Arquivo - Departamento de Matemática
Arquivo - Departamento de Matemática
Arquivo - Departamento de Matemática
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Configurações <strong>de</strong> Pontos<br />
na Fronteira e no Interior<br />
do Espaço Hiperbólico Real H n R<br />
Lia Feital Fusaro Abrantes<br />
Belo Horizonte 2010
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais<br />
Instituto <strong>de</strong> Ciências Exatas<br />
<strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong><br />
Dissertação <strong>de</strong> Mestrado<br />
Configurações <strong>de</strong> Pontos<br />
na Fronteira e no Interior<br />
do Espaço Hiperbólico Real H n R<br />
por<br />
Lia Feital Fusaro Abrantes<br />
Orientador: Prof. Francisco Dutenhefner<br />
Belo Horizonte 2010
Banca examinadora:<br />
Configurações <strong>de</strong> Pontos na Fronteira e no<br />
Interior do Espaço Hiperbólico Real H n R<br />
Prof. Francisco Dutenhefner.<br />
Prof. Nikolai Alexandrovitch Goussevskii.<br />
Prof. Mário Jorge Dias Carneiro.<br />
Heleno da Silva Cunha (suplente).<br />
Este exemplar correspon<strong>de</strong> à redação<br />
final da dissertação <strong>de</strong>fendida por Lia<br />
Feital Fusaro Abrantes.<br />
Belo Horizonte, 29 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2010.<br />
Prof. Francisco Dutenhefner.<br />
Orientador<br />
Dissertação apresentada ao Instituto <strong>de</strong><br />
Ciências Exatas, ICEX, como requi-<br />
sito parcial para obtenção do título <strong>de</strong><br />
MESTRE EM MATEMÁTICA.
Resumo<br />
Este trabalho consiste em apresentar uma resposta para a seguinte pergunta: dados<br />
(p1, . . . , pk) e (q1, . . . , qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distintos na fronteira do<br />
espaço hiperbólico real, quais são as hipóteses necessárias e suficientes para que exista uma<br />
isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi, para i = 1, . . . , k ?<br />
Primeiramente, tomamos levantamentos dos dois conjuntos pontos na fronteira para<br />
vetores do espaço R n,1 e <strong>de</strong>monstramos que existe uma transformação ortogonal que leva um<br />
conjunto <strong>de</strong> vetores no outro conjunto <strong>de</strong> vetores se, e somente se, as matrizes <strong>de</strong> Gram dos<br />
respectivos conjuntos são iguais. Porém, como cada conjunto <strong>de</strong> pontos possui uma infinida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> levantamentos, as matrizes <strong>de</strong> Gram não são unicamente <strong>de</strong>terminadas. Introduzimos,<br />
então, o conceito <strong>de</strong> matriz <strong>de</strong> Gram normalizada, que é uma matriz <strong>de</strong> Gram com uma<br />
forma especial e única. Daí, resolvemos o problema proposto.<br />
Entretanto, como para o cálculo da matriz <strong>de</strong> Gram normalizada fazemos uma escolha<br />
bastante especial <strong>de</strong> levantamentos, é interessante formular a classificação <strong>de</strong> classes <strong>de</strong><br />
equivalência <strong>de</strong> k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />
em uma linguagem que utilize invariantes<br />
do espaço hiperbólico. Então, respon<strong>de</strong>mos a pergunta proposta mais uma vez, utilizando o<br />
invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann.<br />
Consi<strong>de</strong>rando o caso particular n = 3 e o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior para o espaço<br />
hiperbólico H3 R , conseguimos reescrever os principais resultados obtidos em termos da razão<br />
cruzada clássica.<br />
Por fim, <strong>de</strong>monstramos resultados análogos aos que vimos para pontos na fronteira, e<br />
caracterizamos quando dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos no interior do espaço hiperbólico<br />
real são equivalentes por uma isometria.<br />
Palavras-chave: espaço hiperbólico real, fronteira, isometria, matriz <strong>de</strong> Gram, matriz<br />
<strong>de</strong> Gram normalizada, teoremas <strong>de</strong> Witt, razão cruzada clássica, invariante <strong>de</strong> Korányi-<br />
Riemann, espaço <strong>de</strong> módulos, espaço <strong>de</strong> configurações.
Abstract<br />
This work consists of presenting an answer to the following question: given (p1, . . . , pk)<br />
and (q1, . . . , qk) two or<strong>de</strong>red sets of k distinct points on the boundary of the real hyperbolic<br />
space, which are the necessary and sufficient hypothesis so that there exists an isometry f<br />
of H n R such that f(pi) = qi for i = 1, . . . , k?<br />
First, we consi<strong>de</strong>r lifts of two sets points on the boundary for the vectors on space<br />
R n,1 and <strong>de</strong>monstrate that there is an orthogonal transformation that takes a set of vectors<br />
to another set of vectors if and only if the Gram matrices of the sets are equal. However,<br />
as each set of points has an infinite number of lifts, the Gram matrices are not uniquely<br />
<strong>de</strong>termined. Then, we introduce the concept of normalized Gram matrix, which is a special<br />
and unique Gram matrix. So, we solve our problem.<br />
However, as we choose a very special lift for the calculation of normalized Gram matrix,<br />
it is interesting to formulate the classification of equivalence classes of k-tuple of distinct<br />
points in ∂H n R<br />
in a language which uses invariants of hyperbolic space. Then, we answer the<br />
proposed question again, using the Korányi-Riemann invariant.<br />
Consi<strong>de</strong>ring the particular case n = 3 and the mo<strong>de</strong>l of upper semi-space for the<br />
hyperbolic space H3 R , we rewrite the main results obtained in terms of classical cross-ratio.<br />
Finally, we show similar results to those we saw at the boundary points, and<br />
characterize it when two or<strong>de</strong>red sets of k points in the interior of the real hyperbolic space<br />
are equivalent by an isometry.<br />
Keywords: real hyperbolic space, boundary, isometry, Gram matrix, normalized Gram ma-<br />
trix, Witt theorems, classical cross-ratio, Koranyi-Riemann invariant, moduli space,<br />
configurations space.
Sumário<br />
Introdução 5<br />
1 O espaço <strong>de</strong> Lorentz 9<br />
1.1 O Grupo Ortogonal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11<br />
2 O Espaço Hiperbólico Real H n<br />
R<br />
2.1 O Mo<strong>de</strong>lo Projetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17<br />
2.2 O Mo<strong>de</strong>lo do Hiperbolói<strong>de</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18<br />
2.3 O Mo<strong>de</strong>lo da Bola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19<br />
2.4 O Mo<strong>de</strong>lo do Semi-espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21<br />
2.5 Algumas mudanças <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24<br />
2.6 Translação, dilatação, rotação e inversão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />
2.7 Uma nova base em R n+1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28<br />
2.8 O Grupo Ortogonal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />
2.9 O Espaço Hiperbólico: base E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31<br />
2.10 Translação, dilatação, rotação e inversão: base E . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />
3 A Fronteira 34<br />
4 Formas quadráticas em R n e o Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt 38<br />
4.1 Formas quadráticas em R n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38<br />
4.2 Teoremas <strong>de</strong> Witt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44<br />
4.3 Aplicações do Teorema <strong>de</strong> Witt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50<br />
5 Preliminares Algébricas 59<br />
5.1 Posto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59<br />
5.2 Matrizes <strong>de</strong>finidas positivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61<br />
3<br />
17
6 A matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> k pontos em ∂H n<br />
R<br />
6.1 Classes <strong>de</strong> congruência <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> Gram . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73<br />
6.2 Caracterização <strong>de</strong> matrizes simétricas que são matrizes <strong>de</strong> Gram . . . . . . . 78<br />
6.3 O invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85<br />
6.4 Matrizes <strong>de</strong> Gram e o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann . . . . . . . . . . . . . 87<br />
6.5 O espaço <strong>de</strong> Módulos para C(k, n) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89<br />
7 Quatro pontos distintos na fronteira <strong>de</strong> H 3<br />
R<br />
7.1 A razão cruzada clássica em C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91<br />
7.2 A razão cruzada clássica e o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann . . . . . . . . . 94<br />
8 O espaço <strong>de</strong> k pontos distintos na fronteira <strong>de</strong> H 3<br />
R<br />
8.1 O espaço <strong>de</strong> PSL-configurações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102<br />
8.2 O espaço <strong>de</strong> configurações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104<br />
9 A matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> k pontos no interior <strong>de</strong> H n<br />
R<br />
Bibliografia 116<br />
72<br />
91<br />
102<br />
107
Introdução<br />
O objetivo principal da presente dissertação é apresentar uma resposta para a seguinte<br />
pergunta: quais são as hipóteses necessárias e suficientes para que, dados (p1, . . . , pk) e<br />
(q1, . . . , qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distintos na fronteira do espaço hiperbólico<br />
real, exista uma isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi, para i = 1, . . . , k ?<br />
Para atingir este objetivo, utilizaremos o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann, e para isso<br />
precisamos utilizar o mo<strong>de</strong>lo projetivo para o espaço hiperbólico real. Este mo<strong>de</strong>lo é <strong>de</strong>finido<br />
do seguinte modo: em R n+1 consi<strong>de</strong>re a forma bilinear simétrica 〈·, ·〉 dada por<br />
〈X, Y 〉 = x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1,<br />
sendo X = (x1, . . . , xn, xn+1) e Y = (y1, . . . , yn, yn+1). O espaço vetorial R n+1 munido <strong>de</strong>sta<br />
forma bilinear será <strong>de</strong>notado por R n,1 . Se<br />
V− = {X ∈ R n+1 : 〈X, X〉 < 0}, V0 = {X ∈ R n+1 : 〈X, X〉 = 0}<br />
e se P : R n+1 \ {0} → RP n <strong>de</strong>nota a projeção natural sobre o espaço projetivo real, então o<br />
espaço hiperbólico real H n R po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como P(V−). A fronteira <strong>de</strong> H n R<br />
5<br />
é então dada<br />
por P(V0), os vetores em V− são chamados <strong>de</strong> vetores negativos e os vetores diferentes <strong>de</strong> 0<br />
em V0 são chamados <strong>de</strong> vetores isotrópicos.<br />
Começamos a dissertação, então, apresentando algumas noções básicas sobre o mo<strong>de</strong>lo<br />
projetivo do espaço hiperbólico real. Além disso, <strong>de</strong>finimos outros mo<strong>de</strong>los relevantes para<br />
e apresentamos mudanças <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas que os relacionam. E como no mo<strong>de</strong>lo do semi-<br />
Hn R<br />
espaço superior é bem sabido que o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> Hn R<br />
é gerado por translações,<br />
rotações, dilatações e a inversão, apresentamos matrizes que agem como transformações<br />
ortogonais <strong>de</strong> R n,1 e que induzem estas isometrias em H n R .<br />
Agora observe que se (p1, . . . , pk) e (q1, . . . , qk) são dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos<br />
distintos na fronteira do espaço hiperbólico real, consi<strong>de</strong>rando levantamentos <strong>de</strong>stes pontos
para vetores em R n,1 , obtemos dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> vetores isotrópicos (P1, . . . , Pk)<br />
e (Q1, . . . , Qk). Se T : R n,1 → R n,1 é uma transformação ortogonal tal que T (Pi) = Qi para<br />
todo i, então T induz uma isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi. Deste modo, se carac-<br />
terizamos quando existe uma tal transformação ortogonal T para dados vetores isotrópicos<br />
(P1, . . . , Pk) e (Q1, . . . , Qk), teremos uma resposta para a pergunta que <strong>de</strong>sejamos respon<strong>de</strong>r.<br />
Uma caracterização da existência <strong>de</strong> uma transformação ortogonal T , como no parágrafo<br />
anterior, é apresentada no capítulo 4 da dissertação. Entretanto, em tal capítulo, caracteri-<br />
zamos a existência <strong>de</strong>sta transformação num caso mais geral. Lá consi<strong>de</strong>ramos dois conjuntos<br />
or<strong>de</strong>nados (P1, . . . , Pk) e (Q1, . . . , Qk) <strong>de</strong> quaisquer k vetores em R n,1 , não<br />
necessariamente <strong>de</strong> vetores isotrópicos, e caracterizamos quando existe uma transformação<br />
ortogonal T : R n,1 → R n,1 tal que T (Pi) = Qi para i = 1, 2, . . . , k. Para enten<strong>de</strong>r esta<br />
caracterização, observe primeiramente que se existe uma tal transformação ortogonal T ,<br />
então 〈Pi, Pj〉 = 〈Qi, Qj〉 para todo i, j = 1, 2, . . . , k. Assim se consi<strong>de</strong>ramos a matriz<br />
<strong>de</strong> Gram GP = ( 〈Pi, Pj〉 ) dos vetores (P1, . . . , Pk) e se consi<strong>de</strong>ramos a matriz <strong>de</strong> Gram<br />
GQ = ( 〈Qi, Qj〉 ) dos vetores (Q1, . . . , Qk), então estas duas matrizes <strong>de</strong>vem ser iguais:<br />
GP = GQ<br />
Além disso, se existe uma tal transformação ortogonal, como T é um isomorfismo linear<br />
<strong>de</strong> R n+1 , se existir algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência linear entre os vetores P1, . . . , Pk, então o<br />
mesmo tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência linear também existe entre os vetores Q1, . . . , Qk. Esta condição<br />
po<strong>de</strong> ser resumida através da equivalência:<br />
se λ = (λ1, λ2, . . . , λk) ∈ R k então, k<br />
i=1 λi Pi = 0 ⇔ k<br />
i=1 λi Qi = 0 . (**)<br />
Deste modo, as condições (*) e (**) são condições necessárias para a existência da<br />
<strong>de</strong>sejada transformação ortogonal T tal que T (Pi) = Qi. Na seção 4.3 da dissertação,<br />
<strong>de</strong>monstramos que estas condições também são condições suficientes para a existência <strong>de</strong> T ,<br />
ou seja, <strong>de</strong>monstramos o seguinte teorema.<br />
Teorema: Sejam (P1, . . . , Pk) e (Q1, . . . , Qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em R n,1 .<br />
Existe uma transformação ortogonal T <strong>de</strong> R n,1 tal que T (Pi) = Qi para i = 1, 2, . . . , k se, e<br />
somente se, as condições (*) e (**) são satisfeitas.<br />
Como na <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ste teorema utilizamos o Teorema <strong>de</strong> Witt, apresentamos,<br />
nas seções 4.1 e 4.2, um estudo <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> formas quadráticas e formas bilineares simétricas<br />
em R n que permitiram incluir na dissertação uma <strong>de</strong>monstração do Teorema <strong>de</strong> Witt.<br />
6<br />
(*)
No capítulo 5, utilizamos o teorema enunciado acima para o caso <strong>de</strong> vetores isotrópicos.<br />
Neste caso, consi<strong>de</strong>ramos dois conjuntos or<strong>de</strong>nados (p1, . . . , pk) e (q1, . . . , qk) <strong>de</strong> k pon-<br />
tos distintos em ∂H n R<br />
e, consi<strong>de</strong>rando levantamentos, obtemos dois conjuntos or<strong>de</strong>nados<br />
(P1, . . . , Pk) e (Q1, . . . , Qk) <strong>de</strong> k vetores isotrópicos. Se este é o caso, <strong>de</strong>monstramos que<br />
a condição (**) é uma consequência da condição (*) e <strong>de</strong>monstramos então o seguinte<br />
teorema.<br />
Teorema: Sejam (p1, . . . , pk) e (q1, . . . , qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distin-<br />
tos em ∂H n R e, consi<strong>de</strong>rando respectivos levantamentos <strong>de</strong>sses pontos, sejam (P1, . . . , Pk) e<br />
(Q1, . . . , Qk) conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores isotrópicos em R n,1 . Então existe uma trans-<br />
formação ortogonal T <strong>de</strong> R n,1 tal que T (Pi) = Qi para i = 1, 2, . . . , k se, e somente se, a<br />
condição (*) é satisfeita.<br />
Entretanto, este teorema ainda não apresenta uma caracterização para a existência<br />
<strong>de</strong> uma isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi. Isto porque, neste teorema consi<strong>de</strong>ramos<br />
levantamentos <strong>de</strong> p1, . . . , pk e <strong>de</strong> q1, . . . , qk e apresentamos uma condição, GP = GQ, em<br />
