificulda<strong>de</strong>, dado um conjunto <strong>de</strong> pontos distintos p =<br />

(p1, . . . , pk) na fronteira do espaço hiperbólico real, mostramos que existe um conjunto <strong>de</strong><br />

respectivos levantamentos P = (P1, . . . , Pk) tal que a matriz <strong>de</strong> Gram GP possui uma forma<br />

especial e única, chamada <strong>de</strong> matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> p. Utilizando esta matriz<br />

<strong>de</strong> Gram normalizada, obtemos no capítulo 6 o seguinte resultado.<br />

Teorema: Sejam p = (p1, . . . , pk) e q = (q1, . . . , qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos<br />

distintos em ∂H n R . Existe uma isometria f <strong>de</strong> Hn R tal que f(pi) = qi para i = 1, 2, . . . , k se,<br />

e somente se, as matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> p e <strong>de</strong> q são iguais.<br />

Além <strong>de</strong>ste resultado, no capítulo 6 caracterizamos quais matrizes que tem a forma<br />

<strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong> Gram normalizada realmente são matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong><br />

k pontos distintos em ∂Hn R . Esta caracterização utiliza uma caracterização <strong>de</strong> matrizes<br />

<strong>de</strong>finidas positivas. Por este motivo, no capítulo 5 apresentamos um estudo <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong><br />

matrizes <strong>de</strong>finidas positivas, com as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> todos os teoremas que são utilizados<br />

nos capítulos subsequentes da dissertação.<br />

7


Do teorema anterior, e da caracterização <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas, vemos<br />

então que a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong>termina a existência <strong>de</strong> uma<br />

isometria entre duas k-uplas <strong>de</strong> pontos distintos em ∂Hn R . Entretanto, como um ponto em<br />

∂H n R<br />

possui vários levantamentos, como as entradas <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da<br />

escolha dos levantamentos, e como para o cálculo da matriz <strong>de</strong> Gram normalizada fazemos<br />

uma escolha bastante especial <strong>de</strong> levantamentos, é interessante trocar a classificação <strong>de</strong><br />

classes <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />

da linguagem <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong><br />

Gram normalizadas, para uma linguagem que utilize invariantes do espaço hiperbólico. O<br />

invariante escolhido neste caso foi o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann, <strong>de</strong>finido do seguinte<br />

modo. Sejam p1, p2, p3 e p4 quatro pontos distintos na fronteira do espaço hiperbólico real.<br />

O invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann <strong>de</strong>sses pontos é o número real χ(p1, p2, p3, p4) <strong>de</strong>finido<br />

por:<br />

χ(p1, p2, p3, p4) = 〈P1, P3〉〈P2, P4〉<br />

〈P1, P2〉〈P3, P4〉<br />

sendo P1, P2, P3 e P4 vetores isotrópicos em R n,1 que se projetam, respectivamente em p1,<br />

p2, p3 e p4.<br />

Este invariante se mostrou a<strong>de</strong>quado para o que <strong>de</strong>senvolvemos pois ele não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da<br />

escolha dos levantamentos P1, P2, P3 e P4. Assim, reescrevendo os resultados do capítulo 6,<br />

trocando hipóteses sobre matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas para hipóteses sobre invariantes <strong>de</strong><br />

Korányi-Riemann, conseguimos associar a uma k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />

uma lista<br />

<strong>de</strong> invariantes que possuem a seguinte proprieda<strong>de</strong>: duas <strong>de</strong>ssas k-uplas serão equivalentes<br />

se, e somente se, estas listas <strong>de</strong> invariantes forem iguais para estes dois conjuntos <strong>de</strong> pontos.<br />

Assim, no final do capítulo 6 apresentamos uma resposta para a pergunta colocada<br />

no início <strong>de</strong>sta introdução, e que era o objetivo principal <strong>de</strong>sta dissertação. Entretanto,<br />

consi<strong>de</strong>rando o caso particular n = 3 e o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior para o espaço<br />

hiperbólico H3 R , conseguimos reescrever os teoremas do capítulo 6 em termos da razão<br />

cruzada clássica<br />

[z1, z2, z3, z4] = (z1 − z3)(z2 − z4)<br />

(z1 − z2)(z3 − z4) ,<br />

<strong>de</strong>finida em C ∼ = ∂H3 R . Isto é feito com todo o <strong>de</strong>talhe para k = 4 no capítulo 7 e para<br />

qualquer k no capítulo 8.<br />

No último capítulo da dissertação, <strong>de</strong>monstramos resultados análogos aos que vimos<br />

para pontos na fronteira, e caracterizamos quando dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos no<br />

interior do espaço hiperbólico real são equivalentes por uma isometria.<br />

8


Capítulo 1<br />

O espaço <strong>de</strong> Lorentz<br />

Neste capítulo, veremos algumas consi<strong>de</strong>rações preliminares para iniciarmos o estudo<br />

da geometria hiperbólica. Primeiramente, vamos <strong>de</strong>finir uma forma bilinear simétrica em<br />

R n+1 e o espaço <strong>de</strong> Lorentz, R n,1 . Em seguida, vamos ver as <strong>de</strong>finições básicas para construir<br />

o grupo ortogonal e os principais resultados <strong>de</strong> R n,1 .<br />

Sejam X = (x1, · · · , xn, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn, yn+1) vetores <strong>de</strong> R n+1 . Consi<strong>de</strong>re a<br />

forma bilinear simétrica 〈·, ·〉 <strong>de</strong> assinatura (n, 1)<br />

〈X, Y 〉 = x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1. (1.1)<br />

O espaço vetorial real R n+1 munido da forma bilinear simétrica (1.1) é chamado espaço<br />

<strong>de</strong> Lorentz e <strong>de</strong>notado por R n,1 .<br />

Consi<strong>de</strong>re os seguintes sub-conjuntos <strong>de</strong> R n,1 :<br />

V0 = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 = 0}<br />

V− = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 < 0}<br />

V+ = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 > 0}<br />

Os vetores em V0, V− e V+, são chamados, respectivamente, <strong>de</strong> vetores nulos, nega-<br />

tivos e positivos. Se x ∈ V0 e x = −→ 0 , então x é isotrópico.<br />

Note que se um vetor X = (x1, · · · , xn, xn+1) é negativo, então x 2 1 + · · · + x 2 n − x 2 n+1 < 0<br />

e isso implica que xn+1 = 0. Chamaremos um tal vetor X <strong>de</strong> vetor negativo especial se<br />

xn+1 > 0 e vamos <strong>de</strong>notar por SV− o conjunto dos vetores negativos especiais <strong>de</strong> R n,1 :<br />

SV− = {X = (x1, · · · , xn, xn+1) ∈ R n,1 : 〈X, X〉 < 0 e xn+1 > 0}.<br />

9


Além disso, se X é um vetor negativo <strong>de</strong> R n,1 , sempre existe um múltiplo <strong>de</strong> X que é<br />

vetor negativo especial.<br />

Teorema 1.1. Sejam X e Y vetores negativos especiais em R n,1 e seja t > 0. Então:<br />

1. O vetor tX é negativo especial.<br />

2. O vetor X + Y é negativo especial.<br />

Demonstração.<br />

1. 〈tX, tX〉 = t 2 〈X, X〉 < 0, pois X é vetor negativo. Além disso, se X é negativo<br />

especial, então a (n + 1)-ésima coor<strong>de</strong>nada, xn+1, <strong>de</strong> X é um número positivo, logo, a<br />

(n + 1)-ésima coor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> tX, txn+1, também é positiva e tX é negativo especial.<br />

2. Sejam X = (x1, · · · , xn, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn, yn+1). Como X é negativo espe-<br />

cial, temos que x 2 1 + · · · + x 2 n < x 2 n+1 e xn+1 > 0 implica que x 2 1 + · · · + x 2 n < xn.<br />

Analogamente, Y é negativo especial, então y 2 1 + · · · + y 2 n < y 2 n+1 e yn > 0 implica que<br />

y 2 1 + · · · + y 2 n < yn+1. Concluímos, então, que<br />

ou seja,<br />

<br />

x2 1 + · · · + x2 <br />

n + y2 1 + · · · y2 n < xn+1 + yn+1<br />

x 2 1 + · · · + x 2 n + y 2 1 + · · · + y 2 n<br />

2 < (xn+1 + yn+1) 2<br />

e<br />

2<br />

x1 + · · · + x 2 <br />

n + 2 x2 1 + · · · + x2 <br />

n y2 1 + · · · + y2 n + y 2 1 + · · · + y 2 n<br />

Mas, da Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cauchy-Schwartz, temos que<br />

<br />

x1y1 + · · · + xnyn ≤ x2 1 + · · · + x2 <br />

n y2 1 + · · · + y2 n.<br />

Logo,<br />

< (xn+1 + yn+1) 2 .<br />

2<br />

x1 + · · · + x 2 2<br />

n + 2 x1y1 + · · · + xnyn + y1 + · · · + y 2 n < (xn+1 + yn+1) 2<br />

⇒ (x1 + y1) 2 + · · · + (xn + yn) 2 − (xn+1 + yn+1) 2 < 0<br />

Portanto, o vetor X + Y = (x1 + y1, · · · , xn + yn, xn+1 + yn+1) é negativo. E como<br />

xn+1 + yn+1 > 0, então X + Y é negativo especial, como queríamos.<br />

10


Corolario 1.1. O conjunto SV− dos vetores negativos especiais é um subconjunto convexo<br />

<strong>de</strong> R n,1 .<br />

Demonstração. Se X e Y são vetores negativos especiais e 0 < t < 1 então, pelo teorema<br />

1.1, temos que (1 − t)X + tY é vetor negativo especial.<br />

1.1 O Grupo Ortogonal<br />

Definição 1.1. Uma aplicação linear T : R n,1 → R n,1 é dita ortogonal se T preserva a<br />

forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida acima em R n,1 , ou seja, se<br />

〈T (X), T (Y )〉 = 〈X, Y 〉, para todo X, Y ∈ R n,1 .<br />

Definição 1.2. Uma base {V1, · · · , Vn+1} <strong>de</strong> R n,1 é uma base ortonormal se<br />

〈V1, V1〉 = 1, · · · , 〈Vn, Vn〉 = 1, 〈Vn+1, Vn+1〉 = −1 e 〈Vi, Vj〉 = 0 para i = j.<br />

Observe que a base canônica {e1, · · · , en+1} <strong>de</strong> R n+1 é uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />

Teorema 1.2. A aplicação T : R n,1 → R n,1 é ortogonal se, e somente se, T é linear e<br />

{T (e1), · · · , T (en+1)} é uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />

Demonstração. Suponha que T seja uma aplicação ortogonal. Então, por <strong>de</strong>finição, T é<br />

aplicação linear tal que:<br />

e<br />

〈T (e1), T (e1)〉 = 〈e1, e1〉 = 1,<br />

.<br />

〈T (en), T (en)〉 = 〈en, en〉 = 1,<br />

〈T (en+1), T (en+1)〉 = 〈en+1, en+1〉 = −1,<br />

〈T (ei), T (ej)〉 = 〈ei, ej〉 = 0 para i = j.<br />

Assim, {T (e1), · · · , T (en+1)} é uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />

11


Por outro lado, suponha que T é linear e que {T (e1), · · · , T (en+1)} é uma base orto-<br />

normal <strong>de</strong> R n,1 . Então, T é uma transformação ortogonal, pois<br />

〈T (x), T (y)〉 =<br />

=<br />

<br />

n+1<br />

T<br />

i=1<br />

n+1<br />

xiei<br />

<br />

, T<br />

<br />

<br />

xiT (ei) ,<br />

i=1<br />

n+1 n+1<br />

n+1<br />

<br />

j=1<br />

n+1<br />

<br />

j=1<br />

yjej<br />

<br />

= xiyj〈T (ei), T (ej)〉<br />

i=1<br />

j=1<br />

<br />

<br />

yjT (ej)<br />

= x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1 = 〈x, y〉.<br />

Definição 1.3. Uma matriz real (n + 1) × (n + 1) A é dita uma matriz ortogonal se a<br />

aplicação linear T : R n,1 → R n,1 <strong>de</strong>finida por T (X) = A.X for ortogonal, em que X é a<br />

matriz coluna que contém as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> X na base canônica <strong>de</strong> R n,1 .<br />

O próximo teorema segue imediatamente do teorema 1.2 e das <strong>de</strong>finições acima.<br />

Teorema 1.3. Seja T : R n,1 → R n,1 uma aplicação linear e seja A a matriz <strong>de</strong> T na base<br />

canônica <strong>de</strong> R n+1 . Então, as seguintes <strong>de</strong>finições são equivalentes:<br />

1. T é aplicação ortogonal <strong>de</strong> R n,1 .<br />

2. A é uma matriz ortogonal.<br />

3. As colunas <strong>de</strong> A formam uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />

4. A matriz A satisfaz a igualda<strong>de</strong> AtIn,1A = In,1, em que<br />

⎡<br />

⎤<br />

1<br />

⎢<br />

In,1 = ⎢<br />

⎣<br />

. ..<br />

1<br />

0<br />

⎥ .<br />

⎥<br />

⎦<br />

0 −1<br />

5. A matriz A satisfaz a igualda<strong>de</strong> AIn,1A t = In,1.<br />

6. As linhas <strong>de</strong> A formam uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />

12


Observações:<br />

• O conjunto <strong>de</strong> todas as matrizes ortogonais (n + 1) × (n + 1), juntamente com a<br />

operação <strong>de</strong> multiplicação <strong>de</strong> matrizes forma o grupo ortogonal O(n, 1). Pelo teorema<br />

1.3, esse grupo é naturalmente isomorfo ao grupo <strong>de</strong> todas as transformações ortogonais<br />

T : R n,1 → R n,1 munido da operação <strong>de</strong> composição <strong>de</strong> funções.<br />

• Se A ∈ O(n, 1), como A t In,1A = In,1, segue que In,1A t In,1A = Id. Logo A é invertível<br />

e A −1 = In,1A t In,1. Evi<strong>de</strong>ntemente, A −1 ∈ O(n, 1).<br />

• Observe agora que se A ∈ O(n, 1), como A t In,1A = In,1, temos que (<strong>de</strong>t A) 2 = 1,<br />

então <strong>de</strong>t A = ±1. Se SO(n, 1) representa o subgrupo das matrizes A ∈ O(n, 1) tais que<br />

<strong>de</strong>t A = 1, então SO(n, 1) é um subgrupo <strong>de</strong> índice dois <strong>de</strong> O(n, 1). O grupo SO(n, 1) é<br />

chamado o grupo ortogonal especial.<br />

• Pelo corolário 1.1, o conjunto <strong>de</strong> vetores negativos <strong>de</strong> R n,1 tem duas componentes<br />

conexas: o conjunto dos vetores negativos especiais (xn+1 > 0) e o seu complementar em<br />

V− (xn+1 < 0). Uma matriz ortogonal A evi<strong>de</strong>ntemente transforma vetores negativos em<br />

vetores negativos. Agora, dizemos que uma tal matriz A é positiva se A transforma vetores<br />

negativos especiais em vetores negativos especiais.<br />

• O grupo O + (n, 1) das matrizes ortogonais positivas é um subgrupo <strong>de</strong> índice dois <strong>de</strong><br />

O(n, 1). Analogamente, o grupo SO + (n, 1) das matrizes ortogonais positivas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminante<br />

igual a 1 é um subgrupo <strong>de</strong> índice dois <strong>de</strong> SO(n, 1).<br />

especial.<br />

• O + (n, 1) é o grupo ortogonal positivo e SO + (n, 1) é o grupo ortogonal positivo<br />

Definição 1.4. Dois vetores X e Y <strong>de</strong> R n+1 são ortogonais em R n,1 se, e somente se,<br />

〈X, Y 〉 = 0.<br />

Teorema 1.4. Sejam X e Y vetores ortogonais em R n,1 . Se X é negativo e Y = 0, então<br />

Y é positivo.<br />

Demonstração. Se X = (x1, · · · , xn, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn, yn+1), então<br />

Daí,<br />

〈X, Y 〉 = 0 ⇒ x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1 = 0 ⇒ yn+1 = x1y1 + · · · + xnyn<br />

.<br />

xn+1<br />

xn+1<br />

〈Y, Y 〉 = y 2 1 + · · · + y 2 n − y 2 n+1 = y 2 1 + · · · + y 2 2 x1y1 + · · · + xnyn<br />

n −<br />

.<br />

Mas, da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cauchy-Schwartz, temos que<br />

<br />

x1y1 + · · · + xnyn ≤ x2 1 + · · · + x2 <br />

n y2 1 + · · · + y2 n,<br />

13


don<strong>de</strong> concluímos que<br />

Portanto,<br />

x1y1 + · · · + xnyn<br />

xn+1<br />

2<br />

≤ (x21 + · · · + x2 n)(y2 1 + · · · + y2 n)<br />

x2 .<br />

n+1<br />

〈Y, Y 〉 ≥ y2 1 + · · · + y2 n − (x21 + · · · + x2 n)(y2 1 + · · · + y2 n)<br />

x2 n+1<br />

= (y 2 1 + · · · + y 2 <br />

n) 1 − x21 + · · · + x2 n<br />

x2 <br />

n+1<br />

= − (y2 1 + · · · + y2 n)(x2 1 + · · · + x2 n − x2 n+1)<br />

x2 ≥ 0.<br />

n+1<br />

Além disso, se 〈Y, Y 〉 = 0, concluímos que (y2 1 + · · · + y 2 n)(x 2 1 + · · · + x 2 n − x 2 n+1)<br />

Mas como X é negativo, vemos que y 2 1 + · · · + y 2 n = 0, o que implica que y1 = · · · = yn = 0.<br />

E como yn+1 = x1y1 + · · · + xnyn<br />

, vemos que yn+1 também é igual a zero, don<strong>de</strong> concluímos<br />

xn+1<br />

x 2 n+1<br />

que Y = 0, o que é um absurdo, pois Y é não nulo. Logo, 〈Y, Y 〉 > 0.<br />

Teorema 1.5. Seja V um vetor negativo <strong>de</strong> Rn,1 tal que 〈V, V 〉 =<br />

<br />

−1. Então, existe<br />

<br />

uma<br />

t<br />

matriz ortogonal A ∈ O(n, 1) tal que A · en+1 = V , em que en+1 = 0 · · · 0 1 .<br />

Demonstração. Complete o conjunto {V } a uma base {V1, · · · , Vn, V } <strong>de</strong> R n,1 . Vamos aplicar<br />

o processo <strong>de</strong> ortogonalização <strong>de</strong> Gram-Schmidt para transformar essa base em uma base<br />

ortonormal <strong>de</strong> R n,1 . Para isso <strong>de</strong>fina<br />

W1 = V1 + 〈V1, V 〉V.<br />

Assim, W1 = −→ 0 pois V1 e V são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Além disso,<br />

〈W1, V 〉 = 〈V1, V 〉 + 〈V1, V 〉〈V, V 〉 = 〈V1, V 〉 − 〈V1, V 〉 = 0.<br />

Então, o teorema 1.4 implica que W1 é vetor positivo. Desse modo, se<br />

U1 =<br />

então 〈U1, U1〉 = 1. De forma análoga, <strong>de</strong>finimos<br />

1<br />

〈W1, W1〉 W1<br />

14<br />

= 0.


W2 = V2 + 〈V2, V 〉V − 〈V2, U1〉U1,<br />

1<br />

U2 = <br />

〈W2, W2〉 W2,<br />

.<br />

Wn = Vn + 〈Vn, V 〉V − 〈Vn, U1〉U1 − · · · − 〈Vn, Un−1〉Un−1,<br />

1<br />

Un = <br />

〈Wn, Wn〉 Wn,<br />

Suponha por indução que 〈Wi, V 〉 = 0 para todo i ≤ k. Nesse caso, como Ui é múltiplo<br />

<strong>de</strong> Wi, teríamos 〈Ui, V 〉 = 0 para todo i ≤ k. Então,<br />

〈Wk+1, V 〉 = 〈Vk+1, V 〉 + 〈Vk+1, V 〉〈V, V 〉− 〈Vk+1, U1〉〈U1, V 〉 − · · · − 〈Vk+1, Uk〉〈Uk, V 〉<br />

<br />

= 〈Vk+1, V 〉 − 〈Vk+1, V 〉 0<br />

= 0.<br />

Ou seja, mostramos que V e Wi são ortogonais para todo i = 1, · · · , n e pelo teorema<br />

1.4, Wi são vetores positivos. Então 〈Ui, Ui〉 = 1 e {U1, · · · , Un, V } é uma base ortonormal<br />

<strong>de</strong> Rn,1 <br />

<br />

. Do teorema 1.3, concluímos que a matriz A = U1 · · · Un V que tem colunas<br />

iguais aos vetores U1, · · · , Un e V é uma matriz ortogonal, isto é, A ∈ O(n, 1). De<br />

concluímos a <strong>de</strong>monstração.<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎢ . ⎥<br />

A · ⎢ ⎥ = V,<br />

⎢<br />

⎣ 0 ⎥<br />

⎦<br />

1<br />

Teorema 1.6. Sejam X e Y vetores negativos em R n,1 . Então<br />

〈X, Y 〉 2 ≥ 〈X, X〉〈Y, Y 〉.<br />

Demonstração. Se A ∈ O(n, 1), então, como A preserva a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> R n,1 ,<br />

para provar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejada, po<strong>de</strong>mos substituir X por AX e Y por AY . Além<br />

disso, se 〈X, X〉 = t < 0 e U = 1<br />

√ −t X, então U é vetor negativo, com 〈U, U〉 = −1. Logo,<br />

pelo teorema 1.5, existe A ∈ O(n, 1) tal que AU = en+1. Ou seja, AX = √ −ten+1. Destas<br />

observações, po<strong>de</strong>mos assumir, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que<br />

15


Então, temos que<br />

X = xn+1en+1 = (0, · · · , 0, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn+1).<br />

〈X, X〉〈Y, Y 〉 = −x 2 n+1(y 2 1 + · · · + y 2 n − y 2 n+1)<br />

= −x 2 n+1(y 2 1 + · · · + y 2 n) + x 2 n+1y 2 n+1<br />

≤ x 2 n+1y 2 n+1 = 〈X, Y 〉 2 .<br />

Observação: O teorema anterior implica que se X e Y são vetores negativos em Rn,1 ,<br />

〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />

então ≥ 1. Logo, existe um único número não negativo η(X, Y ) tal que<br />

〈X, X〉〈Y, Y 〉<br />

〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />

〈X, X〉〈Y, Y 〉 = cosh2 (η(X, Y )).<br />

16


Capítulo 2<br />

O Espaço Hiperbólico Real H n R<br />

Este capítulo é <strong>de</strong>dicado às <strong>de</strong>finições básicas do espaço hiperbólico real n-dimensional,<br />

em que serão apresentados os seguintes mo<strong>de</strong>los: mo<strong>de</strong>lo projetivo, mo<strong>de</strong>lo do hiperbolói<strong>de</strong>,<br />

mo<strong>de</strong>lo da bola e o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior. Além disso, vamos ver algumas mu-<br />

danças <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas que relacionam esses mo<strong>de</strong>los e também <strong>de</strong>duziremos matrizes em<br />

O(n, 1) que representam translação, dilatação, rotação e inversão em H n<br />

R.<br />

2.1 O Mo<strong>de</strong>lo Projetivo<br />

Como no capítulo 1, <strong>de</strong>notaremos por R n,1 o espaço vetorial real R n+1 munido da forma<br />

bilinear simétrica 〈·, ·〉 <strong>de</strong> assinatura (n, 1)<br />

〈X, Y 〉 = x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1,<br />

sendo X = (x1, · · · , xn+1) e Y = (y1, · · · , yn+1).<br />

Seja V− = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 < 0} o conjunto dos vetores negativos <strong>de</strong> R n,1 . Se<br />

P : R n,1 \{0} → RP n <strong>de</strong>nota a projeção natural sobre o espaço projetivo, então o espaço<br />

hiperbólico real é o conjunto H n<br />

R = P(V−). Desse modo, po<strong>de</strong>mos dizer que H n<br />

R é o conjunto<br />

das linhas negativas <strong>de</strong> R n,1 .<br />

Em H n<br />

R consi<strong>de</strong>ra-se a seguinte métrica: se x e y são pontos <strong>de</strong> H n<br />

R, então a distância<br />

dH(x, y) entre x e y é <strong>de</strong>finida por<br />

dH(x, y) = η(X, Y ),<br />

em que a função η foi <strong>de</strong>finida na observação da página 16, e em que X e Y são vetores<br />

negativos em R n,1 que se projetam em x e y respectivamente. Chamamos, neste caso, X e<br />

17


Y <strong>de</strong> levantamentos <strong>de</strong> x e y. Desse modo, tem-se que dH(x, y) é o único número real não<br />

negativo tal que<br />

cosh 2 (dH(x, y)) =<br />

〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />

. (2.1)<br />

〈X, X〉〈Y, Y 〉<br />

Observe que quaisquer outros levantamentos <strong>de</strong> x e y são múltiplos <strong>de</strong> X e Y . Assim,<br />

se escolhermos λ1X e λ2Y como levantamentos <strong>de</strong> x e y, temos que<br />

x e y.<br />

cosh 2 (dH(x, y)) = 〈λ1X, λ2Y 〉〈λ2Y, λ1X〉<br />

〈λ1X, λ1X〉〈λ2Y, λ2Y 〉 = λ2 1λ 2 2〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />

λ 2 1λ 2 2〈X, X〉〈Y, Y 〉<br />

= 〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />

〈X, X〉〈Y, Y 〉 .<br />

Ou seja, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> dH(x, y) não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha dos levantamentos X e Y <strong>de</strong><br />

A cada aplicação linear ortogonal T ∈ O(n, 1), po<strong>de</strong>mos associar uma aplicação f :<br />

RP n → RP n <strong>de</strong>finida por f(x) = P(T (X)), sendo X um vetor que se projeta em x. Como<br />

T é linear, essa aplicação está bem <strong>de</strong>finida, pois não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha do levantamento<br />

X <strong>de</strong> x. E como T preserva o produto escalar <strong>de</strong> R n,1 , segue que T transforma vetores<br />

negativos em vetores negativos, e assim, a aplicação induzida f se restringe a uma isometria<br />

f : H n<br />

R → H n<br />

R do espaço hiperbólico real. O conjunto das aplicações f obtidas <strong>de</strong>sse modo é<br />

<strong>de</strong>notado por P O(n, 1).<br />

Temos, então, que P O(n, 1) ⊂ Isom(H n<br />

R). Entretanto, vamos mostrar na observação<br />

da página 28 que P O(n, 1) = Isom(H n<br />

R).<br />

2.2 O Mo<strong>de</strong>lo do Hiperbolói<strong>de</strong><br />

Seja X = (x1, · · · , xn+1) ∈ R n+1 . Note que a equação 〈X, X〉 = −1, representa<br />

geometricamente o hiperbolói<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas folhas<br />

em R n+1 . O conjunto<br />

−(x 2 1 + · · · + x 2 n) + x 2 n+1 = 1<br />

F n = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 = −1 e xn+1 > 0}<br />

é uma das folhas <strong>de</strong>sse hiperbolói<strong>de</strong>. Como cada reta negativa <strong>de</strong> R n,1 intersecta F n em um<br />

único ponto, segue que o conjunto F n possui uma correspondência natural com H n<br />

R.<br />

Utilizando a expressão (2.1), a distância dF (X, Y ) entre pontos X e Y <strong>de</strong> F n é tal que<br />

18


cosh 2 (dF (x, y)) =<br />

〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />

〈X, X〉〈Y, Y 〉 = 〈X, Y 〉2 .<br />

Segue que cosh(dF (X, Y )) = |〈X, Y 〉|. Entretanto, da <strong>de</strong>monstração do teorema 1.6,<br />

po<strong>de</strong>mos assumir, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que<br />

X = xn+1en+1 = (0, · · · , 0, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn+1).<br />

e então vemos que 〈X, Y 〉 = −xn+1yn+1 < 0 para quaisquer X e Y em F n . Assim, concluímos<br />

que, nesse caso,<br />

cosh(dF (X, Y )) = −〈X, Y 〉. (2.2)<br />

O conjunto F n munido da métrica dF é o mo<strong>de</strong>lo do hiperbolói<strong>de</strong> do espaço<br />

hiperbólico real H n<br />

R.<br />

2.3 O Mo<strong>de</strong>lo da Bola<br />

I<strong>de</strong>ntifique R n com R n × {0} em R n+1 . Seja B n = {x ∈ R n : |x| < 1} a bola aberta<br />

unitária centrada na origem, em que |x| é a norma euclidiana. A projeção estereográfia ζ <strong>de</strong><br />

B n sobre F n é <strong>de</strong>finida da seguinte forma: se x ∈ B n , então ζ(x) é a interseção <strong>de</strong> F n com<br />

a reta que passa por −en+1 e x. Como ζ(x) está sobre a reta que passa por x e tem vetor<br />

diretor x + en+1, então existe um escalar λ tal que ζ(x) = x + λ(x + en+1). Para ζ(x) ∈ F n ,<br />

temos 〈ζ(x), ζ(x)〉 = −1. Como x = (x1, · · · , xn, 0) ∈ B n , então 〈x, en+1〉 = 0. Logo, temos<br />

que<br />

−1 = 〈ζ(x), ζ(x)〉 = 〈x+λx+λen+1, x+λx+λen+1〉 = 〈x, x〉+λ〈x, x〉+λ〈x, x〉+λ 2 〈x, x〉−λ 2<br />

⇔ λ 2 (|x| 2 − 1) + 2λ|x| 2 + |x| 2 + 1 = 0 ⇔ (λ + 1)(λ(|x| 2 − 1) + |x| 2 + 1) = 0.<br />

Se λ = −1, ζ(x) = −en+1. E como −en+1 não pertence a F n , então<br />

ou seja,<br />

λ =<br />

1 + |x|2<br />

.<br />

1 − |x| 2<br />

Obtemos a seguinte expressão explícita para a projeção estereográfica ζ : Bn → F n<br />

<br />

1 + |x|2<br />

ζ(x) = x1 +<br />

1 − |x| 2 x1,<br />

1 + |x|2 1 + |x|2<br />

· · · , xn + xn,<br />

1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />

<br />

,<br />

ζ(x) =<br />

<br />

2x1 2xn 1 + |x|2<br />

, · · · , ,<br />

1 − |x| 2 1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />

<br />

.<br />

19


Se y =<br />

yn+1 =<br />

A aplicação ζ é uma bijeção <strong>de</strong> B n em H n<br />

R. De fato, a inversa ζ−1 : F n → Bn é tal que<br />

ζ −1<br />

<br />

2x1 2xn 1 + |x|2<br />

, · · · , ,<br />

1 − |x| 2 1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />

<br />

= (x1, · · · , xn).<br />

<br />

2x1 2xn 1 + |x|2<br />

, · · · , ,<br />

1 − |x| 2 1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />

<br />

= (y1, · · · , yn, yn+1) ∈ F n , então<br />

1 + |x|2<br />

1 − |x| 2 ⇒ yn+1−yn+1|x| 2 = 1+|x| 2 ⇒ |x| 2 (1+yn+1) = −1+yn+1 ⇒ |x| 2 =<br />

E para i = 1, · · · , n, temos que<br />

yi = 2xi<br />

1 − |x| 2 ⇒ yi(1 − |x| 2 ) = 2xi ⇒ xi = yi<br />

2<br />

<br />

1 −<br />

Ou seja, provamos que a inversa ζ−1 : F n → Bn é dada por<br />

ζ −1 <br />

y1<br />

yn<br />

(y) = , · · · ,<br />

1 + yn+1 1 + yn+1<br />

sendo y = (y1, · · · , yn+1).<br />

<br />

−1 + yn+1<br />

⇒ xi =<br />

1 + yn+1<br />

yi<br />

−1 + yn+1<br />

.<br />

1 + yn+1<br />

.<br />

1 + yn+1<br />

A métrica dB em B n é <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> tal modo que a projeção estereográfica ζ seja uma<br />

isometria entre B n e F n , isto é,<br />

dB(x, y) = dF (ζ(x), ζ(y)).<br />

Essa métrica dB é chamada métrica <strong>de</strong> Poincaré em B n , e o conjunto B n munido<br />

<strong>de</strong>ssa métrica é o mo<strong>de</strong>lo da bola para o espaço hiperbólico real H n<br />