termos <strong>de</strong>sses levantamentos. Entrentanto, como um ponto em ∂H n R<br />
possui uma infinida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> levantamentos, o teorema anterior não caracteriza a existência da isometria f, pois as<br />
matrizes GP e GQ não são únicamente <strong>de</strong>terminadas pelos conjuntos <strong>de</strong> pontos (p1, . . . , pk)<br />
e (q1, . . . , qk). Para ultrapassar esta dificulda<strong>de</strong>, dado um conjunto <strong>de</strong> pontos distintos p =<br />
(p1, . . . , pk) na fronteira do espaço hiperbólico real, mostramos que existe um conjunto <strong>de</strong><br />
respectivos levantamentos P = (P1, . . . , Pk) tal que a matriz <strong>de</strong> Gram GP possui uma forma<br />
especial e única, chamada <strong>de</strong> matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> p. Utilizando esta matriz<br />
<strong>de</strong> Gram normalizada, obtemos no capítulo 6 o seguinte resultado.<br />
Teorema: Sejam p = (p1, . . . , pk) e q = (q1, . . . , qk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos<br />
distintos em ∂H n R . Existe uma isometria f <strong>de</strong> Hn R tal que f(pi) = qi para i = 1, 2, . . . , k se,<br />
e somente se, as matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> p e <strong>de</strong> q são iguais.<br />
Além <strong>de</strong>ste resultado, no capítulo 6 caracterizamos quais matrizes que tem a forma<br />
<strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong> Gram normalizada realmente são matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong><br />
k pontos distintos em ∂Hn R . Esta caracterização utiliza uma caracterização <strong>de</strong> matrizes<br />
<strong>de</strong>finidas positivas. Por este motivo, no capítulo 5 apresentamos um estudo <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong><br />
matrizes <strong>de</strong>finidas positivas, com as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> todos os teoremas que são utilizados<br />
nos capítulos subsequentes da dissertação.<br />
7
Do teorema anterior, e da caracterização <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas, vemos<br />
então que a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong>termina a existência <strong>de</strong> uma<br />
isometria entre duas k-uplas <strong>de</strong> pontos distintos em ∂Hn R . Entretanto, como um ponto em<br />
∂H n R<br />
possui vários levantamentos, como as entradas <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da<br />
escolha dos levantamentos, e como para o cálculo da matriz <strong>de</strong> Gram normalizada fazemos<br />
uma escolha bastante especial <strong>de</strong> levantamentos, é interessante trocar a classificação <strong>de</strong><br />
classes <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />
da linguagem <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong><br />
Gram normalizadas, para uma linguagem que utilize invariantes do espaço hiperbólico. O<br />
invariante escolhido neste caso foi o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann, <strong>de</strong>finido do seguinte<br />
modo. Sejam p1, p2, p3 e p4 quatro pontos distintos na fronteira do espaço hiperbólico real.<br />
O invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann <strong>de</strong>sses pontos é o número real χ(p1, p2, p3, p4) <strong>de</strong>finido<br />
por:<br />
χ(p1, p2, p3, p4) = 〈P1, P3〉〈P2, P4〉<br />
〈P1, P2〉〈P3, P4〉<br />
sendo P1, P2, P3 e P4 vetores isotrópicos em R n,1 que se projetam, respectivamente em p1,<br />
p2, p3 e p4.<br />
Este invariante se mostrou a<strong>de</strong>quado para o que <strong>de</strong>senvolvemos pois ele não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da<br />
escolha dos levantamentos P1, P2, P3 e P4. Assim, reescrevendo os resultados do capítulo 6,<br />
trocando hipóteses sobre matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas para hipóteses sobre invariantes <strong>de</strong><br />
Korányi-Riemann, conseguimos associar a uma k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />
uma lista<br />
<strong>de</strong> invariantes que possuem a seguinte proprieda<strong>de</strong>: duas <strong>de</strong>ssas k-uplas serão equivalentes<br />
se, e somente se, estas listas <strong>de</strong> invariantes forem iguais para estes dois conjuntos <strong>de</strong> pontos.<br />
Assim, no final do capítulo 6 apresentamos uma resposta para a pergunta colocada<br />
no início <strong>de</strong>sta introdução, e que era o objetivo principal <strong>de</strong>sta dissertação. Entretanto,<br />
consi<strong>de</strong>rando o caso particular n = 3 e o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior para o espaço<br />
hiperbólico H3 R , conseguimos reescrever os teoremas do capítulo 6 em termos da razão<br />
cruzada clássica<br />
[z1, z2, z3, z4] = (z1 − z3)(z2 − z4)<br />
(z1 − z2)(z3 − z4) ,<br />
<strong>de</strong>finida em C ∼ = ∂H3 R . Isto é feito com todo o <strong>de</strong>talhe para k = 4 no capítulo 7 e para<br />
qualquer k no capítulo 8.<br />
No último capítulo da dissertação, <strong>de</strong>monstramos resultados análogos aos que vimos<br />
para pontos na fronteira, e caracterizamos quando dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos no<br />
interior do espaço hiperbólico real são equivalentes por uma isometria.<br />
8
Capítulo 1<br />
O espaço <strong>de</strong> Lorentz<br />
Neste capítulo, veremos algumas consi<strong>de</strong>rações preliminares para iniciarmos o estudo<br />
da geometria hiperbólica. Primeiramente, vamos <strong>de</strong>finir uma forma bilinear simétrica em<br />
R n+1 e o espaço <strong>de</strong> Lorentz, R n,1 . Em seguida, vamos ver as <strong>de</strong>finições básicas para construir<br />
o grupo ortogonal e os principais resultados <strong>de</strong> R n,1 .<br />
Sejam X = (x1, · · · , xn, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn, yn+1) vetores <strong>de</strong> R n+1 . Consi<strong>de</strong>re a<br />
forma bilinear simétrica 〈·, ·〉 <strong>de</strong> assinatura (n, 1)<br />
〈X, Y 〉 = x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1. (1.1)<br />
O espaço vetorial real R n+1 munido da forma bilinear simétrica (1.1) é chamado espaço<br />
<strong>de</strong> Lorentz e <strong>de</strong>notado por R n,1 .<br />
Consi<strong>de</strong>re os seguintes sub-conjuntos <strong>de</strong> R n,1 :<br />
V0 = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 = 0}<br />
V− = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 < 0}<br />
V+ = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 > 0}<br />
Os vetores em V0, V− e V+, são chamados, respectivamente, <strong>de</strong> vetores nulos, nega-<br />
tivos e positivos. Se x ∈ V0 e x = −→ 0 , então x é isotrópico.<br />
Note que se um vetor X = (x1, · · · , xn, xn+1) é negativo, então x 2 1 + · · · + x 2 n − x 2 n+1 < 0<br />
e isso implica que xn+1 = 0. Chamaremos um tal vetor X <strong>de</strong> vetor negativo especial se<br />
xn+1 > 0 e vamos <strong>de</strong>notar por SV− o conjunto dos vetores negativos especiais <strong>de</strong> R n,1 :<br />
SV− = {X = (x1, · · · , xn, xn+1) ∈ R n,1 : 〈X, X〉 < 0 e xn+1 > 0}.<br />
9
Além disso, se X é um vetor negativo <strong>de</strong> R n,1 , sempre existe um múltiplo <strong>de</strong> X que é<br />
vetor negativo especial.<br />
Teorema 1.1. Sejam X e Y vetores negativos especiais em R n,1 e seja t > 0. Então:<br />
1. O vetor tX é negativo especial.<br />
2. O vetor X + Y é negativo especial.<br />
Demonstração.<br />
1. 〈tX, tX〉 = t 2 〈X, X〉 < 0, pois X é vetor negativo. Além disso, se X é negativo<br />
especial, então a (n + 1)-ésima coor<strong>de</strong>nada, xn+1, <strong>de</strong> X é um número positivo, logo, a<br />
(n + 1)-ésima coor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> tX, txn+1, também é positiva e tX é negativo especial.<br />
2. Sejam X = (x1, · · · , xn, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn, yn+1). Como X é negativo espe-<br />
cial, temos que x 2 1 + · · · + x 2 n < x 2 n+1 e xn+1 > 0 implica que x 2 1 + · · · + x 2 n < xn.<br />
Analogamente, Y é negativo especial, então y 2 1 + · · · + y 2 n < y 2 n+1 e yn > 0 implica que<br />
y 2 1 + · · · + y 2 n < yn+1. Concluímos, então, que<br />
ou seja,<br />
<br />
x2 1 + · · · + x2 <br />
n + y2 1 + · · · y2 n < xn+1 + yn+1<br />
x 2 1 + · · · + x 2 n + y 2 1 + · · · + y 2 n<br />
2 < (xn+1 + yn+1) 2<br />
e<br />
2<br />
x1 + · · · + x 2 <br />
n + 2 x2 1 + · · · + x2 <br />
n y2 1 + · · · + y2 n + y 2 1 + · · · + y 2 n<br />
Mas, da Desigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cauchy-Schwartz, temos que<br />
<br />
x1y1 + · · · + xnyn ≤ x2 1 + · · · + x2 <br />
n y2 1 + · · · + y2 n.<br />
Logo,<br />
< (xn+1 + yn+1) 2 .<br />
2<br />
x1 + · · · + x 2 2<br />
n + 2 x1y1 + · · · + xnyn + y1 + · · · + y 2 n < (xn+1 + yn+1) 2<br />
⇒ (x1 + y1) 2 + · · · + (xn + yn) 2 − (xn+1 + yn+1) 2 < 0<br />
Portanto, o vetor X + Y = (x1 + y1, · · · , xn + yn, xn+1 + yn+1) é negativo. E como<br />
xn+1 + yn+1 > 0, então X + Y é negativo especial, como queríamos.<br />
10
Corolario 1.1. O conjunto SV− dos vetores negativos especiais é um subconjunto convexo<br />
<strong>de</strong> R n,1 .<br />
Demonstração. Se X e Y são vetores negativos especiais e 0 < t < 1 então, pelo teorema<br />
1.1, temos que (1 − t)X + tY é vetor negativo especial.<br />
1.1 O Grupo Ortogonal<br />
Definição 1.1. Uma aplicação linear T : R n,1 → R n,1 é dita ortogonal se T preserva a<br />
forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida acima em R n,1 , ou seja, se<br />
〈T (X), T (Y )〉 = 〈X, Y 〉, para todo X, Y ∈ R n,1 .<br />
Definição 1.2. Uma base {V1, · · · , Vn+1} <strong>de</strong> R n,1 é uma base ortonormal se<br />
〈V1, V1〉 = 1, · · · , 〈Vn, Vn〉 = 1, 〈Vn+1, Vn+1〉 = −1 e 〈Vi, Vj〉 = 0 para i = j.<br />
Observe que a base canônica {e1, · · · , en+1} <strong>de</strong> R n+1 é uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />
Teorema 1.2. A aplicação T : R n,1 → R n,1 é ortogonal se, e somente se, T é linear e<br />
{T (e1), · · · , T (en+1)} é uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />
Demonstração. Suponha que T seja uma aplicação ortogonal. Então, por <strong>de</strong>finição, T é<br />
aplicação linear tal que:<br />
e<br />
〈T (e1), T (e1)〉 = 〈e1, e1〉 = 1,<br />
.<br />
〈T (en), T (en)〉 = 〈en, en〉 = 1,<br />
〈T (en+1), T (en+1)〉 = 〈en+1, en+1〉 = −1,<br />
〈T (ei), T (ej)〉 = 〈ei, ej〉 = 0 para i = j.<br />
Assim, {T (e1), · · · , T (en+1)} é uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />
11
Por outro lado, suponha que T é linear e que {T (e1), · · · , T (en+1)} é uma base orto-<br />
normal <strong>de</strong> R n,1 . Então, T é uma transformação ortogonal, pois<br />
〈T (x), T (y)〉 =<br />
=<br />
<br />
n+1<br />
T<br />
i=1<br />
n+1<br />
xiei<br />
<br />
, T<br />
<br />
<br />
xiT (ei) ,<br />
i=1<br />
n+1 n+1<br />
n+1<br />
<br />
j=1<br />
n+1<br />
<br />
j=1<br />
yjej<br />
<br />
= xiyj〈T (ei), T (ej)〉<br />
i=1<br />
j=1<br />
<br />
<br />
yjT (ej)<br />
= x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1 = 〈x, y〉.<br />
Definição 1.3. Uma matriz real (n + 1) × (n + 1) A é dita uma matriz ortogonal se a<br />
aplicação linear T : R n,1 → R n,1 <strong>de</strong>finida por T (X) = A.X for ortogonal, em que X é a<br />
matriz coluna que contém as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> X na base canônica <strong>de</strong> R n,1 .<br />
O próximo teorema segue imediatamente do teorema 1.2 e das <strong>de</strong>finições acima.<br />
Teorema 1.3. Seja T : R n,1 → R n,1 uma aplicação linear e seja A a matriz <strong>de</strong> T na base<br />
canônica <strong>de</strong> R n+1 . Então, as seguintes <strong>de</strong>finições são equivalentes:<br />
1. T é aplicação ortogonal <strong>de</strong> R n,1 .<br />
2. A é uma matriz ortogonal.<br />
3. As colunas <strong>de</strong> A formam uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />
4. A matriz A satisfaz a igualda<strong>de</strong> AtIn,1A = In,1, em que<br />
⎡<br />
⎤<br />
1<br />
⎢<br />
In,1 = ⎢<br />
⎣<br />
. ..<br />
1<br />
0<br />
⎥ .<br />
⎥<br />
⎦<br />
0 −1<br />
5. A matriz A satisfaz a igualda<strong>de</strong> AIn,1A t = In,1.<br />
6. As linhas <strong>de</strong> A formam uma base ortonormal <strong>de</strong> R n,1 .<br />
12
Observações:<br />
• O conjunto <strong>de</strong> todas as matrizes ortogonais (n + 1) × (n + 1), juntamente com a<br />
operação <strong>de</strong> multiplicação <strong>de</strong> matrizes forma o grupo ortogonal O(n, 1). Pelo teorema<br />
1.3, esse grupo é naturalmente isomorfo ao grupo <strong>de</strong> todas as transformações ortogonais<br />
T : R n,1 → R n,1 munido da operação <strong>de</strong> composição <strong>de</strong> funções.<br />
• Se A ∈ O(n, 1), como A t In,1A = In,1, segue que In,1A t In,1A = Id. Logo A é invertível<br />
e A −1 = In,1A t In,1. Evi<strong>de</strong>ntemente, A −1 ∈ O(n, 1).<br />
• Observe agora que se A ∈ O(n, 1), como A t In,1A = In,1, temos que (<strong>de</strong>t A) 2 = 1,<br />
então <strong>de</strong>t A = ±1. Se SO(n, 1) representa o subgrupo das matrizes A ∈ O(n, 1) tais que<br />
<strong>de</strong>t A = 1, então SO(n, 1) é um subgrupo <strong>de</strong> índice dois <strong>de</strong> O(n, 1). O grupo SO(n, 1) é<br />
chamado o grupo ortogonal especial.<br />
• Pelo corolário 1.1, o conjunto <strong>de</strong> vetores negativos <strong>de</strong> R n,1 tem duas componentes<br />
conexas: o conjunto dos vetores negativos especiais (xn+1 > 0) e o seu complementar em<br />
V− (xn+1 < 0). Uma matriz ortogonal A evi<strong>de</strong>ntemente transforma vetores negativos em<br />
vetores negativos. Agora, dizemos que uma tal matriz A é positiva se A transforma vetores<br />
negativos especiais em vetores negativos especiais.<br />
• O grupo O + (n, 1) das matrizes ortogonais positivas é um subgrupo <strong>de</strong> índice dois <strong>de</strong><br />
O(n, 1). Analogamente, o grupo SO + (n, 1) das matrizes ortogonais positivas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminante<br />
igual a 1 é um subgrupo <strong>de</strong> índice dois <strong>de</strong> SO(n, 1).<br />
especial.<br />
• O + (n, 1) é o grupo ortogonal positivo e SO + (n, 1) é o grupo ortogonal positivo<br />
Definição 1.4. Dois vetores X e Y <strong>de</strong> R n+1 são ortogonais em R n,1 se, e somente se,<br />
〈X, Y 〉 = 0.<br />
Teorema 1.4. Sejam X e Y vetores ortogonais em R n,1 . Se X é negativo e Y = 0, então<br />
Y é positivo.<br />
Demonstração. Se X = (x1, · · · , xn, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn, yn+1), então<br />
Daí,<br />
〈X, Y 〉 = 0 ⇒ x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1 = 0 ⇒ yn+1 = x1y1 + · · · + xnyn<br />
.<br />
xn+1<br />
xn+1<br />
〈Y, Y 〉 = y 2 1 + · · · + y 2 n − y 2 n+1 = y 2 1 + · · · + y 2 2 x1y1 + · · · + xnyn<br />
n −<br />
.<br />
Mas, da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cauchy-Schwartz, temos que<br />
<br />
x1y1 + · · · + xnyn ≤ x2 1 + · · · + x2 <br />
n y2 1 + · · · + y2 n,<br />
13
don<strong>de</strong> concluímos que<br />
Portanto,<br />
x1y1 + · · · + xnyn<br />
xn+1<br />
2<br />
≤ (x21 + · · · + x2 n)(y2 1 + · · · + y2 n)<br />
x2 .<br />
n+1<br />
〈Y, Y 〉 ≥ y2 1 + · · · + y2 n − (x21 + · · · + x2 n)(y2 1 + · · · + y2 n)<br />
x2 n+1<br />
= (y 2 1 + · · · + y 2 <br />
n) 1 − x21 + · · · + x2 n<br />
x2 <br />
n+1<br />
= − (y2 1 + · · · + y2 n)(x2 1 + · · · + x2 n − x2 n+1)<br />
x2 ≥ 0.<br />
n+1<br />
Além disso, se 〈Y, Y 〉 = 0, concluímos que (y2 1 + · · · + y 2 n)(x 2 1 + · · · + x 2 n − x 2 n+1)<br />
Mas como X é negativo, vemos que y 2 1 + · · · + y 2 n = 0, o que implica que y1 = · · · = yn = 0.<br />
E como yn+1 = x1y1 + · · · + xnyn<br />
, vemos que yn+1 também é igual a zero, don<strong>de</strong> concluímos<br />
xn+1<br />
x 2 n+1<br />
que Y = 0, o que é um absurdo, pois Y é não nulo. Logo, 〈Y, Y 〉 > 0.<br />
Teorema 1.5. Seja V um vetor negativo <strong>de</strong> Rn,1 tal que 〈V, V 〉 =<br />
<br />
−1. Então, existe<br />
<br />
uma<br />
t<br />
matriz ortogonal A ∈ O(n, 1) tal que A · en+1 = V , em que en+1 = 0 · · · 0 1 .<br />
Demonstração. Complete o conjunto {V } a uma base {V1, · · · , Vn, V } <strong>de</strong> R n,1 . Vamos aplicar<br />
o processo <strong>de</strong> ortogonalização <strong>de</strong> Gram-Schmidt para transformar essa base em uma base<br />
ortonormal <strong>de</strong> R n,1 . Para isso <strong>de</strong>fina<br />
W1 = V1 + 〈V1, V 〉V.<br />
Assim, W1 = −→ 0 pois V1 e V são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Além disso,<br />
〈W1, V 〉 = 〈V1, V 〉 + 〈V1, V 〉〈V, V 〉 = 〈V1, V 〉 − 〈V1, V 〉 = 0.<br />
Então, o teorema 1.4 implica que W1 é vetor positivo. Desse modo, se<br />
U1 =<br />
então 〈U1, U1〉 = 1. De forma análoga, <strong>de</strong>finimos<br />
1<br />
〈W1, W1〉 W1<br />
14<br />
= 0.
W2 = V2 + 〈V2, V 〉V − 〈V2, U1〉U1,<br />
1<br />
U2 = <br />
〈W2, W2〉 W2,<br />
.<br />
Wn = Vn + 〈Vn, V 〉V − 〈Vn, U1〉U1 − · · · − 〈Vn, Un−1〉Un−1,<br />
1<br />
Un = <br />
〈Wn, Wn〉 Wn,<br />
Suponha por indução que 〈Wi, V 〉 = 0 para todo i ≤ k. Nesse caso, como Ui é múltiplo<br />
<strong>de</strong> Wi, teríamos 〈Ui, V 〉 = 0 para todo i ≤ k. Então,<br />
〈Wk+1, V 〉 = 〈Vk+1, V 〉 + 〈Vk+1, V 〉〈V, V 〉− 〈Vk+1, U1〉〈U1, V 〉 − · · · − 〈Vk+1, Uk〉〈Uk, V 〉<br />
<br />
= 〈Vk+1, V 〉 − 〈Vk+1, V 〉 0<br />
= 0.<br />
Ou seja, mostramos que V e Wi são ortogonais para todo i = 1, · · · , n e pelo teorema<br />
1.4, Wi são vetores positivos. Então 〈Ui, Ui〉 = 1 e {U1, · · · , Un, V } é uma base ortonormal<br />
<strong>de</strong> Rn,1 <br />
<br />
. Do teorema 1.3, concluímos que a matriz A = U1 · · · Un V que tem colunas<br />
iguais aos vetores U1, · · · , Un e V é uma matriz ortogonal, isto é, A ∈ O(n, 1). De<br />
concluímos a <strong>de</strong>monstração.<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢ ⎥<br />
⎢ . ⎥<br />
A · ⎢ ⎥ = V,<br />
⎢<br />
⎣ 0 ⎥<br />
⎦<br />
1<br />
Teorema 1.6. Sejam X e Y vetores negativos em R n,1 . Então<br />
〈X, Y 〉 2 ≥ 〈X, X〉〈Y, Y 〉.<br />
Demonstração. Se A ∈ O(n, 1), então, como A preserva a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> R n,1 ,<br />
para provar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejada, po<strong>de</strong>mos substituir X por AX e Y por AY . Além<br />
disso, se 〈X, X〉 = t < 0 e U = 1<br />
√ −t X, então U é vetor negativo, com 〈U, U〉 = −1. Logo,<br />
pelo teorema 1.5, existe A ∈ O(n, 1) tal que AU = en+1. Ou seja, AX = √ −ten+1. Destas<br />
observações, po<strong>de</strong>mos assumir, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que<br />
15
Então, temos que<br />
X = xn+1en+1 = (0, · · · , 0, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn+1).<br />
〈X, X〉〈Y, Y 〉 = −x 2 n+1(y 2 1 + · · · + y 2 n − y 2 n+1)<br />
= −x 2 n+1(y 2 1 + · · · + y 2 n) + x 2 n+1y 2 n+1<br />
≤ x 2 n+1y 2 n+1 = 〈X, Y 〉 2 .<br />
Observação: O teorema anterior implica que se X e Y são vetores negativos em Rn,1 ,<br />
〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />
então ≥ 1. Logo, existe um único número não negativo η(X, Y ) tal que<br />
〈X, X〉〈Y, Y 〉<br />
〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />
〈X, X〉〈Y, Y 〉 = cosh2 (η(X, Y )).<br />
16
Capítulo 2<br />
O Espaço Hiperbólico Real H n R<br />
Este capítulo é <strong>de</strong>dicado às <strong>de</strong>finições básicas do espaço hiperbólico real n-dimensional,<br />
em que serão apresentados os seguintes mo<strong>de</strong>los: mo<strong>de</strong>lo projetivo, mo<strong>de</strong>lo do hiperbolói<strong>de</strong>,<br />
mo<strong>de</strong>lo da bola e o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior. Além disso, vamos ver algumas mu-<br />
danças <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas que relacionam esses mo<strong>de</strong>los e também <strong>de</strong>duziremos matrizes em<br />
O(n, 1) que representam translação, dilatação, rotação e inversão em H n<br />
R.<br />
2.1 O Mo<strong>de</strong>lo Projetivo<br />
Como no capítulo 1, <strong>de</strong>notaremos por R n,1 o espaço vetorial real R n+1 munido da forma<br />
bilinear simétrica 〈·, ·〉 <strong>de</strong> assinatura (n, 1)<br />
〈X, Y 〉 = x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1,<br />
sendo X = (x1, · · · , xn+1) e Y = (y1, · · · , yn+1).<br />
Seja V− = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 < 0} o conjunto dos vetores negativos <strong>de</strong> R n,1 . Se<br />
P : R n,1 \{0} → RP n <strong>de</strong>nota a projeção natural sobre o espaço projetivo, então o espaço<br />
hiperbólico real é o conjunto H n<br />
R = P(V−). Desse modo, po<strong>de</strong>mos dizer que H n<br />
R é o conjunto<br />
das linhas negativas <strong>de</strong> R n,1 .<br />
Em H n<br />
R consi<strong>de</strong>ra-se a seguinte métrica: se x e y são pontos <strong>de</strong> H n<br />
R, então a distância<br />
dH(x, y) entre x e y é <strong>de</strong>finida por<br />
dH(x, y) = η(X, Y ),<br />
em que a função η foi <strong>de</strong>finida na observação da página 16, e em que X e Y são vetores<br />
negativos em R n,1 que se projetam em x e y respectivamente. Chamamos, neste caso, X e<br />
17
Y <strong>de</strong> levantamentos <strong>de</strong> x e y. Desse modo, tem-se que dH(x, y) é o único número real não<br />
negativo tal que<br />
cosh 2 (dH(x, y)) =<br />
〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />
. (2.1)<br />
〈X, X〉〈Y, Y 〉<br />
Observe que quaisquer outros levantamentos <strong>de</strong> x e y são múltiplos <strong>de</strong> X e Y . Assim,<br />
se escolhermos λ1X e λ2Y como levantamentos <strong>de</strong> x e y, temos que<br />
x e y.<br />
cosh 2 (dH(x, y)) = 〈λ1X, λ2Y 〉〈λ2Y, λ1X〉<br />
〈λ1X, λ1X〉〈λ2Y, λ2Y 〉 = λ2 1λ 2 2〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />
λ 2 1λ 2 2〈X, X〉〈Y, Y 〉<br />
= 〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />
〈X, X〉〈Y, Y 〉 .<br />
Ou seja, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> dH(x, y) não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha dos levantamentos X e Y <strong>de</strong><br />
A cada aplicação linear ortogonal T ∈ O(n, 1), po<strong>de</strong>mos associar uma aplicação f :<br />
RP n → RP n <strong>de</strong>finida por f(x) = P(T (X)), sendo X um vetor que se projeta em x. Como<br />
T é linear, essa aplicação está bem <strong>de</strong>finida, pois não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha do levantamento<br />
X <strong>de</strong> x. E como T preserva o produto escalar <strong>de</strong> R n,1 , segue que T transforma vetores<br />
negativos em vetores negativos, e assim, a aplicação induzida f se restringe a uma isometria<br />
f : H n<br />
R → H n<br />
R do espaço hiperbólico real. O conjunto das aplicações f obtidas <strong>de</strong>sse modo é<br />
<strong>de</strong>notado por P O(n, 1).<br />
Temos, então, que P O(n, 1) ⊂ Isom(H n<br />
R). Entretanto, vamos mostrar na observação<br />
da página 28 que P O(n, 1) = Isom(H n<br />
R).<br />
2.2 O Mo<strong>de</strong>lo do Hiperbolói<strong>de</strong><br />
Seja X = (x1, · · · , xn+1) ∈ R n+1 . Note que a equação 〈X, X〉 = −1, representa<br />
geometricamente o hiperbolói<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas folhas<br />
em R n+1 . O conjunto<br />
−(x 2 1 + · · · + x 2 n) + x 2 n+1 = 1<br />
F n = {X ∈ R n,1 : 〈X, X〉 = −1 e xn+1 > 0}<br />
é uma das folhas <strong>de</strong>sse hiperbolói<strong>de</strong>. Como cada reta negativa <strong>de</strong> R n,1 intersecta F n em um<br />
único ponto, segue que o conjunto F n possui uma correspondência natural com H n<br />
R.<br />
Utilizando a expressão (2.1), a distância dF (X, Y ) entre pontos X e Y <strong>de</strong> F n é tal que<br />
18
cosh 2 (dF (x, y)) =<br />
〈X, Y 〉〈Y, X〉<br />
〈X, X〉〈Y, Y 〉 = 〈X, Y 〉2 .<br />
Segue que cosh(dF (X, Y )) = |〈X, Y 〉|. Entretanto, da <strong>de</strong>monstração do teorema 1.6,<br />
po<strong>de</strong>mos assumir, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que<br />
X = xn+1en+1 = (0, · · · , 0, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn+1).<br />
e então vemos que 〈X, Y 〉 = −xn+1yn+1 < 0 para quaisquer X e Y em F n . Assim, concluímos<br />
que, nesse caso,<br />
cosh(dF (X, Y )) = −〈X, Y 〉. (2.2)<br />
O conjunto F n munido da métrica dF é o mo<strong>de</strong>lo do hiperbolói<strong>de</strong> do espaço<br />
hiperbólico real H n<br />
R.<br />
2.3 O Mo<strong>de</strong>lo da Bola<br />
I<strong>de</strong>ntifique R n com R n × {0} em R n+1 . Seja B n = {x ∈ R n : |x| < 1} a bola aberta<br />
unitária centrada na origem, em que |x| é a norma euclidiana. A projeção estereográfia ζ <strong>de</strong><br />
B n sobre F n é <strong>de</strong>finida da seguinte forma: se x ∈ B n , então ζ(x) é a interseção <strong>de</strong> F n com<br />
a reta que passa por −en+1 e x. Como ζ(x) está sobre a reta que passa por x e tem vetor<br />
diretor x + en+1, então existe um escalar λ tal que ζ(x) = x + λ(x + en+1). Para ζ(x) ∈ F n ,<br />
temos 〈ζ(x), ζ(x)〉 = −1. Como x = (x1, · · · , xn, 0) ∈ B n , então 〈x, en+1〉 = 0. Logo, temos<br />
que<br />
−1 = 〈ζ(x), ζ(x)〉 = 〈x+λx+λen+1, x+λx+λen+1〉 = 〈x, x〉+λ〈x, x〉+λ〈x, x〉+λ 2 〈x, x〉−λ 2<br />
⇔ λ 2 (|x| 2 − 1) + 2λ|x| 2 + |x| 2 + 1 = 0 ⇔ (λ + 1)(λ(|x| 2 − 1) + |x| 2 + 1) = 0.<br />
Se λ = −1, ζ(x) = −en+1. E como −en+1 não pertence a F n , então<br />
ou seja,<br />
λ =<br />
1 + |x|2<br />
.<br />
1 − |x| 2<br />
Obtemos a seguinte expressão explícita para a projeção estereográfica ζ : Bn → F n<br />
<br />
1 + |x|2<br />
ζ(x) = x1 +<br />
1 − |x| 2 x1,<br />
1 + |x|2 1 + |x|2<br />
· · · , xn + xn,<br />
1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />
<br />
,<br />
ζ(x) =<br />
<br />
2x1 2xn 1 + |x|2<br />
, · · · , ,<br />
1 − |x| 2 1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />
<br />
.<br />
19
Se y =<br />
yn+1 =<br />
A aplicação ζ é uma bijeção <strong>de</strong> B n em H n<br />
R. De fato, a inversa ζ−1 : F n → Bn é tal que<br />
ζ −1<br />
<br />
2x1 2xn 1 + |x|2<br />
, · · · , ,<br />
1 − |x| 2 1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />
<br />
= (x1, · · · , xn).<br />
<br />
2x1 2xn 1 + |x|2<br />
, · · · , ,<br />
1 − |x| 2 1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />
<br />
= (y1, · · · , yn, yn+1) ∈ F n , então<br />
1 + |x|2<br />
1 − |x| 2 ⇒ yn+1−yn+1|x| 2 = 1+|x| 2 ⇒ |x| 2 (1+yn+1) = −1+yn+1 ⇒ |x| 2 =<br />
E para i = 1, · · · , n, temos que<br />
yi = 2xi<br />
1 − |x| 2 ⇒ yi(1 − |x| 2 ) = 2xi ⇒ xi = yi<br />
2<br />
<br />
1 −<br />
Ou seja, provamos que a inversa ζ−1 : F n → Bn é dada por<br />
ζ −1 <br />
y1<br />
yn<br />
(y) = , · · · ,<br />
1 + yn+1 1 + yn+1<br />
sendo y = (y1, · · · , yn+1).<br />
<br />
−1 + yn+1<br />
⇒ xi =<br />
1 + yn+1<br />
yi<br />
−1 + yn+1<br />
.<br />
1 + yn+1<br />
.<br />
1 + yn+1<br />
A métrica dB em B n é <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> tal modo que a projeção estereográfica ζ seja uma<br />
isometria entre B n e F n , isto é,<br />
dB(x, y) = dF (ζ(x), ζ(y)).<br />
Essa métrica dB é chamada métrica <strong>de</strong> Poincaré em B n , e o conjunto B n munido<br />
<strong>de</strong>ssa métrica é o mo<strong>de</strong>lo da bola para o espaço hiperbólico real H n<br />
R.<br />
Teorema 2.1. Se x e y são pontos em B n , então<br />
cosh dB(x, y) = 1 +<br />
2|x − y| 2<br />
(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 ) .<br />
Demonstração. Da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> dB e da expressão (2.2), vemos que<br />
cosh dB(x, y) = cosh dF (ζ(x), ζ(y)) = −〈ζ(x), ζ(y)〉.<br />
Se x = (x1, · · · , xn) e y = (y1, · · · , yn), sabemos que<br />
<br />
2x1 2xn 1 + |x|2<br />
ζ(x) = , · · · , ,<br />
1 − |x| 2 1 − |x| 2 1 − |x| 2<br />
<br />
20
e<br />
Logo,<br />
ζ(y) =<br />
<br />
2y1 2yn 1 + |y|2<br />
, · · · , ,<br />
1 − |y| 2 1 − |y| 2 1 − |y| 2<br />
<br />
.<br />
−〈ζ(x), ζ(y)〉 = −4x1y1 − · · · − 4xnyn + (1 + |x| 2 )(1 + |y| 2 )<br />