R.<br />

Teorema 2.1. Se x e y são pontos em B n , então<br />

cosh dB(x, y) = 1 +<br />

2|x − y| 2<br />

(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 ) .<br />

Demonstração. Da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> dB e da expressão (2.2), vemos que<br />

cosh dB(x, y) = cosh dF (ζ(x), ζ(y)) = −〈ζ(x), ζ(y)〉.<br />

Se x = (x1, · · · , xn) e y = (y1, · · · , yn), sabemos que<br />

<br />

2x1 2xn 1 + |x|2<br />

ζ(x) = , · · · , ,<br />

1 − |x| 2 1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />

<br />

20


e<br />

Logo,<br />

ζ(y) =<br />

<br />

2y1 2yn 1 + |y|2<br />

, · · · , ,<br />

1 − |y| 2 1 − |y| 2 1 − |y| 2<br />

<br />

.<br />

−〈ζ(x), ζ(y)〉 = −4x1y1 − · · · − 4xnyn + (1 + |x| 2 )(1 + |y| 2 )<br />

(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 )<br />

= −4x1y1 − · · · − 4xnyn + [(1 + |x| 2 )(1 − |y| 2 ) + 2|x| 2 + 2|y| 2 ]<br />

(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 )<br />

= (1 − |x|2 )(1 − |y| 2 ) + 2[|x| 2 − 2x1y1 − · · · − 2xnyn + |y| 2 ]<br />

(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 )<br />

= (1 − |x|2 )(1 − |y| 2 ) + 2|x − y| 2<br />

= 1 +<br />

(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 )<br />

2|x − y| 2<br />

(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 ) .<br />

2.4 O Mo<strong>de</strong>lo do Semi-espaço<br />

A esfera <strong>de</strong> centro em a e raio r em R n é dada por S(a, r) = {x ∈ R n : |x − a| = r},<br />

em que a ∈ R n e r > 0.<br />

Seja R n = R n ∪ {∞}.<br />

Definição 2.1. A inversão na esfera <strong>de</strong> centro a e raio r em R n é a aplicação σ : R n → R n<br />

dada por<br />

ou seja,<br />

σ(x) = a +<br />

2 r<br />

(x − a), σ(a) = ∞ e σ(∞) = a.<br />

|x − a|<br />

A aplicação σ tem or<strong>de</strong>m dois, pois<br />

σ(σ(x)) =<br />

<br />

r<br />

a + <br />

=<br />

2 2 <br />

r<br />

<br />

r 2(x (x − a)<br />

− a) |x − a|<br />

|x−a|<br />

2 |x − a|<br />

a +<br />

r2 2 r<br />

|x − a| 2<br />

<br />

(x − a)<br />

= a + x − a = x.<br />

Dados x, y = a quaisquer em R n , temos a seguinte i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>:<br />

|x − y| 2 = |x − a| 2 − 2〈x − a, y − a〉 + |y − a| 2 ,<br />

−2〈x − a, y − a〉 = |x − y| 2 − |x − a| 2 − |y − a| 2 .<br />

21


Daí,<br />

|σ(x) − σ(y)| 2 =<br />

=<br />

=<br />

=<br />

O que implica que<br />

<br />

<br />

<br />

r<br />

<br />

2<br />

2<br />

r2 <br />

(x − a) − (y − a) <br />

|x − a| 2 |y − a| 2 <br />

r4 r<br />

− 2<br />

|x − a| 2 4<br />

|x − a| 2 r4<br />

〈x − a, y − a〉 +<br />

|y − a| 2 |y − a| 2<br />

r4 |x − a| 2 |y − a| 2 (|y − a|2 + |x − a| 2 + |x − y| 2 − |x − a| 2 − |y − a| 2 )<br />

r4 |x − y| 2<br />

|x − a| 2 .<br />

|y − a| 2<br />

|σ(x) − σ(y)| = r2 |x − y|<br />

. (2.3)<br />

|x − a||y − a|<br />

Consi<strong>de</strong>re agora a inversão na esfera <strong>de</strong> centro a = en = (0, · · · , 0, 1) e raio r = √ 2 em<br />

Rn . Se x = (x1, · · · , xn) ∈ Rn , então<br />

σ(x) =<br />

<br />

2x1 2xn−1<br />

, · · · ,<br />

|x − en| 2 |x − en| 2 , 1 + 2(xn − 1)<br />

|x − en| 2<br />

=<br />

<br />

<br />

2x1 2xn−1<br />

, · · · ,<br />

|x − en| 2 |x − en| 2 , |x|2 − 2〈x, en〉 + |en| 2 + 2xn − 2<br />

|x − en| 2<br />

=<br />

<br />

<br />

2x1 2xn−1<br />

, · · · ,<br />

|x − en| 2 |x − en| 2 , |x|2 − 1<br />

|x − en| 2<br />

<br />

2(x − en)<br />

Observe que σ(x) = en +<br />

|x − en| 2 implica, para x = (x1, · · · , xn), que<br />

Daí segue que<br />

|σ(x)| 2 <br />

2(x − en)<br />

= en +<br />

|x − en| 2<br />

<br />

2(x − en)<br />

, en +<br />

|x − en| 2<br />

<br />

= 1 + 4 〈en,<br />

<br />

x − en〉 <br />

+ <br />

2(x − en)<br />

|x − en| 2 |x − en| 2<br />

2<br />

<br />

<br />

<br />

= 1 + 4(xn − 1) 4<br />

+<br />

|x − en| 2 |x − en| 2<br />

= 1 + 4xn<br />

.<br />

|x − en| 2<br />

(2.4)<br />

1 − |σ(x)| 2 = −4xn<br />

. (2.5)<br />

|x − en| 2<br />

Dessa forma, se tomarmos o semi-espaço inferior {x = (x1, · · · , xn) ∈ R n : xn < 0}, temos<br />

que<br />

xn < 0 ⇔ −4xn<br />

|x − en| 2 > 0 ⇔ |σ(x)| < 1 ⇔ σ(x) ∈ Bn .<br />

22


Ou seja, a aplicação σ transforma o semi-espaço inferior na bola unitária B n centrada na<br />

origem <strong>de</strong> R n . Assim, se consi<strong>de</strong>rarmos a inversão ρ(x1, · · · , xn−1, xn) = (x1, · · · , xn−1, −xn)<br />

no plano xn = 0 <strong>de</strong> R n , vemos que a composição<br />

transforma o semi-espaço superior<br />

na bola unitária B n .<br />

ϕ = σρ : U n → B n<br />

U n = {x = (x1, · · · , xn) ∈ R n : xn > 0}<br />

A métrica dU em U n é <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> tal modo que a aplicação ϕ = σρ : U n → B n seja<br />

uma isometria entre U n e B n , isto é,<br />

dU(x, y) = dB(ϕ(x), ϕ(y)).<br />

Essa métrica é chamada <strong>de</strong> métrica <strong>de</strong> Poincaré em U n , e o conjunto U n munido<br />

<strong>de</strong>ssa métrica é o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior para o espaço hiperbólico real H n<br />

R.<br />

Teorema 2.2. Se x = (x1, · · · , xn) e y = (y1, · · · , yn) são pontos em U n , então,<br />

|x − y|2<br />

cosh dU(x, y) = 1 + .<br />

2xnyn<br />

Demonstração. Da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> dU e do teorema 2.1, temos que<br />

obtemos<br />

cosh dU(x, y) = cosh dB(ϕ(x), ϕ(y)) = 1 +<br />

Da expressão (2.3), temos que<br />

|ϕ(x) − ϕ(y)| = |σ(ρ(x)) − σ(ρ(y))| =<br />

2|ϕ(x) − ϕ(y)| 2<br />

(1 − |ϕ(x)| 2 )(1 − |ϕ(y)| 2 . (2.6)<br />

)<br />

2|ρ(x) − ρ(y)|<br />

|ρ(x) − en||ρ(y) − en| .<br />

Como |ρ(x) − ρ(y)| = |x − y|, |ρ(x) − en| = |x + en| e |ρ(y) − en| = |y + en|, obtemos<br />

|ϕ(x) − ϕ(y)| =<br />

2|x − y|<br />

|x + en||y + en| .<br />

Como ρ(x) = (x1, · · · , xn−1, −xn) e ρ(y) = (y1, · · · , yn−1, −yn), da expressão (2.5),<br />

1 − |ϕ(x)| 2 = 1 − |σ(ρ(x))| 2 = −4(−xn) 4xn<br />

=<br />

|ρ(x) − en| 2 |x + en| 2<br />

23


e<br />

1 − |ϕ(y)| 2 = 1 − |σ(ρ(y))| 2 = −4(−yn) 4yn<br />

= .<br />

|ρ(y) − en| 2 |y + en| 2<br />

Substituindo essas expressões em (2.6) e simplificando, obtemos finalmente que<br />

|x − y|2<br />

cosh dU(x, y) = 1 + .<br />

2xnyn<br />

2.5 Algumas mudanças <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas<br />

Na seção 2.3, vimos a expressão da isometria ζ : B n → F n que relaciona o mo<strong>de</strong>lo da<br />

bola com o mo<strong>de</strong>lo do hiperbolói<strong>de</strong>. Na seção 2.4, foi construída a expressão da isometria<br />

ϕ = σρ : U n → B n que relaciona o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior com o mo<strong>de</strong>lo da bola.<br />

Agora, vamos apresentar uma expressão para a isometria L : U n → F n que relaciona o<br />

mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior com o mo<strong>de</strong>lo do hiperbolói<strong>de</strong>.<br />

Da expressão (2.4) e do fato que |ρ(x) − en| = |x + en|, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir as seguintes<br />

expressões, que serão utilizadas na <strong>de</strong>dução da expressão da isometria L : U n → F n<br />

ϕ = σρ : U n → B n<br />

ϕ(x) = σ(ρ(x)) = σ(x1, · · · , xn−1, −xn)<br />

<br />

2x1<br />

2xn−1<br />

=<br />

, · · · ,<br />

|ρ(x) − en| 2 |ρ(x) − en| 2 , |ρ(x)|2 − 1<br />

|ρ(x) − en| 2<br />

<br />

<br />

2x1 2xn−1<br />

=<br />

, · · · ,<br />

|x + en| 2 |x + en| 2 , |x|2 − 1<br />

|x + en| 2<br />

<br />

e como σ e ρ são aplicações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m dois<br />

ϕ −1 =<br />

para x = (x1, · · · , xn).<br />

ϕ −1 = ρ −1 σ −1 = ρσ : B n → U n<br />

<br />

2x1 2xn−1 1 − |x|2<br />

, · · · , ,<br />

|x − en| 2 |x − en| 2 |x − en| 2<br />

<br />

,<br />

A composição U n ϕ −→ B n ζ −→ F n dá a isometria L = ζ ◦ ϕ : U n → F n , e a composição<br />

n ζ−1 n ϕ−1<br />

F −−→ B −−→ U n dá a isometria L−1 = ϕ−1◦ζ −1 : F n → U n . Efetuando essas composições,<br />

obtém-se:<br />

24


é tal que<br />

L = ζ ◦ ϕ : U n → F n<br />

<br />

2x1 2xn−1<br />

L(x) = ζ(ϕ(x)) = ζ , · · · ,<br />

|x + en| 2 |x + en| 2 , |x|2 − 1<br />

|x + en| 2<br />

<br />

<br />

2x1 2 |x+en|<br />

=<br />

2<br />

<br />

1 − |ϕ(x)| 2 , · · · , 2 2xn−1<br />

|x+en| 2<br />

<br />

1 − |ϕ(x)| 2 , 2 |x| 2−1 |x+en| 2<br />

<br />

1 + |ϕ(x)|2<br />

,<br />

1 − |ϕ(x)| 2 1 − |ϕ(x)| 2<br />

<br />

para x = (x1, · · · , xn).<br />

2(x + en)<br />

Observe que ϕ(x) = en − , logo,<br />

|x + en| 2<br />

|ϕ(x)| 2 <br />

2(x + en)<br />

= en −<br />

|x + en| 2 , en<br />

2(x + en)<br />

−<br />

|x + en| 2<br />

<br />

= 1 − 4(xn<br />

<br />

+ 1) <br />

+ <br />

2(x + en)<br />

|x + en| 2 |x + en| 2<br />

2<br />

<br />

<br />

<br />

= 1 − 4xn<br />

.<br />

|x + en| 2<br />

E então, subtituindo em (2.7) e simplificando, temos que<br />

L(x) =<br />

x1<br />

xn<br />

Como x ∈ U n , temos que xn > 0 e<br />

Logo, L(x) ∈ F n .<br />

, · · · , xn−1<br />

xn<br />

, |x|2 − 1<br />

,<br />

2xn<br />

|x|2 <br />

+ 1<br />

.<br />

2xn<br />

〈L(x), L(x)〉 = x21 x2 + · · · +<br />

n<br />

x2n−1 x2 +<br />

n<br />

(|x|2 − 1) 2<br />

4x2 −<br />

n<br />

(|x|2 + 1) 2<br />

4x2 n<br />

Por outro lado, a inversa<br />

Se y =<br />

x1<br />

xn<br />

= 4(x2 1 + · · · + x 2 n−1) − 4|x| 2<br />

4x 2 n<br />

L −1 = ϕ −1 ◦ ζ −1 : F n → U n<br />

= −1.<br />

L −1<br />

<br />

x1<br />

, · · · ,<br />

xn<br />

xn−1<br />

,<br />

xn<br />

|x|2 − 1<br />

,<br />

2xn<br />

|x|2 <br />

+ 1<br />

= (x1, · · · , xn).<br />

2xn<br />

, · · · , xn−1<br />

,<br />

xn<br />

|x|2 − 1<br />

,<br />

2xn<br />

|x|2 <br />

+ 1<br />

= (y1, · · · , yn+1) ∈ F<br />

2xn<br />

n , então<br />

yn+1 = |x|2 + 1<br />

2xn<br />

⇔ |x| 2 = 2xnyn+1 − 1.<br />

25<br />

(2.7)


Além disso,<br />

yn = |x|2 − 1<br />

2xn<br />

E para i = 1, · · · , n − 1, temos que<br />

yi = xi<br />

xn<br />

= xnyn+1 − 1<br />

xn<br />

⇔ xn =<br />

= xi(yn+1 − yn) ⇔ xi =<br />

1<br />

yn+1 − yn<br />

yi<br />

yn+1 − yn<br />

Ou seja, provamos que a inversa L −1 = ϕ −1 ◦ ζ −1 : F n → U n é dada por<br />

L −1 <br />

(y) =<br />

sendo y = (y1, · · · , yn+1).<br />

y1<br />

yn+1 − yn<br />

, · · · ,<br />

yn−1<br />

yn+1 − yn<br />

,<br />

1<br />

.<br />

yn+1 − yn<br />

Nesta última expressão, observe que se y ∈ F n , então y 2 1 + · · · + y 2 n − y 2 n+1 = −1 e<br />

yn+1 > 0. Daí segue que y 2 n+1 − y 2 n = y 2 1 + · · · + y 2 n−1 + 1 > 0. De y 2 n+1 − y 2 n > 0 e yn+1 > 0<br />

temos que yn+1 − yn > 0, ou seja, L −1 (y) ∈ U n .<br />

Destas expressões <strong>de</strong> L e L −1 , po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir as seguintes expressões das isometrias<br />

que relacionam o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n com o mo<strong>de</strong>lo projetivo H n<br />

R = P(V−).<br />

em que x = (x1, · · · , xn) e<br />

⎡<br />

φ −1<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ =<br />

<br />

x1<br />

xn+1 − xn<br />

φ : U n → H n<br />

R = P(V−)<br />

⎡<br />

2x1<br />

⎢ .<br />

⎢<br />

φ(x) = ⎢ 2xn−1 ⎢<br />

⎣ |x| 2 − 1<br />

|x| 2 ⎤<br />

⎥ , (2.8)<br />

⎥<br />

⎦<br />

+ 1<br />

φ −1 : H n<br />

R = P(V−) → U n<br />

, · · · ,<br />

xn−1<br />

xn+1 − xn<br />

26<br />

.<br />

<br />

,<br />

<br />

−(x<br />

,<br />

2 1 + · · · + x2 n − x2 n+1)<br />

(xn+1 − xn) 2<br />

<br />

. (2.9)


⎡<br />

2x1<br />

⎢ .<br />

⎢<br />

Observe que na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> φ po<strong>de</strong>mos trocar o vetor ⎢ 2xn−1 ⎢<br />

⎣ |x| 2 − 1<br />

|x| 2 ⎤<br />

⎥ por qualquer<br />

⎥<br />

⎦<br />

+ 1<br />

múltiplo não nulo, e que a função φ−1 está bem <strong>de</strong>finida, pois<br />

⎡<br />

φ −1<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

= φ−1<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

λx1<br />

.<br />

λxn+1<br />

2.6 Translação, dilatação, rotação e inversão<br />

cartesiano<br />

Nesta seção, vamos representar o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n como o produto<br />

R n−1 × R+ = {(x1, · · · , xn−1, t) ∈ R n , t > 0} = {(v, t) ∈ R n−1 × R+},<br />

em que v = (x1, · · · , xn−1). Sabe-se por [7], teorema B.7, página 61 que neste mo<strong>de</strong>lo<br />

R n−1 × R+ as seguintes aplicações geram todo o grupo <strong>de</strong> isometrias do espaço hiperbólico<br />

real <strong>de</strong> dimensão n.<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ .<br />

• translação: f(v, t) = (v + v0, t), com v, v0 ∈ R n−1 e t ∈ R+.<br />

• dilatação: f(v, t) = (kv, kt), k > 0.<br />

• rotação: f(v, t) = (A.v, t), em que A ∈ O(R n−1 ).<br />

• inversão: f(x) = x<br />

|x| 2 , em que x = (x1, · · · , xn, t) ∈ R n−1 × R+.<br />

Agora vamos <strong>de</strong>terminar, para cada uma <strong>de</strong>stas isometrias, uma matriz ortogonal que<br />

representa a isometria como um elemento <strong>de</strong> O(n, 1). Para isso, seja f : R n−1 × R+ →<br />

R n−1 × R+ uma <strong>de</strong>stas isometrias, e consi<strong>de</strong>re a aplicação induzida f = φ ◦ f ◦ φ −1 , em que<br />

φ é a isometria 2.8 que relaciona o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n ≡ R n−1 × R+ com o<br />

mo<strong>de</strong>lo projetivo H n<br />

R = P(V−).<br />

φ −1<br />

H n<br />

R<br />

⏐<br />

<br />

R n−1 × R+ −−−→<br />

f<br />

f<br />

n<br />

−−−→ HR <br />

27<br />

⏐<br />

⏐φ<br />

R n−1 × R+


Calculando essa aplicação induzida f no caso em que f é uma translação, uma di-<br />

latação, uma rotação ou a inversão, vemos que f vem <strong>de</strong> uma aplicação linear T : R n,1 → R n,1<br />

cuja matriz na base canônica <strong>de</strong> R n , em cada caso, é a matriz ortogonal A ∈ O(n, 1):<br />

translação: f(v, t) = (v + v0, t), v0 = (v1, · · · , vn−1)<br />

⎡<br />

⇒ At =<br />

⎢<br />

⎣<br />

In−1 −vt 0 vt 0<br />

v0<br />

2 |v0|<br />

− + 1<br />

|v0| 2<br />

v0<br />

−<br />

2<br />

|v0| 2<br />

2<br />

2<br />

|v0| 2<br />

em que In−1 é a matriz i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n − 1. ⎡<br />

dilatação: f(v, t) = (kv, kt), k > 0 ⇒ Ad =<br />

In−1 0<br />

⎢ k<br />

⎢<br />

0<br />

⎣<br />

0<br />

2 + 1<br />

2k<br />

k2 k<br />

0<br />

− 1<br />

2k<br />

2 − 1<br />

2k<br />

k2 ⎤<br />

+ 1<br />

2k<br />

⎥<br />

⎦<br />

rotação: f(v, t) = (M.v, t), M ∈ O(Rn−1 ⎡ ⎤<br />

) ⇒ Ar =<br />

M<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

0<br />

1<br />

0<br />

⎥<br />

0 ⎥<br />

⎦<br />

0 0 1<br />

inversão: f(x) = x<br />

|x| 2 ⇒ Ai<br />

⎡<br />

⎤<br />

=<br />

In−1<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

0<br />

0<br />

−1<br />

0<br />

0<br />

⎥<br />

0 ⎥<br />

⎦<br />

1<br />

Observações:<br />

• <strong>de</strong>t(At) = <strong>de</strong>t(Ad) = <strong>de</strong>t(Ar) = 1 e <strong>de</strong>t(Ai) = −1.<br />

•At, Ad, Ar ∈ SO + (n, 1) e Ai ∈ O + (n, 1).<br />

• Pelo teorema B.7, página 61 <strong>de</strong> [7], o grupo <strong>de</strong> isometrias Isom(H n<br />

R) do espaço<br />

hiperbólico real é gerado por translações, dilatações, rotações e pela inversão. Entretanto,<br />

acabamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que estas aplicações estão em P O(n, 1). Daí, segue que Isom(H n<br />

R) ⊂<br />

P O(n, 1). Como, evi<strong>de</strong>ntemente, P O(n, 1) ⊂ Isom(H n<br />

R), provamos que<br />

Isom(H n<br />

R) = P O(n, 1).<br />

2.7 Uma nova base em R n+1<br />

Em todas as seções anteriores, consi<strong>de</strong>ramos a base canônica E = {e1, · · · , en+1} <strong>de</strong><br />

R n+1 e, eventualmente, representamos as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> um vetor X = (x1, · · · , xn+1) como<br />

28<br />

2<br />

+ 1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ ,


⎡<br />

⎢<br />

uma matriz coluna X = ⎢<br />

⎣<br />

que<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ . Agora vamos consi<strong>de</strong>rar a base E = {e1, · · · , en+1}, em<br />

e1 = 1<br />

√ 2 en − 1<br />

√ 2 en+1, e2 = e1, · · · , en = en−1, en+1 = 1<br />

√ 2 en + 1<br />

√ 2 en+1.<br />

A matriz D mudança <strong>de</strong> base, da base E para a base canônica E, é:<br />

⎡<br />

⎢<br />

D = ⎢<br />

⎣<br />

0<br />

√1 2<br />

In−1<br />

0<br />

0<br />

√2 1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

0 √2 1<br />

e D−1 = Dt ⎡<br />

0<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

⎣<br />

√2 1 − 1<br />

In−1 0<br />

√<br />

2<br />

0<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

0 √2 1<br />

− 1<br />

√ 2<br />

no sentido que D[X]E = X e D−1X = [X]E , em que [X]E e X são matrizes colunas<br />

que representam as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> um vetor X ∈ Rn+1 respectivamente nas bases E e E.<br />

Vamos agora expressar a forma bilinear simétrica 〈X, Y 〉 = x1y1 +· · ·+xnyn −xn+1yn+1<br />

na base E. Para isso, observe primeiramente que, se<br />

<br />

In 0<br />

<br />

In,1 =<br />

0 −1<br />

então 〈X, Y 〉 = X t In,1Y , sendo que X e Y são matrizes colunas iguais às coor<strong>de</strong>nadas<br />

<strong>de</strong> X e Y na base canônica <strong>de</strong> R n+1 . Daí, temos que<br />

〈X, Y 〉 = X t In,1Y = (D[X]E )t In,1(D[Y ]E ) = [X]tE (Dt In,1D)[Y ]E<br />

Por um cálculo direto verifica-se que<br />

Deste modo, se [X]E =<br />

don<strong>de</strong> concluímos que<br />

D t In,1D := In,1 =<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

⎥ ⎢<br />

⎥<br />

⎦ e [Y ]E = ⎢<br />

⎣<br />

0 1<br />

In−1<br />

1 0<br />

⎡ ⎤<br />

y1<br />

.<br />

yn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ .<br />

⎥<br />

⎦ , então<br />

⎡<br />

⎤ ⎡<br />

<br />

〈X, Y 〉 = x1 · · ·<br />

0<br />

⎢<br />

xn+1<br />

⎢<br />

⎣ In−1<br />

1<br />

⎥ ⎢<br />

⎥ ⎢<br />

⎦ ⎣<br />

1 0<br />

y1<br />

.<br />

yn+1<br />

〈X, Y 〉 = x1yn+1 + x2y2 + · · · + xnyn + xn+1y1.<br />

29<br />

⎤<br />

1√ 2<br />

⎥<br />

⎦ ,


2.8 O Grupo Ortogonal<br />

Seja T : R n,1 → R n,1 uma transformação linear ortogonal, isto é,<br />

〈T (X), T (Y )〉 = 〈X, Y 〉 e ∀ X, Y ∈ R n,1 .<br />

Se A é a matriz <strong>de</strong> T na base canônica <strong>de</strong> R n,1 , no teorema 1.3 vimos que T é ortogonal<br />

se, e somente se, A é ortogonal: A t In,1A = In,1. Além disso, representamos por<br />

O(n, 1) = {A ∈ GL(n + 1, R) : A t In,1A = In,1}<br />

o grupo <strong>de</strong> todas as matrizes (n + 1) × (n + 1) ortogonais.<br />

Agora, se A é a matriz <strong>de</strong> T na base E e se [X]E é uma matriz coluna que contém as<br />

coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> um vetor X nessa base, então as coor<strong>de</strong>nadas do vetor T (X) nesta mesma<br />

base são dadas por [T (X)]E = A.[X]E . Além disso, do mesmo modo como foi feito para a<br />

base canônica, po<strong>de</strong>mos provar que T é ortogonal se, e somente se,<br />

A t In,1 A = In,1.<br />

Deste modo, O(n, 1) também po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificado com o grupo <strong>de</strong> matrizes A ∈<br />

GL(n = 1, R) tais que A t In,1 A = In,1. Essas matrizes formam o grupo:<br />

base E.<br />

que:<br />

O(n, 1) = { A ∈ GL(n + 1, R) : A t In,1 A = In,1}.<br />

Estamos i<strong>de</strong>ntificando uma transformação linear T : R n+1 → R n+1 com sua matriz na<br />

Relembrando a matriz <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> base D, da base E para a base E, concluímos<br />

D[T (X)]E = T (X) ⇒ D A[X]E = AX<br />

⇒ D AD−1X = AX<br />

⇒ D AD −1 = A ou A = D −1 AD.<br />

Deste modo, os grupos O(n, 1) e O(n, 1) estão relacionados do seguinte modo:<br />

O(n, 1) = D −1 O(n, 1)D.<br />

30


2.9 O Espaço Hiperbólico: base E<br />

Nesta seção, vamos consi<strong>de</strong>rar a base E <strong>de</strong> Rn+1 . Assim, se um vetor X em Rn+1 ⎡ ⎤<br />

tem<br />

coor<strong>de</strong>nadas [X] =<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎥<br />

⎦ nesta base, então 〈X, X〉 = 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 n. Logo, um<br />

vetor X ∈ R n+1 é negativo se suas coor<strong>de</strong>nadas nessa base forem tais que 2x1xn+1 + x 2 2 +<br />

· · · + x 2 n < 0. Consi<strong>de</strong>rando coor<strong>de</strong>nadas na base E temos:<br />

V− =<br />

<br />

X ∈ R n+1 : [X]E =<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ , 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 <br />

n < 0 .<br />

De qualquer modo, tanto na base canônica, quanto na base E, o espaço hiperbólico<br />

real é <strong>de</strong>finido como H n<br />

R = P(V−).<br />

Compondo a mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nada D, da base E para a base E, com as aplicações<br />

(2.8) e (2.9) obtemos as seguintes isometrias entre o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n com<br />

H n<br />

R = P(V−), sendo que em V− estamos escrevendo coor<strong>de</strong>nadas na base E.<br />

em que x = (x1, · · · , xn) e<br />

⎡<br />

φ −1<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ =<br />

φ : U n → H n<br />

R = P(V−)<br />

⎡<br />

⎢<br />

φ(x) = ⎢<br />

⎣<br />

−1<br />

√ 2x1<br />

.<br />

√ 2xn−1<br />

|x| 2<br />

⎤<br />

φ −1 : H n<br />

R = P(V−) → U n<br />

<br />

−x2<br />

√ , · · · ,<br />

2x1<br />

−xn<br />

√ ,<br />

2x1<br />

31<br />

<br />

⎥ , (2.10)<br />

⎥<br />

⎦<br />

− 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 n<br />

2x 2 1<br />

<br />

. (2.11)


⎢<br />

Novamente, observe que nesta <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> φ po<strong>de</strong>mos trocar o vetor ⎢<br />

⎣<br />

qualquer múltiplo não nulo, e que a função φ −1 está bem <strong>de</strong>finida pois<br />

⎡<br />

φ −1<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

= φ−1<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

λx1<br />

.<br />

λxn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ .<br />

⎡<br />

−1<br />

√ 2x1<br />

.<br />

√ 2xn−1<br />

|x| 2<br />

⎤<br />

⎥ por<br />

⎥<br />

⎦<br />

2.10 Translação, dilatação, rotação e inversão: base E<br />

Na seção 2.6 vimos matrizes ortogonais na base canônica <strong>de</strong> R n+1 que induzem translações,<br />

dilatações, rotações e a aplicação inversão, isometrias do semi-espaço superior U n . Como<br />

estas matrizes pertencem ao grupo O(n, 1), e como<br />

O(n, 1) = D −1 O(n, 1)D<br />

po<strong>de</strong>mos escrever essas matrizes na base E. Conjugando cada uma das matrizes da<br />

seção 2.6 com D, obtemos matrizes ortogonais em O(n, 1), matrizes <strong>de</strong> transformações<br />

lineares ortogonais <strong>de</strong> R n+1 na base E, que induzem translações, dilatações, rotações e a<br />

aplicação inversão, isometrias do semi-espaço superior U n :<br />

translação: f(v, t) = (v + v0, t), v0 = (v1, · · · , vn−1)<br />

⇒ ⎡<br />

1<br />

⎢<br />

At = ⎢<br />

⎣ −<br />

0 0<br />

√ 2vt 0<br />

−|v0|<br />

In−1 0<br />

2 √ ⎤<br />

2v0<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

dilatação: f(v, t) = (kv, kt), k > 0 ⇒ ⎡ 1 ⎤<br />

0 0<br />

⎢ k ⎥<br />

Ad = ⎢<br />

⎥<br />

⎣ 0 In−1 0 ⎦<br />

E<br />

0 0 k<br />

rotação: f(v, t) = (M.v, t), M ∈ O(R n−1 ) ⇒ Ar = D −1 ArD, em que Ar =<br />

32<br />

E<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

M 0 0<br />

0 1 0<br />

0 0 1<br />

⎤<br />

⎥<br />


inversão: f(x) = x<br />

|x| 2 ⇒ Ai<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

⎣<br />

⎡<br />

0 0 −1<br />

0 In−1 0<br />

−1 0 0<br />

33<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

E<br />

.