(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 )<br />
= −4x1y1 − · · · − 4xnyn + [(1 + |x| 2 )(1 − |y| 2 ) + 2|x| 2 + 2|y| 2 ]<br />
(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 )<br />
= (1 − |x|2 )(1 − |y| 2 ) + 2[|x| 2 − 2x1y1 − · · · − 2xnyn + |y| 2 ]<br />
(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 )<br />
= (1 − |x|2 )(1 − |y| 2 ) + 2|x − y| 2<br />
= 1 +<br />
(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 )<br />
2|x − y| 2<br />
(1 − |x| 2 )(1 − |y| 2 ) .<br />
2.4 O Mo<strong>de</strong>lo do Semi-espaço<br />
A esfera <strong>de</strong> centro em a e raio r em R n é dada por S(a, r) = {x ∈ R n : |x − a| = r},<br />
em que a ∈ R n e r > 0.<br />
Seja R n = R n ∪ {∞}.<br />
Definição 2.1. A inversão na esfera <strong>de</strong> centro a e raio r em R n é a aplicação σ : R n → R n<br />
dada por<br />
ou seja,<br />
σ(x) = a +<br />
2 r<br />
(x − a), σ(a) = ∞ e σ(∞) = a.<br />
|x − a|<br />
A aplicação σ tem or<strong>de</strong>m dois, pois<br />
σ(σ(x)) =<br />
<br />
r<br />
a + <br />
=<br />
2 2 <br />
r<br />
<br />
r 2(x (x − a)<br />
− a) |x − a|<br />
|x−a|<br />
2 |x − a|<br />
a +<br />
r2 2 r<br />
|x − a| 2<br />
<br />
(x − a)<br />
= a + x − a = x.<br />
Dados x, y = a quaisquer em R n , temos a seguinte i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>:<br />
|x − y| 2 = |x − a| 2 − 2〈x − a, y − a〉 + |y − a| 2 ,<br />
−2〈x − a, y − a〉 = |x − y| 2 − |x − a| 2 − |y − a| 2 .<br />
21
Daí,<br />
|σ(x) − σ(y)| 2 =<br />
=<br />
=<br />
=<br />
O que implica que<br />
<br />
<br />
<br />
r<br />
<br />
2<br />
2<br />
r2 <br />
(x − a) − (y − a) <br />
|x − a| 2 |y − a| 2 <br />
r4 r<br />
− 2<br />
|x − a| 2 4<br />
|x − a| 2 r4<br />
〈x − a, y − a〉 +<br />
|y − a| 2 |y − a| 2<br />
r4 |x − a| 2 |y − a| 2 (|y − a|2 + |x − a| 2 + |x − y| 2 − |x − a| 2 − |y − a| 2 )<br />
r4 |x − y| 2<br />
|x − a| 2 .<br />
|y − a| 2<br />
|σ(x) − σ(y)| = r2 |x − y|<br />
. (2.3)<br />
|x − a||y − a|<br />
Consi<strong>de</strong>re agora a inversão na esfera <strong>de</strong> centro a = en = (0, · · · , 0, 1) e raio r = √ 2 em<br />
Rn . Se x = (x1, · · · , xn) ∈ Rn , então<br />
σ(x) =<br />
<br />
2x1 2xn−1<br />
, · · · ,<br />
|x − en| 2 |x − en| 2 , 1 + 2(xn − 1)<br />
|x − en| 2<br />
=<br />
<br />
<br />
2x1 2xn−1<br />
, · · · ,<br />
|x − en| 2 |x − en| 2 , |x|2 − 2〈x, en〉 + |en| 2 + 2xn − 2<br />
|x − en| 2<br />
=<br />
<br />
<br />
2x1 2xn−1<br />
, · · · ,<br />
|x − en| 2 |x − en| 2 , |x|2 − 1<br />
|x − en| 2<br />
<br />
2(x − en)<br />
Observe que σ(x) = en +<br />
|x − en| 2 implica, para x = (x1, · · · , xn), que<br />
Daí segue que<br />
|σ(x)| 2 <br />
2(x − en)<br />
= en +<br />
|x − en| 2<br />
<br />
2(x − en)<br />
, en +<br />
|x − en| 2<br />
<br />
= 1 + 4 〈en,<br />
<br />
x − en〉 <br />
+ <br />
2(x − en)<br />
|x − en| 2 |x − en| 2<br />
2<br />
<br />
<br />
<br />
= 1 + 4(xn − 1) 4<br />
+<br />
|x − en| 2 |x − en| 2<br />
= 1 + 4xn<br />
.<br />
|x − en| 2<br />
(2.4)<br />
1 − |σ(x)| 2 = −4xn<br />
. (2.5)<br />
|x − en| 2<br />
Dessa forma, se tomarmos o semi-espaço inferior {x = (x1, · · · , xn) ∈ R n : xn < 0}, temos<br />
que<br />
xn < 0 ⇔ −4xn<br />
|x − en| 2 > 0 ⇔ |σ(x)| < 1 ⇔ σ(x) ∈ Bn .<br />
22
Ou seja, a aplicação σ transforma o semi-espaço inferior na bola unitária B n centrada na<br />
origem <strong>de</strong> R n . Assim, se consi<strong>de</strong>rarmos a inversão ρ(x1, · · · , xn−1, xn) = (x1, · · · , xn−1, −xn)<br />
no plano xn = 0 <strong>de</strong> R n , vemos que a composição<br />
transforma o semi-espaço superior<br />
na bola unitária B n .<br />
ϕ = σρ : U n → B n<br />
U n = {x = (x1, · · · , xn) ∈ R n : xn > 0}<br />
A métrica dU em U n é <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> tal modo que a aplicação ϕ = σρ : U n → B n seja<br />
uma isometria entre U n e B n , isto é,<br />
dU(x, y) = dB(ϕ(x), ϕ(y)).<br />
Essa métrica é chamada <strong>de</strong> métrica <strong>de</strong> Poincaré em U n , e o conjunto U n munido<br />
<strong>de</strong>ssa métrica é o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior para o espaço hiperbólico real H n<br />
R.<br />
Teorema 2.2. Se x = (x1, · · · , xn) e y = (y1, · · · , yn) são pontos em U n , então,<br />
|x − y|2<br />
cosh dU(x, y) = 1 + .<br />
2xnyn<br />
Demonstração. Da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> dU e do teorema 2.1, temos que<br />
obtemos<br />
cosh dU(x, y) = cosh dB(ϕ(x), ϕ(y)) = 1 +<br />
Da expressão (2.3), temos que<br />
|ϕ(x) − ϕ(y)| = |σ(ρ(x)) − σ(ρ(y))| =<br />
2|ϕ(x) − ϕ(y)| 2<br />
(1 − |ϕ(x)| 2 )(1 − |ϕ(y)| 2 . (2.6)<br />
)<br />
2|ρ(x) − ρ(y)|<br />
|ρ(x) − en||ρ(y) − en| .<br />
Como |ρ(x) − ρ(y)| = |x − y|, |ρ(x) − en| = |x + en| e |ρ(y) − en| = |y + en|, obtemos<br />
|ϕ(x) − ϕ(y)| =<br />
2|x − y|<br />
|x + en||y + en| .<br />
Como ρ(x) = (x1, · · · , xn−1, −xn) e ρ(y) = (y1, · · · , yn−1, −yn), da expressão (2.5),<br />
1 − |ϕ(x)| 2 = 1 − |σ(ρ(x))| 2 = −4(−xn) 4xn<br />
=<br />
|ρ(x) − en| 2 |x + en| 2<br />
23
e<br />
1 − |ϕ(y)| 2 = 1 − |σ(ρ(y))| 2 = −4(−yn) 4yn<br />
= .<br />
|ρ(y) − en| 2 |y + en| 2<br />
Substituindo essas expressões em (2.6) e simplificando, obtemos finalmente que<br />
|x − y|2<br />
cosh dU(x, y) = 1 + .<br />
2xnyn<br />
2.5 Algumas mudanças <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas<br />
Na seção 2.3, vimos a expressão da isometria ζ : B n → F n que relaciona o mo<strong>de</strong>lo da<br />
bola com o mo<strong>de</strong>lo do hiperbolói<strong>de</strong>. Na seção 2.4, foi construída a expressão da isometria<br />
ϕ = σρ : U n → B n que relaciona o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior com o mo<strong>de</strong>lo da bola.<br />
Agora, vamos apresentar uma expressão para a isometria L : U n → F n que relaciona o<br />
mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior com o mo<strong>de</strong>lo do hiperbolói<strong>de</strong>.<br />
Da expressão (2.4) e do fato que |ρ(x) − en| = |x + en|, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir as seguintes<br />
expressões, que serão utilizadas na <strong>de</strong>dução da expressão da isometria L : U n → F n<br />
ϕ = σρ : U n → B n<br />
ϕ(x) = σ(ρ(x)) = σ(x1, · · · , xn−1, −xn)<br />
<br />
2x1<br />
2xn−1<br />
=<br />
, · · · ,<br />
|ρ(x) − en| 2 |ρ(x) − en| 2 , |ρ(x)|2 − 1<br />
|ρ(x) − en| 2<br />
<br />
<br />
2x1 2xn−1<br />
=<br />
, · · · ,<br />
|x + en| 2 |x + en| 2 , |x|2 − 1<br />
|x + en| 2<br />
<br />
e como σ e ρ são aplicações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m dois<br />
ϕ −1 =<br />
para x = (x1, · · · , xn).<br />
ϕ −1 = ρ −1 σ −1 = ρσ : B n → U n<br />
<br />
2x1 2xn−1 1 − |x|2<br />
, · · · , ,<br />
|x − en| 2 |x − en| 2 |x − en| 2<br />
<br />
,<br />
A composição U n ϕ −→ B n ζ −→ F n dá a isometria L = ζ ◦ ϕ : U n → F n , e a composição<br />
n ζ−1 n ϕ−1<br />
F −−→ B −−→ U n dá a isometria L−1 = ϕ−1◦ζ −1 : F n → U n . Efetuando essas composições,<br />
obtém-se:<br />
24
é tal que<br />
L = ζ ◦ ϕ : U n → F n<br />
<br />
2x1 2xn−1<br />
L(x) = ζ(ϕ(x)) = ζ , · · · ,<br />
|x + en| 2 |x + en| 2 , |x|2 − 1<br />
|x + en| 2<br />
<br />
<br />
2x1 2 |x+en|<br />
=<br />
2<br />
<br />
1 − |ϕ(x)| 2 , · · · , 2 2xn−1<br />
|x+en| 2<br />
<br />
1 − |ϕ(x)| 2 , 2 |x| 2−1 |x+en| 2<br />
<br />
1 + |ϕ(x)|2<br />
,<br />
1 − |ϕ(x)| 2 1 − |ϕ(x)| 2<br />
<br />
para x = (x1, · · · , xn).<br />
2(x + en)<br />
Observe que ϕ(x) = en − , logo,<br />
|x + en| 2<br />
|ϕ(x)| 2 <br />
2(x + en)<br />
= en −<br />
|x + en| 2 , en<br />
2(x + en)<br />
−<br />
|x + en| 2<br />
<br />
= 1 − 4(xn<br />
<br />
+ 1) <br />
+ <br />
2(x + en)<br />
|x + en| 2 |x + en| 2<br />
2<br />
<br />
<br />
<br />
= 1 − 4xn<br />
.<br />
|x + en| 2<br />
E então, subtituindo em (2.7) e simplificando, temos que<br />
L(x) =<br />
x1<br />
xn<br />
Como x ∈ U n , temos que xn > 0 e<br />
Logo, L(x) ∈ F n .<br />
, · · · , xn−1<br />
xn<br />
, |x|2 − 1<br />
,<br />
2xn<br />
|x|2 <br />
+ 1<br />
.<br />
2xn<br />
〈L(x), L(x)〉 = x21 x2 + · · · +<br />
n<br />
x2n−1 x2 +<br />
n<br />
(|x|2 − 1) 2<br />
4x2 −<br />
n<br />
(|x|2 + 1) 2<br />
4x2 n<br />
Por outro lado, a inversa<br />
Se y =<br />
x1<br />
xn<br />
= 4(x2 1 + · · · + x 2 n−1) − 4|x| 2<br />
4x 2 n<br />
L −1 = ϕ −1 ◦ ζ −1 : F n → U n<br />
= −1.<br />
L −1<br />
<br />
x1<br />
, · · · ,<br />
xn<br />
xn−1<br />
,<br />
xn<br />
|x|2 − 1<br />
,<br />
2xn<br />
|x|2 <br />
+ 1<br />
= (x1, · · · , xn).<br />
2xn<br />
, · · · , xn−1<br />
,<br />
xn<br />
|x|2 − 1<br />
,<br />
2xn<br />
|x|2 <br />
+ 1<br />
= (y1, · · · , yn+1) ∈ F<br />
2xn<br />
n , então<br />
yn+1 = |x|2 + 1<br />
2xn<br />
⇔ |x| 2 = 2xnyn+1 − 1.<br />
25<br />
(2.7)
Além disso,<br />
yn = |x|2 − 1<br />
2xn<br />
E para i = 1, · · · , n − 1, temos que<br />
yi = xi<br />
xn<br />
= xnyn+1 − 1<br />
xn<br />
⇔ xn =<br />
= xi(yn+1 − yn) ⇔ xi =<br />
1<br />
yn+1 − yn<br />
yi<br />
yn+1 − yn<br />
Ou seja, provamos que a inversa L −1 = ϕ −1 ◦ ζ −1 : F n → U n é dada por<br />
L −1 <br />
(y) =<br />
sendo y = (y1, · · · , yn+1).<br />
y1<br />
yn+1 − yn<br />
, · · · ,<br />
yn−1<br />
yn+1 − yn<br />
,<br />
1<br />
.<br />
yn+1 − yn<br />
Nesta última expressão, observe que se y ∈ F n , então y 2 1 + · · · + y 2 n − y 2 n+1 = −1 e<br />
yn+1 > 0. Daí segue que y 2 n+1 − y 2 n = y 2 1 + · · · + y 2 n−1 + 1 > 0. De y 2 n+1 − y 2 n > 0 e yn+1 > 0<br />
temos que yn+1 − yn > 0, ou seja, L −1 (y) ∈ U n .<br />
Destas expressões <strong>de</strong> L e L −1 , po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir as seguintes expressões das isometrias<br />
que relacionam o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n com o mo<strong>de</strong>lo projetivo H n<br />
R = P(V−).<br />
em que x = (x1, · · · , xn) e<br />
⎡<br />
φ −1<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ =<br />
<br />
x1<br />
xn+1 − xn<br />
φ : U n → H n<br />
R = P(V−)<br />
⎡<br />
2x1<br />
⎢ .<br />
⎢<br />
φ(x) = ⎢ 2xn−1 ⎢<br />
⎣ |x| 2 − 1<br />
|x| 2 ⎤<br />
⎥ , (2.8)<br />
⎥<br />
⎦<br />
+ 1<br />
φ −1 : H n<br />
R = P(V−) → U n<br />
, · · · ,<br />
xn−1<br />
xn+1 − xn<br />
26<br />
.<br />
<br />
,<br />
<br />
−(x<br />
,<br />
2 1 + · · · + x2 n − x2 n+1)<br />
(xn+1 − xn) 2<br />
<br />
. (2.9)
⎡<br />
2x1<br />
⎢ .<br />
⎢<br />
Observe que na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> φ po<strong>de</strong>mos trocar o vetor ⎢ 2xn−1 ⎢<br />
⎣ |x| 2 − 1<br />
|x| 2 ⎤<br />
⎥ por qualquer<br />
⎥<br />
⎦<br />
+ 1<br />
múltiplo não nulo, e que a função φ−1 está bem <strong>de</strong>finida, pois<br />
⎡<br />
φ −1<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
= φ−1<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
λx1<br />
.<br />
λxn+1<br />
2.6 Translação, dilatação, rotação e inversão<br />
cartesiano<br />
Nesta seção, vamos representar o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n como o produto<br />
R n−1 × R+ = {(x1, · · · , xn−1, t) ∈ R n , t > 0} = {(v, t) ∈ R n−1 × R+},<br />
em que v = (x1, · · · , xn−1). Sabe-se por [7], teorema B.7, página 61 que neste mo<strong>de</strong>lo<br />
R n−1 × R+ as seguintes aplicações geram todo o grupo <strong>de</strong> isometrias do espaço hiperbólico<br />
real <strong>de</strong> dimensão n.<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ .<br />
• translação: f(v, t) = (v + v0, t), com v, v0 ∈ R n−1 e t ∈ R+.<br />
• dilatação: f(v, t) = (kv, kt), k > 0.<br />
• rotação: f(v, t) = (A.v, t), em que A ∈ O(R n−1 ).<br />
• inversão: f(x) = x<br />
|x| 2 , em que x = (x1, · · · , xn, t) ∈ R n−1 × R+.<br />
Agora vamos <strong>de</strong>terminar, para cada uma <strong>de</strong>stas isometrias, uma matriz ortogonal que<br />
representa a isometria como um elemento <strong>de</strong> O(n, 1). Para isso, seja f : R n−1 × R+ →<br />
R n−1 × R+ uma <strong>de</strong>stas isometrias, e consi<strong>de</strong>re a aplicação induzida f = φ ◦ f ◦ φ −1 , em que<br />
φ é a isometria 2.8 que relaciona o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n ≡ R n−1 × R+ com o<br />
mo<strong>de</strong>lo projetivo H n<br />
R = P(V−).<br />
φ −1<br />
H n<br />
R<br />
⏐<br />
<br />
R n−1 × R+ −−−→<br />
f<br />
f<br />
n<br />
−−−→ HR <br />
27<br />
⏐<br />
⏐φ<br />
R n−1 × R+
Calculando essa aplicação induzida f no caso em que f é uma translação, uma di-<br />
latação, uma rotação ou a inversão, vemos que f vem <strong>de</strong> uma aplicação linear T : R n,1 → R n,1<br />
cuja matriz na base canônica <strong>de</strong> R n , em cada caso, é a matriz ortogonal A ∈ O(n, 1):<br />
translação: f(v, t) = (v + v0, t), v0 = (v1, · · · , vn−1)<br />
⎡<br />
⇒ At =<br />
⎢<br />
⎣<br />
In−1 −vt 0 vt 0<br />
v0<br />
2 |v0|<br />
− + 1<br />
|v0| 2<br />
v0<br />
−<br />
2<br />
|v0| 2<br />
2<br />
2<br />
|v0| 2<br />
em que In−1 é a matriz i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n − 1. ⎡<br />
dilatação: f(v, t) = (kv, kt), k > 0 ⇒ Ad =<br />
In−1 0<br />
⎢ k<br />
⎢<br />
0<br />
⎣<br />
0<br />
2 + 1<br />
2k<br />
k2 k<br />
0<br />
− 1<br />
2k<br />
2 − 1<br />
2k<br />
k2 ⎤<br />
+ 1<br />
2k<br />
⎥<br />
⎦<br />
rotação: f(v, t) = (M.v, t), M ∈ O(Rn−1 ⎡ ⎤<br />
) ⇒ Ar =<br />
M<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
⎥<br />
0 ⎥<br />
⎦<br />
0 0 1<br />
inversão: f(x) = x<br />
|x| 2 ⇒ Ai<br />
⎡<br />
⎤<br />
=<br />
In−1<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
0<br />
0<br />
−1<br />
0<br />
0<br />
⎥<br />
0 ⎥<br />
⎦<br />
1<br />
Observações:<br />
• <strong>de</strong>t(At) = <strong>de</strong>t(Ad) = <strong>de</strong>t(Ar) = 1 e <strong>de</strong>t(Ai) = −1.<br />
•At, Ad, Ar ∈ SO + (n, 1) e Ai ∈ O + (n, 1).<br />
• Pelo teorema B.7, página 61 <strong>de</strong> [7], o grupo <strong>de</strong> isometrias Isom(H n<br />
R) do espaço<br />
hiperbólico real é gerado por translações, dilatações, rotações e pela inversão. Entretanto,<br />
acabamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que estas aplicações estão em P O(n, 1). Daí, segue que Isom(H n<br />
R) ⊂<br />
P O(n, 1). Como, evi<strong>de</strong>ntemente, P O(n, 1) ⊂ Isom(H n<br />
R), provamos que<br />
Isom(H n<br />
R) = P O(n, 1).<br />
2.7 Uma nova base em R n+1<br />
Em todas as seções anteriores, consi<strong>de</strong>ramos a base canônica E = {e1, · · · , en+1} <strong>de</strong><br />
R n+1 e, eventualmente, representamos as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> um vetor X = (x1, · · · , xn+1) como<br />
28<br />
2<br />
+ 1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ ,
⎡<br />
⎢<br />
uma matriz coluna X = ⎢<br />
⎣<br />
que<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ . Agora vamos consi<strong>de</strong>rar a base E = {e1, · · · , en+1}, em<br />
e1 = 1<br />
√ 2 en − 1<br />
√ 2 en+1, e2 = e1, · · · , en = en−1, en+1 = 1<br />
√ 2 en + 1<br />
√ 2 en+1.<br />
A matriz D mudança <strong>de</strong> base, da base E para a base canônica E, é:<br />
⎡<br />
⎢<br />
D = ⎢<br />
⎣<br />
0<br />
√1 2<br />
In−1<br />
0<br />
0<br />
√2 1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
0 √2 1<br />
e D−1 = Dt ⎡<br />
0<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
⎣<br />
√2 1 − 1<br />
In−1 0<br />
√<br />
2<br />
0<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
0 √2 1<br />
− 1<br />
√ 2<br />
no sentido que D[X]E = X e D−1X = [X]E , em que [X]E e X são matrizes colunas<br />
que representam as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> um vetor X ∈ Rn+1 respectivamente nas bases E e E.<br />
Vamos agora expressar a forma bilinear simétrica 〈X, Y 〉 = x1y1 +· · ·+xnyn −xn+1yn+1<br />
na base E. Para isso, observe primeiramente que, se<br />
<br />
In 0<br />
<br />
In,1 =<br />
0 −1<br />
então 〈X, Y 〉 = X t In,1Y , sendo que X e Y são matrizes colunas iguais às coor<strong>de</strong>nadas<br />
<strong>de</strong> X e Y na base canônica <strong>de</strong> R n+1 . Daí, temos que<br />
〈X, Y 〉 = X t In,1Y = (D[X]E )t In,1(D[Y ]E ) = [X]tE (Dt In,1D)[Y ]E<br />
Por um cálculo direto verifica-se que<br />
Deste modo, se [X]E =<br />
don<strong>de</strong> concluímos que<br />
D t In,1D := In,1 =<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
⎥ ⎢<br />
⎥<br />
⎦ e [Y ]E = ⎢<br />
⎣<br />
0 1<br />
In−1<br />
1 0<br />
⎡ ⎤<br />
y1<br />
.<br />
yn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ .<br />
⎥<br />
⎦ , então<br />
⎡<br />
⎤ ⎡<br />
<br />
〈X, Y 〉 = x1 · · ·<br />
0<br />
⎢<br />
xn+1<br />
⎢<br />
⎣ In−1<br />
1<br />
⎥ ⎢<br />
⎥ ⎢<br />
⎦ ⎣<br />
1 0<br />
y1<br />
.<br />
yn+1<br />
〈X, Y 〉 = x1yn+1 + x2y2 + · · · + xnyn + xn+1y1.<br />
29<br />
⎤<br />
1√ 2<br />
⎥<br />
⎦ ,
2.8 O Grupo Ortogonal<br />
Seja T : R n,1 → R n,1 uma transformação linear ortogonal, isto é,<br />
〈T (X), T (Y )〉 = 〈X, Y 〉 e ∀ X, Y ∈ R n,1 .<br />
Se A é a matriz <strong>de</strong> T na base canônica <strong>de</strong> R n,1 , no teorema 1.3 vimos que T é ortogonal<br />
se, e somente se, A é ortogonal: A t In,1A = In,1. Além disso, representamos por<br />
O(n, 1) = {A ∈ GL(n + 1, R) : A t In,1A = In,1}<br />
o grupo <strong>de</strong> todas as matrizes (n + 1) × (n + 1) ortogonais.<br />
Agora, se A é a matriz <strong>de</strong> T na base E e se [X]E é uma matriz coluna que contém as<br />
coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> um vetor X nessa base, então as coor<strong>de</strong>nadas do vetor T (X) nesta mesma<br />
base são dadas por [T (X)]E = A.[X]E . Além disso, do mesmo modo como foi feito para a<br />
base canônica, po<strong>de</strong>mos provar que T é ortogonal se, e somente se,<br />
A t In,1 A = In,1.<br />
Deste modo, O(n, 1) também po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificado com o grupo <strong>de</strong> matrizes A ∈<br />
GL(n = 1, R) tais que A t In,1 A = In,1. Essas matrizes formam o grupo:<br />
base E.<br />
que:<br />
O(n, 1) = { A ∈ GL(n + 1, R) : A t In,1 A = In,1}.<br />
Estamos i<strong>de</strong>ntificando uma transformação linear T : R n+1 → R n+1 com sua matriz na<br />
Relembrando a matriz <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> base D, da base E para a base E, concluímos<br />
D[T (X)]E = T (X) ⇒ D A[X]E = AX<br />
⇒ D AD−1X = AX<br />
⇒ D AD −1 = A ou A = D −1 AD.<br />
Deste modo, os grupos O(n, 1) e O(n, 1) estão relacionados do seguinte modo:<br />
O(n, 1) = D −1 O(n, 1)D.<br />
30
2.9 O Espaço Hiperbólico: base E<br />
Nesta seção, vamos consi<strong>de</strong>rar a base E <strong>de</strong> Rn+1 . Assim, se um vetor X em Rn+1 ⎡ ⎤<br />
tem<br />
coor<strong>de</strong>nadas [X] =<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎥<br />
⎦ nesta base, então 〈X, X〉 = 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 n. Logo, um<br />
vetor X ∈ R n+1 é negativo se suas coor<strong>de</strong>nadas nessa base forem tais que 2x1xn+1 + x 2 2 +<br />
· · · + x 2 n < 0. Consi<strong>de</strong>rando coor<strong>de</strong>nadas na base E temos:<br />
V− =<br />
<br />
X ∈ R n+1 : [X]E =<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ , 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 <br />
n < 0 .<br />
De qualquer modo, tanto na base canônica, quanto na base E, o espaço hiperbólico<br />
real é <strong>de</strong>finido como H n<br />
R = P(V−).<br />
Compondo a mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nada D, da base E para a base E, com as aplicações<br />
(2.8) e (2.9) obtemos as seguintes isometrias entre o mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n com<br />
H n<br />
R = P(V−), sendo que em V− estamos escrevendo coor<strong>de</strong>nadas na base E.<br />
em que x = (x1, · · · , xn) e<br />
⎡<br />
φ −1<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ =<br />
φ : U n → H n<br />
R = P(V−)<br />
⎡<br />
⎢<br />
φ(x) = ⎢<br />
⎣<br />
−1<br />
√ 2x1<br />
.<br />
√ 2xn−1<br />
|x| 2<br />
⎤<br />
φ −1 : H n<br />
R = P(V−) → U n<br />
<br />
−x2<br />
√ , · · · ,<br />
2x1<br />
−xn<br />
√ ,<br />
2x1<br />
31<br />
<br />
⎥ , (2.10)<br />
⎥<br />
⎦<br />
− 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 n<br />
2x 2 1<br />
<br />
. (2.11)
⎢<br />
Novamente, observe que nesta <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> φ po<strong>de</strong>mos trocar o vetor ⎢<br />
⎣<br />
qualquer múltiplo não nulo, e que a função φ −1 está bem <strong>de</strong>finida pois<br />
⎡<br />
φ −1<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
= φ−1<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
λx1<br />
.<br />
λxn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ .<br />
⎡<br />
−1<br />
√ 2x1<br />
.<br />
√ 2xn−1<br />
|x| 2<br />
⎤<br />
⎥ por<br />
⎥<br />
⎦<br />
2.10 Translação, dilatação, rotação e inversão: base E<br />
Na seção 2.6 vimos matrizes ortogonais na base canônica <strong>de</strong> R n+1 que induzem translações,<br />
dilatações, rotações e a aplicação inversão, isometrias do semi-espaço superior U n . Como<br />
estas matrizes pertencem ao grupo O(n, 1), e como<br />
O(n, 1) = D −1 O(n, 1)D<br />
po<strong>de</strong>mos escrever essas matrizes na base E. Conjugando cada uma das matrizes da<br />
seção 2.6 com D, obtemos matrizes ortogonais em O(n, 1), matrizes <strong>de</strong> transformações<br />
lineares ortogonais <strong>de</strong> R n+1 na base E, que induzem translações, dilatações, rotações e a<br />
aplicação inversão, isometrias do semi-espaço superior U n :<br />
translação: f(v, t) = (v + v0, t), v0 = (v1, · · · , vn−1)<br />
⇒ ⎡<br />
1<br />
⎢<br />
At = ⎢<br />
⎣ −<br />
0 0<br />
√ 2vt 0<br />
−|v0|<br />
In−1 0<br />
2 √ ⎤<br />
2v0<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
dilatação: f(v, t) = (kv, kt), k > 0 ⇒ ⎡ 1 ⎤<br />
0 0<br />
⎢ k ⎥<br />
Ad = ⎢<br />
⎥<br />
⎣ 0 In−1 0 ⎦<br />
E<br />
0 0 k<br />
rotação: f(v, t) = (M.v, t), M ∈ O(R n−1 ) ⇒ Ar = D −1 ArD, em que Ar =<br />
32<br />
E<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
M 0 0<br />
0 1 0<br />
0 0 1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦
inversão: f(x) = x<br />
|x| 2 ⇒ Ai<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
⎣<br />
⎡<br />
0 0 −1<br />
0 In−1 0<br />
−1 0 0<br />
33<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
E<br />
.