Capítulo 3<br />

A Fronteira<br />

Neste capítulo, vamos estudar a fronteira do espaço hiperbólico real.<br />

No mo<strong>de</strong>lo projetivo, o espaço hiperbólico real é H n<br />

R = P(V−) e sua fronteira é dada<br />

por ∂H n<br />

R = P(V0).<br />

No mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n = {(x1, · · · , xn) ∈ R n : xn > 0}, a fronteira é<br />

dada por<br />

∂U n = {(x1, · · · , xn) ∈ R n : xn = 0} ∪ {p∞},<br />

sendo p∞ um ponto i<strong>de</strong>al. As aplicações 2.8, 2.9, 2.10 e 2.11 po<strong>de</strong>m ser estendidas até a<br />

fronteira.<br />

ou seja,<br />

Vamos consi<strong>de</strong>rar a base canônica <strong>de</strong> R n+1 , munida da forma bilinear simétrica (1.1),<br />

〈X, Y 〉 = x1y1 + x2y2 + · · · + xnyn − xn+1yn+1,<br />

em que X = (x1, · · · , xn, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn, yn+1) são vetores <strong>de</strong> R n+1 . Assim, os<br />

vetores negativos e os vetores nulos em R n+1 são aqueles cujas coor<strong>de</strong>nadas nesta base são<br />

tais que:<br />

e<br />

temos<br />

V− = {X ∈ R n+1 : x 2 1 + · · · + x 2 n − x 2 n+1 < 0}<br />

V0 = {X ∈ R n+1 : x 2 1 + · · · + x 2 n − x 2 n+1 = 0}.<br />

Observe que, consi<strong>de</strong>rando coor<strong>de</strong>nadas dos vetores em V0 na base canônica <strong>de</strong> R n+1 ,<br />

34


e<br />

⎡<br />

φ −1<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ =<br />

φ : ∂U n → ∂H n<br />

R = P(V0)<br />

⎡<br />

2x1<br />

⎢ .<br />

⎢<br />

φ(x1, · · · , xn−1, 0) = ⎢ 2xn−1 ⎢<br />

⎣ |x| 2 − 1<br />

|x| 2 ⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢ . ⎥<br />

⎢ ⎥<br />

e φ(p∞) = ⎢ 0 ⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

⎣ 1<br />

⎥<br />

⎦<br />

+ 1<br />

1<br />

<br />

x1<br />

xn+1 − xn<br />

φ −1 : ∂H n<br />

R = P(V0) → ∂U n<br />

, · · · ,<br />

xn−1<br />

xn+1 − xn<br />

<br />

, 0<br />

se xn+1 = xn e φ −1<br />

(3.1)<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢ . ⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎢ 0 ⎥ = p∞. (3.2)<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

⎣ 1<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

Como um caso particular, consi<strong>de</strong>re n = 3. Po<strong>de</strong>mos representar semi-espaço superior<br />

U 3 como o produto cartesiano C × R+, em que i<strong>de</strong>ntificamos (x, y, t) ∈ U 3 com (x + iy, t) ∈<br />

C × R+. Daí, vemos que ∂U 3 fica i<strong>de</strong>ntificado com o plano complexo estendido C. Após essa<br />

i<strong>de</strong>ntificação po<strong>de</strong>mos reescrever as aplicações (3.1) e (3.2) do seguinte modo:<br />

e<br />

φ(z) =<br />

φ : C → ∂H 3 R = P(V0)<br />

⎡<br />

2Re(z)<br />

⎢<br />

2Im(z)<br />

⎢<br />

⎣|z|<br />

2 − 1<br />

|z| 2 ⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

+ 1<br />

e φ(p∞) =<br />

φ −1 : ∂H 3 R = P(V0) → C<br />

35<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣1<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

(3.3)


⎡<br />

φ −1<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

x2<br />

x3<br />

x4<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ = x1 + ix2<br />

x4 − x3<br />

se x4 = x3 e φ −1<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣1<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

= p∞ . (3.4)<br />

Consi<strong>de</strong>re agora a base E <strong>de</strong> R n+1 , <strong>de</strong> modo que a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> assinatura<br />

(n, 1) em R n+1 se expressa como:<br />

sendo<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

〈X, X〉 = 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 n,<br />

⎥<br />

⎦ as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> X na base E. Assim, os vetores negativos e os vetores<br />

nulos em R n+1 são aqueles cujas coor<strong>de</strong>nadas nesta base são tais que:<br />

e<br />

V− =<br />

V0 =<br />

<br />

X ∈ R n+1 : [X]E =<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

<br />

X ∈ R n+1 : [X]E =<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ , 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 <br />

n < 0<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ , 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 <br />

n = 0 .<br />

Consi<strong>de</strong>rando coor<strong>de</strong>nadas dos vetores em V0 na base E, temos<br />

e<br />

φ : ∂U n → ∂H n<br />

R = P(V0)<br />

⎡<br />

−1<br />

⎢ √<br />

⎢ 2x1<br />

⎢<br />

φ(x1, · · · , xn−1, 0) = ⎢ .<br />

⎢ √<br />

⎣ 2xn−1<br />

x2 1 + · · · + x2 ⎤<br />

⎡ ⎤<br />

⎥<br />

0<br />

⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎥<br />

⎢ . ⎥<br />

⎥ e φ(p∞) = ⎢ ⎥<br />

⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎣ 0 ⎥<br />

⎦<br />

⎦<br />

1<br />

n−1<br />

φ −1 : ∂H n<br />

R = P(V0) → ∂U n<br />

36<br />

(3.5)


e<br />

⎡<br />

φ −1<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

.<br />

xn+1<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ =<br />

<br />

−x2<br />

√ , · · · ,<br />

2x1<br />

−xn<br />

<br />

√ , 0<br />

2x1<br />

se x1 = 0 e φ −1<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎢ . ⎥<br />

⎢ ⎥ = p∞. (3.6)<br />

⎢<br />

⎣ 0 ⎥<br />

⎦<br />

1<br />

No caso particular n = 3, po<strong>de</strong>mos reescrever as aplicações (3.5) e (3.6) como:<br />

Observação:<br />

⎡<br />

φ −1<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

x2<br />

x3<br />

x4<br />

φ(z) =<br />

⎤<br />

φ : C → ∂H 3 R = P(V0)<br />

⎡ ⎤<br />

−1<br />

⎢√<br />

⎥<br />

⎢<br />

2 Re(z) ⎥<br />

⎢√<br />

⎥<br />

⎣ 2 Im(z)<br />

⎥<br />

⎦<br />

|z| 2<br />

⎥<br />

⎦ = −x2 + ix3<br />

√<br />

2 x1<br />

e φ(p∞) =<br />

φ −1 : ∂H 3 R = P(V0) → C<br />

se x1 = 0 e φ −1<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣0<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

(3.7)<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣0<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

= p∞ . (3.8)<br />

• Da observação da página 28 vemos que cada transformação <strong>de</strong> Möbius g : C → C<br />

g(z) =<br />

az + b<br />

cz + d<br />

a, b, c, d ∈ C com ad − bc = 0, g(∞) = a<br />

c<br />

que age na fronteira ∂H3 R , i<strong>de</strong>ntificada como o plano complexo estendido C, se esten<strong>de</strong><br />

a uma única isometria do semi-espaço superior C × R+, dada por:<br />

g(z, t) =<br />

<br />

(az + b)(cz + d) + act 2<br />

|cz + d| 2 + |c| 2 t 2<br />

,<br />

t<br />

|cz + d| 2 + |c| 2t2 <br />

• Representando por PSL(2, C) o grupo <strong>de</strong> todas as transformações <strong>de</strong> Möbius g(z) =<br />

az + b<br />

po<strong>de</strong>mos dizer então que<br />

cz + d<br />

PSL(2, C) ⊂ Isom(H 3 R).<br />

37


Capítulo 4<br />

Formas quadráticas em R n e o<br />

Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt<br />

Neste capítulo apresentaremos alguns resultados relacionados ao estudo <strong>de</strong> formas<br />

quadráticas <strong>de</strong>finidas em R n . Apesar <strong>de</strong>, nos próximos capítulos, consi<strong>de</strong>rarmos apenas<br />

a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> assinatura (n, 1) <strong>de</strong>finida em R n+1 , trataremos agora <strong>de</strong> qual-<br />

quer forma quadrática em R n . Esta escolha se <strong>de</strong>ve ao fato das <strong>de</strong>monstrações dos resultados<br />

selecionados não se alteram quando se consi<strong>de</strong>ra uma forma quadrática particular.<br />

No final do capítulo <strong>de</strong>monstraremos o Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt, que é a principal<br />

ferramenta no estudo da classificação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> pontos na fronteira do espaço<br />

hiperbólico real.<br />

Os conceitos e os teoremas <strong>de</strong>ste capítulo po<strong>de</strong>m ser encontrados no capítulo 1 do livro <strong>de</strong><br />

Birger Iversen [11] e no capítulo 11 do livro <strong>de</strong> Steven Roman [12].<br />

4.1 Formas quadráticas em R n<br />

Definição 4.1. Uma forma quadrática em R n é uma função q : R n → R que satisfaz as<br />

seguintes condições:<br />

• q(λ x) = λ 2 q(x) para todo x ∈ R n e todo λ ∈ R, e<br />

• a expressão<br />

〈x, y〉 = 1<br />

<br />

<br />

q(x + y) − q(x) − q(y) , x, y ∈ R<br />

2<br />

n<br />

38<br />

(4.1)


é uma forma bilinear simétrica em R n .<br />

A expressão (4.1) é chamada <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> polarização. Ela dá uma correspondência<br />

biunívoca entre as formas quadráticas e as formas bilineares simétricas <strong>de</strong>finidas em R n .<br />

Observe também que q(x) = 〈x, x〉. Durante todo este capítulo ao ser dada uma forma<br />

quadrática q em R n , consi<strong>de</strong>raremos, intrinsicamente, a forma bilinear simétrica 〈·, ·〉 <strong>de</strong>finida<br />

por q em R n .<br />

Exemplo: Em R n+1 consi<strong>de</strong>re a forma quadrática q(x) = x 2 1 + x 2 2 + · · · + x 2 n − x 2 n+1. Pela<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> polarização vemos que esta forma quadrática <strong>de</strong>fine a seguinte forma bilinear<br />

simétrica em R n+1 :<br />

〈x, y〉 = x1y1 + x2y2 + · · · + xnyn − xn+1yn+1 .<br />

Definição 4.2. Consi<strong>de</strong>re uma forma quadrática q em R n , com sua correspon<strong>de</strong>nte forma<br />

bilinear simétrica. Dois vetores x, y ∈ R n são ortogonais se 〈x, y〉 = 0. Dois subespaços V<br />

e W <strong>de</strong> R n são ortogonais se todo vetor <strong>de</strong> V é ortogonal a todo vetor <strong>de</strong> W . Dado um<br />

subespaço V <strong>de</strong> R n , o complemento ortogonal V ⊥ <strong>de</strong> V é:<br />

e o radical <strong>de</strong> V é:<br />

V ⊥ = {x ∈ R n | 〈x, v〉 = 0 ∀ v ∈ V } .<br />

Rad(V ) = V ∩ V ⊥ = {x ∈ V | 〈x, v〉 = 0 ∀ v ∈ V } .<br />

Observe que V e V ⊥ são sempre dois subespaços ortogonais <strong>de</strong> R n , e que Rad(V ) só contém<br />

vetores isotrópicos, isto é, só contém vetores v tais que 〈v, v〉 = 0. Aproveitamos para<br />

observar que, como o vetor nulo 0 é tal que 〈0,0〉 = 0, o termo isotrópico se refere a vetores<br />

v = 0 tais que 〈v, v〉 = 0.<br />

Definição 4.3. Uma forma quadrática q em R n é não-<strong>de</strong>generada se a sua correspon<strong>de</strong>nte<br />

forma bilinear simétrica satisfaz: se v ∈ R n é tal que 〈v, x〉 = 0 para todo x ∈ R n , então<br />

temos que v = 0. Observe que dizer que q é não-<strong>de</strong>generada é equivalente a dizer que<br />

Rad(R n ) = (R n ) ⊥ = {0 }.<br />

39


Definição 4.4. Seja q uma forma quadrática em R n e seja V um subespaço <strong>de</strong> R n . A<br />

restrição <strong>de</strong> q ao subespaço V naturalmente <strong>de</strong>fine uma forma quadrática em V . Deste<br />

modo, dizemos que V é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n se a restrição <strong>de</strong> q à V é<br />

uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em V . Isto é, se v ∈ V é tal que 〈v, x〉 = 0 para todo<br />

x ∈ V , então temos que v = 0. Observe que isto é equivalente a Rad(V ) = {0 }.<br />

Proposição 4.1. Seja q uma forma quadrática em R n e sejam v1, v2, . . . , vk vetores em R n .<br />

Seja G = (gij), gij = 〈vi, vj〉, a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1, . . . , vk na forma bilinear<br />

simétrica <strong>de</strong>finida por q em R n . Então:<br />

(a) Se v1, . . . , vk são vetores linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, então G é uma matriz singular<br />

(não-invertível).<br />

(b) Suponhamos que os vetores v1, . . . , vk gerem um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n .<br />

Neste caso, se G é singular, então v1, . . . , vk são vetores linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Demonstração. (a) Suponhamos que {v1, v2, . . . , vk} seja um conjunto linearmente <strong>de</strong>pen-<br />

<strong>de</strong>nte. Então existe um vetor não-nulo x = (x1, . . . , xk) ∈ R k tal que x1v1+· · ·+xkvk =<br />

0. A i-ésima componente do vetor Gx é dada por<br />

(Gx)i =<br />

k<br />

j=1<br />

gijxj =<br />

k<br />

<br />

〈vi, vj〉xj = vi,<br />

j=1<br />

k<br />

j=1<br />

xjvj<br />

<br />

= 〈vi,0〉 = 0 . (4.2)<br />

Como i é arbitrário, concluímos que o vetor Gx tem todas as componentes nulas. Assim<br />

Gx = 0 e x não é o vetor nulo. Isto implica que G é uma matriz singular, ou seja, G<br />

não tem inversa.<br />

(b) Seja V o espaço gerado pelos vetores v1, . . . , vk. Por hipótese temos que V é não-<br />

<strong>de</strong>generado, isto é, Rad(V ) = {0 }. Agora suponhamos que a matriz <strong>de</strong> Gram G dos<br />

vetores v1, . . . , vk seja uma matriz singular. Isto implica que existe um vetor não-nulo<br />

x = (x1, . . . , xk) em R k tal que Gx = 0 e, portanto, x t Gx = 0. Mas,<br />

x t Gx =<br />

k<br />

i,j=1<br />

gijxixj =<br />

k<br />

〈vi, vj〉xixj =<br />

i,j=1<br />

40<br />

k<br />

<br />

k<br />

〈xivi, xjvj〉 =<br />

i,j=1<br />

j=1<br />

xjvj ,<br />

k<br />

j=1<br />

xjvj<br />

<br />

= 0 .


Portanto concluímos que o vetor v =<br />

k<br />

xjvj é um vetor isotrópico contido em V . Por<br />

j=1<br />

outro lado, como Gx = 0, todas as componentes <strong>de</strong>ste vetor são iguais ao número zero.<br />

Mas, da equação (4.2), temos que a i-ésima componente do vetor Gx é igual a<br />

<br />

k<br />

<br />

0 = (Gx)i = vi, = 〈vi, v〉.<br />

j=1<br />

Assim, concluímos que 〈vi, v〉 = 0 para todo i = 1, 2, . . . , k. Como V = span{v1, . . . , vk},<br />

isto implica que 〈w, v〉 = 0 para todo w ∈ V . Logo v ∈ Rad(V ) = {0 }, e isso implica<br />

k<br />

que v = 0. Assim, v = xjvj = 0, don<strong>de</strong> concluímos que os vetores v1, . . . , vk são<br />

j=1<br />

xjvj<br />

linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes pois x = (x1, . . . , xk) não é o vetor nulo.<br />

Observação: A conclusão da parte (b) da proposição anterior po<strong>de</strong> ser falsa se V =<br />

span{v1, . . . , vk} for um subespaço <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . De fato, consi<strong>de</strong>re a forma<br />

bilinear simétrica não-<strong>de</strong>generada em R 3 dada por 〈x, y〉 = x1y1+x2y2−x3y3. Se v1 = (1, 0, 0)<br />

e v2 = (0, 1, 1) então esses vetores são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, mas possuem como matriz<br />

<strong>de</strong> Gram, a seguinte matriz singular<br />

G =<br />

<br />

1 0<br />

.<br />

0 0<br />

Observe que isso não contradiz a proposição anterior pois o espaço V = span{v1, v2} é<br />

<strong>de</strong>generado: v2 ∈ Rad(V ).<br />

Exemplo: Seja q uma forma quadrática em R n e seja V = {0 } um subespaço <strong>de</strong> R n . Se V<br />

só contém vetores isotrópicos, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> polarização implica que 〈x, y〉 = 0 para todo<br />

x e y <strong>de</strong> V . Daí vemos que Rad(V ) = V e que V é um subespaço <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Daí<br />

concluímos que se V = {0 } é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n , então V <strong>de</strong>ve conter<br />

algum vetor não-isotrópico.<br />

Teorema 4.1. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n . Para todo subespaço<br />

V <strong>de</strong> R n temos:<br />

dim(V ) + dim(V ⊥ ) = n.<br />

41


Demonstração. Lembre-se que se (R n ) ∗ <strong>de</strong>nota o espaço dual <strong>de</strong> R n , espaço dos funcionais<br />

lineares T : R n → R, então (R n ) ∗ e R n são isomorfos e, em particular, dim (R n ) ∗ = dim(R n ).<br />

Vamos consi<strong>de</strong>rar agora a seguinte transformação linear<br />

f : R n → (R n ) ∗<br />

dada por f(x) = 〈·, x〉 sendo f(x) : R n → R o funcional linear <strong>de</strong>finido por f(x) · v = 〈v, x〉.<br />

Utilizando o fato da forma quadrática q ser não-<strong>de</strong>generada é fácil provar que f é injetiva.<br />

Como dim (R n ) ∗ = dim(R n ), po<strong>de</strong>mos concluír daí então que f também é sobrejetiva. Assim,<br />

<strong>de</strong>monstramos que, <strong>de</strong> fato, f é um isomorfismo.<br />

Se i : V → R n representa a inclusão, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a transformação linear induzida<br />

i ∗ : (R n ) ∗ → V ∗ por i ∗ (T ) = T ◦ i, sendo T : R n → R um funcional linear contido em (R n ) ∗ .<br />

Afirmamos que i ∗ é sobrejetiva. Para ver isso, consi<strong>de</strong>re uma base B = {e1, . . . , en} <strong>de</strong> R n<br />

tal que os primeiros k vetores {e1, . . . , ek} seja uma base <strong>de</strong> V . Se T ∈ V ∗ , <strong>de</strong>fina A ∈ (R n ) ∗<br />

através dos seguintes valores na base B:<br />

A(ei) = T (ei), i = 1, 2, . . . , k e A(ej) = 0, j = k + 1, k + 2, . . . , n .<br />

Temos que i ∗ (A) · ei = A ◦ i(ei) = A(ei) = T (ei) para i = 1, 2, . . . , k. Logo i ∗ (A) = T . Isto<br />

<strong>de</strong>monstra que, <strong>de</strong> fato, i ∗ é sobrejetiva.<br />

Vamos agora consi<strong>de</strong>rar a composição<br />

i ∗ ◦ f : R n → V ∗<br />

Pelo Teorema do Núcleo e da Imagem temos que<br />

dim(R n ) = dim ker(i ∗ ◦ f) + dim Im(i ∗ ◦ f) .<br />

Mas Im(i ∗ ◦f) = V ∗ pois f e i ∗ são sobrejetivas. E, como é facilmente verificado, ker(i ∗ ◦f) =<br />

V ⊥ . Assim, concluímos que<br />

dim(R n ) = dim(V ⊥ ) + dim(V ) .<br />

42


Teorema 4.2. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n e seja V um subespaço<br />

<strong>de</strong> R n . Então V ⊥ ⊥ = V.<br />

Demonstração. Por <strong>de</strong>finição temos que<br />

V ⊥ = {w ∈ R n | 〈w, v〉 = 0 ∀ v ∈ V } .<br />

V ⊥ ⊥ = {x ∈ R n | 〈w, x〉 = 0 ∀ w ∈ V ⊥ } .<br />

Se v ∈ V então 〈w, v〉 = 0 para todo w ∈ V ⊥ . Isto implica que v ∈ V ⊥ ⊥ e que V ⊂ V ⊥ ⊥ .<br />

Mas, do teorema anterior, temos que<br />

dim V + dim V ⊥ = n e dim V ⊥ + dim V ⊥ ⊥ = n .<br />

Daí temos que dim V = dim V ⊥ ⊥ . Desta igualda<strong>de</strong> e do fato que V ⊂ V ⊥ ⊥ , po<strong>de</strong>mos<br />

concluir que V = V ⊥ ⊥ .<br />

Definição 4.5. Seja q uma forma quadrática em R n e sejam V e W subespaços <strong>de</strong> R n .<br />

Dizemos que R n é a soma direta ortogonal <strong>de</strong> V e W se R n = V ⊕ W e se V e W são<br />

subespaços ortogonais <strong>de</strong> R n . Se este é o caso, escrevemos R n = V ○⊥ W .<br />

Proposição 4.2. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n e seja V um subespaço<br />

<strong>de</strong> R n . As seguintes afirmações são equivalentes:<br />

(1) V é não-<strong>de</strong>generado.<br />

(2) V ⊥ é não-<strong>de</strong>generado.<br />

(3) V ∩ V ⊥ = {0 }.<br />

(4) R n = V + V ⊥ .<br />

(5) R n = V ○⊥ V ⊥ .<br />

43


Demonstração. Como um subespaço W <strong>de</strong> R n é não-<strong>de</strong>generado se, e somente se, W ∩W ⊥ =<br />

{0 }, e como V ⊥ ⊥ = V , vemos que as afirmações (1), (2) e (3) são equivalentes. Agora,<br />

lembre-se <strong>de</strong> que para quaisquer subespaços W1 e W2 <strong>de</strong> R n temos:<br />

Logo<br />

dim(W1 + W2) = dim(W1) + dim(W2) − dim(W1 ∩ W2).<br />

dim(V + V ⊥ ) = dim(V ) + dim(V ⊥ ) − dim(V ∩ V ⊥ )<br />

Como dim(V ) + dim(V ⊥ ) = n vemos então que:<br />

dim(V + V ⊥ ) = n − dim(V ∩ V ⊥ ).<br />

Esta igualda<strong>de</strong> implica que a equivalência entre (3) e (4). Da equivalência entre (3) e (4), e<br />

do fato <strong>de</strong> V e V ⊥ serem dois subespaços ortogonais <strong>de</strong> R n , po<strong>de</strong>mos concluir a equivalência<br />

entre (4) e (5).<br />

4.2 Teoremas <strong>de</strong> Witt<br />

Definição 4.6. Seja q uma forma quadrática em R n . Dizemos que uma transformação<br />

linear T : R n → R n é uma isometria <strong>de</strong> R n se T for um isomorfismo linear (injetivo e<br />

sobrejetivo) e se T preservar o forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida por q, isto é, se<br />

〈T (x), T (y)〉 = 〈x, y〉 ∀ x, y ∈ R n .<br />

O conjunto <strong>de</strong> todas as isometrias <strong>de</strong> R n <strong>de</strong>fine um grupo que será representado por O(R n , q).<br />

Analogamente, se V e W são subespaços <strong>de</strong> R n , uma transformação linear T : V → W é<br />

uma isometria entre V e W se T for um isomorfismo linear (injetivo e sobrejetivo) <strong>de</strong> V<br />

sobre W , e se T preservar o forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida por q em V , isto é, se<br />

〈T (x), T (y)〉 = 〈x, y〉 ∀ x, y ∈ V .<br />

Quando existe uma isometria entre dois subespaços V e W <strong>de</strong> R n dizemos que V e W são<br />

isomorfos e escrevemos V ≈ W .<br />

44


Exemplo: Em R n+1 consi<strong>de</strong>re a forma quadrática q(x) = x 2 1 + x 2 2 + · · · + x 2 n − x 2 n+1, que<br />

<strong>de</strong>fine a seguinte forma bilinear simétrica em R n+1<br />

〈x, y〉 = x1y1 + x2y2 + · · · + xnyn − xn+1yn+1 .<br />

Neste caso, o grupo O(R n+1 , q) é exatamente o grupo O(n, 1) <strong>de</strong>finido no capítulo 1.<br />

Definição 4.7. Seja q uma forma quadrática em R n e seja v ∈ R n um vetor não-isotrópico,<br />

isto é, v é tal que q(v) = 〈v, v〉 = 0. A reflexão ao redor <strong>de</strong> v é a seguinte isometria iv <strong>de</strong><br />

R n<br />

〈x, v〉<br />

iv(x) = x − 2 v .<br />

〈v, v〉<br />

Efetuando alguns cálculos simples verifica-se que iv ∈ O(R n , q), que iv tem or<strong>de</strong>m dois e que<br />

iv(v) = −v.<br />

Na <strong>de</strong>monstração do Teorema do Cancelamento <strong>de</strong> Witt, além do conceito <strong>de</strong> involução,<br />

utilizaremos a seguite proposição.<br />

Proposição 4.3. Seja q uma forma quadrática em R n e seja k um número real tal que k = 0.<br />

O grupo O(R n , q) age transitivamente no conjunto<br />

{ x ∈ R n | q(x) = k } .<br />

Demonstração. Sejam x e y vetores em R n tais que q(x) = q(y) = k = 0. Queremos mostrar<br />

que existe uma isometria <strong>de</strong> R n que manda x em y. Para isso, observe primeiramente que<br />

〈x − y, x + y〉 = 〈x, x〉 − 〈y, y〉 = 0 .<br />

Isto implica que q(x − y) = 0 ou que q(x + y) = 0 pois, caso contrário, se q(x − y) = 0 e se<br />

q(x + y) = 0 teríamos que q(x) = 0 pois x = 1<br />

[(x − y) + (x + y)].<br />

2<br />

Se x − y é não-isotrópico, a reflexão ix−y é tal que<br />

ix−y(x − y) = −x + y e ix−y(x + y) = x + y .<br />

Somando essa duas expressões temos que ix−y(x) = y, como queríamos <strong>de</strong>monstrar.<br />

Se x + y é não-isotrópico, a reflexão ix+y é tal que<br />

ix+y(x + y) = −x − y e ix+y(x − y) = x − y .<br />

45


Somando essa duas expressões temos que ix+y(x) = −y. Consi<strong>de</strong>rando, neste caso, a isome-<br />

tria T (x) = −x <strong>de</strong> R n , vemos que a composição T ◦ ix+y leva x em y, como queríamos<br />

<strong>de</strong>monstrar.<br />

Teorema 4.3 (do cancelamento <strong>de</strong> Witt). Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em<br />

R n , e sejam V e W dois subespaços não-<strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R n . Sabemos que<br />

Se V ≈ W então V ⊥ ≈ W ⊥ .<br />

R n = V ○⊥ V ⊥ = W ○⊥ W ⊥ .<br />

Demonstração. Seja σ : V → W uma isometria <strong>de</strong> V sobre W . Demonstraremos o teorema<br />

por indução finita sobre dim(V ).<br />

Em primeiro lugar, suponhamos que dim(V ) = 1, e que V = span{v0}. Logo temos<br />

que W = span{σ(v0)}. Como V é não-<strong>de</strong>generado temos que 〈v0, v0〉 = 〈σ(v0), σ(v0)〉 = 0.<br />

Aplicando a proposição anterior, vemos que existe uma isometria f <strong>de</strong> R n tal que f(v0) =<br />

σ(v0). Assim, f é uma isometria <strong>de</strong> R n tal que f(V ) = W e f(v) = σ(v) para todo v ∈ V .<br />

Isto implica que<br />

x ∈ V ⊥ ⇔ 〈x, v〉 = 0 ∀ v ∈ V ⇔ 〈f(x), f(v)〉 = 0 ∀ v ∈ V ⇔<br />

⇔ 〈f(x), σ(v)〉 = 0 ∀ v ∈ V ⇔ f(x) ∈ W ⊥<br />

Assim, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a restrição f |V ⊥ : V ⊥ → W ⊥ , que é uma isometria procurada <strong>de</strong> V ⊥<br />

sobre W ⊥ .<br />

Suponhamos agora, como nossa hipótese da indução, que o teorema seja verda<strong>de</strong>iro<br />

sempre que dim(V ) ≤ k, sendo k um número fixado no conjunto {1, 2, . . . , n − 1}. Seja<br />

V um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n tal que dim(V ) = k + 1 e seja σ : V → W uma<br />

isometria. Visto que V é não-<strong>de</strong>generado, como observado no exemplo da página 41, é fácil<br />

ver que existe um vetor não-isotrópico v0 ∈ V . Assim, aplicando a proposição 4.2, po<strong>de</strong>mos<br />

escrever<br />

V = span{v0} ○⊥ V1<br />

46


on<strong>de</strong> V1 também é um subespaço não <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Do mesmo modo, também po<strong>de</strong>mos<br />

escrever<br />

W = span{σ(v0)} ○⊥ σ(V1)<br />

on<strong>de</strong> σ(V1) é um subespaço não <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Deste modo temos que<br />

R n = V ○⊥ V ⊥ ⇒ R n = span{v0} ○⊥ V1 ○⊥ V ⊥ .<br />

R n = W ○⊥ W ⊥ ⇒ R n = span{σ(v0)} ○⊥ σ(V1) ○⊥ W ⊥ .<br />

Aplicando o Teorema do Cancelando <strong>de</strong> Witt para o caso 1-dimensional (que acabamos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstrar), po<strong>de</strong>mos concluir que existe uma isometria f : V1 ○⊥ V ⊥ → σ(V1) ○⊥ W ⊥ .<br />

Como f(V1 ○⊥ V ⊥ ) = f(V1) ○⊥ f(V ⊥ ) e como f é sobrejetora, concluímos que<br />

f(V1) ○⊥ f(V ⊥ ) = σ(V1) ○⊥ W ⊥ .<br />

Como f(V1) ≈ σ(V1) e como dim(f(V1)) = dim(V1) = dim(V )−1 = k, a hipótese da indução<br />

implica que f(V ⊥ ) ≈ W ⊥ . Agora, como evi<strong>de</strong>ntemente f(V ⊥ ) ≈ V ⊥ , por transitivida<strong>de</strong><br />

concluímos finalmente que V ⊥ ≈ W ⊥ .<br />

Para a <strong>de</strong>monstração do Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt, além do Teorema <strong>de</strong> Cancelamento,<br />

precisaremos do seguinte lema.<br />

Lema 4.1. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n e seja V um subespaço<br />

<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Se v0 ∈ V ∩ V ⊥ é um vetor não-nulo e se R é o complemento linear <strong>de</strong><br />

span{v0} em V , no sentido que V = span{v0} ⊕ R, então existe um vetor u ∈ R n tal que:<br />

• u é isotrópico.<br />

• u é ortogonal a R, isto é, 〈u, r〉 = 0 para todo r ∈ R.<br />

• 〈v0, u〉 = 1.<br />

• u /∈ V .<br />

47


Demonstração. Observe que sendo V <strong>de</strong>generado, temos que V ∩V ⊥ = {0 } e que todo vetor<br />

v0 ∈ V ∩ V ⊥ é um vetor isotrópico. Além disso, se R é o complemento linear <strong>de</strong> span{v0}<br />

em V , no sentido que V = span{v0} ⊕ R, então R ⊂ V e v0 é ortogonal a R.<br />

Para começar, observe que existe T ∈ (R n ) ∗ tal que T (v0) = 1 e T (R) = 0. Utilizando o<br />

isomorfismo linear f : R n → (R n ) ∗ dado por f(x) · v = 〈v, x〉, <strong>de</strong>finido na <strong>de</strong>monstração do<br />

teorema 4.1, vemos que existe um vetor b ∈ R n tal que T (v) = 〈b, v〉 para todo v ∈ R n .<br />

Deste modo, para todo r ∈ R, temos que<br />

〈b, r〉 = T (r) = 0 e 〈b, v0〉 = T (v0) = 1 .<br />

Consi<strong>de</strong>re agora o vetor u = b− 1<br />

2 〈b, b〉 v0. Vamos provar que esse vetor possui as proprieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>sejadas.<br />

• u é isotrópico, pois v0 é isotrópico, 〈b, v0〉 = 1 e<br />

〈u, u〉 =<br />

<br />

b − 1<br />

2 〈b, b〉 v0 , b − 1<br />

<br />

〈b, b〉 v0<br />

2<br />

= 〈b, b〉 − 〈b, b〉 + 1<br />

4 〈b, b〉2 〈v0, v0〉 = 0.<br />

• u é ortogonal a R pois, para todo r ∈ R, temos que 〈v0, r〉 = 0 e<br />

〈u, r〉 =<br />

<br />

b − 1<br />

2 〈b, b〉 v0<br />

<br />

, r = 〈b, r〉 − 1<br />

2 〈b, b〉〈v0, r〉 = 0.<br />

• 〈v0, u〉 =<br />

<br />

v0 , b − 1<br />

<br />

〈b, b〉 v0<br />

2<br />

• u /∈ V pois v0 é ortogonal a V e 〈v0, u〉 = 1 = 0.<br />

= 〈v0, b〉 − 1<br />

2 〈b, b〉〈v0, v0〉 = 〈v0, b〉 = 1.<br />

Teorema 4.4 (<strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> Witt). Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n<br />

e seja σ : V → W uma isometria entre dois subespaços <strong>de</strong> R n . Então σ po<strong>de</strong> ser estendida<br />

a uma isometria σ : R n → R n <strong>de</strong>finida em todo o espaço R n , σ(x) = σ(x) para todo x ∈ V .<br />

Demonstração. Primeiramente vamos consi<strong>de</strong>rar o caso em que V é um subespaço não-<br />

<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Neste caso, σ(V ) = W também é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n<br />

e<br />

48


R n = V ○⊥ V ⊥ = W ○⊥ W ⊥ .<br />

Como V ≈ W , o Teorema do Cancelamento <strong>de</strong> Witt implica que V ⊥ ≈ W ⊥ . Seja f : V ⊥ →<br />

W ⊥ uma isometria. Defina σ : V ○⊥ V ⊥ → W ○⊥ W ⊥ por σ(x ⊕ y) = σ(x) ⊕ f(y), para todo<br />

x ∈ V e todo y ∈ V ⊥ . Desta <strong>de</strong>finição, é fácil provar que σ é uma isometria do espaço R n tal<br />

que σ| V = σ. Isto termina a <strong>de</strong>monstração do teorema no caso em que V é não-<strong>de</strong>generado.<br />

Vamos consi<strong>de</strong>rar agora o caso em que V é um subespaço <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Então seja<br />

σ : V → W uma isometria entre dois subespaços <strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R n . Como V é <strong>de</strong>generado,<br />

existe um vetor não-nulo v0 ∈ V ∩ V ⊥ . Se R é o complemento linear <strong>de</strong> span{v0} em V , no<br />

sentido que V = span{v0} ⊕ R, o lema anterior garante que existe um vetor u ∈ R n tal que:<br />

u é isotrópico, u é ortogonal a R, 〈v0, u〉 = 1 e u /∈ V .<br />

Consi<strong>de</strong>re agora o subespaço <strong>de</strong>generado σ(V ) = W <strong>de</strong> R n . Como σ : V → W é uma<br />

isometria, vemos que σ(v0) é um vetor não-nulo em W ∩ W ⊥ e que σ(R) é o complemento<br />

linear <strong>de</strong> span{σ(v0)} em W , no sentido que W = span{σ(v0)}⊕σ(R). Aplicando novamente<br />

o lema anterior, vemos que existe um vetor w ∈ R n tal que: w é isotrópico, w é ortogonal a<br />

σ(R), 〈σ(v0), w〉 = 1 e w /∈ W .<br />

Seja V1 = V + span{u}. Como u /∈ V , dim(V1) = dim(V ) + 1. Além disso, observe que<br />

V1 = R ○⊥ span{v0, u}.<br />

Agora estenda σ : V → W a aplicação linear σ1 : V1 → R n , <strong>de</strong>finida por<br />

• σ1(r) = σ(r) para todo r ∈ R,<br />

• σ1(v0) = σ(v0),<br />

• σ1(u) = w.<br />

Utilizando as <strong>de</strong>composições em somas diretas ortogonais<br />

V1 = R ○⊥ span{v0, u} e σ1(V1) = σ(R) ○⊥ span{σ(v0), w}<br />

é fácil provar que σ1 é uma isometria <strong>de</strong> V1 sobre σ1(V1). Deste modo, dada uma isometria<br />

σ : V → W <strong>de</strong>finida num subespaço <strong>de</strong>generado V <strong>de</strong> R n , po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r essa aplicação a<br />

uma isometria σ1 : V1 → σ1(V1) <strong>de</strong>finida em um espaço V1 tal que dim(V1) = dim(V ) + 1. Se<br />

V1 é não-<strong>de</strong>generado, utilizando a primeira parte da <strong>de</strong>monstração do teorema em questão,<br />

49


po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r σ1 a uma isometria <strong>de</strong>finida em todo o espaço R n . Se V1 é <strong>de</strong>generado,<br />

aplicamos novamente o que acabamos <strong>de</strong> fazer um número suficiente <strong>de</strong> vezes até termos<br />

estendido σ a uma isometria <strong>de</strong>finida em um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Observe que<br />

este espaço existe pois o espaço ambiente R n é não-<strong>de</strong>generado. Deste modo, vemos que, em<br />

qualquer situação, sempre po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r a isometria σ dada a uma isometria <strong>de</strong>finida<br />

em todo o espaço R n . Isto termina a <strong>de</strong>monstração do Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt.<br />

4.3 Aplicações do Teorema <strong>de</strong> Witt<br />

Nesta seção vamos <strong>de</strong>monstrar um teorema que apresenta uma resposta para a seguinte<br />

pergunta: dados dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores (P1, P2, . . . , Pk) e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) em<br />

(Rn , q), e q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em Rn , sobre quais condições existe uma<br />

isometria f ∈ O(R n , q) tal que f(Pi) = P ′<br />

i , para i = 1, 2, . . . , k ?<br />

Antes <strong>de</strong> apresentar uma resposta para esta pergunta, observe que se existe uma tal isometria,<br />

então 〈Pi, Pj〉 = 〈P ′<br />

i , P ′ j〉 para todo i, j = 1, 2, . . . , k. Esta condição po<strong>de</strong> ser resumida<br />

dizendo-se que a matriz <strong>de</strong> Gram G dos vetores (P1, P2, . . . , Pk) é igual a matriz <strong>de</strong> Gram<br />

G ′ dos vetores (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ), isto é,<br />

se G = ( 〈Pi, Pj〉 ) e G ′ = 〈P ′<br />

i , P ′ j〉 então G = G ′ . (4.3)<br />

Além disso, se existe uma tal isometria, como f é um isomorfismo linear <strong>de</strong> R n , se existir<br />

algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência linear entre os vetores P1, P2, . . . , Pk, então o mesmo tipo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência linear também existe entre os vetores P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k . Esta condição po<strong>de</strong> ser<br />

resumida através da equivalência:<br />

se λ = (λ1, λ2, . . . , λk) ∈ R k então,<br />

k<br />

λi Pi = 0 ⇔<br />

i=1<br />

k<br />

i=1<br />

λi P ′<br />

i = 0 . (4.4)<br />

Deste modo, as condições (4.3) e (4.4) são condições necessárias para a existência <strong>de</strong> uma<br />

isometria f tal que f(Pi) = P ′<br />

i , para i = 1, 2, . . . , k. Veremos agora que essas condições<br />

também são condições suficientes para a existência da isometria f. Esse resultado é o Teo-<br />

rema 1 do artigo [13] <strong>de</strong> Roland Höfer.<br />

50


Observação: Como o próximo teorema será utilizado para o <strong>de</strong>senvolvimento da teoria dos<br />

próximos capítulos, daremos duas <strong>de</strong>monstrações para ele. A <strong>de</strong>monstração logo abaixo é a<br />

que aparece no artigo <strong>de</strong> Roland Höfer. No final <strong>de</strong>ste capítulo, apresentaremos a segunda<br />

<strong>de</strong>monstração.<br />

Teorema 4.5. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n , e sejam (P1, P2, . . . , Pk)<br />

e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn . Existe uma isometria f ∈<br />

O(R n , q) tal que f(Pi) = P ′<br />

i , para i = 1, 2, . . . , k, se, e somente se, as condições (4.3) e (4.4)<br />

são satisfeitas.<br />

Demonstração. No início <strong>de</strong>sta seção observamos que se existe uma isometria f tal que<br />

f(Pi) = P ′<br />

i , para i = 1, 2, . . . , k, então as condições (4.3) e (4.4) são satisfeitas.<br />

Reciprocamente, suponhamos que (P1, P2, . . . , Pk) e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) são dois conjuntos<br />

or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn que satisfazem as condições (4.3) e (4.4). Vamos mostrar a<br />

existência da <strong>de</strong>sejada isometria f. Para isso, consi<strong>de</strong>re primeiramente as seguintes trans-<br />

formações lineares g : R k → R n e g ′ : R k → R n <strong>de</strong>finidas por:<br />

g(λ) =<br />

k<br />

i=1<br />

λi Pi e g ′ (λ) =<br />

k<br />

i=1<br />

λi P ′<br />

i , λ = (λ1, λ2, . . . , λk) ∈ R k .<br />

Utilizando a condição (4.3), que nos diz que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores (P1, P2, . . . , Pk)<br />

é igual a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ), prova-se que<br />

Utilizando a condição (4.4), tem-se que<br />

〈g(λ), g(µ)〉 = 〈g ′ (λ), g ′ (µ)〉 , ∀ λ, µ ∈ R k . (4.5)<br />

ker(g) = ker(g ′ ).<br />

Tome agora uma base {v1, v2, . . . , vr} para o subespaço Im(g) <strong>de</strong> R n , e consi<strong>de</strong>re vetores<br />

u1, u2, . . . , ur em R k tais que g(ui) = vi para i = 1, 2, . . . , r. Como {v1, v2, . . . , vr} é um<br />

conjunto linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, é fácil provar que {u1, u2, . . . , ur} também é um conjunto<br />

linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Além disso, efetuando uma conta simples, prova-se também que<br />

span{u1, u2, . . . , ur} ∩ ker(g) = {0 }<br />

51


e, do Teorema do Núcleo e da Imagem, que<br />

R k = span{u1, u2, . . . , ur} ⊕ ker(g). (4.6)<br />

Defina agora v ′ i = g ′ (ui) para i = 1, 2, . . . , r. Vamos provar que {v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} também é<br />

um conjunto linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. De fato,<br />

α1v ′ 1 + · · · + αrv ′ r = 0 ⇒ α1g ′ (u1) + · · · + αrg ′ (ur) = 0 ⇒<br />

⇒ g ′ (α1u1 + · · · + αrur) = 0 ⇒<br />

⇒ α1u1 + · · · + αrur ∈ ker(g ′ ) = ker(g) ⇒<br />

⇒ α1u1 + · · · + αrur ∈ span{u1, . . . , ur} ∩ ker(g) = {0 } ⇒<br />

⇒ α1u1 + · · · + αrur = 0 ⇒<br />

⇒ α1 = · · · = αr = 0,<br />

pois os vetores u1, u2, . . . , ur são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Deste modo, como v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r são vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, vemos que eles geram<br />

um subespaço <strong>de</strong> dimensão r, evi<strong>de</strong>ntemente contido em Im(g ′ ). Agora observe que, do<br />

Teorema do Núcleo e da Imagem temos que<br />

dim R k = dim Im(g) + dim ker(g) e dim R k = dim Im(g ′ ) + dim ker(g ′ ) .<br />

Como ker(g) = ker(g ′ ), estas igualda<strong>de</strong>s implicam que dim Im(g ′ ) = dim Im(g) = r. Agora,<br />

<strong>de</strong> dim span{v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} = r, dim Im(g ′ ) = r e span{v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} ⊂ Im(g ′ ) concluímos<br />

que span{v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} = Im(g ′ ), e que {v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} é uma base para Im(g ′ ).<br />

Consi<strong>de</strong>re agora a seguinte transformação linear ϕ : Im(g) → Im(g ′ ) entre os subespaços<br />

Im(g) e Im(g ′ ) <strong>de</strong> R n , <strong>de</strong>finida através dos seguintes valores na base {v1, v2, . . . , vr} <strong>de</strong> Im(g):<br />

ϕ(vi) = v ′ i, i = 1, 2, . . . , r .<br />

Como {v1, v2, . . . , vr} é base <strong>de</strong> Im(g), e como ϕ transforma esta base na base {v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r}<br />

<strong>de</strong> Im(g ′ ), vemos que ϕ : Im(g) → Im(g ′ ) é um isomorfismo linear. Utilizando a <strong>de</strong>composição<br />

em soma direta <strong>de</strong> R k dada em (4.6) e ker(g) = ker(g ′ ), prova-se que<br />

52


ϕ ◦ g = g ′ .<br />

Desta composição, e da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> g e g ′ , vemos que se {e1, e2, . . . , ek} é a base canônica<br />

<strong>de</strong> R k , então g(ei) = Pi, g ′ (ei) = P ′<br />

i , ϕ ◦ g(ei) = g ′ (ei) e assim<br />

ϕ(Pi) = P ′<br />

i<br />

i = 1, 2, . . . , k .<br />

Vamos mostrar agora que ϕ também preserva a forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida por q em<br />

R n . De fato, utilizando (4.5), temos que<br />

〈ϕ(vi), ϕ(vj)〉 = v ′ i, v ′ ′<br />

j = 〈g (ui), g ′ (uj)〉 = 〈g(ui), g(uj)〉 = 〈vi, vj〉 .<br />

Deste modo, <strong>de</strong>monstramos que ϕ : Im(g) → Im(g ′ ) é uma isometria entre dois subespaços<br />

<strong>de</strong> R n . Assim, aplicando o Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt, vemos que existe uma isometria<br />

f : R n → R n tal que f|Im(g) = ϕ. Como, para cada i = 1, 2, . . . , k, Pi ∈ Im(g) e f(Pi) =<br />

ϕ(Pi) = P ′<br />

i , concluímos que f é a <strong>de</strong>sejada isometria em O(R n , q) que manda cada vetor Pi<br />

no respectivo vetor P ′<br />

i .<br />

Apesar das condições (4.3) e (4.4) serem hipóteses naturais para a valida<strong>de</strong> do teorema<br />

anterior, a condição (4.4) não é <strong>de</strong> fácil verificação para dois conjuntos explícitos <strong>de</strong> k vetores<br />

em R n . Entretanto, para uma classe bastante importante <strong>de</strong> vetores em R n (levantamentos<br />

<strong>de</strong> pontos na fronteira do espaço hiperbólico real), veremos agora que a condição (4.4) é uma<br />

conseqüência da condição (4.3).<br />

Observação: A <strong>de</strong>monstração da proposição a seguir possui muitas idéias em comum com<br />

a <strong>de</strong>monstração da proposição 4.1, que relaciona matrizes <strong>de</strong> Gram singulares com vetores<br />

linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em R n .<br />

Proposição 4.4. Seja q uma forma quadrática em R n , e sejam (P1, P2, . . . , Pk) e<br />

(P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores distintos em Rn , tais que<br />

W = span{P1, P2, . . . , Pk} e W ′ = span{P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k } são dois subespaços não-<strong>de</strong>generados<br />

<strong>de</strong> Rn . Neste caso, a condição (4.3) implica a condição (4.4).<br />

53


Demonstração. Sejam (P1, . . . , Pk) e (P ′ 1, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em<br />

Rn , tais que W = span{P1, . . . , Pk} e W ′ = span{P ′ 1, . . . , P ′ k } são dois subespaços não<strong>de</strong>generados<br />

<strong>de</strong> Rn , isto é, Rad(W ) = Rad(W ′ ) = {0}. Seja G matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores<br />

P1, . . . , Pk e seja G ′ a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores P ′ 1, . . . , P ′ k .<br />

Suponhamos que G = G ′ , isto é, suponhamos que gij = 〈Pi, Pj〉 seja igual a g ′ ij = 〈P ′<br />

i , P ′ j〉<br />

para todo i e j. Devemos mostrar que, sob todas estas hipóteses, a condição (4.4) é válida.<br />

Então suponhamos que<br />

x1P1 + · · · + xkPk = 0 ,<br />

para um certo vetor x = (x1, . . . , xk) ∈ R k . Devemos mostrar que, para estes mesmos<br />

coeficientes x1, . . . , xk, temos que x1P ′ 1 + · · · + xkP ′ k = 0 . Para começar, observe que a<br />

i-ésima componente do vetor Gx ∈ R k é dada por:<br />

(Gx)i =<br />

k<br />

j=1<br />

gijxj =<br />

k<br />

<br />

〈Pi, Pj〉xj = Pi,<br />

j=1<br />

k<br />

j=1<br />

xjPj<br />

<br />

= 〈Pi,0〉 = 0 . (4.7)<br />

Como (Gx)i = 0 e i é arbitrário, concluímos que Gx = 0. Daí x t Gx = 0 e como G = G ′<br />

obtemos x t G ′ x = 0. Mas,<br />

x t G ′ x =<br />

k<br />

i,j=1<br />

g ′ ijxixj =<br />

k<br />

i,j=1<br />

〈P ′<br />

i , P ′ j〉xixj =<br />

Portanto concluímos que o vetor v =<br />

k<br />

k<br />

i,j=1<br />

〈xiP ′<br />

i , xjP ′ j〉 =<br />

k<br />

j=1<br />

xjP ′ j ,<br />

j=1<br />

span{P ′ 1, . . . , P ′ k }. Por outro lado, <strong>de</strong> Gx = 0 e consequentemente G ′ x = 0, todas as compo-<br />

k<br />

j=1<br />

xjP ′ j<br />

xjP ′ j é um vetor isotrópico contido em W ′ =<br />

nentes <strong>de</strong>ste vetor são iguais ao número zero. Mas, <strong>de</strong> modo análogo à equação (4.7), vemos<br />

que a i-ésima componente do vetor G ′ x é igual a<br />

0 = (G ′ x)i =<br />

k<br />

j=1<br />

g ′ ijxj =<br />

k<br />

j=1<br />

〈P ′<br />

i , P ′ j〉xj =<br />

<br />

P ′<br />

i ,<br />

k<br />

j=1<br />

xjP ′ j<br />

<br />

= 〈P ′<br />

i , v〉.<br />

Assim, concluímos que 〈P ′<br />

i , v〉 = 0 para todo i = 1, 2, . . . , k. Como W ′ = span{P ′ 1, . . . , P ′ k },<br />

isto implica que 〈w, v〉 = 0 para todo w ∈ W ′ . Logo v ∈ Rad(W ′ ) = {0 }, e isso implica que<br />

v = 0. Assim, v =<br />

k<br />

j=1<br />

xjP ′ j = 0, ou seja, x1P ′ 1 +· · ·+xkP ′ k = 0, como queríamos <strong>de</strong>monstrar.<br />

54<br />

<br />

= 0 .


A implicação inversa x1P ′ 1 + · · · + xkP ′ k = 0 ⇒ x1P1 + · · · + xkPk = 0 tem <strong>de</strong>monstração<br />

análoga à que acabamos <strong>de</strong> fazer.<br />

Utilizando esta proposição, o teorema 4.5 po<strong>de</strong> ser re-enunciado como o teorema a seguir.<br />

Observamos que este teorema <strong>de</strong>sempenhará um papel central na teoria que será <strong>de</strong>senvolvida<br />

nos próximos capítulos.<br />

Teorema 4.6. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n , e sejam (P1, P2, . . . , Pk)<br />

e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn , que geram dois subespaços<br />

não-<strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R n . Existe uma isometria f ∈ O(R n , q) tal que f(Pi) = P ′<br />

i , para i =<br />

1, 2, . . . , k, se, e somente se, a condição (4.3) é satisfeita.<br />

Exemplo: Veremos agora um exemplo que nos mostra que, em geral, a condição (4.3)<br />

não implica a condição (4.4), e que o teorema anterior po<strong>de</strong> ser falso se os espaços W =<br />

span{P1, . . . , Pk} e W ′ = span{P ′ 1, . . . , P ′ k } são subespaços <strong>de</strong>generados <strong>de</strong> Rn . De fato, em<br />

R 3 consi<strong>de</strong>re a seguinte forma bilinear simétrica não-<strong>de</strong>generada 〈x, y〉 = x1y1 + x2y2 − x3y3.<br />

Agora consi<strong>de</strong>re os seguintes vetores <strong>de</strong> R 3<br />

e<br />

P1 =<br />

P ′ 1 =<br />

⎡ ⎤<br />

1<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

⎣0⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P2<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣1⎥<br />

⎦<br />

0<br />

e P3<br />

⎡ ⎤<br />

1<br />

⎢ ⎥<br />

= P1 + P2 = ⎢<br />

⎣1⎥<br />

⎦<br />

1<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

⎣1⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P ′ ⎡ ⎤<br />

1<br />

⎢ ⎥<br />

2 = ⎢<br />

⎣0⎥<br />

0<br />

⎦ e P ′ 3 = P ′ 2 − P ′ 1 =<br />

⎡ ⎤<br />

1<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

⎣−1⎥<br />

⎦<br />

−1<br />

.<br />

Por um cálculo imediato verifica-se que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> P1, P2, P3 é igual a matriz <strong>de</strong><br />

Gram <strong>de</strong> P ′ 1, P ′ 2, P ′ 3 e que esta matriz é dada por<br />

G =<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢<br />

⎣0<br />

0<br />

1<br />

0<br />

⎥<br />

1⎥<br />

⎦<br />

0 1 1<br />

.<br />

55


Deste modo, para os vetores P1, P2, P3 e P ′ 1, P ′ 2, P ′ 3 a condição (4.3) é satisfeita. Entretanto,<br />

como P3 = P1 + P2 e P ′ 3 = P ′ 2 − P ′ 1 tem-se que a condição (4.4) não é satisfeita. Assim,<br />

não existe uma isometria f <strong>de</strong> R 3 tal que f(Pi) = P ′<br />

i , i = 1, 2, 3. Finalmente observe<br />

que W = span{P1, P2, P3} e W ′ = span{P ′ 1, P ′ 2, P ′ 3} são subespaços <strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R 3 pois<br />

P1 ∈ Rad(W ) e P ′ 1 ∈ Rad(W ′ ).<br />

Apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>snecessário, vamos concluir este capítulo apresentando uma nova <strong>de</strong>monstração<br />

para o teorema 4.5. Esta parece ser um pouco mais simples que a <strong>de</strong>monstração apresentada<br />

anteriormente. Então vamos re-<strong>de</strong>monstrar o seguinte resultado:<br />

[Teorema 4.5] Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n , e sejam (P1, P2, . . . , Pk)<br />

e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn . Existe uma isometria<br />

f ∈ O(R n , q) tal que f(Pi) = P ′<br />

i , para i = 1, 2, . . . , k, se, e somente se, as condições<br />

(4.3) e (4.4) são satisfeitas.<br />

Demonstração. Como observado no início <strong>de</strong>ste capítulo, as condições (4.3) e (4.4) são<br />

hipóteses necessárias para a existência da <strong>de</strong>sejada isometria f.<br />

Reciprocamente, suponhamos que (P1, P2, . . . , Pk) e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) são dois conjuntos<br />

or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn que satisfazem as condições (4.3) e (4.4). Vamos mostrar a<br />

existência da <strong>de</strong>sejada isometria f. Para isto, consi<strong>de</strong>re os seguintes subespaços <strong>de</strong> R n :<br />

W = span{P1, P2, . . . , Pk} e W ′ = span{P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k} .<br />

Entre os vetores P1, P2, . . . , Pk vamos consi<strong>de</strong>rar um subconjunto linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> vetores que também geram W . Simplesmente para não <strong>de</strong>ixar a notação muito car-<br />

regada, reor<strong>de</strong>nando os vetores (P1, P2, . . . , Pk), e <strong>de</strong>pois reor<strong>de</strong>nando os respectivos vetores<br />

em (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ), vamos supor que os primeiros m vetores em (P1, P2, . . . , Pk) formem uma<br />

base <strong>de</strong> W . Isto é, vamos supor que {P1, P2, . . . , Pm} seja uma base <strong>de</strong> W .<br />

Afirmamos que os respectivos vetores <strong>de</strong> W ′ , P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ m, formam um conjunto linear-<br />

mente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. De fato, utilizando (4.4) temos que:<br />

56


x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m = 0 ⇒ x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m + 0P ′ m+1 + · · · 0P ′ k = 0 ⇒<br />

⇒ x1P1 + · · · + xmPm + 0Pm+1 + · · · 0Pk = 0 ⇒<br />

⇒ x1P1 + · · · + xmPm = 0 ⇒<br />

⇒ x1 = · · · = xm = 0,<br />

pois os vetores P1, . . . , Pm são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Afirmamos também que os vetores P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ m geram W ′ . Observe que para <strong>de</strong>monstrar<br />

isso, é suficiente mostrar que para todo i > m, i ≤ k, o vetor P ′<br />

i é uma combinação<br />

linear dos vetores P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ m. Vamos mostrar isso. De fato, como P1, . . . , Pm geram<br />

W , para todo i > m existem escalares x1, . . . , xm tais que Pi = x1P1 + · · · + xmPm. Logo,<br />

x1P1 + · · · + xmPm − Pi = 0 e <strong>de</strong> (4.4) obtemos x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m − P ′<br />

i = 0 ⇒ P ′<br />

i =<br />

x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m.<br />

Portanto acabamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que {P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ m} é uma base <strong>de</strong> W ′ . Consi<strong>de</strong>re agora<br />

a seguinte transformação linear σ : W → W ′ entre os subespaços W e W ′ <strong>de</strong> R n , <strong>de</strong>finida<br />

através dos seguintes valores na base {P1, . . . , Pm} <strong>de</strong> W :<br />

σ(Pj) = P ′ j, j = 1, 2, . . . , m .<br />

Como {P1, . . . , Pm} é base <strong>de</strong> W , e como σ transforma esta base na base {P ′ 1, . . . , P ′ m} <strong>de</strong><br />

W ′ , vemos que σ : W → W ′ é um isomorfismo linear. Agora, utilizando a hipótese (4.3),<br />

que nos diz que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores P1, P2, . . . , Pk é igual a matriz <strong>de</strong> Gram dos<br />

vetores P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k , é fácil mostrar que σ preserva a forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida por<br />

q em W . Isto é,<br />

〈σ(x), σ(y)〉 = 〈x, y〉, ∀ x, y ∈ W .<br />

Portanto, concluímos que σ : W → W ′ é uma isometria entre dois subespaços <strong>de</strong> R n . Observe<br />

que, por <strong>de</strong>finição, σ(Pj) = P ′ j para todo j ∈ {1, 2, . . . , m}. Além disso, para todo i > m,<br />

i ≤ k, <strong>de</strong> (4.4), vemos que se Pi = x1P1 + · · · + xmPm então P ′<br />

i = x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m. Daí é<br />

fácil provar que σ(Pi) = P ′<br />

i para todo i ∈ {m + 1, m + 2, . . . , k}. Portanto, temos que<br />

σ(Pi) = P ′<br />

i , ∀ i = 1, 2, . . . , k . (4.8)<br />

57


Por outro lado, como σ : W → W ′ é uma isometria, aplicando o Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong><br />

Witt, vemos que σ se esten<strong>de</strong> a uma isometria f : R n → R n <strong>de</strong>finida em todo o espaço R n ,<br />

f(w) = σ(w), para todo w ∈ W . Daí, como para todo i = 1, 2, . . . , k temos que Pi ∈ W ,<br />

concluímos que f(Pi) = σ(Pi) = P ′<br />

i , pela igualda<strong>de</strong> (4.8). Portanto concluímos que f é a<br />

<strong>de</strong>seja isometria que manda Pi no respectivo vetor P ′<br />

i .<br />

58


Capítulo 5<br />

Preliminares Algébricas<br />

Este capítulo é <strong>de</strong>dicado ao estudo <strong>de</strong> alguns resultados importantes da álgebra linear,<br />

que serão utilizados mais adiante. Veremos teoremas do posto <strong>de</strong> uma matriz e vamos<br />

relacionar matrizes <strong>de</strong>finidas positivas com matrizes <strong>de</strong> Gram.<br />

5.1 Posto<br />

Esta seção é <strong>de</strong>dicada à <strong>de</strong>finição do posto <strong>de</strong> uma matriz e mostrar os principais<br />

resultados do assunto. Tais resultados serão utilizados no capítulo seguinte para <strong>de</strong>monstrar<br />

um importante teorema <strong>de</strong> caracterização <strong>de</strong> matrizes simétricas da forma (6.3) e <strong>de</strong> entradas<br />

reais que são matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H n<br />

R.<br />

Como sempre, vetores x ∈ R n serão representados como matrizes coluna n × 1.<br />

Definições e notações: Seja G = (gij) uma matriz k × k e seja I = {i1, . . . , im} uma<br />

coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em {1, 2, . . . , k}.<br />

• Denotamos por |I| o número <strong>de</strong> elementos do cunjunto I. Se I = {i1, . . . , im}, então<br />

|I| = m.<br />

• Eliminando-se uma linha e uma coluna que se encontram na diagonal principal <strong>de</strong> G,<br />

forma-se um menor principal <strong>de</strong> G <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m (k − 1) × (k − 1). Continuando <strong>de</strong>sse<br />

modo, a cada passo eliminando uma linha e uma coluna que se encontram na diagonal<br />

principal <strong>de</strong> G, po<strong>de</strong>-se formar menores principais <strong>de</strong> qualquer or<strong>de</strong>m.<br />

• Vamos <strong>de</strong>notar por GI ou Gi1···im a submatriz m × m <strong>de</strong> G cujas entradas são guv, com<br />

u e v variando no conjunto {i1, . . . , im}. Observe que GI é um menor principal <strong>de</strong><br />

59


G. Neste caso foram eliminadas as linhas e as colunas <strong>de</strong> G <strong>de</strong> índices que não estão<br />

contidos em I.<br />

• No caso particular em que I = {1, 2, . . . , m}, a matriz GI é um menor principal<br />

lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> G. Neste caso, GI é a submatriz obtida <strong>de</strong> G pela eliminação <strong>de</strong> todas as<br />

linhas e todas as colunas <strong>de</strong> índices maiores que m. Este menor principal lí<strong>de</strong>r também<br />

po<strong>de</strong>rá ser representado por Gm.<br />

Definição 5.1. Seja A uma matriz n × m. Chamamos posto <strong>de</strong> A ao número máximo <strong>de</strong><br />

linhas <strong>de</strong> A que contituem um conjunto linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> vetores em R m .<br />

Em qualquer matriz o número <strong>de</strong> linhas linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes coinci<strong>de</strong> com o<br />

número <strong>de</strong> colunas linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Po<strong>de</strong>mos, então <strong>de</strong>finir o posto <strong>de</strong> A como<br />

sendo o número máximo <strong>de</strong> linhas ou colunas <strong>de</strong> A que constituem um conjunto linearmente<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

Observe que para uma matriz quadrada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n, o valor máximo do posto <strong>de</strong> uma<br />

matriz é igual ao número n.<br />

Veremos agora algumas proprieda<strong>de</strong>s do posto <strong>de</strong> uma matriz, que serão utilizadas nas<br />

próximas seções e po<strong>de</strong>m ser encontradas no livro Matrix Analysis, [6], página 13.<br />

Proprieda<strong>de</strong>s:<br />

1. posto(A t )= posto(A).<br />

2. Se posto(A)=r, então existe uma submatriz <strong>de</strong> A <strong>de</strong> tamanho r × r com <strong>de</strong>terminante<br />

não nulo, mas todas as submatrizes <strong>de</strong> A <strong>de</strong> tamanho maior ou igual a (r + 1) × (r + 1)<br />

possuem <strong>de</strong>terminante igual a zero.<br />

3. Se A e B são matrizes <strong>de</strong> mesmo tamanho, então posto(A)=posto(B) se e somente<br />

se existem matrizes X e Y tais que B = XAY . Como um caso particular em que<br />

B = P AP −1 , temos que o posto <strong>de</strong> uma matriz é invariante por conjugação.<br />

4. Se A é matriz simétrica <strong>de</strong> posto r, então existe um menor principal <strong>de</strong> A <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m r<br />

com <strong>de</strong>terminante não nulo (ver [10]).<br />

Po<strong>de</strong>mos agora <strong>de</strong>monstrar o seguinte torema:<br />

60


Teorema 5.1. Seja M matriz simétrica k × k <strong>de</strong> entradas reais. Então, posto(M) ≤ r se,<br />

e somente se, <strong>de</strong>t(MI) = 0, para todo I ⊂ {1, 2, · · · , k} tal que |I| > r, sendo MI menor<br />

principal <strong>de</strong> M.<br />

Demonstração. Se posto(M) ≤ r, o resultado segue da proprieda<strong>de</strong> 2 acima. Por outro lado,<br />

seja M tal que <strong>de</strong>t(MI) = 0 ∀ I, |I| > r. Suponha por absurdo que posto(M) = n > r.<br />

Daí, a proprieda<strong>de</strong> 4 garante que existe um menor principal MI <strong>de</strong> M, com |I| = n tal que<br />

<strong>de</strong>t(MI) = 0. Contradição.<br />

5.2 Matrizes <strong>de</strong>finidas positivas<br />

Nesta seção iremos resumir alguns resultados a respeito <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong>finidas positivas.<br />

Estes foram retirados da seção 7.2 do livro Matrix Analysis <strong>de</strong> R.A. Horn e C.R. Johnson.<br />

Definição 5.2. Uma matriz simétrica A, <strong>de</strong> entradas reais e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n × n é <strong>de</strong>finida<br />

positiva se x t Ax > 0 para todo vetor não nulo x ∈ R n . Analogamente, A é semi-<strong>de</strong>finida<br />

positiva se x t Ax ≥ 0 para todo x ∈ R n .<br />

Proposição 5.1. Seja A uma matriz simétrica n × n <strong>de</strong>finida positiva. Então todas as<br />

submatrizes menores principais <strong>de</strong> A também são <strong>de</strong>finidas positivas.<br />

Demonstração. Seja S um subconjunto próprio <strong>de</strong> {1, 2, . . . , n} e seja A(S) a submatriz<br />

menor principal <strong>de</strong> A obtida pela eliminação <strong>de</strong> todas as linhas e todas as colunas <strong>de</strong> A cujos<br />

índices não estão em S. Seja x ∈ R n um vetor não nulo que tem entradas arbitrárias nos<br />

índices contidos em S e tem entradas iguais a zero nos índices que não estão contidos em S.<br />

Seja x(S) o vetor obtido <strong>de</strong> x pela eliminação <strong>de</strong> todas as entradas <strong>de</strong> índices que não estão<br />

contidos em S. Como x(S) t A(S)x(S) = x t Ax > 0 e x(S) = 0 é arbitrário, concluímos que<br />

A(S) é uma matriz <strong>de</strong>finida positiva. Observe que A(S) também é uma matriz simétrica.<br />

Observação:<br />

• Na proposição anterior po<strong>de</strong>mos trocar “<strong>de</strong>finida positiva” por “semi-<strong>de</strong>finida posi-<br />

tiva”.<br />

• Seja ei o i-ésimo vetor da base canônica <strong>de</strong> R n . De e t iAei = aii vemos que se A é<br />

<strong>de</strong>finida positiva então os elementos da diagonal principal <strong>de</strong> A são números positivos.<br />

61


Proposição 5.2. Cada autovalor <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong>finida positiva é um número real positivo.<br />

Analogamente, os autovalores <strong>de</strong> uma matriz semi-<strong>de</strong>finida positiva são números não nega-<br />

tivos.<br />

Demonstração. Sejam A <strong>de</strong>finida positiva, λ autovalor <strong>de</strong> A e x autovetor <strong>de</strong> A associado a<br />

λ. De xtAx = xtλx = λxtx = λ x 2 obtemos λ = xtAx > 0.<br />

x 2 Como o traço é a soma, e o <strong>de</strong>terminante é o produto dos autovalores, a proposição anterior<br />

implica o seguinte corolário.<br />

Corolario 5.1. O traço, o <strong>de</strong>terminante e os <strong>de</strong>terminantes dos menores principais <strong>de</strong><br />

uma matriz <strong>de</strong>finida positiva são números positivos. Analogamente, esses números são não-<br />

negativos para matrizes semi-<strong>de</strong>finidas positivas.<br />

Caracterizações <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong>finidas positivas<br />

Teorema 5.2. Uma matriz simétrica <strong>de</strong> entradas reais A n × n é <strong>de</strong>finida positiva se, e<br />

somente se, todos os seus autovalores são positivos. Do mesmo modo A é semi-<strong>de</strong>finida<br />

positiva se, e somente se, todos os seus autovalores são não negativos.<br />

Demonstração. Seja A uma matriz simétrica n×n <strong>de</strong> entradas reais. Se A é <strong>de</strong>finida positiva,<br />

então a proposição 5.2 implica que todos os autovalores <strong>de</strong> A são positivos.<br />

Reciprocamente, suponhamos que todos os autovalores <strong>de</strong> A são positivos. Como A<br />