Capítulo 3<br />
A Fronteira<br />
Neste capítulo, vamos estudar a fronteira do espaço hiperbólico real.<br />
No mo<strong>de</strong>lo projetivo, o espaço hiperbólico real é H n<br />
R = P(V−) e sua fronteira é dada<br />
por ∂H n<br />
R = P(V0).<br />
No mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior U n = {(x1, · · · , xn) ∈ R n : xn > 0}, a fronteira é<br />
dada por<br />
∂U n = {(x1, · · · , xn) ∈ R n : xn = 0} ∪ {p∞},<br />
sendo p∞ um ponto i<strong>de</strong>al. As aplicações 2.8, 2.9, 2.10 e 2.11 po<strong>de</strong>m ser estendidas até a<br />
fronteira.<br />
ou seja,<br />
Vamos consi<strong>de</strong>rar a base canônica <strong>de</strong> R n+1 , munida da forma bilinear simétrica (1.1),<br />
〈X, Y 〉 = x1y1 + x2y2 + · · · + xnyn − xn+1yn+1,<br />
em que X = (x1, · · · , xn, xn+1) e Y = (y1, · · · , yn, yn+1) são vetores <strong>de</strong> R n+1 . Assim, os<br />
vetores negativos e os vetores nulos em R n+1 são aqueles cujas coor<strong>de</strong>nadas nesta base são<br />
tais que:<br />
e<br />
temos<br />
V− = {X ∈ R n+1 : x 2 1 + · · · + x 2 n − x 2 n+1 < 0}<br />
V0 = {X ∈ R n+1 : x 2 1 + · · · + x 2 n − x 2 n+1 = 0}.<br />
Observe que, consi<strong>de</strong>rando coor<strong>de</strong>nadas dos vetores em V0 na base canônica <strong>de</strong> R n+1 ,<br />
34
e<br />
⎡<br />
φ −1<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ =<br />
φ : ∂U n → ∂H n<br />
R = P(V0)<br />
⎡<br />
2x1<br />
⎢ .<br />
⎢<br />
φ(x1, · · · , xn−1, 0) = ⎢ 2xn−1 ⎢<br />
⎣ |x| 2 − 1<br />
|x| 2 ⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢ . ⎥<br />
⎢ ⎥<br />
e φ(p∞) = ⎢ 0 ⎥<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
⎣ 1<br />
⎥<br />
⎦<br />
+ 1<br />
1<br />
<br />
x1<br />
xn+1 − xn<br />
φ −1 : ∂H n<br />
R = P(V0) → ∂U n<br />
, · · · ,<br />
xn−1<br />
xn+1 − xn<br />
<br />
, 0<br />
se xn+1 = xn e φ −1<br />
(3.1)<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢ . ⎥<br />
⎢ ⎥<br />
⎢ 0 ⎥ = p∞. (3.2)<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
⎣ 1<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
Como um caso particular, consi<strong>de</strong>re n = 3. Po<strong>de</strong>mos representar semi-espaço superior<br />
U 3 como o produto cartesiano C × R+, em que i<strong>de</strong>ntificamos (x, y, t) ∈ U 3 com (x + iy, t) ∈<br />
C × R+. Daí, vemos que ∂U 3 fica i<strong>de</strong>ntificado com o plano complexo estendido C. Após essa<br />
i<strong>de</strong>ntificação po<strong>de</strong>mos reescrever as aplicações (3.1) e (3.2) do seguinte modo:<br />
e<br />
φ(z) =<br />
φ : C → ∂H 3 R = P(V0)<br />
⎡<br />
2Re(z)<br />
⎢<br />
2Im(z)<br />
⎢<br />
⎣|z|<br />
2 − 1<br />
|z| 2 ⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
+ 1<br />
e φ(p∞) =<br />
φ −1 : ∂H 3 R = P(V0) → C<br />
35<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣1<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
(3.3)
⎡<br />
φ −1<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
x2<br />
x3<br />
x4<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ = x1 + ix2<br />
x4 − x3<br />
se x4 = x3 e φ −1<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣1<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
= p∞ . (3.4)<br />
Consi<strong>de</strong>re agora a base E <strong>de</strong> R n+1 , <strong>de</strong> modo que a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> assinatura<br />
(n, 1) em R n+1 se expressa como:<br />
sendo<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
〈X, X〉 = 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 n,<br />
⎥<br />
⎦ as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> X na base E. Assim, os vetores negativos e os vetores<br />
nulos em R n+1 são aqueles cujas coor<strong>de</strong>nadas nesta base são tais que:<br />
e<br />
V− =<br />
V0 =<br />
<br />
X ∈ R n+1 : [X]E =<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
<br />
X ∈ R n+1 : [X]E =<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ , 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 <br />
n < 0<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ , 2x1xn+1 + x 2 2 + · · · + x 2 <br />
n = 0 .<br />
Consi<strong>de</strong>rando coor<strong>de</strong>nadas dos vetores em V0 na base E, temos<br />
e<br />
φ : ∂U n → ∂H n<br />
R = P(V0)<br />
⎡<br />
−1<br />
⎢ √<br />
⎢ 2x1<br />
⎢<br />
φ(x1, · · · , xn−1, 0) = ⎢ .<br />
⎢ √<br />
⎣ 2xn−1<br />
x2 1 + · · · + x2 ⎤<br />
⎡ ⎤<br />
⎥<br />
0<br />
⎥<br />
⎢ ⎥<br />
⎥<br />
⎢ ⎥<br />
⎥<br />
⎢ . ⎥<br />
⎥ e φ(p∞) = ⎢ ⎥<br />
⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎣ 0 ⎥<br />
⎦<br />
⎦<br />
1<br />
n−1<br />
φ −1 : ∂H n<br />
R = P(V0) → ∂U n<br />
36<br />
(3.5)
e<br />
⎡<br />
φ −1<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
.<br />
xn+1<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ =<br />
<br />
−x2<br />
√ , · · · ,<br />
2x1<br />
−xn<br />
<br />
√ , 0<br />
2x1<br />
se x1 = 0 e φ −1<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢ ⎥<br />
⎢ . ⎥<br />
⎢ ⎥ = p∞. (3.6)<br />
⎢<br />
⎣ 0 ⎥<br />
⎦<br />
1<br />
No caso particular n = 3, po<strong>de</strong>mos reescrever as aplicações (3.5) e (3.6) como:<br />
Observação:<br />
⎡<br />
φ −1<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
x2<br />
x3<br />
x4<br />
φ(z) =<br />
⎤<br />
φ : C → ∂H 3 R = P(V0)<br />
⎡ ⎤<br />
−1<br />
⎢√<br />
⎥<br />
⎢<br />
2 Re(z) ⎥<br />
⎢√<br />
⎥<br />
⎣ 2 Im(z)<br />
⎥<br />
⎦<br />
|z| 2<br />
⎥<br />
⎦ = −x2 + ix3<br />
√<br />
2 x1<br />
e φ(p∞) =<br />
φ −1 : ∂H 3 R = P(V0) → C<br />
se x1 = 0 e φ −1<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣0<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
(3.7)<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣0<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
= p∞ . (3.8)<br />
• Da observação da página 28 vemos que cada transformação <strong>de</strong> Möbius g : C → C<br />
g(z) =<br />
az + b<br />
cz + d<br />
a, b, c, d ∈ C com ad − bc = 0, g(∞) = a<br />
c<br />
que age na fronteira ∂H3 R , i<strong>de</strong>ntificada como o plano complexo estendido C, se esten<strong>de</strong><br />
a uma única isometria do semi-espaço superior C × R+, dada por:<br />
g(z, t) =<br />
<br />
(az + b)(cz + d) + act 2<br />
|cz + d| 2 + |c| 2 t 2<br />
,<br />
t<br />
|cz + d| 2 + |c| 2t2 <br />
• Representando por PSL(2, C) o grupo <strong>de</strong> todas as transformações <strong>de</strong> Möbius g(z) =<br />
az + b<br />
po<strong>de</strong>mos dizer então que<br />
cz + d<br />
PSL(2, C) ⊂ Isom(H 3 R).<br />
37
Capítulo 4<br />
Formas quadráticas em R n e o<br />
Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt<br />
Neste capítulo apresentaremos alguns resultados relacionados ao estudo <strong>de</strong> formas<br />
quadráticas <strong>de</strong>finidas em R n . Apesar <strong>de</strong>, nos próximos capítulos, consi<strong>de</strong>rarmos apenas<br />
a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> assinatura (n, 1) <strong>de</strong>finida em R n+1 , trataremos agora <strong>de</strong> qual-<br />
quer forma quadrática em R n . Esta escolha se <strong>de</strong>ve ao fato das <strong>de</strong>monstrações dos resultados<br />
selecionados não se alteram quando se consi<strong>de</strong>ra uma forma quadrática particular.<br />
No final do capítulo <strong>de</strong>monstraremos o Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt, que é a principal<br />
ferramenta no estudo da classificação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> pontos na fronteira do espaço<br />
hiperbólico real.<br />
Os conceitos e os teoremas <strong>de</strong>ste capítulo po<strong>de</strong>m ser encontrados no capítulo 1 do livro <strong>de</strong><br />
Birger Iversen [11] e no capítulo 11 do livro <strong>de</strong> Steven Roman [12].<br />
4.1 Formas quadráticas em R n<br />
Definição 4.1. Uma forma quadrática em R n é uma função q : R n → R que satisfaz as<br />
seguintes condições:<br />
• q(λ x) = λ 2 q(x) para todo x ∈ R n e todo λ ∈ R, e<br />
• a expressão<br />
〈x, y〉 = 1<br />
<br />
<br />
q(x + y) − q(x) − q(y) , x, y ∈ R<br />
2<br />
n<br />
38<br />
(4.1)
é uma forma bilinear simétrica em R n .<br />
A expressão (4.1) é chamada <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> polarização. Ela dá uma correspondência<br />
biunívoca entre as formas quadráticas e as formas bilineares simétricas <strong>de</strong>finidas em R n .<br />
Observe também que q(x) = 〈x, x〉. Durante todo este capítulo ao ser dada uma forma<br />
quadrática q em R n , consi<strong>de</strong>raremos, intrinsicamente, a forma bilinear simétrica 〈·, ·〉 <strong>de</strong>finida<br />
por q em R n .<br />
Exemplo: Em R n+1 consi<strong>de</strong>re a forma quadrática q(x) = x 2 1 + x 2 2 + · · · + x 2 n − x 2 n+1. Pela<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> polarização vemos que esta forma quadrática <strong>de</strong>fine a seguinte forma bilinear<br />
simétrica em R n+1 :<br />
〈x, y〉 = x1y1 + x2y2 + · · · + xnyn − xn+1yn+1 .<br />
Definição 4.2. Consi<strong>de</strong>re uma forma quadrática q em R n , com sua correspon<strong>de</strong>nte forma<br />
bilinear simétrica. Dois vetores x, y ∈ R n são ortogonais se 〈x, y〉 = 0. Dois subespaços V<br />
e W <strong>de</strong> R n são ortogonais se todo vetor <strong>de</strong> V é ortogonal a todo vetor <strong>de</strong> W . Dado um<br />
subespaço V <strong>de</strong> R n , o complemento ortogonal V ⊥ <strong>de</strong> V é:<br />
e o radical <strong>de</strong> V é:<br />
V ⊥ = {x ∈ R n | 〈x, v〉 = 0 ∀ v ∈ V } .<br />
Rad(V ) = V ∩ V ⊥ = {x ∈ V | 〈x, v〉 = 0 ∀ v ∈ V } .<br />
Observe que V e V ⊥ são sempre dois subespaços ortogonais <strong>de</strong> R n , e que Rad(V ) só contém<br />
vetores isotrópicos, isto é, só contém vetores v tais que 〈v, v〉 = 0. Aproveitamos para<br />
observar que, como o vetor nulo 0 é tal que 〈0,0〉 = 0, o termo isotrópico se refere a vetores<br />
v = 0 tais que 〈v, v〉 = 0.<br />
Definição 4.3. Uma forma quadrática q em R n é não-<strong>de</strong>generada se a sua correspon<strong>de</strong>nte<br />
forma bilinear simétrica satisfaz: se v ∈ R n é tal que 〈v, x〉 = 0 para todo x ∈ R n , então<br />
temos que v = 0. Observe que dizer que q é não-<strong>de</strong>generada é equivalente a dizer que<br />
Rad(R n ) = (R n ) ⊥ = {0 }.<br />
39
Definição 4.4. Seja q uma forma quadrática em R n e seja V um subespaço <strong>de</strong> R n . A<br />
restrição <strong>de</strong> q ao subespaço V naturalmente <strong>de</strong>fine uma forma quadrática em V . Deste<br />
modo, dizemos que V é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n se a restrição <strong>de</strong> q à V é<br />
uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em V . Isto é, se v ∈ V é tal que 〈v, x〉 = 0 para todo<br />
x ∈ V , então temos que v = 0. Observe que isto é equivalente a Rad(V ) = {0 }.<br />
Proposição 4.1. Seja q uma forma quadrática em R n e sejam v1, v2, . . . , vk vetores em R n .<br />
Seja G = (gij), gij = 〈vi, vj〉, a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1, . . . , vk na forma bilinear<br />
simétrica <strong>de</strong>finida por q em R n . Então:<br />
(a) Se v1, . . . , vk são vetores linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, então G é uma matriz singular<br />
(não-invertível).<br />
(b) Suponhamos que os vetores v1, . . . , vk gerem um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n .<br />
Neste caso, se G é singular, então v1, . . . , vk são vetores linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Demonstração. (a) Suponhamos que {v1, v2, . . . , vk} seja um conjunto linearmente <strong>de</strong>pen-<br />
<strong>de</strong>nte. Então existe um vetor não-nulo x = (x1, . . . , xk) ∈ R k tal que x1v1+· · ·+xkvk =<br />
0. A i-ésima componente do vetor Gx é dada por<br />
(Gx)i =<br />
k<br />
j=1<br />
gijxj =<br />
k<br />
<br />
〈vi, vj〉xj = vi,<br />
j=1<br />
k<br />
j=1<br />
xjvj<br />
<br />
= 〈vi,0〉 = 0 . (4.2)<br />
Como i é arbitrário, concluímos que o vetor Gx tem todas as componentes nulas. Assim<br />
Gx = 0 e x não é o vetor nulo. Isto implica que G é uma matriz singular, ou seja, G<br />
não tem inversa.<br />
(b) Seja V o espaço gerado pelos vetores v1, . . . , vk. Por hipótese temos que V é não-<br />
<strong>de</strong>generado, isto é, Rad(V ) = {0 }. Agora suponhamos que a matriz <strong>de</strong> Gram G dos<br />
vetores v1, . . . , vk seja uma matriz singular. Isto implica que existe um vetor não-nulo<br />
x = (x1, . . . , xk) em R k tal que Gx = 0 e, portanto, x t Gx = 0. Mas,<br />
x t Gx =<br />
k<br />
i,j=1<br />
gijxixj =<br />
k<br />
〈vi, vj〉xixj =<br />
i,j=1<br />
40<br />
k<br />
<br />
k<br />
〈xivi, xjvj〉 =<br />
i,j=1<br />
j=1<br />
xjvj ,<br />
k<br />
j=1<br />
xjvj<br />
<br />
= 0 .