é simétrica, sabemos que A é diagonalizável por uma matriz ortogonal. Isto é A = P t DP<br />

sendo P −1 = P t e D matriz diagonal dos autovalores <strong>de</strong> A. Daí, para cada vetor não nulo<br />

x ∈ R n , temos que<br />

x t Ax = x t P t DP x = y t Dy =<br />

sendo y = P x. Como cada λi > 0 e y = −→ 0 pois P é invertível e x = −→ 0 , vemos que<br />

x t n<br />

Ax = λi y 2 i > 0. Isso implica que A é <strong>de</strong>finida positiva. O caso em que A é semi-<br />

i=1<br />

<strong>de</strong>finida positiva é análogo.<br />

62<br />

n<br />

i=1<br />

λi y 2 i


Pela proposição 5.1 sabemos que se A é <strong>de</strong>finida positiva então todas as suas submatrizes<br />

menores principais também são <strong>de</strong>finidas positivas. Veremos agora que a inversa <strong>de</strong>ste resul-<br />

tado também é verda<strong>de</strong>ira. Entretanto, o próximo teorema nos mostra que esta implicação<br />

inversa po<strong>de</strong> ser enunciada <strong>de</strong> uma forma mais interessante. Lembre-se <strong>de</strong> que uma subma-<br />

triz menor principal li<strong>de</strong>r <strong>de</strong> A é <strong>de</strong>notada por Ai, sendo essa a submatriz constituída das<br />

primeiras i linhas e pelas primeiras i colunas <strong>de</strong> A.<br />

Teorema 5.3. Seja A uma matriz simétrica n × n <strong>de</strong> entradas reais. Então A é <strong>de</strong>finida<br />

positiva se, e somente se <strong>de</strong>t(Ai) > 0 para i = 1, 2, . . . , n. De forma mais geral, A é <strong>de</strong>finida<br />

positiva se, e somente se, para qualquer seqüência encaixante B1, B2, . . . , Bn = A <strong>de</strong><br />

matrizes menores principais <strong>de</strong> A (não necessariamente <strong>de</strong> menores principais lí<strong>de</strong>res), cada<br />

Bi for tal que <strong>de</strong>t(Bi) > 0.<br />

Demonstração. Se A é <strong>de</strong>finida positiva, então a proposição 5.1 garante que cada Ai é <strong>de</strong>finida<br />

positiva e portanto <strong>de</strong>t(Ai) > 0.<br />

Reciprocamente, suponhamos que <strong>de</strong>t(Ai) > 0 para i = 1, 2, . . . , n. Vamos <strong>de</strong>monstrar<br />

que A é <strong>de</strong>finida positiva por indução finita. Nesta indução aplicaremos o “lema <strong>de</strong> au-<br />

tovalores encaixantes para matrizes simétricas”(ver teorema 4.3.8 do livro Matrix Analysis<br />

<strong>de</strong> Horn/Johnson). Como <strong>de</strong>t(A1) > 0 e A1 é uma matriz 1 × 1 vemos que A1 é <strong>de</strong>finida<br />

positiva. Agora suponhamos que Ak é <strong>de</strong>finida positiva para algum k ∈ {1, 2, . . . , n − 1}.<br />

Nesse caso, todos os autovalores <strong>de</strong> Ak são positivos e pelo “lema dos autovalores<br />

encaixantes” concluímos que todos os autovalores <strong>de</strong> Ak+1 são positivos exceto, possivel-<br />

mete, o menor dos seus autovalores. Entretanto <strong>de</strong>t(Ak+1) > 0 e <strong>de</strong>t(Ak+1) é o produto dos<br />

autovalores <strong>de</strong> Ak+1. Como todos os autovalores <strong>de</strong> Ak+1 são positivos, exceto possivelmente<br />

um <strong>de</strong>les, e o produto <strong>de</strong>sses números é positivo vemos que esse autovalor também <strong>de</strong>ve ser<br />

um número positivo. Assim concluímos que todos os autovalores <strong>de</strong> Ak+1 são positivos e isso<br />

implica que Ak+1 é uma matriz <strong>de</strong>finida positiva. Então, por esta indução finita, concluímos<br />

que An = A é <strong>de</strong>finida positiva.<br />

Para o caso geral <strong>de</strong> uma seqüência encaixante <strong>de</strong> menores principais, observe que<br />

efetuando uma certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pares <strong>de</strong> operações elementares do tipo Li ↔ Lj e<br />

Ci ↔ Cj po<strong>de</strong>mos transformar estes menores principais em menores principais lí<strong>de</strong>res. Daí<br />

o resultado segue do que acabamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar e do lema a seguir.<br />

Lema 5.1. Seja A uma matriz n × n. Fixados índices i e j, seja B a matriz obtida <strong>de</strong> A<br />

63


através <strong>de</strong> duas operações elementares: Li ↔ Lj e Ci ↔ Cj. Então as seguintes afirmações<br />

são verda<strong>de</strong>iras:<br />

(a) <strong>de</strong>t(A) = <strong>de</strong>t(B).<br />

(b) A é simétrica se, e somente se, B é simétrica.<br />

⎡ ⎤<br />

.<br />

⎢ ⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎢xi⎥<br />

⎢ ⎥<br />

(c) Se X = ⎢ . ⎥ é um vetor qualquer em R<br />

⎢ ⎥<br />

⎢xj⎥<br />

⎣ ⎦<br />

.<br />

n ⎡ ⎤<br />

.<br />

⎢ ⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎢xj⎥<br />

⎢ ⎥<br />

e Y = ⎢ . ⎥ é o vetor obtido <strong>de</strong> X pela troca<br />

⎢ ⎥<br />

⎢xi⎥<br />

⎣ ⎦<br />

.<br />

da sua entrada i pela sua entrada j, então XtAX = Y tBY .<br />

(d) A é uma matriz simétrica <strong>de</strong>finida positiva se, e somente se, B é uma matriz simétrica<br />

<strong>de</strong>finida positiva.<br />

A <strong>de</strong>monstração do teorema anterior po<strong>de</strong> ser utilizada linha a linha para provar o<br />

seguinte resultado.<br />

Teorema 5.4. Seja A uma matriz simétrica n × n <strong>de</strong> entradas reais. Se <strong>de</strong>t(A1) > 0,<br />

<strong>de</strong>t(A2) > 0, . . ., <strong>de</strong>t(An−1) > 0 e <strong>de</strong>t(An) ≥ 0, então A é semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />

<br />

0 0<br />

Observação: A matriz A =<br />

nos mostra que se A é uma matriz simétrica <strong>de</strong><br />

0 −1<br />

entradas reais e <strong>de</strong>t(Ai) ≥ 0 para i = 1, 2, . . . , n então isso não implica que A é semi-<strong>de</strong>finida<br />

positiva. Deste modo, o teorema anterior, em que os <strong>de</strong>terminantes dos menores principais<br />

lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> A são assumidos estritamente positivos não po<strong>de</strong> ser enfraquecido. Entretanto,<br />

como veremos no próximo resultado, se consi<strong>de</strong>ramos todos os menores principais <strong>de</strong> uma<br />

matriz (e não somente os menores principais lí<strong>de</strong>res) teremos um resultado verda<strong>de</strong>iro.<br />

Teorema 5.5. Seja A uma matriz simétrica n × n <strong>de</strong> entradas reais. Então A é semi-<br />

<strong>de</strong>finida positiva se, e somente se, os <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> todos os menores principais <strong>de</strong> A<br />

são números não negativos.<br />

64


Demonstração. Se A é semi-<strong>de</strong>finida positiva, o corolário 5.1 nos mostra que todos os menores<br />

principais <strong>de</strong> A possuem <strong>de</strong>terminantes não negativos.<br />

Reciprocamente, suponhamos que todos os menores principais <strong>de</strong> A possuem <strong>de</strong>termi-<br />

nantes não negativos. Po<strong>de</strong>mos escrever a equação polinomial em λ<br />

<strong>de</strong>t(λI − A) = λ n − δ1λ n−1 + δ2λ n−2 − · · · (−1) n <strong>de</strong>t A, (5.1)<br />

em que cada δi é a soma dos <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> todos os menores principais <strong>de</strong> A <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

i. Como esses <strong>de</strong>terminantes são todos não negativos, então cada δi é não negativo. Logo, a<br />

equação 5.1 não possui raízes negativas. Concluímos que A é semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />

Observe que aqui estamos consi<strong>de</strong>rando todos os menores principais e não somente<br />

os menores principais lí<strong>de</strong>res. A segunda parte da <strong>de</strong>monstração do teorema anterior foi<br />

extraída do Teorema 6.2, página 160 do livro [14].<br />

Os próximos lemas serão utilizados na caracterização <strong>de</strong> matrizes semi-<strong>de</strong>finidas positivas<br />

em termos <strong>de</strong> Matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> vetores no Espaço Euclidiano R n . (ver<br />

teorema 5.6)<br />

Lema 5.2. Seja A uma matriz n × n <strong>de</strong> entradas reais semi-<strong>de</strong>finida positiva. Então existe<br />

(uma única) matriz simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva B tal que B 2 = A. Mais ainda, tal<br />

matriz satisfaz:<br />

(a) AB = BA.<br />

(b) posto(B) = posto(A).<br />

(c) se A é <strong>de</strong>finida positiva, então B também é <strong>de</strong>finida positiva.<br />

Demonstração. Como A é simétrica sabemos que A é diagonalizável por uma matriz<br />

ortogonal. Isto é, se D = diag(λ1, . . . , λn) é a matriz diagonal dos autovalores <strong>de</strong> A,<br />

existe uma matriz ortogonal P (P −1 = P t ) tal que A = P DP t . Sendo A semi-<strong>de</strong>finida<br />

positiva, cada λi ≥ 0. Assim po<strong>de</strong>mos construir a matriz diagonal Dr = diag( √ λ1, . . . , √ λn).<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente D 2 r = D. Seja B = P DrP t . Temos que:<br />

• B 2 = P DrP t · P DrP t = P D 2 rP t = P DP t = A.<br />

65


• B t = (P DrP t ) t = P D t rP t = P DrP t = B. Logo B é simétrica.<br />

• os autovalores <strong>de</strong> B são √ λ1, . . . , √ λn e esses números são não negativos. Logo B é<br />

semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />

Agora vamos <strong>de</strong>monstrar os itens (a), (b) e (c) do lema,<br />

(a) AB = P DP t · P DrP t = P DDrP t = P DrDP t = P DrP t · P DP t = BA.<br />

(b) Como o posto <strong>de</strong> uma matriz é invariante por conjugação (veja proprieda<strong>de</strong> 3 do<br />

posto, página 60), vemos que posto(A) = posto(D) e que posto(B) = posto(Dr).<br />

Mas posto(D) = posto(Dr) pois essas duas matrizes diagonais possuem exatamente a<br />

mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas não nulas, neste caso, isso siginifica linhas linearmente<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Logo, posto(A) = posto(B).<br />

(c) Os autovalores <strong>de</strong> A são λ1, . . . , λn e os autovalores <strong>de</strong> B são √ λ1, . . . , √ λn. Logos os<br />

autovalores <strong>de</strong> A são todos positivos se, e somente se, os autovalores <strong>de</strong> B são todos<br />

positivos. O resultado segue agora do teorema 5.2.<br />

Consi<strong>de</strong>re agora o produto escalar usual em R n : 〈x, y〉 = x1y1 + x2y2 + · · · + xnyn. Se<br />

{v1, . . . , vk} é um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R n , a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores é G = (gij)<br />

sendo gij = 〈vi, vj〉 = v t ivj. Observe que se M = [v1 · · · vk] é a matriz que tem como colunas<br />

os vetores v1, · · · , vk então G = M t M.<br />

Observação: Embora o próximo resultado seja um caso particular da proposição 4.1,<br />

vamos apresentar uma <strong>de</strong>monstração mais direta para ele.<br />

Lema 5.3. Seja G a matriz <strong>de</strong> Gram do conjunto {v1, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R n , e seja<br />

M = [v1 · · · vk] a matriz que tem como colunas esses vetores. Então:<br />

(a) G é semi-<strong>de</strong>finida positiva. Isto implica que <strong>de</strong>t(G) ≥ 0.<br />

(b) G é singular se, e somente se, os vetores v1, · · · , vk são linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em<br />

R n .<br />

66


(c) posto(G) = posto(M) e esse número é igual a quantida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> vetores linear-<br />

mente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes no conjunto {v1, . . . , vk}.<br />

Demonstração. (a) Se G = (gij) e gij = 〈vi, vj〉 então G é simétrica pois 〈vi, vj〉 = 〈vj, vi〉.<br />

Além disso, para todo vetor x = (xi) em R k ,<br />

x t Gx =<br />

=<br />

k<br />

i,j=1<br />

k<br />

i=1<br />

gijxixj =<br />

xivi ,<br />

k<br />

i=1<br />

k<br />

i,j=1<br />

xivi<br />

<br />

〈vi, vj〉xixj =<br />

<br />

<br />

k<br />

<br />

= <br />

<br />

i=1<br />

xivi<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

k<br />

i,j=1<br />

2<br />

≥ 0,<br />

〈xivi, xjvj〉 =<br />

sendo || · || a norma usual em R k . Como x t Gx ≥ 0 concluímos que G é semi-<strong>de</strong>finida<br />

positiva.<br />

Observação: mostramos que x t Gx = ||x1v1 + · · · + xkvk|| 2 . Como a norma <strong>de</strong> um<br />

vetor é zero se, e somente se, o vetor em questão é nulo, vemos que x t Gx = 0 ⇔<br />

x1v1 + · · · + xkvk = −→ 0 .<br />

(b) Suponhamos que G seja singular. Então existe um vetor não nulo x = (xi) em R k<br />

tal que Gx = −→ 0 . Logo temos que x t Gx = 0. Da observação acima vemos que isto<br />

implica que x1v1 + · · · + xkvk = −→ 0 . Portanto concluímos que os vetores v1, · · · , vk são<br />

linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Reciprocamente, suponhamos que os vetores v1, · · · , vk sejam linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Então existe um vetor não nulo x = (xi) ∈ R k tal que x1v1 +· · ·+xkvk = −→ 0 . A i-ésima<br />

componente do vetor Gx é dada por<br />

(Gx)i =<br />

k<br />

j=1<br />

gijxj =<br />

k<br />

<br />

〈vi, vj〉xj = vi,<br />

j=1<br />

k<br />

j=1<br />

xjvj<br />

<br />

= 〈vi, −→ 0 〉 = 0 .<br />

Como i é arbitrário, concluímos que o vetor Gx tem todas as componentes nulas. Assim<br />

Gx = −→ 0 e x não é o vetor nulo. Isto implica que G é uma matriz singular.<br />

(c) Se Gx = −→ 0 então x t Gx = 0 ⇒ x t M t Mx = 0 ⇒ (Mx) t (Mx) = 0 ⇒ ||Mx|| 2 = 0<br />

⇒ Mx = −→ 0 . Reciprocamente, se Mx = −→ 0 então Gx = M t (Mx) = −→ 0 . Assim,<br />

as matrizes G e M possuem o mesmo núcleo quando olhadas como transformações<br />

lineares G : R k → R k e M : R k → R n . Isto implica que posto(G) = posto(M). Além<br />

67


disso, por <strong>de</strong>finição, o posto-coluna <strong>de</strong> M é o número máximo <strong>de</strong> vetores linearmente<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes no conjunto {v1, . . . , vk}.<br />

Para a teoria que preten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolver (estudar pontos na fronteira do espaço<br />

hiperbólico real), precisaremos caracterizar matrizes simétricas semi-<strong>de</strong>finidas positivas como<br />

matrizes <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> vetores no Espaço Euclidiano R n . Os próximos três teoremas nos<br />

fornecem esta caracterização. O último <strong>de</strong>sses teoremas é o mais geral <strong>de</strong>les, pois os dois<br />

primeiros são casos particulares do último.<br />

Teorema 5.6. Seja A uma matriz n × n <strong>de</strong> entradas reais. Então A é uma matriz simétrica<br />

semi-<strong>de</strong>finida positiva <strong>de</strong> posto r se, e somente se, existe um conjunto {v1, . . . , vn} <strong>de</strong> n<br />

vetores em R n , contendo exatamente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, tal que A é a<br />

matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong> vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n .<br />

Demonstração. Se A é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> {v1, . . . , vn} então o resultado segue do lema<br />

anterior.<br />

Agora suponhamos que A é uma matriz simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva <strong>de</strong> posto r. Pelo<br />

lema 5.2, sabemos que existe uma matriz simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva B tal que B 2 = A<br />

e posto(B) = posto(A). Como A = B 2 = BB = B t B vemos que A é a matriz <strong>de</strong> Gram<br />

dos vetores coluna <strong>de</strong> B, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n . Como r = posto(A) = posto(B)<br />

vemos que B possui exatamente r vetores coluna linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Observação: No teorema anterior temos n vetores em R n , ou seja, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vetores<br />

é igual a dimensão do espaço Euclidiano que os contém. Entretanto, po<strong>de</strong>mos aumentar essa<br />

dimensão do seguinte modo. Sejam dados k vetores v1, . . ., vk em R n , e seja G = (〈vi, vj〉) a<br />

matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores no produto escalar usual <strong>de</strong> R n . Consi<strong>de</strong>re agora a inclusão<br />

f : R n → R n+m dada por f(v) = (v, 0, 0, . . . , 0) que acrescenta m coor<strong>de</strong>nadas iguais à zero<br />

as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> v. Evi<strong>de</strong>ntemente, temos que 〈v, w〉 = 〈f(v), f(w)〉 para quaisquer vetores<br />

em R n , em que 〈v, w〉 é o produto escalar usual <strong>de</strong> R n e 〈f(v), f(w)〉 é o produto escalar<br />

usual <strong>de</strong> R n+m . Deste modo se G ′ = ( 〈f(vi), f(vj)〉 ) <strong>de</strong>nota a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores<br />

f(v1), . . ., f(vk) no produto escalar usual <strong>de</strong> R n+m então temos que G = G ′ . Portanto G<br />

também é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> vetores em R n+m .<br />

68


Desta observação e do teorema <strong>de</strong>monstra-se o seguinte teorema.<br />

Teorema 5.7. Seja A uma matriz simétrica k × k <strong>de</strong> entradas reais e seja n um inteiro<br />

tal que n ≥ k. Então A é uma matriz semi-<strong>de</strong>finida positiva se, e somente se, existe um<br />

conjunto {v1, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R n , tal que A é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong><br />

vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n .<br />

Observação: Na observação anterior vimos que se G é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto<br />

<strong>de</strong> k vetores em R n então G também é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k vetores em<br />

R n+m , para todo m > 0. Entretanto, em geral, não po<strong>de</strong>mos diminuir a dimensão. Isto é,<br />

em geral G não é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k vetores em Rn−m .<br />

⎡ ⎤<br />

Para ver isso, consi<strong>de</strong>re a matriz diagonal G =<br />

λ1<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

0<br />

λ2<br />

0<br />

⎥<br />

0 ⎥<br />

⎦<br />

0 0 λ3<br />

, em que λ1, λ2 e λ3<br />

são números positivos. Como esses são os autovalores <strong>de</strong> G temos que G é <strong>de</strong>finida positiva.<br />

Mais ainda, é claro que G é a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1 = ( √ λ1 , 0, 0), v2 = (0, √ λ2 , 0)<br />

e v3 = (0, 0, √ λ3 ) em R 3 . Vejamos agora que G não é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> vetores<br />

w1, w2 e w3 em R 2 . De fato, se este fosse o caso, <strong>de</strong>veríamos ter 〈wi, wi〉 = λi = 0 e<br />

〈w1, w2〉 = 〈w1, w3〉 = 〈w2, w3〉 = 0. Estas equações implicam que w1, w2 e w3 <strong>de</strong>vem ser três<br />

vetores não nulos mutuamente ortogonais em R 2 . Como isto não existe, vemos que G não<br />

é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> vetores em R 2 . Evi<strong>de</strong>ntemente este exemplo po<strong>de</strong> ser ampliado para<br />

matrizes semi-<strong>de</strong>finidas positivas que não são positivas.<br />

Entretanto, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do posto da matriz G po<strong>de</strong>mos diminuir sim a dimensão n que<br />

aparece nos dois teoremas anteriores. Isto será <strong>de</strong>monstrado agora, e o próximo teorema é o<br />

resultado que será utilizado no estudo <strong>de</strong> k pontos distintos na fronteira do espaço hiperbólico<br />

real Hn R . (veja teorema 6.2)<br />

Teorema 5.8. (a) Seja {v1, . . . , vk} um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R n , contendo exata-<br />

mente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e seja A a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto<br />

<strong>de</strong> vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n . Então A é matriz simétrica semi-<strong>de</strong>finida<br />

positiva <strong>de</strong> posto r.<br />

(b) Reciprocamente, seja A uma matriz k × k simétrica, semi-<strong>de</strong>finida positiva e <strong>de</strong> en-<br />

tradas reais, seja r o posto <strong>de</strong> A e seja n um inteiro tal que n ≥ r. Então existe um<br />

69


conjunto {v1, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R n , contendo exatamente r vetores linearmente<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, tal que A é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong> vetores, no produto<br />

escalar usual <strong>de</strong> R n .<br />

(c) Nas hipóteses <strong>de</strong> (b), A não é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R m ,<br />

para todo m < r.<br />

Demonstração. (a) Seja {v1, . . . , vk} um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R n , contendo exata-<br />

mente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e seja A a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto<br />

<strong>de</strong> vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n . O lema 5.3 implica que A é uma matriz<br />

simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva <strong>de</strong> posto r.<br />

(b) Reciprocamente, seja A uma matriz simétrica k × k semi-<strong>de</strong>finida positiva <strong>de</strong> posto r,<br />

e seja n um inteiro tal que n ≥ r. Pelo teorema 5.6, existem k vetores v1, v2, . . ., vk<br />

em R k , contendo exatamente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, tal que A é matriz<br />

<strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong> vetores no produto escalar usual <strong>de</strong> R k . Como o conjunto<br />

{v1, v2, . . . , vk} gera um subespaço <strong>de</strong> dimensão r <strong>de</strong> R k , aplicando uma isometria <strong>de</strong><br />

R k , po<strong>de</strong>mos supor que estes vetores estão contidos em R r , on<strong>de</strong> estamos supondo que<br />

R r ⊂ R k é o subconjunto dos vetores <strong>de</strong> R k que possuem as últimas k − r coor<strong>de</strong>nadas<br />

iguais a zero. Consi<strong>de</strong>rando isso, vemos que A é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto<br />

{v1, v2, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R r . Agora incluindo R r em R n acrescentando n − r<br />

coor<strong>de</strong>nadas iguais a zero às coor<strong>de</strong>nadas dos vetores <strong>de</strong> R r , po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar os<br />

vetores v1, v2, . . ., vk como <strong>de</strong> R n . Deste modo, concluímos que A é matriz <strong>de</strong> Gram<br />

<strong>de</strong> um conjunto {v1, v2, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R n tal que esse conjunto contém<br />

exatamente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

(c) Para terminar a <strong>de</strong>monstração, suponhamos, por redução ao absurdo, que A seja matriz<br />

<strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R m para algum m < r. Neste caso, o lema 5.3<br />

implica que posto(A) ≤ m, isto é, r ≤ m. Mas como m < r, obtemos uma contradição.<br />

Exemplo: A matriz a seguir nos mostra que as hipóteses do teorema anterior são as melhores<br />

possíveis. Dados inteiros positivos r e k com r ≤ k, consi<strong>de</strong>re a seguinte matriz k × k <strong>de</strong><br />

posto r.<br />

70


A =<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

Ir<br />

0<br />

0 O(k−r)×(k−r)<br />

Esta matriz é formada por blocos, sendo um <strong>de</strong>les a matriz i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Ir e o outro formado<br />

pela matriz nula O(k−r)×(k−r). Para todo n ≥ r, sejam v1 = e1, v2 = e2, . . ., vr = er os<br />

primeiros r vetores da base canônica <strong>de</strong> R n e sejam vr+1 = −→ 0 , vr+2 = −→ 0 , . . ., vk = −→ 0 . É<br />

fácil ver que A é matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1, v2, . . ., vk.<br />

Agora sejam v1, v2, . . ., vk um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R m , e seja G(v1, . . . , vk) a matriz<br />

<strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores. Para G ser igual a G(v1, . . . , vk) os vetores v1, v2, . . ., vr <strong>de</strong>vem ser<br />

ortonormais, em particular <strong>de</strong>vem ser linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em R m . Logo <strong>de</strong>vemos ter<br />

r vetores L.I. em R m . Isso implica que m ≥ r.<br />

71<br />

⎤<br />

⎥<br />


Capítulo 6<br />

A matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> k pontos em<br />

∂H n R<br />

Neste capítulo, vamos mostrar que a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> k pontos distintos<br />

na fronteira do espaço hiperbólico real H n<br />

R caracteriza unicamente esses pontos a menos <strong>de</strong><br />

isometrias <strong>de</strong> H n<br />

R. Além disso, veremos como escrever as entradas <strong>de</strong>sta matriz <strong>de</strong> Gram<br />

normalizada em termos <strong>de</strong> invariantes <strong>de</strong> Korányi e Riemann, os quais <strong>de</strong>finiremos mais<br />

adiante.<br />

Daqui em diante, com exceção do capítulo 9, vamos consi<strong>de</strong>rar uma base em R n+1 <strong>de</strong><br />

modo que a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> assinatura (n, 1) em R n,1 se expresse da seguinte<br />

forma:<br />

〈V, W 〉 = v1wn+1 + v2w2 + v3w3 + · · · + vnwn + vn+1w1 . (6.1)<br />

⎡ ⎤ ⎡ ⎤<br />

Assim, se os vetores V e W <strong>de</strong> R n,1 são escritos como V =<br />

xn+1<br />

x1, xn+1, y1 e yn+1 números reais, e v e w vetores em Rn−1 , então<br />

⎢<br />

⎣<br />

x1<br />

v<br />

⎥ ⎢<br />

⎥<br />

⎦ e W = ⎢<br />

⎣<br />

y1<br />

w<br />

yn+1<br />

72<br />

⎥<br />

⎦ , com<br />

〈V, W 〉 = x1yn+1 + 〈〈v, w〉〉 + xn+1y1 , (6.2)<br />

sendo 〈〈v, w〉〉 o produto escalar usual dos vetores v e w em R n−1 .


6.1 Classes <strong>de</strong> congruência <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> Gram<br />

Dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) na fron-<br />

teira do espaço hiperbólico real são equivalentes se existir uma isometria f ∈ P O(n, 1) =<br />

Isom(H n<br />

R) tal que f(pi) = qi, ∀ i = 1, 2, · · · , k. Evi<strong>de</strong>ntemente essa equivalência é uma<br />

relação <strong>de</strong> equivalência. O conjunto das classes <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong>sta relação, munido da<br />

topologia quociente, é chamado <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> configurações <strong>de</strong> k pontos em ∂H n<br />

R e <strong>de</strong>notado<br />

por C(k, n).<br />

Observações:<br />

• Se G é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> k vetores em R n,1 e<br />

P1, P2, · · · , Pk são vetores isotrópicos, então, pelo critério <strong>de</strong> Sylvester, <strong>de</strong>t(G) ≤ 0.<br />

• Se σ é uma permutação <strong>de</strong> {1, 2, · · · , k}, então,<br />

<strong>de</strong>t G(P1, P2, · · · , Pk) = <strong>de</strong>t G(Pσ(1), Pσ(2), · · · , Pσ(k)),<br />

sendo G a matriz <strong>de</strong> Gram em cada caso. Basta ver que a permutação σ é uma<br />

composição <strong>de</strong> transposições e uma transposição transforma a matriz G por operações<br />

elementares.<br />

• Sejam p1, p2, . . . , pk pontos distintos em ∂H n R e sejam P1, P2, . . . , Pk respectivos levan-<br />

tamentos <strong>de</strong>stes pontos para R n,1 . Seja G a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> P1, P2, . . . , Pk. Como o<br />

grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R<br />

age triplamente transitivamente na fronteira, é fácil provar<br />

que gij = 0, para todos os índices distintos i e j. Logo G é uma matriz simétrica k × k,<br />

com números zero ao longo <strong>de</strong> toda a sua diagonal principal, e números diferentes <strong>de</strong><br />

zero fora da diagonal principal.<br />

• Se P ′<br />

i = λiPi sendo λi um número real não nulo, então as matrizes <strong>de</strong> Gram G <strong>de</strong><br />

P = (P1, P2, · · · , Pk) e G ′ <strong>de</strong> P ′ = (P ′ 1, P ′ 2, · · · , P ′ k ) estão relacionadas por G′ = DGD<br />

sendo D a matriz diagonal D = (λiδij).<br />

Definição 6.1. Duas matrizes simétricas G e G ′ k × k são equivalentes se existir uma<br />

matriz diagonal D = (λiδij), sendo λi um número real diferente <strong>de</strong> zero, tal que G ′ = DGD.<br />

Observe que se esse é o caso, G ′ = DGD, então <strong>de</strong>t(G ′ ) = (λ1 · · · λk) 2 <strong>de</strong>t(G). Desse<br />

modo matrizes simétricas equivalentes possuem <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> mesmo sinal.<br />

73


Proposição 6.1. Sejam p1, p2, · · · , pk pontos distintos em ∂H n<br />

R. Para cada i, po<strong>de</strong>mos<br />

escolher um levantamento Pi <strong>de</strong> pi tal que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> P = (P1, P2, . . . , Pk) satisfaz<br />

as condições<br />

Ou seja, G tem a seguinte aparência<br />

g23 = −1 e g1j = 1, ∀ j = 2, 3, . . . k .<br />

⎡<br />

⎤<br />

0 1 1 1 1 · · · 1<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ 1 0 −1 g24 g25 · · · g2k ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ 1 −1 0 g34 g35 · · ·<br />

⎥<br />

g3k ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

G = ⎢ 1 g24 g34 0 g45 · · · g4k ⎥ . (6.3)<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ 1 g25 g35 g45 0 · · · g5k ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢<br />

..<br />

⎣ . . . . . .<br />

⎥<br />

. ⎦<br />

1 g2k g3k g4k g5k . . . 0<br />

Além disso, existe uma única matriz com essa aparência que é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> levanta-<br />

mentos <strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk.<br />

Demonstração. Sejam P1, P2, . . . , Pk levantamentos quaisquer <strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk. Vamos <strong>de</strong>-<br />

terminar λj ∈ R, λj = 0, tal que se P ′ j = λjPj então<br />

g ′ 23 = 〈P ′ 2, P ′ 3〉 = λ2λ3〈P2, P3〉 = −1 e<br />

g ′ 1j = 〈P ′ 1, P ′ j〉 = λ1λj〈P1, Pj〉 = 1, ∀ j = 2, 3, . . . k .<br />

Dado λ1, o qual iremos <strong>de</strong>terminar a seguir, <strong>de</strong>fina λj =<br />

Se esse é o caso, então g ′ 1j = 1, ∀ j = 2, 3, . . . k.<br />

1<br />

para j = 2, 3, . . . , k.<br />

λ1 〈P1, Pj〉<br />

Agora vamos <strong>de</strong>terminar λ1 para que g ′ 23 = −1. Isto ocorre se λ2λ3〈P2, P3〉 = −1. Mas,<br />

como já <strong>de</strong>terminamos λ2 e λ3 vemos que<br />

λ2λ3〈P2, P3〉 = −1 ⇔<br />

1 1<br />

λ1 〈P1, P2〉 λ1 〈P1, P3〉 〈P2, P3〉 = −1 ⇔ λ 2 〈P2, P3〉<br />

1 = −<br />

〈P1, P2〉 〈P1, P3〉 .<br />

Entretanto, como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> Hn R age triplamente transitivamente em<br />

∂Hn R , no mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar p1 = (0, 0, . . . , 0), p2 =<br />

74


⎡ ⎤<br />

⎡ ⎤<br />

−1<br />

⎢ √ ⎥ ⎡ ⎤<br />

−1 ⎢<br />

⎢ ⎥ ⎢ 2 ⎥ 0<br />

⎢ 0 ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥<br />

⎥ ⎢ 0 ⎥ ⎢ ⎥<br />

(1, 0, . . . , 0) e p3 = ∞. Então, P1 = ⎢ ⎥ , P2 = ⎢ ⎥ ⎢ . ⎥<br />

⎢<br />

⎣ . ⎥ ⎢ ⎥ , P3 = ⎢ ⎥ são levantamentos<br />

⎦ ⎢ . ⎥ ⎢<br />

⎢ ⎥ ⎣ 0 ⎥<br />

⎦<br />

0 ⎢<br />

⎣ 0 ⎥<br />

⎦ 1<br />

1<br />

〈P2, P3〉<br />

<strong>de</strong> p1, p2, p3, 〈P1, P2〉 = −1, 〈P2, P3〉 = −1 e 〈P1, P3〉 = −1. Logo,<br />

= −1 < 0.<br />

〈P1, P2〉 〈P1, P3〉<br />

Ou seja, <strong>de</strong>monstramos que se P1, P2 e P3 são levantamentos quaisquer <strong>de</strong> três pontos distintos<br />

em ∂Hn 〈P2, P3〉<br />

R , então<br />

〈P1, P2〉 〈P1, P3〉 < 0. Deste modo, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir λ1 como sendo o<br />

número real<br />

E daí, g ′ 23 = −1.<br />

λ1 =<br />

<br />

〈P2, P3〉<br />

−<br />

. (6.4)<br />

〈P1, P2〉 〈P1, P3〉<br />

Logo, para os valores <strong>de</strong>terminados acima <strong>de</strong> λ1, · · · , λk, os levantamentos P ′ 1, . . . , P ′ k<br />

<strong>de</strong> p1, . . . , pk são tais que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> P ′ = (P ′ 1, . . . , P ′ k ) tem a aparência <strong>de</strong>sejada.<br />

A parte da unicida<strong>de</strong> segue do fato <strong>de</strong> que (a menos do sinal <strong>de</strong> λ1) os escalares<br />

λ1, · · · , λk ficam <strong>de</strong>terminados unicamente a partir <strong>de</strong> dados levantamentos <strong>de</strong> p1, . . . , pk.<br />

Além disso, a troca do sinal <strong>de</strong> λ1 na expressão (6.4) não afeta na aparência da matriz <strong>de</strong><br />

Gram <strong>de</strong>sejada.<br />

Definição 6.2. Seja p = (p1, p2, . . . , pk) um conjunto or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> k pontos distintos em<br />

∂Hn R . A matriz G da proposição anterior é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> p.<br />

Observação: A matriz escrita na forma (6.3), que é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um<br />

conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H n R , possui todos os números gij negativos (i ≥ 2, j ≥ 4,<br />

i < j). De fato, continuando com a notação da <strong>de</strong>monstração da proposição anterior temos<br />

que<br />

g ′ ij = 〈P ′<br />

i , P ′ j〉 = λiλj〈Pi, Pj〉 =<br />

1<br />

λ1 〈P1, Pi〉<br />

1<br />

λ1 〈P1, Pj〉 〈Pi, Pj〉 = 1<br />

λ1 2<br />

〈Pi, Pj〉<br />

〈P1, Pi〉 〈P1, Pj〉 .<br />

Como P1, Pi e Pj são levantamentos <strong>de</strong> três pontos distintos em ∂Hn R , temos que<br />

〈Pi, Pj〉<br />

〈P1, Pi〉 〈P1, Pj〉 < 0. Isto implica então que g′ ij < 0.<br />

75


Agora estamos prontos para <strong>de</strong>monstrar o teorema principal <strong>de</strong>sta seção: a matriz<br />

<strong>de</strong> Gram normalizada caracteriza unicamente, a menos <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> Hn R , um conjunto<br />

<strong>de</strong> k pontos distintos e or<strong>de</strong>nados em ∂Hn R . Entretanto, como este resultado é uma conseqüência<br />

do teorema 4.6, precisamos primeiramente <strong>de</strong>monstrar que o espaço gerado por<br />

vetores isotrópicos, dois a dois não paralelos, em R n,1 é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong><br />

R n,1 . Este é o tema da próxima proposição. Na <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>sta proposição será uti-<br />

lizada a seguinte observação, que é um fato válido para a forma bilinear simétrica (6.2) <strong>de</strong><br />

assinatura (n, 1) <strong>de</strong>finida em R n,1 , e que, com certeza, não é um fato válido para qualquer<br />

forma bilinear simétrica não-<strong>de</strong>generada em R n+1 .<br />

Observação: Sejam P e Q vetores isotrópicos em R n,1 . Pela <strong>de</strong>finição do espaço hiperbólico<br />

real, vemos que P e Q são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes se, e somente se, esses vetores se proje-<br />

tam em pontos distintos p e q em ∂Hn R . Além disso, utilizando o fato do grupo <strong>de</strong> isometrias<br />

<strong>de</strong> Hn R agir duplamente transitivamente em ∂HnR , po<strong>de</strong>mos escolher vetores isotrópicos para<br />

<strong>de</strong>monstrar que: se P e Q são vetores isotrópicos em Rn,1 então 〈P, Q〉 = 0 se, e somente se,<br />

P e Q são linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, ou seja, existe λ ∈ R tal que P = λ Q.<br />

Proposição 6.2. Sejam p1, p2, . . . , pk pontos distintos em ∂H n R e sejam P1, P2, . . . , Pk<br />

respectivos levantamentos <strong>de</strong>stes pontos para vetores isotrópicos em R n,1 . Neste caso, o<br />

espaço gerado pelos vetores P1, P2, . . . , Pk é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n,1 .<br />

Demonstração. Como observado acima, para todos os índices distintos i e j, como pi = pj,<br />

vemos que os vetores Pi e Pj são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e isto implica que 〈Pi, Pj〉 = 0.<br />

Seja W = span{P1, . . . , Pk} o espaço gerado pelos vetores P1, . . . , Pk. Devemos mostrar que<br />

se w0 ∈ W é tal que 〈w0, x〉 = 0 para todo x ∈ W , então w0 = 0. Observe que para isto<br />

é suficiente mostrar que se w0 ∈ W é tal que 〈w0, Pi〉 = 0 para todo i = 1, 2, . . . , k, então<br />

w0 = 0.<br />

Então seja w0 = α1P1 + · · · + αkPk um vetor em W tal que 〈w0, Pi〉 = 0 para todo i =<br />

1, 2, . . . , k. Como<br />

〈w0, w0〉 = 〈w0, α1P1 + · · · + αkPk〉 =<br />

76<br />

k<br />

αi 〈w0, Pi〉 = 0<br />

i=1


vemos que w0 é um vetor nulo. Além disso, w0 é vetor nulo tal que 〈w0, P1〉 = 0, sendo P1 um<br />

vetor isotrópico. Da observação anterior po<strong>de</strong>mos concluir daí que w0 e P1 são linearmente<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e que existe λ ∈ R tal que w0 = λ P1. Por outro lado, temos que 〈w0, P2〉 = 0 ⇒<br />

〈λ P1, P2〉 = 0 ⇒ λ〈P1, P2〉 = 0. Mas, como 〈P1, P2〉 = 0 por hipótese, a igualda<strong>de</strong> anterior<br />

implica que λ = 0, ou seja w0 = 0, como queríamos <strong>de</strong>monstrar.<br />

Agora sim estamos prontos para <strong>de</strong>monstrar o teorema principal <strong>de</strong>sta seção.<br />

Teorema 6.1. Dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distintos p = (p1, p2, . . . , pk) e<br />

q = (q1, q2, . . . , qk) em ∂Hn R são equivalentes se, e somente se, suas respectivas matrizes<br />

<strong>de</strong> Gram normalizadas são iguais.<br />

Demonstração. Suponhamos que p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) são dois conjuntos<br />

or<strong>de</strong>nados equivalente <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂Hn R . Seja f uma isometria <strong>de</strong> Hn R tal que<br />

f(pi) = qi para todo i. Como Isom(Hn R ) = PO(n, 1), sabemos que f po<strong>de</strong> ser representada<br />

por uma transformação linear ortogonal T ∈ O(n, 1). Sejam P1, P2, . . . , Pk levantamentos <strong>de</strong><br />

p1, p2, . . . , pk tal que a matriz <strong>de</strong> Gram G <strong>de</strong> P1, P2, . . . , Pk é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada<br />

<strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk. Para cada i, <strong>de</strong>fina Qi = T (Pi). Como T é levantamento <strong>de</strong> f, temos que<br />

Qi é levantamento <strong>de</strong> qi. Além disso, como T é isometria <strong>de</strong> R n,1 , T evi<strong>de</strong>ntemente preserva<br />

a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> R n,1 , e isto implica que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> Q1, Q2, . . . , Qk<br />

é igual a matriz G. Portanto, essa matriz também tem a forma <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong> Gram<br />

normalizada. Assim provamos que p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) possuem as<br />

mesmas matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas.<br />

Reciprocamente, suponhamos que p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) são dois con-<br />

juntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />

que possuem as mesmas matrizes <strong>de</strong> Gram<br />

normalizadas. Para cada i, seja Pi levantamento <strong>de</strong> pi tal que que a matriz <strong>de</strong> Gram<br />

normalizada <strong>de</strong> p = (p1, p2, . . . , pk) é a matriz <strong>de</strong> Gram G(P1, P2, . . . , Pk). Analogamente,<br />

para cada i, seja Qi levantamento <strong>de</strong> qi tal que que a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong><br />

q = (q1, q2, . . . , qk) é a matriz <strong>de</strong> Gram G(Q1, Q2, . . . , Qk).<br />

Sejam W = span{P1, P2, . . . , Pk} e W ′ = span{Q1, Q2, . . . , Qk}. Pela proposição anterior,<br />

temos que W e W ′ são subespaços não-<strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R n,1 . Além disso, como a matriz <strong>de</strong><br />

77


Gram <strong>de</strong> P1, P2, . . . , Pk é igual a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> Q1, Q2, . . . , Qk, o teorema 4.6 implica que<br />

existe uma isometria T <strong>de</strong> R n,1 tal que T (Pi) = Qi para todo i. Como o grupo <strong>de</strong> isometrias<br />

<strong>de</strong> Rn,1 é o grupo O(n, 1), e como Isom(Hn R ) = PO(n, 1), vemos que esta aplicação T induz<br />

uma isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi para todo i.<br />

Embora o próximo corolário não seja utilizado nesta dissertação, vale a pena <strong>de</strong>ixá-lo<br />

registrado aqui. Ele é uma conseqüência imediata do teorema anterior e da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

matrizes simétricas equivalentes.<br />

Corolario 6.1. Dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distintos p = (p1, p2, . . . , pk) e<br />

q = (q1, q2, . . . , qk) em ∂Hn R são equivalente se, e somente se, a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> quaisquer<br />

levantamentos <strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk é equivalente a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> quaisquer levantamentos<br />

<strong>de</strong> q1, q2, . . . , qk.<br />

6.2 Caracterização <strong>de</strong> matrizes simétricas que são ma-<br />

trizes <strong>de</strong> Gram<br />

Nesta seção vamos caracterizar quando uma matriz simétrica da forma (6.3) e <strong>de</strong> en-<br />

tradas reais é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em<br />

∂H n R .<br />

Lema 6.1. Seja G = (gij) uma matriz simétrica k × k <strong>de</strong> entradas reais e que tem a forma<br />

(6.3). Isto é,<br />

• g23 = −1 .<br />

• gii = 0 .<br />

• g1j = 1 para todo j = 2, 3, . . . , k .<br />

Então, via operações elementares nas linhas e nas colunas <strong>de</strong> G, esta po<strong>de</strong> ser transformada<br />

na matriz <strong>de</strong> blocos<br />

G ′ =<br />

⎡<br />

⎢<br />

⎣<br />

0 1 0<br />

1 0 0<br />

0 0 G<br />

78<br />

⎤<br />

⎥<br />


sendo G a seguinte matriz simétrica (k − 2) × (k − 2)<br />

G =<br />

⎡<br />

2<br />

⎢<br />

1 − g24 + g34<br />

⎢ 1 − g25 + g35<br />

⎢<br />

⎣ .<br />

1 − g24 + g34<br />

−2g24<br />

−g25 − g24 + g45<br />

.<br />

1 − g25 + g35<br />

−g25 − g24 + g45<br />

−2g25<br />

.<br />

· · ·<br />

· · ·<br />

· · ·<br />

. ..<br />

⎤<br />

1 − g2k + g3k<br />

⎥<br />

−g2k − g24 + g4k ⎥<br />

−g2k − g25 + g5k ⎥<br />

.<br />

⎥<br />

⎦<br />

1 − g2k + g3k −g2k − g24 + g4k −g2k − g25 + g5k · · · −2g2k<br />

Demonstração. Basta utilizar as operações elementares<br />

(1) Lj ← Lj − L2 .<br />

(2) Cj ← Cj − C2 .<br />

(3) Lj ← Lj − g2j L1 .<br />

(4) Cj ← Cj − g2j C1 .<br />

para j = 3, 4, . . . , k. Observe que, sendo G simétrica, os pares (1)-(2) e (3)-(4) <strong>de</strong> operações<br />

elementares em linhas e colunas garantem que G é simétrica.<br />

Definição 6.3. A matriz simétrica G do lema anterior é a matriz associada da matriz<br />

simétrica G.<br />

Observação: Seja I = {i1, i2, . . . , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em<br />

{1, 2, . . . , k − 2}, e seja GI o menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e das colunas<br />

<strong>de</strong> G cujos índices estão em I. Seja G12,I o menor principal <strong>de</strong> G constituído das suas linhas<br />

e colunas 1, 2, i1 + 2, i2 + 2, . . . , im + 2, e seja G ′ 12,I o correspon<strong>de</strong>nte menor principal <strong>de</strong> G′ .<br />

Analisando as operações elementares que foram utilizadas na <strong>de</strong>monstração do lema anterior,<br />

vemos que <strong>de</strong>t(G12,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 12,I ). Como G′ é uma matriz <strong>de</strong> blocos, temos então que<br />

<strong>de</strong>t(G12,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 12,I) = <strong>de</strong>t<br />

0 1<br />

1 0<br />

<br />

· <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t( GI) . (6.5)<br />

Agora po<strong>de</strong>mos enunciar e <strong>de</strong>monstrar o teorema <strong>de</strong> caracterização <strong>de</strong> matrizes<br />

simétricas da forma (6.3) e <strong>de</strong> entradas reais que são matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong><br />

um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H n R . Aqui vale a pena relembrar que se G = (gij) é<br />

79


a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos <strong>de</strong> ∂H n R<br />

então, como<br />

observado na página 75, temos que todos os termos indicados por gij na matriz (6.3) são<br />

negativos. Isto é, gij < 0 para i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j.<br />

Observação: Na <strong>de</strong>monstração do teorema a seguir, mostraremos que G é matriz <strong>de</strong> Gram<br />

<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k − 2 vetores em R n−1 munido com o seu produto escalar usual. Pelo<br />

teorema 5.8, sabemos que isso é verda<strong>de</strong> se, e somente se, G é semi-<strong>de</strong>finida positiva e<br />

posto( G) ≤ n − 1. Mas, como queremos condições sobre G e não sobre G, precisamos<br />

traduzir a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> posto( G) ≤ n − 1 para uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> que envolva G e não G.<br />

Pelo teorema 5.1, temos que posto( G) ≤ n−1 ⇔ <strong>de</strong>t( GI) = 0 ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k −2}, |I| ≥ n.<br />

De (6.5), temos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G12,I). Assim, vemos que<br />

posto( G) ≤ n − 1 ⇔ <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀ I ⊂ {1, 2 · · · , k − 2}, |I| ≥ n. (6.6)<br />

Daí, concluímos então que G é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k−2 vetores em R n−1<br />

se, e somente se, G é semi-<strong>de</strong>finida positiva e <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k−2}, |I| ≥ n.<br />

Como se vê a seguir, essas são as hipóteses do teorema que vamos <strong>de</strong>monstrar.<br />

Teorema 6.2. (a) Se G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos<br />

distintos em ∂H n R , então G tem a forma (6.3), gij < 0 (i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j), sua<br />

matriz associada G é semi-<strong>de</strong>finida positiva e <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k − 2} se<br />

|I| ≥ n.<br />

(b) Reciprocamente, seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) <strong>de</strong> entradas reais da forma<br />

(6.3), com gij < 0 (i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j). Se n é um inteiro positivo tal que<br />

<strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k −2} se |I| ≥ n e a matriz associada G é semi-<strong>de</strong>finida<br />

positiva, então G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos<br />

em ∂H n R .<br />

(c) Se uma matriz G da forma (6.3) tem posto r, então G não é a matriz <strong>de</strong> Gram<br />

normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H m R<br />

m − 1 < r − 2.<br />

para todo m tal que<br />

Demonstração. (a) Suponhamos que G seja matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto<br />

<strong>de</strong> k pontos distintos {p1, p2, . . . , pk} em ∂H n R . Seja G a matriz associada <strong>de</strong> G. De<br />

acordo com o teorema 5.5, para mostrar que G é semi-<strong>de</strong>finida positiva basta mostrar-<br />

mos que todos os menores principais <strong>de</strong> G possuem <strong>de</strong>terminantes não negativos. Então<br />

80


seja I = {i1, i2, . . . , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em {1, 2, . . . , k −2}, e<br />

seja GI o menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e das colunas <strong>de</strong> G cujos índices<br />

estão em I. Pela equação (6.5) temos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G12,I), sendo G12,I o<br />

menor principal <strong>de</strong> G constituido das suas linhas e colunas 1, 2, i1 +2, i2 +2, . . . , im +2.<br />

Como G12,I é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> levantamentos <strong>de</strong> p1, p2, pi1+2, pi2+2, . . ., pim+2,<br />

pela observação da página 73, sabemos que isto implica que <strong>de</strong>t(G12,I) ≤ 0. Logo<br />

concluímos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G12,I) ≥ 0. Portanto todos os menores principais<br />

<strong>de</strong> G possuem <strong>de</strong>terminante não negativo e, pelo teorema 5.5, concluímos que G é<br />

semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />

Agora só falta mostrar que <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k − 2}, |I| ≥ n. Para<br />

<strong>de</strong>monstrar isso, como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R<br />

age triplamente transitivamente<br />

na fronteira, po<strong>de</strong>mos supor que p1, p2, . . . , pk são tais que seus levantamentos são os<br />

seguintes vetores nulos <strong>de</strong> R n,1<br />

P1 =<br />

⎡ ⎤<br />

1<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

⎣0⎥<br />

⎦<br />

0<br />

, P2<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣0⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P3<br />

⎡ ⎤<br />

x3<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣v3<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P4<br />

⎡ ⎤<br />

x4<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣v4<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P5<br />

⎡ ⎤<br />

x5<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣v5<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, . . . , Pk<br />

⎡ ⎤<br />

xk<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣vk<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

,<br />

on<strong>de</strong> estamos consi<strong>de</strong>rando xj ∈ R, vj ∈ R n−1 , x3 = −1 e v3 = √ 2e1 on<strong>de</strong> e1 é o<br />

primeiro vetor da base canônica <strong>de</strong> R n−1 . Da expressão (6.2) do produto 〈·, ·〉 em R n,1 ,<br />

vemos que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores é<br />

⎡<br />

⎤<br />

0 1 1 1 1 · · · 1<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ 1 0 x3 x4 x5 · · · xk ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ 1 x3 2x3 + v33 x3 + v34 + x4 x3 + v35 + x5 · · · x3 + v3k +<br />

⎥<br />

xk ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

G = ⎢ 1 x4 x3 + v34 + x4 2x4 + v44 x4 + v45 + x5 · · · x4 + v4k + xk ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ 1 x5 x3 + v35 + x5 x4 + v45 + x5 2x5 + v55 · · · x5 + v5k + xk ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢<br />

.<br />

⎣ . . .<br />

.<br />

. ..<br />

⎥<br />

. ⎦<br />

1 xk x3 + v3k + xk x4 + v4k + xk x5 + v5k + xk . . . 2xk + vkk<br />

sendo vij = 〈〈vi, vj〉〉 o produto escalar usual dos vetores vi e vj <strong>de</strong> R n−1 .<br />

Escrevendo as entradas <strong>de</strong>sta matriz G como gij, lembrando que P1, P2, . . . , Pk são<br />

vetores nulos, obtemos as seguintes relações:<br />

81


⎧<br />

⎪⎨<br />

⎪⎩<br />

xj = g2j<br />

2xj + vjj = 0<br />

xj + vjl + xl = gjl<br />

Substituindo xj = g2j nas relações 2xj + vjj = 0 e xj + vjl + xl = gjl, obtemos as<br />

igualda<strong>de</strong>s<br />

vjj = −2g2j<br />

vjl = −g2j − g2l + gjl<br />

Lembrando que x3 = g23 = −1, essas igualda<strong>de</strong>s implicam que a matriz <strong>de</strong> Gram dos<br />

vetores v3 = √ 2e1, v4, . . ., vk no produto escalar usual <strong>de</strong> R n−1 é exatamente a matriz<br />

G:<br />

⎡<br />

2<br />

⎢<br />

1 − g24 + g34<br />

G<br />

⎢<br />

= ⎢ 1 − g25 + g35<br />

⎢<br />

⎣ .<br />

1 − g24 + g34<br />

−2g24<br />

−g25 − g24 + g45<br />

.<br />

1 − g25 + g35<br />

−g25 − g24 + g45<br />

−2g25<br />

.<br />

· · ·<br />

· · ·<br />

· · ·<br />

. ..<br />

⎤<br />

1 − g2k + g3k<br />

⎥<br />

−g2k − g24 + g4k ⎥<br />

−g2k − g25 + g5k ⎥<br />

.<br />

⎥<br />

⎦<br />

1 − g2k + g3k −g2k − g24 + g4k −g2k − g25 + g5k · · · −2g2k<br />

Aplicando o lema 5.3 concluímos, <strong>de</strong> uma outra maneira, que a matriz G é semi-<strong>de</strong>finida<br />

positiva. Além disso, como G é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k − 2 vetores em<br />

R n−1 , a observação da página 80 implica que <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k −<br />

2}, |I| ≥ n, como queríamos.<br />

(b) Seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) <strong>de</strong> entradas reais da forma (6.3). Suponha<br />

que n é um inteiro positivo tal que <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k − 2}, |I| ≥ n, e<br />

que a matriz associada G é semi-<strong>de</strong>finida positiva. Devemos mostrar que, neste caso,<br />

G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H n R .<br />

Isto é, <strong>de</strong>vemos mostrar que existem k vetores nulos P1, P2, . . ., Pk tal que a matriz<br />

<strong>de</strong> Gram G(P1, P2, . . . , Pk) <strong>de</strong>sses vetores seja igual a G. Como o grupo <strong>de</strong> isometrias<br />

<strong>de</strong> H n R<br />

nulos são<br />

age duplamente transitivamente na fronteira po<strong>de</strong>mos supor que esses vetores<br />

82


P1 =<br />

⎡ ⎤<br />

1<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

⎣0⎥<br />

⎦<br />

0<br />

, P2<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣0⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P3<br />

⎡ ⎤<br />

x3<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣v3<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P4<br />

⎡ ⎤<br />

x4<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣v4<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P5<br />

⎡ ⎤<br />

x5<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣v5<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, . . . , Pk<br />

⎡ ⎤<br />

xk<br />

⎢ ⎥<br />

= ⎢<br />

⎣vk<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

,<br />

on<strong>de</strong> estamos consi<strong>de</strong>rando xj ∈ R e vj ∈ R n−1 . Da expressão (6.2) do produto 〈·, ·〉<br />

em R n,1 , vemos que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores é<br />

G(P1, . . . , Pk) =<br />

⎡<br />

⎤<br />

0 1 1 1 1 · · · 1<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ 1 0 x3 x4 x5 · · · xk ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ 1 x3 2x3 + v33 x3 + v34 + x4 x3 + v35 + x5 · · · x3 + v3k +<br />

⎥<br />

xk ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

= ⎢ 1 x4 x3 + v34 + x4 2x4 + v44 x4 + v45 + x5 · · · x4 + v4k + xk ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢ 1 x5 x3 + v35 + x5 x4 + v45 + x5 2x5 + v55 · · · x5 + v5k + xk ⎥<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢<br />

.<br />

⎣ . . .<br />

.<br />

. ..<br />

⎥<br />

. ⎦<br />

1 xk x3 + v3k + xk x4 + v4k + xk x5 + v5k + xk . . . 2xk + vkk<br />

sendo vij = 〈〈vi, vj〉〉 o produto escalar usual dos vetores vi e vj <strong>de</strong> R n−1 .<br />

Para G ser igual a G(P1, . . . , Pk) <strong>de</strong>vemos ter<br />

⎧<br />

⎪⎨<br />

⎪⎩<br />

xj = g2j<br />

2xj + vjj = 0<br />

xj + vjl + xl = gjl<br />

Observe que, dada a matriz G = (gij), da primeira <strong>de</strong>stas equações, obtemos que<br />

xj = g2j, para j = 3, 4, . . . , k. Assim, para a <strong>de</strong>terminação completa dos vetores P1,<br />

P2, . . ., Pk falta o cálculo dos vetores vj em termos das entradas <strong>de</strong> G. Para efetuar<br />

isso, substitua xj = g2j nas duas últimas equações do sistema linear acima. Neste caso,<br />

estas equações tomam a forma<br />

vjj = −2g2j<br />

vjl = −g2j − g2l + gjl<br />

83


Lembrando que g23 = −1, essas equações implicam que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores<br />

procurados v3, v4, . . ., vk no produto escalar usual <strong>de</strong> R n−1 <strong>de</strong>ve ser exatamente a<br />

matriz G:<br />

⎡<br />

2<br />

⎢<br />

1 − g24 + g34<br />

G<br />

⎢<br />

= ⎢ 1 − g25 + g35<br />

⎢<br />

⎣ .<br />

1 − g24 + g34<br />

−2g24<br />

−g25 − g24 + g45<br />

.<br />

1 − g25 + g35<br />

−g25 − g24 + g45<br />

−2g25<br />

.<br />

· · ·<br />

· · ·<br />

· · ·<br />

. ..<br />

⎤<br />

1 − g2k + g3k<br />

⎥<br />

−g2k − g24 + g4k ⎥<br />

−g2k − g25 + g5k ⎥<br />

.<br />

⎥<br />

⎦<br />

1 − g2k + g3k −g2k − g24 + g4k −g2k − g25 + g5k · · · −2g2k<br />

Mas como G é uma matriz (k − 2) × (k − 2) simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva e, por<br />

hipótese, a equação (6.6) implica que posto( G) ≤ n − 1, o teorema 5.8 implica que<br />

existem vetores v3, v4, . . ., vk em R n−1 tais que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores, no<br />

produto escalar usual <strong>de</strong> R n−1 , é exatamente a matriz G.<br />

Como já havíamos calculados os valores <strong>de</strong> x3, · · · , xk e agora provamos a existência<br />

<strong>de</strong> vetores v3, · · · , vk (tudo isso em termos das entradas das matriz G) <strong>de</strong>monstramos<br />

que existem vetores nulos P1, . . ., Pk tais que G é a matriz <strong>de</strong> Gram dos pontos p1,<br />

. . ., pk <strong>de</strong> ∂H n R <strong>de</strong>finidos por esses vetores nulos. Finalmente, como gij = 0 para i = j,<br />

vemos que os pontos p1, . . ., pk são dois a dois distintos.<br />

(c) Suponhamos, por redução ao absurdo, que uma matriz G da forma (6.3) e <strong>de</strong> posto<br />

r seja matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos em ∂H m R<br />

sendo que<br />

m − 1 < r − 2. Analisando a prova da parte (a), isso implica que G é matriz <strong>de</strong> Gram<br />

<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k − 2 vetores em R m−1 , no produto escalar usual <strong>de</strong> R m−1 . Como<br />

posto( G) = r − 2, o teorema 5.8 implica que m − 1 ≥ r − 2. Da hipótese m − 1 < r − 2,<br />

obtemos então uma contradição.<br />

Utilizando o teorema 5.5, que nos diz que uma matriz é semi-<strong>de</strong>finida positiva se, e<br />

somente se, o <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> todos os seus menores principais são não negativos, po<strong>de</strong>mos<br />

reescrever o teorema anterior do seguinte modo. Observamos que no teorema a seguir, dado<br />

84


um subconjunto I <strong>de</strong> índices i1 < i2 < · · · < il em {4, 5, . . . , k} a notação G123,I indica a<br />

submatriz menor principal <strong>de</strong> G constituida das linhas e das colunas <strong>de</strong> G <strong>de</strong> índices iguais<br />

a 1, 2, 3, i1, i2, . . ., il.<br />

Teorema 6.3. (a) Se G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4<br />

pontos distintos em ∂H n R , então G tem a forma (6.3), gij < 0 (i ≥ 2, j ≥ 4 e<br />

i < j), <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, |I| ≥ n, e <strong>de</strong>t(G123,J) ≤ 0 para todo<br />

J ⊂ {4, 5, . . . , k}.<br />

(b) Reciprocamente, seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) <strong>de</strong> entradas reais da forma<br />

(6.3) com gij < 0 (i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j). Seja n é um inteiro positivo tal que<br />

<strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, |I| ≥ n. Se para todo subconjunto J ⊂ {4, 5, . . . , k}<br />

temos <strong>de</strong>t(G123,J) ≤ 0, então G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k<br />

pontos distintos em ∂H n R .<br />

Vamos consi<strong>de</strong>rar agora o caso particular n = 3. Isto é, vamos caracterizar as ma-<br />

trizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos distintos em ∂H3 R . As duas<br />

afirmações do teorema anterior po<strong>de</strong>m ser escritas do seguinte modo:<br />

Teorema 6.4. (a) Seja G a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos<br />

distintos em ∂H 3 R . Então <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, |I| ≥ 3, gij < 0 (i ≥ 2,<br />

j ≥ 4 e i < j) e <strong>de</strong>t(G123,J) ≤ 0 para todo J ⊂ {4, 5, . . . , k}.<br />

(b) Reciprocamente, seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) da forma (6.3) e <strong>de</strong> entradas<br />

reais. Suponhamos que <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, |I| ≥ 3 e que gij < 0 (i ≥ 2,<br />

j ≥ 4 e i < j). Se para todo subconjunto J ⊂ {4, 5, . . . , k} temos <strong>de</strong>t(G123,J) ≤ 0,<br />

então G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em<br />

∂H 3 R .<br />

6.3 O invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann<br />

Sejam p1, p2, p3 e p4 quatro pontos distintos na fronteira do espaço hiperbólico real<br />

∂H n R . O invariante <strong>de</strong> Korányi e Riemann <strong>de</strong>sses pontos é o número real χ(p1, p2, p3, p4)<br />

<strong>de</strong>finido por:<br />

χ(p1, p2, p3, p4) = 〈P1, P3〉〈P2, P4〉<br />

〈P1, P2〉〈P3, P4〉<br />

85


sendo P1, P2, P3 e P4 vetores nulos em R n,1 que se projetam, respectivamente em p1, p2, p3<br />

e p4.<br />

Observe que χ está bem <strong>de</strong>finido pois não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha dos levantamentos <strong>de</strong><br />

p1, p2, p3 e p4 e, como Isom(H n R ) = PO(n, 1), se f é uma isometria <strong>de</strong> Hn R então<br />

χ(f(p1), f(p2), f(p3), f(p4)) = χ(p1, p2, p3, p4) .<br />

Como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R age triplamente transitivamente na fronteira ∂Hn R ,<br />

escolhendo a<strong>de</strong>quadamente p1, p2 e p3 po<strong>de</strong>mos provar que χ(p1, p2, p3, p4) > 0 para quaisquer<br />

quatro pontos distintos p1, p2, p3 e p4 <strong>de</strong> ∂H n R .<br />

Simetrias do invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann<br />

sejam<br />

Dado um conjunto or<strong>de</strong>nado p = (p1, p2, p3, p4) <strong>de</strong> quatro pontos distintos <strong>de</strong> ∂H n R ,<br />

χ1 = χ1(p) = χ(p1, p2, p3, p4)<br />

χ2 = χ2(p) = χ(p2, p1, p3, p4)<br />

Efetuando algumas contas simples, prova-se que o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann <strong>de</strong><br />

qualquer permutação <strong>de</strong> p1, p2, p3 e p4 po<strong>de</strong> ser escrito em termos que χ1 e χ2, conforme a<br />

lista a seguir:<br />

χ(p1, p2, p3, p4) = χ(p4, p3, p2, p1) = χ(p2, p1, p4, p3) = χ(p3, p4, p1, p2) = χ1<br />

χ(p2, p1, p3, p4) = χ(p4, p3, p1, p2) = χ(p1, p2, p4, p3) = χ(p3, p4, p2, p1) = χ2<br />

χ(p1, p3, p2, p4) = χ(p4, p2, p3, p1) = χ(p3, p1, p4, p2) = χ(p2, p4, p1, p3) = 1<br />

χ1<br />

χ(p1, p4, p2, p3) = χ(p3, p2, p4, p1) = χ(p4, p1, p3, p2) = χ(p2, p3, p1, p4) = 1<br />

χ(p1, p4, p3, p2) = χ(p2, p3, p4, p1) = χ(p4, p1, p2, p3) = χ(p3, p2, p1, p4) = χ1<br />

χ(p1, p3, p4, p2) = χ(p2, p4, p3, p1) = χ(p3, p1, p2, p4) = χ(p4, p2, p1, p3) = χ2<br />

86<br />

χ2<br />

χ2<br />

χ1


6.4 Matrizes <strong>de</strong> Gram e o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann<br />

Neste capítulo vimos que a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong>termina a classe <strong>de</strong> con-<br />

gruência <strong>de</strong> uma k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R . Entretanto, como um ponto em ∂Hn R<br />

possui vários levantamentos, como as entradas <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da es-<br />

colha dos levantamentos, e como para o cálculo da matriz <strong>de</strong> Gram normalizada fazemos<br />

uma escolha bastante especial <strong>de</strong> levantamentos, é interessante formular a classificação <strong>de</strong><br />

classes <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />

numa linguagem que utilize<br />

invariantes do espaço hiperbólico. Nesta seção, veremos como <strong>de</strong>terminar as entradas da<br />

matriz <strong>de</strong> Gram normalizada em termos <strong>de</strong> invariantes <strong>de</strong> Korányi-Riemann. Feito isto,<br />

teremos uma lista <strong>de</strong> invariantes associada a uma k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R que<br />

terão a seguinte proprieda<strong>de</strong>: duas <strong>de</strong>ssas k-uplas serão equivalentes se, e somente se, esses<br />

invariantes forem iguais para estes dois conjuntos <strong>de</strong> pontos.<br />