Portanto concluímos que o vetor v =<br />
k<br />
xjvj é um vetor isotrópico contido em V . Por<br />
j=1<br />
outro lado, como Gx = 0, todas as componentes <strong>de</strong>ste vetor são iguais ao número zero.<br />
Mas, da equação (4.2), temos que a i-ésima componente do vetor Gx é igual a<br />
<br />
k<br />
<br />
0 = (Gx)i = vi, = 〈vi, v〉.<br />
j=1<br />
Assim, concluímos que 〈vi, v〉 = 0 para todo i = 1, 2, . . . , k. Como V = span{v1, . . . , vk},<br />
isto implica que 〈w, v〉 = 0 para todo w ∈ V . Logo v ∈ Rad(V ) = {0 }, e isso implica<br />
k<br />
que v = 0. Assim, v = xjvj = 0, don<strong>de</strong> concluímos que os vetores v1, . . . , vk são<br />
j=1<br />
xjvj<br />
linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes pois x = (x1, . . . , xk) não é o vetor nulo.<br />
Observação: A conclusão da parte (b) da proposição anterior po<strong>de</strong> ser falsa se V =<br />
span{v1, . . . , vk} for um subespaço <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . De fato, consi<strong>de</strong>re a forma<br />
bilinear simétrica não-<strong>de</strong>generada em R 3 dada por 〈x, y〉 = x1y1+x2y2−x3y3. Se v1 = (1, 0, 0)<br />
e v2 = (0, 1, 1) então esses vetores são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, mas possuem como matriz<br />
<strong>de</strong> Gram, a seguinte matriz singular<br />
G =<br />
<br />
1 0<br />
.<br />
0 0<br />
Observe que isso não contradiz a proposição anterior pois o espaço V = span{v1, v2} é<br />
<strong>de</strong>generado: v2 ∈ Rad(V ).<br />
Exemplo: Seja q uma forma quadrática em R n e seja V = {0 } um subespaço <strong>de</strong> R n . Se V<br />
só contém vetores isotrópicos, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> polarização implica que 〈x, y〉 = 0 para todo<br />
x e y <strong>de</strong> V . Daí vemos que Rad(V ) = V e que V é um subespaço <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Daí<br />
concluímos que se V = {0 } é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n , então V <strong>de</strong>ve conter<br />
algum vetor não-isotrópico.<br />
Teorema 4.1. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n . Para todo subespaço<br />
V <strong>de</strong> R n temos:<br />
dim(V ) + dim(V ⊥ ) = n.<br />
41
Demonstração. Lembre-se que se (R n ) ∗ <strong>de</strong>nota o espaço dual <strong>de</strong> R n , espaço dos funcionais<br />
lineares T : R n → R, então (R n ) ∗ e R n são isomorfos e, em particular, dim (R n ) ∗ = dim(R n ).<br />
Vamos consi<strong>de</strong>rar agora a seguinte transformação linear<br />
f : R n → (R n ) ∗<br />
dada por f(x) = 〈·, x〉 sendo f(x) : R n → R o funcional linear <strong>de</strong>finido por f(x) · v = 〈v, x〉.<br />
Utilizando o fato da forma quadrática q ser não-<strong>de</strong>generada é fácil provar que f é injetiva.<br />
Como dim (R n ) ∗ = dim(R n ), po<strong>de</strong>mos concluír daí então que f também é sobrejetiva. Assim,<br />
<strong>de</strong>monstramos que, <strong>de</strong> fato, f é um isomorfismo.<br />
Se i : V → R n representa a inclusão, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a transformação linear induzida<br />
i ∗ : (R n ) ∗ → V ∗ por i ∗ (T ) = T ◦ i, sendo T : R n → R um funcional linear contido em (R n ) ∗ .<br />
Afirmamos que i ∗ é sobrejetiva. Para ver isso, consi<strong>de</strong>re uma base B = {e1, . . . , en} <strong>de</strong> R n<br />
tal que os primeiros k vetores {e1, . . . , ek} seja uma base <strong>de</strong> V . Se T ∈ V ∗ , <strong>de</strong>fina A ∈ (R n ) ∗<br />
através dos seguintes valores na base B:<br />
A(ei) = T (ei), i = 1, 2, . . . , k e A(ej) = 0, j = k + 1, k + 2, . . . , n .<br />
Temos que i ∗ (A) · ei = A ◦ i(ei) = A(ei) = T (ei) para i = 1, 2, . . . , k. Logo i ∗ (A) = T . Isto<br />
<strong>de</strong>monstra que, <strong>de</strong> fato, i ∗ é sobrejetiva.<br />
Vamos agora consi<strong>de</strong>rar a composição<br />
i ∗ ◦ f : R n → V ∗<br />
Pelo Teorema do Núcleo e da Imagem temos que<br />
dim(R n ) = dim ker(i ∗ ◦ f) + dim Im(i ∗ ◦ f) .<br />
Mas Im(i ∗ ◦f) = V ∗ pois f e i ∗ são sobrejetivas. E, como é facilmente verificado, ker(i ∗ ◦f) =<br />
V ⊥ . Assim, concluímos que<br />
dim(R n ) = dim(V ⊥ ) + dim(V ) .<br />
42
Teorema 4.2. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n e seja V um subespaço<br />
<strong>de</strong> R n . Então V ⊥ ⊥ = V.<br />
Demonstração. Por <strong>de</strong>finição temos que<br />
V ⊥ = {w ∈ R n | 〈w, v〉 = 0 ∀ v ∈ V } .<br />
V ⊥ ⊥ = {x ∈ R n | 〈w, x〉 = 0 ∀ w ∈ V ⊥ } .<br />
Se v ∈ V então 〈w, v〉 = 0 para todo w ∈ V ⊥ . Isto implica que v ∈ V ⊥ ⊥ e que V ⊂ V ⊥ ⊥ .<br />
Mas, do teorema anterior, temos que<br />
dim V + dim V ⊥ = n e dim V ⊥ + dim V ⊥ ⊥ = n .<br />
Daí temos que dim V = dim V ⊥ ⊥ . Desta igualda<strong>de</strong> e do fato que V ⊂ V ⊥ ⊥ , po<strong>de</strong>mos<br />
concluir que V = V ⊥ ⊥ .<br />
Definição 4.5. Seja q uma forma quadrática em R n e sejam V e W subespaços <strong>de</strong> R n .<br />
Dizemos que R n é a soma direta ortogonal <strong>de</strong> V e W se R n = V ⊕ W e se V e W são<br />
subespaços ortogonais <strong>de</strong> R n . Se este é o caso, escrevemos R n = V ○⊥ W .<br />
Proposição 4.2. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n e seja V um subespaço<br />
<strong>de</strong> R n . As seguintes afirmações são equivalentes:<br />
(1) V é não-<strong>de</strong>generado.<br />
(2) V ⊥ é não-<strong>de</strong>generado.<br />
(3) V ∩ V ⊥ = {0 }.<br />
(4) R n = V + V ⊥ .<br />
(5) R n = V ○⊥ V ⊥ .<br />
43
Demonstração. Como um subespaço W <strong>de</strong> R n é não-<strong>de</strong>generado se, e somente se, W ∩W ⊥ =<br />
{0 }, e como V ⊥ ⊥ = V , vemos que as afirmações (1), (2) e (3) são equivalentes. Agora,<br />
lembre-se <strong>de</strong> que para quaisquer subespaços W1 e W2 <strong>de</strong> R n temos:<br />
Logo<br />
dim(W1 + W2) = dim(W1) + dim(W2) − dim(W1 ∩ W2).<br />
dim(V + V ⊥ ) = dim(V ) + dim(V ⊥ ) − dim(V ∩ V ⊥ )<br />
Como dim(V ) + dim(V ⊥ ) = n vemos então que:<br />
dim(V + V ⊥ ) = n − dim(V ∩ V ⊥ ).<br />
Esta igualda<strong>de</strong> implica que a equivalência entre (3) e (4). Da equivalência entre (3) e (4), e<br />
do fato <strong>de</strong> V e V ⊥ serem dois subespaços ortogonais <strong>de</strong> R n , po<strong>de</strong>mos concluir a equivalência<br />
entre (4) e (5).<br />
4.2 Teoremas <strong>de</strong> Witt<br />
Definição 4.6. Seja q uma forma quadrática em R n . Dizemos que uma transformação<br />
linear T : R n → R n é uma isometria <strong>de</strong> R n se T for um isomorfismo linear (injetivo e<br />
sobrejetivo) e se T preservar o forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida por q, isto é, se<br />
〈T (x), T (y)〉 = 〈x, y〉 ∀ x, y ∈ R n .<br />
O conjunto <strong>de</strong> todas as isometrias <strong>de</strong> R n <strong>de</strong>fine um grupo que será representado por O(R n , q).<br />
Analogamente, se V e W são subespaços <strong>de</strong> R n , uma transformação linear T : V → W é<br />
uma isometria entre V e W se T for um isomorfismo linear (injetivo e sobrejetivo) <strong>de</strong> V<br />
sobre W , e se T preservar o forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida por q em V , isto é, se<br />
〈T (x), T (y)〉 = 〈x, y〉 ∀ x, y ∈ V .<br />
Quando existe uma isometria entre dois subespaços V e W <strong>de</strong> R n dizemos que V e W são<br />
isomorfos e escrevemos V ≈ W .<br />
44
Exemplo: Em R n+1 consi<strong>de</strong>re a forma quadrática q(x) = x 2 1 + x 2 2 + · · · + x 2 n − x 2 n+1, que<br />
<strong>de</strong>fine a seguinte forma bilinear simétrica em R n+1<br />
〈x, y〉 = x1y1 + x2y2 + · · · + xnyn − xn+1yn+1 .<br />
Neste caso, o grupo O(R n+1 , q) é exatamente o grupo O(n, 1) <strong>de</strong>finido no capítulo 1.<br />
Definição 4.7. Seja q uma forma quadrática em R n e seja v ∈ R n um vetor não-isotrópico,<br />
isto é, v é tal que q(v) = 〈v, v〉 = 0. A reflexão ao redor <strong>de</strong> v é a seguinte isometria iv <strong>de</strong><br />
R n<br />
〈x, v〉<br />
iv(x) = x − 2 v .<br />
〈v, v〉<br />
Efetuando alguns cálculos simples verifica-se que iv ∈ O(R n , q), que iv tem or<strong>de</strong>m dois e que<br />
iv(v) = −v.<br />
Na <strong>de</strong>monstração do Teorema do Cancelamento <strong>de</strong> Witt, além do conceito <strong>de</strong> involução,<br />
utilizaremos a seguite proposição.<br />
Proposição 4.3. Seja q uma forma quadrática em R n e seja k um número real tal que k = 0.<br />
O grupo O(R n , q) age transitivamente no conjunto<br />
{ x ∈ R n | q(x) = k } .<br />
Demonstração. Sejam x e y vetores em R n tais que q(x) = q(y) = k = 0. Queremos mostrar<br />
que existe uma isometria <strong>de</strong> R n que manda x em y. Para isso, observe primeiramente que<br />
〈x − y, x + y〉 = 〈x, x〉 − 〈y, y〉 = 0 .<br />
Isto implica que q(x − y) = 0 ou que q(x + y) = 0 pois, caso contrário, se q(x − y) = 0 e se<br />
q(x + y) = 0 teríamos que q(x) = 0 pois x = 1<br />
[(x − y) + (x + y)].<br />
2<br />
Se x − y é não-isotrópico, a reflexão ix−y é tal que<br />
ix−y(x − y) = −x + y e ix−y(x + y) = x + y .<br />
Somando essa duas expressões temos que ix−y(x) = y, como queríamos <strong>de</strong>monstrar.<br />
Se x + y é não-isotrópico, a reflexão ix+y é tal que<br />
ix+y(x + y) = −x − y e ix+y(x − y) = x − y .<br />
45
Somando essa duas expressões temos que ix+y(x) = −y. Consi<strong>de</strong>rando, neste caso, a isome-<br />
tria T (x) = −x <strong>de</strong> R n , vemos que a composição T ◦ ix+y leva x em y, como queríamos<br />
<strong>de</strong>monstrar.<br />
Teorema 4.3 (do cancelamento <strong>de</strong> Witt). Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em<br />
R n , e sejam V e W dois subespaços não-<strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R n . Sabemos que<br />
Se V ≈ W então V ⊥ ≈ W ⊥ .<br />
R n = V ○⊥ V ⊥ = W ○⊥ W ⊥ .<br />
Demonstração. Seja σ : V → W uma isometria <strong>de</strong> V sobre W . Demonstraremos o teorema<br />
por indução finita sobre dim(V ).<br />
Em primeiro lugar, suponhamos que dim(V ) = 1, e que V = span{v0}. Logo temos<br />
que W = span{σ(v0)}. Como V é não-<strong>de</strong>generado temos que 〈v0, v0〉 = 〈σ(v0), σ(v0)〉 = 0.<br />
Aplicando a proposição anterior, vemos que existe uma isometria f <strong>de</strong> R n tal que f(v0) =<br />
σ(v0). Assim, f é uma isometria <strong>de</strong> R n tal que f(V ) = W e f(v) = σ(v) para todo v ∈ V .<br />
Isto implica que<br />
x ∈ V ⊥ ⇔ 〈x, v〉 = 0 ∀ v ∈ V ⇔ 〈f(x), f(v)〉 = 0 ∀ v ∈ V ⇔<br />
⇔ 〈f(x), σ(v)〉 = 0 ∀ v ∈ V ⇔ f(x) ∈ W ⊥<br />
Assim, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a restrição f |V ⊥ : V ⊥ → W ⊥ , que é uma isometria procurada <strong>de</strong> V ⊥<br />
sobre W ⊥ .<br />
Suponhamos agora, como nossa hipótese da indução, que o teorema seja verda<strong>de</strong>iro<br />
sempre que dim(V ) ≤ k, sendo k um número fixado no conjunto {1, 2, . . . , n − 1}. Seja<br />
V um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n tal que dim(V ) = k + 1 e seja σ : V → W uma<br />
isometria. Visto que V é não-<strong>de</strong>generado, como observado no exemplo da página 41, é fácil<br />
ver que existe um vetor não-isotrópico v0 ∈ V . Assim, aplicando a proposição 4.2, po<strong>de</strong>mos<br />
escrever<br />
V = span{v0} ○⊥ V1<br />
46
on<strong>de</strong> V1 também é um subespaço não <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Do mesmo modo, também po<strong>de</strong>mos<br />
escrever<br />
W = span{σ(v0)} ○⊥ σ(V1)<br />
on<strong>de</strong> σ(V1) é um subespaço não <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Deste modo temos que<br />
R n = V ○⊥ V ⊥ ⇒ R n = span{v0} ○⊥ V1 ○⊥ V ⊥ .<br />
R n = W ○⊥ W ⊥ ⇒ R n = span{σ(v0)} ○⊥ σ(V1) ○⊥ W ⊥ .<br />
Aplicando o Teorema do Cancelando <strong>de</strong> Witt para o caso 1-dimensional (que acabamos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>monstrar), po<strong>de</strong>mos concluir que existe uma isometria f : V1 ○⊥ V ⊥ → σ(V1) ○⊥ W ⊥ .<br />
Como f(V1 ○⊥ V ⊥ ) = f(V1) ○⊥ f(V ⊥ ) e como f é sobrejetora, concluímos que<br />
f(V1) ○⊥ f(V ⊥ ) = σ(V1) ○⊥ W ⊥ .<br />
Como f(V1) ≈ σ(V1) e como dim(f(V1)) = dim(V1) = dim(V )−1 = k, a hipótese da indução<br />
implica que f(V ⊥ ) ≈ W ⊥ . Agora, como evi<strong>de</strong>ntemente f(V ⊥ ) ≈ V ⊥ , por transitivida<strong>de</strong><br />
concluímos finalmente que V ⊥ ≈ W ⊥ .<br />
Para a <strong>de</strong>monstração do Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt, além do Teorema <strong>de</strong> Cancelamento,<br />
precisaremos do seguinte lema.<br />
Lema 4.1. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n e seja V um subespaço<br />
<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Se v0 ∈ V ∩ V ⊥ é um vetor não-nulo e se R é o complemento linear <strong>de</strong><br />
span{v0} em V , no sentido que V = span{v0} ⊕ R, então existe um vetor u ∈ R n tal que:<br />
• u é isotrópico.<br />
• u é ortogonal a R, isto é, 〈u, r〉 = 0 para todo r ∈ R.<br />
• 〈v0, u〉 = 1.<br />
• u /∈ V .<br />
47
Demonstração. Observe que sendo V <strong>de</strong>generado, temos que V ∩V ⊥ = {0 } e que todo vetor<br />
v0 ∈ V ∩ V ⊥ é um vetor isotrópico. Além disso, se R é o complemento linear <strong>de</strong> span{v0}<br />
em V , no sentido que V = span{v0} ⊕ R, então R ⊂ V e v0 é ortogonal a R.<br />
Para começar, observe que existe T ∈ (R n ) ∗ tal que T (v0) = 1 e T (R) = 0. Utilizando o<br />
isomorfismo linear f : R n → (R n ) ∗ dado por f(x) · v = 〈v, x〉, <strong>de</strong>finido na <strong>de</strong>monstração do<br />
teorema 4.1, vemos que existe um vetor b ∈ R n tal que T (v) = 〈b, v〉 para todo v ∈ R n .<br />
Deste modo, para todo r ∈ R, temos que<br />
〈b, r〉 = T (r) = 0 e 〈b, v0〉 = T (v0) = 1 .<br />
Consi<strong>de</strong>re agora o vetor u = b− 1<br />
2 〈b, b〉 v0. Vamos provar que esse vetor possui as proprieda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>sejadas.<br />
• u é isotrópico, pois v0 é isotrópico, 〈b, v0〉 = 1 e<br />
〈u, u〉 =<br />
<br />
b − 1<br />
2 〈b, b〉 v0 , b − 1<br />
<br />
〈b, b〉 v0<br />
2<br />
= 〈b, b〉 − 〈b, b〉 + 1<br />
4 〈b, b〉2 〈v0, v0〉 = 0.<br />
• u é ortogonal a R pois, para todo r ∈ R, temos que 〈v0, r〉 = 0 e<br />
〈u, r〉 =<br />
<br />
b − 1<br />
2 〈b, b〉 v0<br />
<br />
, r = 〈b, r〉 − 1<br />
2 〈b, b〉〈v0, r〉 = 0.<br />
• 〈v0, u〉 =<br />
<br />
v0 , b − 1<br />
<br />
〈b, b〉 v0<br />