Proposição 6.3. Seja G = (gij) a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4<br />

pontos distintos p1, p2, . . . , pk em ∂Hn R . Então para todos os índices i e j tais que i =<br />

3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j temos que<br />

(a) χ(p1, pj, p3, p2) = −g2j .<br />

(b) χ(p2, pi, p1, pj) = gij<br />

Reciprocamente,<br />

g2i<br />

(A) g2j = −χ(p1, pj, p3, p2).<br />

(B) gij = −χ(p1, pi, p3, p2) χ(p2, pi, p1, pj) .<br />

.<br />

Demonstração. Sejam P1, P2, . . . , Pk levantamentos <strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk tais que a matriz <strong>de</strong><br />

Gram normalizada G é dada por G = ( gij = 〈Pi, Pj〉 ). Pela <strong>de</strong>finição do invariante <strong>de</strong><br />

Korányi-Riemann temos:<br />

(a) χ(p1, pj, p3, p2) = g13 gj2<br />

g1j g32<br />

(b) χ(p2, pi, p1, pj) = g21 gij<br />

g2i g1j<br />

= −g2j .<br />

= gij<br />

g2i<br />

.<br />

87


Os itens (A) e (B) seguem imediatamente dos itens (a) e (b).<br />

Observação: Como o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemman <strong>de</strong> quatro pontos distintos <strong>de</strong> ∂H n R<br />

sempre é um número positivo, as igualda<strong>de</strong>s (A) e (B) da proposição anterior implicam que<br />

todos os termos indicados por gij (i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j) na matriz (6.3), são números<br />

negativos. Isto já havia sido concluído na observação da página 75.<br />

Utilizando o teorema 6.1, que nos diz que duas k-uplas <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />

são equivalentes se, e somente se, elas possuem a mesma matriz <strong>de</strong> Gram normalizada, e<br />

utilizando a proposição anterior que permite o cálculo das entradas da Matriz <strong>de</strong> Gram<br />

normalizada em termos <strong>de</strong> invariantes <strong>de</strong> Korányi-Riemann, po<strong>de</strong>mos concluir o seguinte<br />

resultado.<br />

Teorema 6.5. Se k ≥ 4, então duas k-uplas or<strong>de</strong>nadas p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk)<br />

<strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />

são equivalentes se, e somente se<br />

χ(p1, pj, p3, p2) = χ(q1, qj, q3, q2) e χ(p2, pi, p1, pj) = χ(q2, qi, q1, qj)<br />

para todos os índices i e j tais que i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j.<br />

Observação: Dada uma k-upla or<strong>de</strong>nada p = (p1, p2, . . . , pk) <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R ,<br />

associamos a ela d =<br />

k(k − 3)<br />

2<br />

invariantes:<br />

χj = χ(p1, pj, p3, p2) e χij = χ(p2, pi, p1, pj)<br />

k(k − 3)<br />

on<strong>de</strong> i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j. Observe que esta quantida<strong>de</strong> d = <strong>de</strong><br />

2<br />

invariantes é igual a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entradas representadas pelas letras gij (i ≥ 2, j ≥ 4, i <<br />

j) na matriz <strong>de</strong> Gram normalizada (6.3).<br />

88


6.5 O espaço <strong>de</strong> Módulos para C(k, n)<br />

Lembre-se da seguinte <strong>de</strong>finição: dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos p =<br />

(p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) na fronteira do espaço hiperbólico real são equivalentes<br />

se existir uma isometria f ∈ PO(n, 1) = Isom(H n R ) tal que f(pi) = qi, ∀i = 1, 2, . . . , k.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente essa equivalência é uma relação <strong>de</strong> equivalência. O conjunto das classes <strong>de</strong><br />

equivalência <strong>de</strong>sta relação, munido da topologia quociente, é chamado <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> con-<br />

figurações <strong>de</strong> k pontos em ∂Hn R . Este espaço <strong>de</strong> configurações é <strong>de</strong>notado por C(k, n).<br />

Nesta seção vamos construir um espaço <strong>de</strong> Módulos M(k, n) para este<br />

espaço <strong>de</strong> configurações. Seja M(k, n) o conjunto dos vetores (χj, χij) <strong>de</strong> R d +<br />

(i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j) que satisfazem as seguintes relações: construa a<br />

matriz simétria G = (gij), que tem a forma (6.3), sendo suas entradas dadas pela proposição<br />

6.3:<br />

• g1j = 1 para todo j = 2, 3, . . . , k .<br />

• g23 = −1 .<br />

• gii = 0 .<br />

• g2j = −χj se j = 4, 5, . . . , k.<br />

• gij = −χi χij se i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j.<br />

Observação: como χj só está <strong>de</strong>finido para j = 4, 5, . . . , k, para a última igualda<strong>de</strong> da lista<br />

acima fazer sentido para i = 3 consi<strong>de</strong>re que χ3 = 1.<br />

Assuma que os d =<br />

hipóteses do teorema 6.3:<br />

k(k − 3)<br />

2<br />

(1) <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, tal que|I| ≥ n.<br />

número χj e χij sejam tais que a matriz G satisfaça as<br />

(2) Para todo subconjunto I ⊂ {4, 5, . . . , k} temos <strong>de</strong>t(G123,I) ≤ 0.<br />

Dada uma k-upla or<strong>de</strong>nada p = (p1, p2, . . . , pk) <strong>de</strong> pontos distintos em ∂Hn R , represente<br />

por m(p) ∈ C(k, n) a classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> p em C(k, n). Agora <strong>de</strong>fina a aplicação<br />

τ : C(k, n) −→ R d +<br />

89


por τ(m(p)) = (χj, χij), sendo (χj, χij) o vetor <strong>de</strong> R d + (i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j)<br />

cujas coor<strong>de</strong>nadas χj e χij são dadas pela observação da página 88:<br />

χj = χ(p1, pj, p3, p2) e χij = χ(p2, pi, p1, pj)<br />

Feitas estas <strong>de</strong>finições, po<strong>de</strong>mos enunciar o teorema principal <strong>de</strong>ste capítulo.<br />

Teorema 6.6. A aplicação τ : C(k, n) −→ R d + está bem <strong>de</strong>finida e ela induz uma bijeção<br />

σ : C(k, n) −→ M(k, n).<br />

Demonstração.<br />

• A aplicação τ está bem <strong>de</strong>finida pois o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann é preservado por<br />

isometrias do espaço hiperbólico. Logo, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> τ(m(p)) in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha<br />

do representante p = (p1, p2, . . . , pk) em m(p).<br />

• O teorema 6.3 implica que realmente σ(m(p)) é um ponto no conjunto M(k, n).<br />

• Este mesmo teorema garante que a aplicação σ é sobrejetiva.<br />

• O teorema 6.5 implica que σ é injetiva.<br />

O conjunto M(k, n) é um espaço <strong>de</strong> módulos para o espaço <strong>de</strong> configurações C(k, n).<br />

90


Capítulo 7<br />

Quatro pontos distintos na fronteira<br />

<strong>de</strong> H 3 R<br />

Nesta seção vamos consi<strong>de</strong>rar o conjunto M4 <strong>de</strong> quádruplas or<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> pontos distin-<br />

tos na fronteira do espaço hiperbólico real H3 R . Vamos ver que cada uma <strong>de</strong>ssas quádruplas<br />

fica bem caracterizada, a menos <strong>de</strong> transformações <strong>de</strong> Möbius, pela razão cruzada clássica<br />

dos pontos, e que elas ficam caracterizadas a menos <strong>de</strong> qualquer isometria <strong>de</strong> H 3 R<br />

91<br />

por dois<br />

invariantes <strong>de</strong> Korányi-Riemann dos quatro pontos. Nosso objetivo é caracterizar o espaço<br />

<strong>de</strong> configurações<br />

C4 =<br />

M4<br />

Isom(H 3 R )<br />

obtido pela relação <strong>de</strong> quivalência: se z = (z1, z2, z3, z4) e w = (w1, w2, w3, w4) são pontos<br />

em M4 então z é equivalente a w se existir uma isometria f <strong>de</strong> H 3 R tal que f(zj) = wj<br />

para j = 1, 2, 3, 4. Em M4 consi<strong>de</strong>ramos a topologia produto e em C4 a topologia quociente.<br />

Representaremos a classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> um ponto z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 por 〈z〉 ∈ C4.<br />

7.1 A razão cruzada clássica em C<br />

Sejam dados quatro pontos distintos z1, z2, z3 e z4 no plano complexo estendido C.<br />

Utilizando a mesma nomencladutra do livro do Beardon [1], página 75, a razão cruzada<br />

<strong>de</strong>sses pontos é o número complexo [z1, z2, z3, z4] <strong>de</strong>finido por:<br />

[z1, z2, z3, z4] = (z1 − z3)(z2 − z4)<br />

(z1 − z2)(z3 − z4) , se z1, z2, z3, z4 ∈ C<br />

[∞, z2, z3, z4] = z2 − z4<br />

, se z1 = ∞<br />

z3 − z4


Observações:<br />

[z1, ∞, z3, z4] = z3 − z1<br />

, se z2 = ∞<br />

z3 − z4<br />

[z1, z2, ∞, z4] = z4 − z2<br />

, se z3 = ∞<br />

z1 − z2<br />

[z1, z2, z3, ∞] = z1 − z3<br />

, se z4 = ∞<br />

z1 − z2<br />

• Para todo z ∈ C tal que z = 0 e z = 1 tem-se que<br />

[1, 0, ∞, z] = z .<br />

• Dados três pontos distintos z1, z2 e z3 em C, se f : C → C é <strong>de</strong>finida por<br />

f(z) = [z1, z2, z3, z] ,<br />

então f é o único elemento <strong>de</strong> PSL(2, C), ou seja, o conjunto <strong>de</strong> todas as transformações<br />

<strong>de</strong> Möbius, tal que f(z1) = 1, f(z2) = 0 e f(z3) = ∞.<br />

• Das expressões que <strong>de</strong>finem a razão cruzada clássica segue que<br />

para qualquer z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4.<br />

Simetrias da razão cruzada<br />

[z1, z2, z3, z4] = 0 e [z1, z2, z3, z4] = 1<br />

Dado um conjunto or<strong>de</strong>nado (z1, z2, z3, z4) <strong>de</strong> quatro pontos distintos no plano complexo<br />

estendido, seja<br />

λ = [z1, z2, z3, z4] .<br />

Efetuando algumas contas simples (ver Beardon [1], páginas 76-77), prova-se que a<br />

razão cruzada <strong>de</strong> qualquer permutação <strong>de</strong> z1, z2, z3 e z4 po<strong>de</strong> ser escrita em termos que λ,<br />

conforme a seguinte lista:<br />

[z1, z2, z3, z4] = [z4, z3, z2, z1] = [z2, z1, z4, z3] = [z3, z4, z1, z2] = λ<br />

[z2, z1, z3, z4] = [z4, z3, z1, z2] = [z1, z2, z4, z3] = [z3, z4, z2, z1] = 1 − λ<br />

[z1, z3, z2, z4] = [z4, z2, z3, z1] = [z3, z1, z4, z2] = [z2, z4, z1, z3] = 1<br />

λ<br />

92


[z1, z4, z2, z3] = [z3, z2, z4, z1] = [z4, z1, z3, z2] = [z2, z3, z1, z4] = 1<br />

1 − λ<br />

[z1, z4, z3, z2] = [z2, z3, z4, z1] = [z4, z1, z2, z3] = [z3, z2, z1, z4] = λ<br />

λ − 1<br />

[z1, z3, z4, z2] = [z2, z4, z3, z1] = [z3, z1, z2, z4] = [z4, z2, z1, z3] =<br />

O seguinte teorema está <strong>de</strong>monstrado no livro do Beardon [1], página 75.<br />

λ − 1<br />

λ<br />

az + b<br />

Teorema 7.1. (a) Se g : C → C é uma transformação <strong>de</strong> Möbius, g(z) =<br />

cz + d com<br />

ad − bc = 0, então [g(z1), g(z2), g(z3), g(z4)] = [z1, z2, z3, z4], para quaisquer quatro<br />

pontos distintos z1, z2, z3 e z4 em C.<br />

(b) Sejam z1, z2, z3 e z4 quatro pontos distintos em C, e sejam w1, w2, w3 e w4 quatro pon-<br />

tos distintos em C. Se [z1, z2, z3, z4] = [w1, w2, w3, w4], então existe uma transformação<br />

<strong>de</strong> Möbius g : C → C tal que g(zj) = wj, j = 1, 2, 3, 4.<br />

Definição 7.1. I<strong>de</strong>ntificando a fronteira do espaço hiperbólico H 3 R<br />

estendido C, vamos representar por<br />

C4 + =<br />

M4<br />

PSL(2, C)<br />

com o plano complexo<br />

o conjunto obtido <strong>de</strong> M4 pela relação <strong>de</strong> equivalência: se z = (z1, z2, z3, z4) e w = (w1, w2, w3, w4)<br />

são pontos em M4 então z é equivalente a w se existir uma transformação <strong>de</strong> Möbius g <strong>de</strong> C<br />

tal que g(zj) = wj para j = 1, 2, 3, 4. Neste caso, vamos representar a classe <strong>de</strong> equivalência<br />

<strong>de</strong> um ponto z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 por 〈z〉+ ∈ C4.<br />

Consi<strong>de</strong>re agora a aplicação τ : C4 + → C <strong>de</strong>finida por: se 〈z〉+ ∈ C4 é classe <strong>de</strong><br />

equivalência <strong>de</strong> z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, então<br />

τ(〈z〉+) = [z1, z2, z3, z4] ,<br />

ou seja, τ(〈z〉+) é igual a razão cruzada dos pontos z = (z1, z2, z3, z4).<br />

Teorema 7.2. Esta aplicação τ : C4 + → C \ {0, 1} está bem <strong>de</strong>finida e é uma bijeção.<br />

Demonstração.<br />

93


• Devemos mostrar que a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> τ, τ(〈z〉+) = [z1, z2, z3, z4], não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha<br />

do representante z da classe <strong>de</strong> equivalência 〈z〉+. Então sejam z = (z1, z2, z3, z4) e<br />

w = (w1, w2, w3, w4) pontos equivalentes em M4, isto é, 〈z〉+ = 〈w〉+. Isso significa<br />

que existe uma transformação <strong>de</strong> Möbius g : C → C tal que g(zj) = wj, j = 1, 2, 3, 4.<br />

Da parte (a) do teorema 7.1 isso implica que [z1, z2, z3, z4] = [w1, w2, w3, w4]. Logo<br />

τ(〈z〉+) = [z1, z2, z3, z4] é igual a τ(〈w〉+) = [w1, w2, w3, w4]. Desse modo, mostramos<br />

que a aplicação τ está bem <strong>de</strong>finida.<br />

• Agora vamos mostrar que τ é injetiva. Para isso suponhamos que τ(〈z〉+) = τ(〈w〉+),<br />

em que 〈z〉+ ∈ C4 é classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 e 〈w〉+ ∈ C4<br />

é classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> w = (w1, w2, w3, w4) ∈ M4. Como τ(〈z〉+) = τ(〈w〉+)<br />

vemos que [z1, z2, z3, z4] = [w1, w2, w3, w4] e, pela parte (b) do teorema 7.1, existe uma<br />

transformação <strong>de</strong> Möbius g : C → C tal que g(zj) = wj, j = 1, 2, 3, 4. Assim, z e w<br />

são pontos equivalentes em M4, 〈z〉+ = 〈w〉+, e portanto τ é injetiva.<br />

• Finalmente vamos mostrar que τ é sobrejetiva. Para isso seja c um número complexo<br />

qualquer, c = 0 e c = 1. Se z1 = 0, z2 = 1, z3 = c e z4 = ∞ então esses pontos são<br />

distintos e [z1, z2, z3, z4] = [0, 1, c, ∞] = c. Para esses pontos, se 〈z〉+ ∈ C4 é a classe <strong>de</strong><br />

equivalência <strong>de</strong> z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, segue que τ(〈z〉+) = c. Logo τ é sobrejetiva.<br />

O teorema 7.1 nos mostra que a razão cruzada caracteriza, a menos <strong>de</strong> aplicações <strong>de</strong><br />

Möbius, quatro pontos distintos no plano complexo estendido. Para caracterizarmos esses<br />

pontos a menos <strong>de</strong> qualquer isometria do espaço hiperbólico, utilizaremos dois invariantes,<br />

a razão cruzada clássica e o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann.<br />

7.2 A razão cruzada clássica e o invariante <strong>de</strong> Korányi-<br />

Riemann<br />

Teorema 7.3. No mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior, para quaisquer quatro pontos distintos<br />

z1, z2, z3, z4 em C,<br />

χ(z1, z2, z3, z4) = [z1, z2, z3, z4] .<br />

94


Demonstração. Como o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann e a razão cruzada são invariantes<br />

por transformações <strong>de</strong> Möbius, e como PSL(2, C) age triplamente transitivamente em C, sem<br />

perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos supor que z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy qualquer.<br />

Daí<br />

Logo<br />

[z1, z2, z3, z4] = [0, 1, ∞, z4] = z4 − 1<br />

0 − 1 = 1 − z4 = 1 − x − iy .<br />

<br />

[z1, z2, z3, z4] = (1 − x) 2 + y 2 = 1 − 2x + x 2 + y 2 .<br />

Por outro lado, pela aplicação (3.7), po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar os seguintes levantamentos <strong>de</strong><br />

z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy:<br />

Assim,<br />

P1 =<br />

⎡ ⎤<br />

−1<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

⎥<br />

⎦<br />

0<br />

, P2<br />

⎡ ⎤<br />

−1<br />

⎢√<br />

⎥<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

2 ⎥<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P3<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣0<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

e P4<br />

⎡<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

⎣<br />

−1<br />

√<br />

2 x<br />

√<br />

2 y<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ .<br />

χ(z1, z2, z3, z4) = 〈P1, P3〉〈P2, P4〉<br />

〈P1, P2〉〈P3, P4〉 = (−1) · (−x2 − y2 + 2x − 1)<br />

(−1) · (−1)<br />

Portanto concluímos que χ(z1, z2, z3, z4) = [z1, z2, z3, z4] .<br />

x 2 + y 2<br />

= x 2 + y 2 − 2x + 1 .<br />

Seguindo a mesma notação do capítulo anterior, temos que, dada uma quádrupla<br />

or<strong>de</strong>nada p = (p1, p2, p3, p4), para i = 3, 4, j = 4 e i < j, temos<br />

χ4 = χ(p1, p4, p3, p2) e χ34 = χ(p2, p3, p1, p4).<br />

E até o final <strong>de</strong>sta seção, usaremos a seguinte <strong>de</strong>finição:<br />

Definição 7.2. Dado z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 vamos consi<strong>de</strong>rar as seguintes notações:<br />

χ1 = χ4 = χ(z1, z4, z3, z2)<br />

χ2 = χ34 = χ(z2, z3, z1, z4).<br />

95


Pelo teorema 6.3, temos que a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada G <strong>de</strong> uma quádrupla<br />

or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H3 R , po<strong>de</strong> ser escrita como<br />

⎡<br />

0<br />

⎢<br />

G = ⎢<br />

1<br />

⎢<br />

⎣ 1<br />

1<br />

0<br />

−1<br />

1<br />

−1<br />

0<br />

⎤<br />

1<br />

⎥<br />

−χ1 ⎥<br />

−χ2 ⎦<br />

1 −χ1 −χ2 0<br />

Vamos relembrar as hipóteses do teorema 6.3:<br />

(1) <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, tal que|I| ≥ n.<br />

(2) Para todo subconjunto I ⊂ {4, 5, . . . , k} temos <strong>de</strong>t(G123,I) ≤ 0.<br />

Se aplicarmos essas hipóteses para n = 3 e k = 4, o item (1) <strong>de</strong>saparece e teremos que<br />

G123,I = G. Logo,<br />

∂H 3 R<br />

<strong>de</strong>t(G) ≤ 0 ⇒ 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2 ≥ 0<br />

E como sabemos que χ(p1, p2, p3, p4) > 0 para quaisquer quatro pontos distintos <strong>de</strong><br />

, vamos utilizar a seguinte <strong>de</strong>finição:<br />

Definição 7.3. Seja M4 a seguinte região do plano R 2 : (χ1, χ2) ∈ M4 se, e somente se,<br />

4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2 ≥ 0 , χ1 > 0 e χ2 > 0 .<br />

Este conjunto M4 é chamado <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> moduli do espaço <strong>de</strong> configurações C4.<br />

Esta região M4 correspon<strong>de</strong> a área hachurada na figura 7.1, juntamente com o seu<br />

contorno, excluíndo-se os dois pontos em que esse contorno parabólico fica tangente aos<br />

eixos coor<strong>de</strong>nados χ1 e χ2.<br />

Observação: Apesar do próximo resultado ser exatamente o teorema 6.6 para o caso n = 3<br />

e k = 4, apresentaremos uma nova <strong>de</strong>monstração para este caso especial.<br />

Teorema 7.4. A aplicação σ : C4 → M4 dada por σ(〈z〉) = (χ1(z), χ2(z)) está bem <strong>de</strong>finida<br />

e é um homeomorfismo.<br />

Demonstração.<br />

96


χ2<br />

1<br />

1<br />

M4<br />

χ1<br />

Figura 7.1: O espaço <strong>de</strong> moduli M4.<br />

• A aplicação σ está bem <strong>de</strong>finida pois o invariante <strong>de</strong> Korányi-Rimann é invariante por<br />

isometrias.<br />

• Vamos mostrar que para todo z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, a imagem τ(〈z〉) = (χ1, χ2) está<br />

contida na região M4. De fato, se z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, como o grupo <strong>de</strong> isometrias<br />

<strong>de</strong> H3 R age triplamente transitivamente em ∂H3R , e como o invariante <strong>de</strong> Korányi-<br />

Riemann é invariante por isometrias, po<strong>de</strong>mos supor, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que<br />

z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x+iy qualquer. Pela aplicação (3.7), po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar<br />

os seguintes levantamentos <strong>de</strong> z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy:<br />

Assim,<br />

P1 =<br />

⎡ ⎤<br />

−1<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

⎥<br />

⎦<br />

0<br />

, P2<br />

⎡ ⎤<br />

−1<br />

⎢√<br />

⎥<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

2 ⎥<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P3<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣0<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

e P4<br />

⎡<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

⎣<br />

−1<br />

√<br />

2 x<br />

√<br />

2 y<br />

x2 + y2 ⎤<br />

⎥<br />

⎦ .<br />

χ1 = χ(z1, z4, z3, z2) = 〈P1, P3〉〈P4, P2〉<br />

〈P1, P4〉〈P3, P2〉 = x2 + y2 − 2x + 1<br />

x2 + y2 χ2 = χ(z2, z3, z1, z4) = 〈P2, P1〉〈P3, P4〉<br />

〈P2, P3〉〈P1, P4〉 =<br />

1<br />

x2 .<br />

+ y2 De χ1 = (x − 1)2 + y2 x2 + y2 1<br />

e χ2 =<br />

x2 + y2 segue que χ1 ≥ 0 e χ2 ≥ 0. Além disso, como<br />

z4 = x + iy é diferente <strong>de</strong> z1 = 0 vemos que x2 + y2 = 0 e, como z4 = x + iy é diferente<br />

97<br />

.


<strong>de</strong> z2 = 1 vemos que (x − 1) 2 + y 2 = 0. Assim, provamos que χ1 > 0 e χ2 > 0. Agora,<br />

observe que das expressões <strong>de</strong> χ1 e χ2 obtemos χ1<br />

χ1<br />

χ2<br />

= 1<br />

− 2x + 1, o que implica que<br />

χ2<br />

x = χ2 − χ1 + 1<br />

2χ2<br />

e y 2 = 1<br />

χ2<br />

χ2<br />

= x 2 + y 2 − 2x + 1 e, portanto,<br />

− x 2 = 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2<br />

4χ 2 2<br />

Desta expressão <strong>de</strong> y 2 segue que 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2 ≥ 0. Assim <strong>de</strong>monstramos que<br />

para todo z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, a imagem τ(〈z〉) = (χ1, χ2) realmente está contida<br />

na região M4.<br />

• Vamos mostrar que σ é sobrejetiva. Para isso seja dado (χ1, χ2) ∈ M4. Devemos<br />

mostrar que existe z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 tal que τ(〈z〉) = (χ1, χ2). Observe que,<br />

como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H3 R age triplamente transitivamente em ∂H3R , sem<br />

perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos provar a existência <strong>de</strong>sses pontos supondo que z1 = 0,<br />

z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy qualquer. Além disso, aplicando, se necessário, a<br />

isometria (z, t) ↦→ (z, t), po<strong>de</strong>mos supor ainda que y ≥ 0. Pela aplicação (3.7), po<strong>de</strong>mos<br />

consi<strong>de</strong>rar os seguintes levantamentos <strong>de</strong> z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy:<br />

P1 =<br />

⎡ ⎤<br />

−1<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

⎥<br />

⎦<br />

0<br />

, P2<br />

⎡ ⎤<br />

−1<br />

⎢√<br />

⎥<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

2 ⎥<br />

⎢<br />

⎣ 0<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

, P3<br />

⎡ ⎤<br />

0<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

0 ⎥<br />

⎢<br />

⎣0<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

e P4<br />

⎡<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

⎣<br />

−1<br />

√<br />

2 x<br />

√<br />

2 y<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦ .<br />

Assim, precisamos <strong>de</strong>terminar x e y tais que<br />

x 2 + y 2<br />

χ1 = χ(z1, z4, z3, z2) = 〈P1, P3〉〈P4, P2〉<br />

〈P1, P4〉〈P3, P2〉 = x2 + y2 − 2x + 1<br />

x2 + y2 χ2 = χ(z2, z3, z1, z4) = 〈P2, P1〉〈P3, P4〉<br />

〈P2, P3〉〈P1, P4〉 =<br />

Destas expressões <strong>de</strong> χ1 e χ2 obtemos χ1<br />

x = χ2 − χ1 + 1<br />

2χ2<br />

χ2<br />

e y 2 = 1<br />

χ2<br />

= x 2 + y 2 − 2x + 1 e<br />

1<br />

x2 .<br />

+ y2 − x 2 = 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2<br />

4χ 2 2<br />

Como (χ1, χ2) ∈ M4 temos que 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2 ≥ 0. Assim, dados (χ1, χ2) em<br />

M4 po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir os seguintes números reais:<br />

98<br />

.<br />

.<br />

.


x = χ2 − χ1 + 1<br />

2χ2<br />

e y =<br />

<br />

4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2<br />

4χ 2 2<br />

. (7.1)<br />

Agora consi<strong>de</strong>re o número complexo z4 = x+iy, em que x e y são dados pelas expressões<br />

1<br />

acima. Como χ2 =<br />

x2 + y2 e χ2 > 0, vemos que z4 = 0. Como χ1 = (x − 1)2 + y2 x2 + y2 e<br />

χ1 > 0, vemos que z4 = 1. Assim, concluímos que os pontos z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞<br />

e z4 = x + iy são distintos, z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, e que σ(〈z〉) = (χ1, χ2). Isso<br />

<strong>de</strong>monstra que a aplicação σ : C4 → M4 é sobrejetiva.<br />

• Agora vamos <strong>de</strong>monstrar que σ é injetiva. Para isso, sejam dados z = (z1, z2, z3, z4) ∈<br />

M4 e w = (w1, w2, w3, w4) ∈ M4 tais que σ(〈z〉) = σ(〈w〉) = (χ1, χ2).<br />

Sabemos que existe uma isometria f <strong>de</strong> H 3 R tal que f(z1) = 0, f(z2) = 1, f(z3) = ∞<br />

e f(z4) = x1 + iy1 com y1 ≥ 0. Da argumentação que <strong>de</strong>mos para provar que σ é<br />

sobrejetiva, vemos que os números x1 e y1 são escritos em termos <strong>de</strong> σ(〈z〉) = (χ1, χ2)<br />

como na equação (7.1).<br />

Analogamente, sabemos que existe uma isometria g <strong>de</strong> H 3 R tal que g(w1) = 0, g(w2) =<br />

1, g(w3) = ∞ e g(w4) = x2 + iy2 com y2 ≥ 0. E, como acima, os números x2 e y2 são<br />

escritos em termos <strong>de</strong> σ(〈w〉) = (χ1, χ2) como na equação (7.1).<br />

Como σ(〈z〉) = σ(〈w〉), estas consi<strong>de</strong>rações implicam que x1 = x2 e y1 = y2. Assim<br />

vemos que f(z1) = g(w1), f(z2) = g(w2), f(z3) = g(w3) e f(z4) = g(w4). Desse modo<br />

a isometria g −1 ◦ f e tal que g −1 ◦ f(zi) = wi, i = 1, 2, 3, 4. Daí vemos que 〈z〉 = 〈w〉 e<br />

que a aplicação σ é injetiva.<br />

Observação: Da <strong>de</strong>monstração do teorema anterior temos que se z1, z2, z3, z4 são quatro<br />

pontos distintos em C, se calculamos os números χ1 = χ(z1, z4, z3, z2) e χ2 = χ(z2, z3, z1, z4),<br />

então existe uma isometria f do espaço hiperbólico real tal que f(z1) = 0, f(z2) = 1,<br />

f(z3) = ∞ e f(z4) = x + iy, em que<br />

x = χ2 − χ1 + 1<br />

2χ2<br />

e y =<br />

<br />

4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2<br />

Observação: Agora vamos dar uma intepretação para as três componentes do conjunto dos<br />

4χ 2 2<br />

pontos <strong>de</strong> M4 que estão na sua fronteira. Observe a figura a seguir.<br />

99<br />

.


χ2<br />

1<br />

x > 1<br />

0 < x < 1<br />

1<br />

x < 0<br />

χ2 = 1 − χ1<br />

χ2 = χ1 − 1<br />

Figura 7.2: As três componentes da fronteira do espaço <strong>de</strong> moduli M4.<br />

Temos que os pontos do espaço <strong>de</strong> moduli M4 que estão na sua fronteira correspon<strong>de</strong>m<br />

a configurações <strong>de</strong> quatro pontos z1, z2, z3 e z4 que estão na fronteira <strong>de</strong> um subespaço<br />

totalmenete geodésico (isomorfo a H2 R ) contido em H3R . De fato, pela equação (7.1) vemos<br />

que nesse contorno, temos que y = 0, e assim po<strong>de</strong>mos supor z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e<br />

z4 = x = χ2 − χ1 + 1<br />

, que estão sobre o eixo real do plano complexo. Observe também<br />

2χ2<br />

que esse contorno do espaço <strong>de</strong> moduli possui três componentes conexas. Cada uma <strong>de</strong>stas<br />

componentes po<strong>de</strong> ser interpretada do seguinte modo: seja Σ é a reta ou o círculo que contém<br />

z1, z2, z3 e z4. Observe que os pontos z1, z2 e z3 divi<strong>de</strong>m Σ em três componentes conexas.<br />

Então as três componentes conexas dos pontos <strong>de</strong> M4 que estão em ∂M4 correspon<strong>de</strong>m a<br />

posição <strong>de</strong> z4 sobre cada uma <strong>de</strong>stas componentes <strong>de</strong> Σ, isto é, se z4 está entre z1 e z2, ou<br />

se z4 está entre z2 e z3, ou se z4 está entre z3 e z1. De fato, consi<strong>de</strong>rando z1 = 0, z2 = 1,<br />

z3 = ∞ e z4 = x = χ2 − χ1 + 1<br />

vemos que<br />

2χ2<br />

x > 1 ⇔ χ2 − χ1 + 1<br />

2χ2<br />

x < 0 ⇔ χ2 − χ1 + 1<br />

2χ2<br />

χ1<br />

> 1 ⇔ χ2 < 1 − χ1 .<br />

< 0 ⇔ χ2 < χ1 − 1 .<br />

Além disso, as retas χ2 = 1 − χ1 e χ2 = χ1 − 1 divi<strong>de</strong>m o contorno do espaço <strong>de</strong> moduli nas<br />

suas três componentes. Em uma <strong>de</strong>las x < 0, na outra 0 < x < 1 e na outra x > 1. E isso<br />

100


correspon<strong>de</strong>, respectivamente, às situações: se z4 está entre z1 e z3, ou se z4 está entre z1 e<br />

z2, ou se z4 está entre z2 e z3 (veja figura 7.2).<br />

101


Capítulo 8<br />

O espaço <strong>de</strong> k pontos distintos na<br />

fronteira <strong>de</strong> H 3 R<br />

Neste capítulo, vamos consi<strong>de</strong>rar o conjunto Mk <strong>de</strong> k pontos distintos e or<strong>de</strong>nados<br />

na fronteira do espaço hiperbólico real H3 R . Neste conjunto vamos <strong>de</strong>finir duas relações <strong>de</strong><br />

equivalência: dois conjuntos or<strong>de</strong>nados p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) em Mk são<br />

• PSL-equivalentes se existir uma transformação <strong>de</strong> Möbuis f ∈ PSL(2, C) tal que<br />

f(zi) = wi, ∀i = 1, 2, . . . , k.<br />

• equivalentes se existir uma uma isometria h <strong>de</strong> H 3 R tal que h(zi) = wi, ∀i = 1, 2, . . . , k.<br />

Obviamente PSL-equivalência implica equivalência. Os conjuntos das classes <strong>de</strong> equivalência<br />

<strong>de</strong>stas relações, munidos da topologia quociente, são respectivamente chamados <strong>de</strong> espaço<br />

<strong>de</strong> PSL-configurações e espaço <strong>de</strong> configurações <strong>de</strong> k pontos em ∂H 3 R :<br />

Ck + =<br />

Mk<br />

PSL(2, C)<br />

Ck =<br />

Mk<br />

Isom(H 3 R )<br />

O objetivo é construir espaços <strong>de</strong> moduli Mk + e Mk para estes espaços <strong>de</strong> configurações.<br />

Para isso usaremos razões cruzadas clássicas.<br />

8.1 O espaço <strong>de</strong> PSL-configurações<br />

Teorema 8.1. Sejam p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados<br />

<strong>de</strong> k ≥ 4 pontos distintos em ∂H3 R . Existe uma transformação <strong>de</strong> Möbius f ∈ PSL(2, C) tal<br />

102


que f(zi) = wi, i = 1, 2, . . . , k se, e somente se,<br />

para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />

[z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj]<br />

Demonstração. Sejam p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) dois pontos em Mk. Se p e q<br />

são PSL-equivalentes, pela parte (a) do teorema 7.1, segue que [z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj]<br />

para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />

Reciprocamente, suponhamos que [z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj] para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />

Consi<strong>de</strong>re agora a transformação <strong>de</strong> Möbuis g tal que g(z1) = 1, g(z2) = 0 e g(z3) = ∞, e<br />

também consi<strong>de</strong>re a transformação <strong>de</strong> Möbius h tal que h(w1) = 1, h(w2) = 0 e h(w3) = ∞.<br />

Vamos <strong>de</strong>monstrar que a hipótese consi<strong>de</strong>rada implica que g(zj) = h(wj) para todo j =<br />

4, 5, . . . , k. De fato, utilizando a proprieda<strong>de</strong> dada na observação da página 92, temos<br />

g(zj) = [1, 0, ∞, g(zj)]<br />

= [g(z1), g(z2), g(z3), g(zj)]<br />

= [z1, z2, z3, zj]<br />

= [w1, w2, w3, wj]<br />

= [h(w1), h(w2), h(w3), h(wj)]<br />

= [1, 0, ∞, h(wj)]<br />

= h(wj) .<br />

Assim concluímos que g(zi) = h(wi) para todo i = 1, 2, . . . , k. Portanto f = h −1 g é tal que<br />

f(zi) = wi, i = 1, 2, . . . , k. Portanto p e q são PSL-equivalentes.<br />

Seja (z1, z2, . . . , zk) um conjunto or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos distintos em ∂H3 R . Consi<strong>de</strong>re<br />

os números complexos rj = [z1, z2, z3, zj] para j = 4, 5, . . . , k. Consi<strong>de</strong>re também a<br />

aplicação <strong>de</strong> Möbius g tal que g(z1) = 1, g(z2) = 0 e g(z3) = ∞. Como na <strong>de</strong>monstração<br />

acima temos que:<br />

103


j = [z1, z2, z3, zj]<br />

= [g(z1), g(z2), g(z3), g(zj)]<br />

= [1, 0, ∞, g(zj)]<br />

= g(zj) .<br />

De rj = g(zj) e do fato <strong>de</strong> g ser injetiva, concluímos que os números r4, r5, . . ., rk<br />

são distintos. Além disso, dada uma lista <strong>de</strong> números complexos distintos r4, r5, . . ., rk no<br />

conjunto R = C \ {0, 1}, <strong>de</strong>finindo z1 = 1, z2 = 0, z3 = ∞ e zj = rj para j = 4, 5, . . . , k,<br />

obtemos k pontos distintos em ∂H 3 R tais que [z1, z2, z3, zj] = rj.<br />

Seja Mk + o subconjunto dos vetores (r4, r5, . . . , rk) ∈ R k−3 que possuem todas as<br />

coor<strong>de</strong>nadas diferentes. As consi<strong>de</strong>rações que acabamos <strong>de</strong> fazer implicam que esse conjunto<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como um espaço <strong>de</strong> Moduli para o espaço <strong>de</strong> PSL-configurações Ck + .<br />

O próximo teorema resume a discussão <strong>de</strong>sta seção.<br />

Teorema 8.2. Para todo k ≥ 4, consi<strong>de</strong>re a aplicação τ : Ck + −→ Mk + <strong>de</strong>finida por:<br />

se p ∈ Ck + representa a classe <strong>de</strong> PSL-equivalência <strong>de</strong> (z1, z2, . . . , zk) ∈ Mk então τ(p) =<br />

(r4, r5, . . . , rk) sendo rj = [z1, z2, z3, zj]. Temos que τ está bem <strong>de</strong>finida e é um homeomor-<br />

fismo.<br />

8.2 O espaço <strong>de</strong> configurações<br />

Sabemos que cada isometria f <strong>de</strong> H3 R , no mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior, se restringe<br />

a uma aplicação <strong>de</strong> um dos seguintes tipos em C:<br />

f(z) =<br />

az + b<br />

cz + d<br />

ou f(z) =<br />

az + b<br />

cz + d ,<br />

sendo a, b, c e d números complexos tais que ad − bc = 0. As aplicações do primeiro<br />

tipo são as transformações <strong>de</strong> Möbius que constituem um grupo isomorfo a PSL(2, C). As<br />

aplicações do segundo tipo não constituem um grupo e, segundo Maskit, são chamadas <strong>de</strong><br />

reflexões fracionárias lineares. O próximo resultado, análogo ao teorema 7.1, mostra algumas<br />

proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stas aplicações em relação a razão cruzada clássica.<br />

104


az + b<br />

Teorema 8.3. (a) Se g : C → C é uma reflexão fracionária linear, g(z) =<br />

cz + d com<br />

ad − bc = 0, então [g(z1), g(z2), g(z3), g(z4)] = [z1, z2, z3, z4], para quaisquer quatro<br />

pontos distintos z1, z2, z3 e z4 em C.<br />

(b) Sejam z1, z2, z3 e z4 quatro pontos distintos em C, e sejam w1, w2, w3 e w4 quatro<br />

pontos distintos em C. Se [z1, z2, z3, z4] = [w1, w2, w3, w4], então existe uma reflexão<br />

fracionária linear g : C → C tal que g(zj) = wj, j = 1, 2, 3, 4.<br />

Agora po<strong>de</strong>mos enunciar o seguinte resultado, análogo ao teorema 8.1.<br />

Teorema 8.4. Sejam p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados<br />

<strong>de</strong> k ≥ 4 pontos distintos em ∂H3 R . Existe uma reflexão fracionária linear f : C → C tal que<br />

f(zi) = wi, i = 1, 2, . . . , k se, e somente se,<br />

para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />

[z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj]<br />

Demonstração. Sejam p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) dois pontos em Mk. Se<br />

existe uma tal f, com f(zi) = wi, então [z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj] pela parte (a) do<br />

teorema anterior.<br />

Reciprocamente, suponhamos que [z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj] para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />

Consi<strong>de</strong>re agora uma transformação <strong>de</strong> Möbuis g tal que g(z1) = 1, g(z2) = 0 e g(z3) = ∞, e<br />

também consi<strong>de</strong>re a reflexão fracionária linear h tal que h(w1) = 1, h(w2) = 0 e h(w3) = ∞.<br />

Vamos <strong>de</strong>monstrar que a hipótese consi<strong>de</strong>rada implica que g(zj) = h(wj) para todo j =<br />

4, 5, . . . , k. De fato, utilizando a proprieda<strong>de</strong> dada na observação da página 92 e o teorema<br />

anterior, temos<br />

g(zj) = [1, 0, ∞, g(zj)]<br />

= [g(z1), g(z2), g(z3), g(zj)]<br />

= [z1, z2, z3, zj]<br />

= [w1, w2, w3, wj]<br />

= [h(w1), h(w2), h(w3), h(wj)]<br />

= [1, 0, ∞, h(wj)]<br />

= h(wj) .<br />

105


Assim concluímos que g(zi) = h(wi) para todo i = 1, 2, . . . , k. Portanto f = h −1 g é tal que<br />

f(zi) = wi, i = 1, 2, . . . , k. Como g é transformação <strong>de</strong> Möbius e h é reflexão fracionária<br />

linear, vemos que f é reflexão fracionária linear.<br />

106


Capítulo 9<br />

A matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> k pontos no<br />

interior <strong>de</strong> H n R<br />

Neste capítulo, vamos <strong>de</strong>finir e caracterizar matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> k pontos<br />

distintos no interior <strong>de</strong> H n<br />

R, além <strong>de</strong> mostrar os principais resultados relacionados a essa<br />

matriz.<br />

Para isso, vamos consi<strong>de</strong>rar uma base em R n+1 <strong>de</strong> modo que a forma bilinear simétrica<br />

<strong>de</strong> assinatura (n, 1) em R n,1 se expresse do seguinte modo:<br />

〈V, W 〉 = v1w1 + v2w2 + · · · + vnwn − vn+1wn+1,<br />

em que V = (v1, v2, · · · , vn+1) e W = (w1, w2, · · · , wn+1). Daí, temos que<br />

e nesse caso, H n<br />

R = P(V−) B n .<br />

V− = {X ∈ R n,1 |v 2 1 + v 2 2 + · · · + v 2 n − v 2 n+1 < 0}<br />

Seja Mk o conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos e or<strong>de</strong>nados no interior do espaço hiperbólico<br />

real H n<br />

R. Com isso po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir:<br />

Definição 9.1. Sejam p = (p1, p2, · · · , pk) ∈ Mk e Pi levantamento <strong>de</strong> pi, para i = 1, 2, · · · , k.<br />

Se gij = 〈Pi, Pj〉, então a matriz kxk simétrica<br />

é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> p.<br />

G = (gij), i, j = 1, 2, · · · , k<br />

107


Observe que essa matriz <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos levantamentos escolhidos e por isso ela não é<br />

única. Para <strong>de</strong>finir uma matriz <strong>de</strong> Gram que seja única para cada p ∈ Mk, vamos ajustar os<br />

levantamentos escolhidos.<br />

Proposição 9.1. Seja p = (p1, p2, · · · , pk) ∈ Mk. Para cada i = 1, 2, · · · , k po<strong>de</strong>mos escolher<br />

um levantamento Pi <strong>de</strong> pi tal que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> p satisfaz as condições<br />

gii = −1 e g1j > 0 ∀ j = 2, 3, · · · , k.<br />

Ou seja, G tem a seguinte aparência:<br />

⎡<br />

−1<br />

⎢ g12 ⎢<br />

G = ⎢ g13<br />

⎢<br />

⎣ .<br />

g12<br />

−1<br />

g23<br />

.<br />

g13<br />

g23<br />

−1<br />

· · ·<br />

· · ·<br />

. ..<br />

⎤<br />

g1k<br />

⎥<br />

g2k ⎥<br />

g3k ⎥ ,<br />

⎥<br />

.<br />

⎥<br />

⎦<br />

(9.1)<br />

g1k g2k g3k · · · −1<br />

com g1j > 0 para j = 2, 3, · · · , k. Além disso, existe uma única matriz com essa aparência,<br />

que é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> p.<br />

Demonstração. Sejam P1, P2, · · · , Pk levantamentos quaisquer <strong>de</strong> p1, p2, · · · , pk. Devemos<br />

<strong>de</strong>terminar λi ∈ R, λi = 0, tal que se P ′<br />

i = λiPi, então<br />

g ′ ii = 〈P ′<br />

i , P ′<br />

i 〉 = λ 2 i 〈Pi, Pi〉 = λ 2 i gii = −1 e<br />

g ′ 1j = 〈P ′ 1, P ′ j〉 = λ1λj〈P1, Pj〉 = λ1λjg1j > 0, ∀ j = 2, 3, · · · , k.<br />

<br />

−1<br />

Da primeira equação acima, obtemos que λi = ± . Dessa forma, fixado λ1, como<br />

gii<br />

g ′ 1j = λ1λjg1j, po<strong>de</strong>mos escolher o sinal <strong>de</strong> λ2, λ3, · · · , λk <strong>de</strong> forma que g ′ 1j > 0, para j =<br />

2, 3, · · · , k.<br />

Para os valores <strong>de</strong>terminados acima <strong>de</strong> λ1, · · · , λk, os levantamentos <strong>de</strong> P ′ 1, · · · , P ′ k <strong>de</strong><br />

p1, · · · , pk são tais que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> p tem a apareência <strong>de</strong>sejada.<br />

A parte da unicida<strong>de</strong> segue do fato <strong>de</strong> que (a menos do sinal <strong>de</strong> λ1) os escalares<br />

λ1, · · · , λk ficam <strong>de</strong>terminados unicamente a partir <strong>de</strong> dados levantamentos <strong>de</strong> p1, · · · , pk.<br />

Além disso, a troca do sinal <strong>de</strong> λ1 não afeta a aparência da matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sejada.<br />

Lema 9.1. Se V é um vetor negativo e W é um vetor isotrópico <strong>de</strong> R n,1 então 〈V, W 〉 = 0.<br />

108


Demonstração. Como V é negativo e W é isotrópico temos que o vetor V se projeta para<br />

um ponto v no interior do espaço hiperbólico real e o vetor W se projeta para um ponto na<br />

fronteira do espaço hiperbólico real. Além disso, como o grupo Isom(Hn R ) = PO(n, 1) age<br />

transitivamente em Hn R , po<strong>de</strong>mos assumir, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que v é o centro da<br />

bola B n ∼ = H n R = P(V−).<br />

Assim, para <strong>de</strong>monstrar o lema <strong>de</strong>sejado, consi<strong>de</strong>rando V um levantamento do centro da<br />

bola, po<strong>de</strong>mos supor que V = (0, 0, . . . , 0, vn+1) e que W = (w1, w2, . . . , wn, wn+1) é um<br />

vetor isotrópico qualquer. Sendo V um vetor negativo e W um vetor nulo, é claro que<br />

vn+1 = 0 e wn+1 = 0. Portanto, concluímos que 〈V, W 〉 = −vn+1wn+1 = 0.<br />

Proposição 9.2. Sejam p1, p2, . . . , pk pontos distintos em H n R e sejam P1, P2, . . . , Pk respec-<br />

tivos levantamentos <strong>de</strong>stes pontos para vetores negativos em R n,1 . Então W = span{P1, . . . , Pk}<br />

é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n,1 .<br />

Demonstração. Suponhamos, por redução ao absurdo, que W = span{P1, . . . , Pk} seja um<br />

subespaço <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n,1 . Assim, existe um vetor w0 ∈ W , w0 = 0, tal que 〈w0, x〉 = 0<br />

para todo x ∈ W . Isto implica, em particular, que 〈w0, w0〉 = 0 e que 〈w0, P1〉 = 0. Logo<br />

w0 é um vetor isotrópico tal que 〈w0, P1〉 = 0, sendo P1 um vetor negativo. Isto contraria a<br />

conclusão do lema anterior pois, neste caso, <strong>de</strong>veríamos ter 〈w0, P1〉 = 0.<br />

Teorema 9.1. Se p = (p1, · · · , pk) ∈ Mk e q = (q1, · · · , qk) ∈ Mk, então existe f ∈<br />

Isom(H n R ) tal que f(pi) = qi se, e somente se, p e q possuem as mesmas matrizes <strong>de</strong> Gram<br />

normalizadas.<br />

Demonstração. Análoga à <strong>de</strong>monstração do teorema 6.1.<br />

Vamos caracterizar agora quando uma matriz da forma (9.1) realmente é matriz <strong>de</strong><br />

Gram normalizada <strong>de</strong> k pontos distintos em H n R .<br />

Lema 9.2. Seja G = (gij) uma matriz simétrica k × k <strong>de</strong> entradas reais e que tem a forma<br />

(9.1). Isto é,<br />

• gii = −1.<br />

109


• g1j > 0, para j = 2, · · · , k.<br />

Então, via operações elementares nas linhas e colunas <strong>de</strong> G, esta po<strong>de</strong> ser transformada<br />

na matriz <strong>de</strong> blocos<br />

G ′ =<br />

−1 0<br />

0 G<br />

sendo G a seguinte matriz simétrica (k − 1) × (k − 1)<br />

⎡<br />

g<br />

⎢<br />

G<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

⎣<br />

2 12 − 1<br />

g13g12 + g23<br />

g12g13 + g23<br />

g<br />

g12g14 + g24 · · · g12g1k + g2k<br />

2 g14g12 + g24<br />

13 − 1<br />

g14g13 + g34<br />

g13g14 + g34<br />

g<br />

· · · g13g1k + g3k<br />

2 .<br />

.<br />

14 − 1<br />

.<br />

· · ·<br />

. ..<br />

g14g1k + g4k<br />

.<br />

g1kg12 + g2k g1kg13 + g3k g1kg14 + g4k · · · g2 ⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

1k − 1<br />

Demonstração. Basta utilizar as seguintes operações elementares<br />

1. Li ← Li + g1iL1<br />

2. Ci ← Ci + g1iC1<br />

para i = 2, 3, · · · , k. Observe que, sendo G simétrica, este par <strong>de</strong> operações elementares em<br />

linhas e colunas garante que G é simétrica.<br />

Definição 9.2. A matriz simétrica G do lema anterior é a matriz associada da matriz<br />

simétrica G.<br />

Observação: Seja I = {i1, i2, . . . , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em<br />

{1, 2, . . . , k − 1}, e seja GI o menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e das colunas<br />

<strong>de</strong> G cujos índices estão em I. Seja G1,I o menor principal <strong>de</strong> G constituído das suas linhas<br />

e colunas 1, i1 + 1, i2 + 1, . . . , im + 1, e seja G ′ 1,I o correspon<strong>de</strong>nte menor principal <strong>de</strong> G′ .<br />

Analisando as operações elementares que foram utilizadas na <strong>de</strong>monstração do lema anterior,<br />

vemos que <strong>de</strong>t(G1,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 1,I ). Como G′ é uma matriz <strong>de</strong> blocos, temos então que<br />

<br />

<strong>de</strong>t(G1,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 1,I) = <strong>de</strong>t [−1] · <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t( GI) . (9.2)<br />

Com isso, po<strong>de</strong>mos enunciar e <strong>de</strong>monstrar o teorema <strong>de</strong> caracterização <strong>de</strong> matrizes<br />

simétricas da forma (9.1) e <strong>de</strong> entradas reais que são matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> um<br />

conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em H n R .<br />

110


Teorema 9.2. Uma matriz simétrica G da forma (9.1) é matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong><br />

k pontos distintos em H n R se, e somente se, sua matriz associada G é semi-<strong>de</strong>finida positiva<br />

e posto( G) ≤ n.<br />

Demonstração. Suponhamos que G seja matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />

k pontos distintos {p1, p2, . . . , pk} em H n R . Seja G a matriz associada <strong>de</strong> G. De acordo<br />

com o teorema 5.5, para mostrar que G é semi-<strong>de</strong>finida positiva basta mostrarmos que<br />

todos os menores principais <strong>de</strong> G possuem <strong>de</strong>terminantes não negativos. Então seja I =<br />

{i1, i2, . . . , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em {1, 2, . . . , k − 1}, e seja GI o<br />

menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e das colunas <strong>de</strong> G cujos índices estão em I.<br />

Pela equação (??) temos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G1,I), sendo G1,I o menor principal <strong>de</strong> G<br />

constituido das suas linhas e colunas 1, i1+1, i2+1, . . . , im+1. Como G1,I é a matriz <strong>de</strong> Gram<br />

<strong>de</strong> levantamentos <strong>de</strong> p1, pi1+1, pi2+1, . . ., pim+1, pela observação da página 73, sabemos que<br />

isto implica que <strong>de</strong>t(G1,I) ≤ 0. Logo concluímos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G1,I) ≥ 0. Portanto<br />

todos os menores principais <strong>de</strong> G possuem <strong>de</strong>terminante não negativo e, pelo teorema 5.5,<br />

concluímos que G é semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />

Para mostrar que posto( G) ≤ n, po<strong>de</strong>mos escrever X =<br />

que X ′ e Y ′ ∈ R n .<br />

X ′<br />

xn+1<br />

<br />

e Y =<br />

Y ′<br />

Daí, o produto interno em R n,1 <strong>de</strong>finido por 〈X, Y 〉 = x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1<br />

po<strong>de</strong> ser escrito como<br />

em que 〈〈 . , . 〉〉 é o produto escalar usual em R n .<br />

Como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R<br />

yn+1<br />

<br />

, em<br />

〈X, Y 〉 = 〈〈X ′ , Y ′ 〉〉 − xn+1yn+1, (9.3)<br />

age simplesmente transitivamente no interior do<br />

espaço hiperbólico real, po<strong>de</strong>mos supor que p1, p2, · · · , pk são tais que seus levantamentos<br />

são os seguintes vetores <strong>de</strong> R n,1 :<br />

vetores é<br />

P1 =<br />

0<br />

1<br />

<br />

, P2 =<br />

v2<br />

w2<br />

<br />

, P3 =<br />

v3<br />

w3<br />

<br />

, · · · , Pk =<br />

vk<br />

em que vi ∈ R n e wj ∈ R. Da expressão (9.3), vemos que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses<br />

111<br />

wk<br />

<br />

,


⎡<br />

−1<br />

⎢ −w2<br />

⎢<br />

G = ⎢<br />

⎣<br />

−w2<br />

v22 − w<br />

−w3 −w4 · · · −wk<br />

2 −w3<br />

2<br />

v23 − w2w3<br />

v23 − w2w3<br />

v33 − w<br />

v24 − w2w4 · · · v2k − w2wk<br />

2 −w4 v24 − w2w4<br />

3<br />

v34 − w3w4<br />

v34 − w3w4<br />

v44 − w<br />

· · · v3k − w3wk<br />

2 ⎤<br />

. .<br />

.<br />

4<br />

.<br />

· · ·<br />

. ..<br />

⎥<br />

vk4 −<br />

⎥<br />

wkw4 ⎥<br />

. ⎥<br />

⎦<br />

−wk v2k − w2wk v3k − w3wk vk4 − wkw4 . . . vkk − w 2 k<br />

sendo vij = 〈〈vi, vj〉〉 o produto escalar usual dos vetores vi e vj <strong>de</strong> R n .<br />

Escrevendo as entradas <strong>de</strong>sta matriz G como gij, obtemos as seguintes relações:<br />

⎧<br />

⎪⎨<br />

⎪⎩<br />

wj = −g1j<br />

vjj − w 2 j = −1<br />

vjl − wjwl = gjl<br />

Substituindo wj = −g1j <strong>de</strong>mais relações, obtemos as igualda<strong>de</strong>s<br />

vjj = g 2 1j − 1<br />

vjl = gjl − g1j<br />

Essas igualda<strong>de</strong>s implicam que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1, · · · , vk no produto<br />

escalar usual <strong>de</strong> R n é exatamente a matriz G:<br />

⎡<br />

g<br />

⎢<br />

G<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

⎣<br />

2 12 − 1<br />

g13g12 + g23<br />

g12g13 + g23<br />

g<br />

g12g14 + g24 · · · g12g1k + g2k<br />

2 g14g12 + g24<br />

13 − 1<br />

g14g13 + g34<br />

g13g14 + g34<br />

g<br />

· · · g13g1k + g3k<br />

2 .<br />

.<br />

14 − 1<br />

.<br />

· · ·<br />

. ..<br />

g14g1k + g4k<br />

.<br />

g1kg12 + g2k g1kg13 + g3k g1kg14 + g4k · · · g2 ⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

1k − 1<br />

Aplicando o lema 5.3, concluímos <strong>de</strong> uma outra maneira que a matriz G é semi-<strong>de</strong>finida<br />

positiva e que posto( G) ≤ n.<br />

Por outro lado, seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) <strong>de</strong> entradas reais da forma<br />

(9.1). Suponha que n é um inteiro positivo tal que posto( G) ≤ n e que a matriz associada G é<br />

semi-<strong>de</strong>finida positiva. Devemos mostrar que, neste caso, G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada<br />

<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em Hn R . Isto é, <strong>de</strong>vemos mostrar que existem k vetores<br />

112


negativos P1, P2, . . ., Pk tais que a matriz <strong>de</strong> Gram G(P1, P2, . . . , Pk) <strong>de</strong>sses vetores seja<br />

igual a G. Como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R<br />

po<strong>de</strong>mos supor que esses vetores são<br />

vetores é<br />

P1 =<br />

0<br />

1<br />

<br />

, P2 =<br />

v2<br />

w2<br />

<br />

, P3 =<br />

age simplesmente transitivamente na fronteira<br />

v3<br />

w3<br />

<br />

, · · · , Pk =<br />

vk<br />

em que vi ∈ R n e wj ∈ R. Da expressão (9.3), vemos que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses<br />

⎡<br />

−1<br />

⎢ −w2<br />

⎢<br />

G = ⎢<br />

⎣<br />

−w2<br />

v22 − w<br />

−w3 −w4 · · · −wk<br />

2 −w3<br />

2<br />

v23 − w2w3<br />

v23 − w2w3<br />

v33 − w<br />

v24 − w2w4 · · · v2k − w2wk<br />

2 −w4 v24 − w2w4<br />

3<br />

v34 − w3w4<br />

v34 − w3w4<br />

v44 − w<br />

· · · v3k − w3wk<br />

2 ⎤<br />

. .<br />

.<br />

4<br />

.<br />

· · ·<br />

. ..<br />

⎥<br />

vk4 −<br />

⎥<br />

wkw4 ⎥<br />

. ⎥<br />

⎦<br />

−wk v2k − w2wk v3k − w3wk vk4 − wkw4 . . . vkk − w 2 k<br />

sendo vij = 〈〈vi, vj〉〉 o produto escalar usual dos vetores vi e vj <strong>de</strong> R n .<br />

Para G ser igual a G(P1, · · · , Pk), <strong>de</strong>vemos ter<br />

⎧<br />

⎪⎨<br />

⎪⎩<br />

wj = −g1j<br />

vjj − w 2 j = −1<br />

vjl − wjwl = gjl<br />

Observe que, dada a matriz G = (gij), da primeira <strong>de</strong>stas equações, obtemos que wj = −g1j,<br />

para j = 2, 3, . . . , k. Assim, para a <strong>de</strong>terminação completa dos vetores P1, P2, . . ., Pk falta o<br />

cálculo dos vetores vj em termos das entradas <strong>de</strong> G. Para efetuar isso, substitua wj = −g1j<br />

nas duas últimas equações do sistema linear acima. Neste caso, estas equações tomam a<br />

forma<br />

vjj = g 2 1j − 1<br />

vjl = gjl − g1j<br />

Essas igualda<strong>de</strong>s implicam que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1, · · · , vk no produto<br />

escalar usual <strong>de</strong> R n <strong>de</strong>ve ser exatamente a matriz G:<br />

113<br />

wk<br />

<br />

,


⎡<br />

g<br />

⎢<br />

G<br />

⎢<br />

= ⎢<br />

⎣<br />

2 12 − 1<br />

g13g12 + g23<br />

g12g13 + g23<br />

g<br />

g12g14 + g24 · · · g12g1k + g2k<br />

2 g14g12 + g24<br />

13 − 1<br />

g14g13 + g34<br />

g13g14 + g34<br />

g<br />

· · · g13g1k + g3k<br />

2 .<br />

.<br />

14 − 1<br />

.<br />

· · ·<br />

. ..<br />

g14g1k + g4k<br />

.<br />

g1kg12 + g2k g1kg13 + g3k g1kg14 + g4k · · · g2 ⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

1k − 1<br />

Mas como G é uma matriz (k − 1) × (k − 1) simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva e, por hipótese,<br />

posto( G) ≤ n, o teorema 5.8 implica que existem vetores v2, v3, . . ., vk em R n tais que a<br />

matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n , é exatamente a matriz G.<br />

Como já havíamos calculados os valores <strong>de</strong> w2, · · · , wk e agora provamos a existência <strong>de</strong><br />

vetores v2, · · · , vk (tudo isso em termos das entradas das matriz G) <strong>de</strong>monstramos que<br />

existem vetores nulos P1, . . ., Pk tais que G é a matriz <strong>de</strong> Gram dos pontos p1, . . ., pk <strong>de</strong> H n R<br />

<strong>de</strong>finidos por esses vetores nulos. Finalmente, como gij = 0 para i = j, vemos que os pontos<br />

p1, . . ., pk são dois a dois distintos.<br />

Agora vamos ver como essas duas condições<br />

1. G é semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />

2. posto( G) ≤ n.<br />

se expressam em termos da matriz G.<br />

Observação: Seja I = {i1, i2, · · · , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em<br />

{1, 2, · · · , k − 1} e seja GI o menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e colunas <strong>de</strong><br />

G cujos índices estão em I. Seja G1,I o menor principal <strong>de</strong> G constituído das suas linhas e<br />

colunas <strong>de</strong> índices 1, i1 +1, i2 +1, · · · , im +1, e seja G ′ 1,I o correspon<strong>de</strong>nte menor principal <strong>de</strong><br />

G ′ , ou seja, formado pelas linhas e colunas <strong>de</strong> G ′ <strong>de</strong> índices 1, i1 + 1, i2 + 1, · · · , im + 1.<br />

Analisando as operações elementares que foram utilizadas no lema anterior, vemos que<br />

<strong>de</strong>t(G1,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 1,I ). Como G′ é uma matriz <strong>de</strong> blocos, temos então que<br />

Mas<br />

<strong>de</strong>t(G1,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 1,I) = (−1). <strong>de</strong>t( GI)<br />

114


1. G é semi-<strong>de</strong>finida positiva ⇔ <strong>de</strong>t( GI) ≥ 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1} ⇔ <strong>de</strong>t(G1,I) ≤<br />

0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1}.<br />

2. Pelo teorema 5.1, temos que posto( G) ≤ n ⇔ <strong>de</strong>t( GI) = 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1} e<br />

|I| > n ⇔ <strong>de</strong>t(G1,I) = 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1} e |I| > n.<br />

Isso <strong>de</strong>monstra o seguinte teorema:<br />

Teorema 9.3. Uma matriz simétrica G da forma (9.1) é matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong><br />

k pontos distintos em H n R<br />

se, e somente se,<br />

1. <strong>de</strong>t(G1,I) ≤ 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1}.<br />

2. <strong>de</strong>t(G1,I) = 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1} e |I| > n.<br />

115


Referências Bibliográficas<br />

[1] Beardon, A. F. The geometry of discrete groups. Graduate Texts in Mathematics, 91.<br />

Springer-Verlag, New York (1983).<br />

[2] Bhatia, R. Positive <strong>de</strong>finite matrices. Graduete Texts in Mathematcs, 169. Spring-<br />

Verlag, New York (1997).<br />

[3] Cunha, H.; Dutenhefner, F.; Goussevskii, N. Pontos na Fronteira do espaço Hiperbólico<br />

Real H n<br />

R. Preprint (2009).<br />

[4] Cunha, H. O espaço <strong>de</strong> módulos <strong>de</strong> k-uplas <strong>de</strong> pontos na fronteira do espaço hiperbólico<br />

complexo. Tese <strong>de</strong> Doutorado (2009), UFMG, Belo Horizonte.<br />

[5] Goldman, W.M. Complex hyperbolic geometry. Oxford Mathematical Monographs. Ox-<br />

ford Science Publications. The Clarendon Press, Oxford University Press, New York<br />

(1999).<br />

[6] Horn, R. A.; Johnson, C. R. Matrix Analysis. Cambridge University Press, Cambridge<br />

(1985).<br />

[7] Maskit, Bernard.Kleinian Groups. Springer-Verlag Berlin Hei<strong>de</strong>lberg (1988).<br />

[8] Ratcliffe, J. G. Foundations of hyperbolic manifolds. Graduate Texts in Mathematics,<br />

149. Springer-Verlag (1994), New York.<br />

[9] Scharlau, Winfried. Quadratic and Hermitian Forms. Springer-Verlag (1985).<br />

[10] Egan, M.F. Symmetric matrices and quadratic forms. The Mathematical Gazetti,<br />

vol.29, n ◦ 285, pp.89-91 (julho 1945).<br />

[11] Iversen, Birger. Hyperbolic Geometry. London Mathematical Society Stu<strong>de</strong>nt Texts,<br />

Cambridge University Press (1992).<br />

116


[12] Roman, Steven. Advanced Linear Algebra. Graduate Texts in Mathematics, Springer<br />

(2007).<br />

[13] Höfer, Roland m-Point Invariants of Real Geometries, Beiträge zur Algebra und<br />

Geometrie, Contributions to Algebra and Geometry, Volume 40 (1999), No. 1, pp.<br />

261-266.<br />

[14] Zhang, Fuzhen Matrix Theory, basic results and techniques, Series: Universitext,<br />

Springer-Verlag (1999).<br />

117

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!