2<br />
• u /∈ V pois v0 é ortogonal a V e 〈v0, u〉 = 1 = 0.<br />
= 〈v0, b〉 − 1<br />
2 〈b, b〉〈v0, v0〉 = 〈v0, b〉 = 1.<br />
Teorema 4.4 (<strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> Witt). Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n<br />
e seja σ : V → W uma isometria entre dois subespaços <strong>de</strong> R n . Então σ po<strong>de</strong> ser estendida<br />
a uma isometria σ : R n → R n <strong>de</strong>finida em todo o espaço R n , σ(x) = σ(x) para todo x ∈ V .<br />
Demonstração. Primeiramente vamos consi<strong>de</strong>rar o caso em que V é um subespaço não-<br />
<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Neste caso, σ(V ) = W também é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n<br />
e<br />
48
R n = V ○⊥ V ⊥ = W ○⊥ W ⊥ .<br />
Como V ≈ W , o Teorema do Cancelamento <strong>de</strong> Witt implica que V ⊥ ≈ W ⊥ . Seja f : V ⊥ →<br />
W ⊥ uma isometria. Defina σ : V ○⊥ V ⊥ → W ○⊥ W ⊥ por σ(x ⊕ y) = σ(x) ⊕ f(y), para todo<br />
x ∈ V e todo y ∈ V ⊥ . Desta <strong>de</strong>finição, é fácil provar que σ é uma isometria do espaço R n tal<br />
que σ| V = σ. Isto termina a <strong>de</strong>monstração do teorema no caso em que V é não-<strong>de</strong>generado.<br />
Vamos consi<strong>de</strong>rar agora o caso em que V é um subespaço <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Então seja<br />
σ : V → W uma isometria entre dois subespaços <strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R n . Como V é <strong>de</strong>generado,<br />
existe um vetor não-nulo v0 ∈ V ∩ V ⊥ . Se R é o complemento linear <strong>de</strong> span{v0} em V , no<br />
sentido que V = span{v0} ⊕ R, o lema anterior garante que existe um vetor u ∈ R n tal que:<br />
u é isotrópico, u é ortogonal a R, 〈v0, u〉 = 1 e u /∈ V .<br />
Consi<strong>de</strong>re agora o subespaço <strong>de</strong>generado σ(V ) = W <strong>de</strong> R n . Como σ : V → W é uma<br />
isometria, vemos que σ(v0) é um vetor não-nulo em W ∩ W ⊥ e que σ(R) é o complemento<br />
linear <strong>de</strong> span{σ(v0)} em W , no sentido que W = span{σ(v0)}⊕σ(R). Aplicando novamente<br />
o lema anterior, vemos que existe um vetor w ∈ R n tal que: w é isotrópico, w é ortogonal a<br />
σ(R), 〈σ(v0), w〉 = 1 e w /∈ W .<br />
Seja V1 = V + span{u}. Como u /∈ V , dim(V1) = dim(V ) + 1. Além disso, observe que<br />
V1 = R ○⊥ span{v0, u}.<br />
Agora estenda σ : V → W a aplicação linear σ1 : V1 → R n , <strong>de</strong>finida por<br />
• σ1(r) = σ(r) para todo r ∈ R,<br />
• σ1(v0) = σ(v0),<br />
• σ1(u) = w.<br />
Utilizando as <strong>de</strong>composições em somas diretas ortogonais<br />
V1 = R ○⊥ span{v0, u} e σ1(V1) = σ(R) ○⊥ span{σ(v0), w}<br />
é fácil provar que σ1 é uma isometria <strong>de</strong> V1 sobre σ1(V1). Deste modo, dada uma isometria<br />
σ : V → W <strong>de</strong>finida num subespaço <strong>de</strong>generado V <strong>de</strong> R n , po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r essa aplicação a<br />
uma isometria σ1 : V1 → σ1(V1) <strong>de</strong>finida em um espaço V1 tal que dim(V1) = dim(V ) + 1. Se<br />
V1 é não-<strong>de</strong>generado, utilizando a primeira parte da <strong>de</strong>monstração do teorema em questão,<br />
49
po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r σ1 a uma isometria <strong>de</strong>finida em todo o espaço R n . Se V1 é <strong>de</strong>generado,<br />
aplicamos novamente o que acabamos <strong>de</strong> fazer um número suficiente <strong>de</strong> vezes até termos<br />
estendido σ a uma isometria <strong>de</strong>finida em um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n . Observe que<br />
este espaço existe pois o espaço ambiente R n é não-<strong>de</strong>generado. Deste modo, vemos que, em<br />
qualquer situação, sempre po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r a isometria σ dada a uma isometria <strong>de</strong>finida<br />
em todo o espaço R n . Isto termina a <strong>de</strong>monstração do Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt.<br />
4.3 Aplicações do Teorema <strong>de</strong> Witt<br />
Nesta seção vamos <strong>de</strong>monstrar um teorema que apresenta uma resposta para a seguinte<br />
pergunta: dados dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores (P1, P2, . . . , Pk) e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) em<br />
(Rn , q), e q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em Rn , sobre quais condições existe uma<br />
isometria f ∈ O(R n , q) tal que f(Pi) = P ′<br />
i , para i = 1, 2, . . . , k ?<br />
Antes <strong>de</strong> apresentar uma resposta para esta pergunta, observe que se existe uma tal isometria,<br />
então 〈Pi, Pj〉 = 〈P ′<br />
i , P ′ j〉 para todo i, j = 1, 2, . . . , k. Esta condição po<strong>de</strong> ser resumida<br />
dizendo-se que a matriz <strong>de</strong> Gram G dos vetores (P1, P2, . . . , Pk) é igual a matriz <strong>de</strong> Gram<br />
G ′ dos vetores (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ), isto é,<br />
se G = ( 〈Pi, Pj〉 ) e G ′ = 〈P ′<br />
i , P ′ j〉 então G = G ′ . (4.3)<br />
Além disso, se existe uma tal isometria, como f é um isomorfismo linear <strong>de</strong> R n , se existir<br />
algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência linear entre os vetores P1, P2, . . . , Pk, então o mesmo tipo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pendência linear também existe entre os vetores P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k . Esta condição po<strong>de</strong> ser<br />
resumida através da equivalência:<br />
se λ = (λ1, λ2, . . . , λk) ∈ R k então,<br />
k<br />
λi Pi = 0 ⇔<br />
i=1<br />
k<br />
i=1<br />
λi P ′<br />
i = 0 . (4.4)<br />
Deste modo, as condições (4.3) e (4.4) são condições necessárias para a existência <strong>de</strong> uma<br />
isometria f tal que f(Pi) = P ′<br />
i , para i = 1, 2, . . . , k. Veremos agora que essas condições<br />
também são condições suficientes para a existência da isometria f. Esse resultado é o Teo-<br />
rema 1 do artigo [13] <strong>de</strong> Roland Höfer.<br />
50
Observação: Como o próximo teorema será utilizado para o <strong>de</strong>senvolvimento da teoria dos<br />
próximos capítulos, daremos duas <strong>de</strong>monstrações para ele. A <strong>de</strong>monstração logo abaixo é a<br />
que aparece no artigo <strong>de</strong> Roland Höfer. No final <strong>de</strong>ste capítulo, apresentaremos a segunda<br />
<strong>de</strong>monstração.<br />
Teorema 4.5. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n , e sejam (P1, P2, . . . , Pk)<br />
e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn . Existe uma isometria f ∈<br />
O(R n , q) tal que f(Pi) = P ′<br />
i , para i = 1, 2, . . . , k, se, e somente se, as condições (4.3) e (4.4)<br />
são satisfeitas.<br />
Demonstração. No início <strong>de</strong>sta seção observamos que se existe uma isometria f tal que<br />
f(Pi) = P ′<br />
i , para i = 1, 2, . . . , k, então as condições (4.3) e (4.4) são satisfeitas.<br />
Reciprocamente, suponhamos que (P1, P2, . . . , Pk) e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) são dois conjuntos<br />
or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn que satisfazem as condições (4.3) e (4.4). Vamos mostrar a<br />
existência da <strong>de</strong>sejada isometria f. Para isso, consi<strong>de</strong>re primeiramente as seguintes trans-<br />
formações lineares g : R k → R n e g ′ : R k → R n <strong>de</strong>finidas por:<br />
g(λ) =<br />
k<br />
i=1<br />
λi Pi e g ′ (λ) =<br />
k<br />
i=1<br />
λi P ′<br />
i , λ = (λ1, λ2, . . . , λk) ∈ R k .<br />
Utilizando a condição (4.3), que nos diz que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores (P1, P2, . . . , Pk)<br />
é igual a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ), prova-se que<br />
Utilizando a condição (4.4), tem-se que<br />
〈g(λ), g(µ)〉 = 〈g ′ (λ), g ′ (µ)〉 , ∀ λ, µ ∈ R k . (4.5)<br />
ker(g) = ker(g ′ ).<br />
Tome agora uma base {v1, v2, . . . , vr} para o subespaço Im(g) <strong>de</strong> R n , e consi<strong>de</strong>re vetores<br />
u1, u2, . . . , ur em R k tais que g(ui) = vi para i = 1, 2, . . . , r. Como {v1, v2, . . . , vr} é um<br />
conjunto linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, é fácil provar que {u1, u2, . . . , ur} também é um conjunto<br />
linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Além disso, efetuando uma conta simples, prova-se também que<br />
span{u1, u2, . . . , ur} ∩ ker(g) = {0 }<br />
51
e, do Teorema do Núcleo e da Imagem, que<br />
R k = span{u1, u2, . . . , ur} ⊕ ker(g). (4.6)<br />
Defina agora v ′ i = g ′ (ui) para i = 1, 2, . . . , r. Vamos provar que {v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} também é<br />
um conjunto linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. De fato,<br />
α1v ′ 1 + · · · + αrv ′ r = 0 ⇒ α1g ′ (u1) + · · · + αrg ′ (ur) = 0 ⇒<br />
⇒ g ′ (α1u1 + · · · + αrur) = 0 ⇒<br />
⇒ α1u1 + · · · + αrur ∈ ker(g ′ ) = ker(g) ⇒<br />
⇒ α1u1 + · · · + αrur ∈ span{u1, . . . , ur} ∩ ker(g) = {0 } ⇒<br />
⇒ α1u1 + · · · + αrur = 0 ⇒<br />
⇒ α1 = · · · = αr = 0,<br />
pois os vetores u1, u2, . . . , ur são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Deste modo, como v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r são vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, vemos que eles geram<br />
um subespaço <strong>de</strong> dimensão r, evi<strong>de</strong>ntemente contido em Im(g ′ ). Agora observe que, do<br />
Teorema do Núcleo e da Imagem temos que<br />
dim R k = dim Im(g) + dim ker(g) e dim R k = dim Im(g ′ ) + dim ker(g ′ ) .<br />
Como ker(g) = ker(g ′ ), estas igualda<strong>de</strong>s implicam que dim Im(g ′ ) = dim Im(g) = r. Agora,<br />
<strong>de</strong> dim span{v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} = r, dim Im(g ′ ) = r e span{v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} ⊂ Im(g ′ ) concluímos<br />
que span{v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} = Im(g ′ ), e que {v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r} é uma base para Im(g ′ ).<br />
Consi<strong>de</strong>re agora a seguinte transformação linear ϕ : Im(g) → Im(g ′ ) entre os subespaços<br />
Im(g) e Im(g ′ ) <strong>de</strong> R n , <strong>de</strong>finida através dos seguintes valores na base {v1, v2, . . . , vr} <strong>de</strong> Im(g):<br />
ϕ(vi) = v ′ i, i = 1, 2, . . . , r .<br />
Como {v1, v2, . . . , vr} é base <strong>de</strong> Im(g), e como ϕ transforma esta base na base {v ′ 1, v ′ 2, . . . , v ′ r}<br />
<strong>de</strong> Im(g ′ ), vemos que ϕ : Im(g) → Im(g ′ ) é um isomorfismo linear. Utilizando a <strong>de</strong>composição<br />
em soma direta <strong>de</strong> R k dada em (4.6) e ker(g) = ker(g ′ ), prova-se que<br />
52
ϕ ◦ g = g ′ .<br />
Desta composição, e da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> g e g ′ , vemos que se {e1, e2, . . . , ek} é a base canônica<br />
<strong>de</strong> R k , então g(ei) = Pi, g ′ (ei) = P ′<br />
i , ϕ ◦ g(ei) = g ′ (ei) e assim<br />
ϕ(Pi) = P ′<br />
i<br />
i = 1, 2, . . . , k .<br />
Vamos mostrar agora que ϕ também preserva a forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida por q em<br />
R n . De fato, utilizando (4.5), temos que<br />
〈ϕ(vi), ϕ(vj)〉 = v ′ i, v ′ ′<br />
j = 〈g (ui), g ′ (uj)〉 = 〈g(ui), g(uj)〉 = 〈vi, vj〉 .<br />
Deste modo, <strong>de</strong>monstramos que ϕ : Im(g) → Im(g ′ ) é uma isometria entre dois subespaços<br />
<strong>de</strong> R n . Assim, aplicando o Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong> Witt, vemos que existe uma isometria<br />
f : R n → R n tal que f|Im(g) = ϕ. Como, para cada i = 1, 2, . . . , k, Pi ∈ Im(g) e f(Pi) =<br />
ϕ(Pi) = P ′<br />
i , concluímos que f é a <strong>de</strong>sejada isometria em O(R n , q) que manda cada vetor Pi<br />
no respectivo vetor P ′<br />
i .<br />
Apesar das condições (4.3) e (4.4) serem hipóteses naturais para a valida<strong>de</strong> do teorema<br />
anterior, a condição (4.4) não é <strong>de</strong> fácil verificação para dois conjuntos explícitos <strong>de</strong> k vetores<br />
em R n . Entretanto, para uma classe bastante importante <strong>de</strong> vetores em R n (levantamentos<br />
<strong>de</strong> pontos na fronteira do espaço hiperbólico real), veremos agora que a condição (4.4) é uma<br />
conseqüência da condição (4.3).<br />
Observação: A <strong>de</strong>monstração da proposição a seguir possui muitas idéias em comum com<br />
a <strong>de</strong>monstração da proposição 4.1, que relaciona matrizes <strong>de</strong> Gram singulares com vetores<br />
linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em R n .<br />
Proposição 4.4. Seja q uma forma quadrática em R n , e sejam (P1, P2, . . . , Pk) e<br />
(P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores distintos em Rn , tais que<br />
W = span{P1, P2, . . . , Pk} e W ′ = span{P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k } são dois subespaços não-<strong>de</strong>generados<br />
<strong>de</strong> Rn . Neste caso, a condição (4.3) implica a condição (4.4).<br />
53
Demonstração. Sejam (P1, . . . , Pk) e (P ′ 1, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em<br />
Rn , tais que W = span{P1, . . . , Pk} e W ′ = span{P ′ 1, . . . , P ′ k } são dois subespaços não<strong>de</strong>generados<br />
<strong>de</strong> Rn , isto é, Rad(W ) = Rad(W ′ ) = {0}. Seja G matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores<br />
P1, . . . , Pk e seja G ′ a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores P ′ 1, . . . , P ′ k .<br />
Suponhamos que G = G ′ , isto é, suponhamos que gij = 〈Pi, Pj〉 seja igual a g ′ ij = 〈P ′<br />
i , P ′ j〉<br />
para todo i e j. Devemos mostrar que, sob todas estas hipóteses, a condição (4.4) é válida.<br />
Então suponhamos que<br />
x1P1 + · · · + xkPk = 0 ,<br />
para um certo vetor x = (x1, . . . , xk) ∈ R k . Devemos mostrar que, para estes mesmos<br />
coeficientes x1, . . . , xk, temos que x1P ′ 1 + · · · + xkP ′ k = 0 . Para começar, observe que a<br />
i-ésima componente do vetor Gx ∈ R k é dada por:<br />
(Gx)i =<br />
k<br />
j=1<br />
gijxj =<br />
k<br />
<br />
〈Pi, Pj〉xj = Pi,<br />
j=1<br />
k<br />
j=1<br />
xjPj<br />
<br />
= 〈Pi,0〉 = 0 . (4.7)<br />
Como (Gx)i = 0 e i é arbitrário, concluímos que Gx = 0. Daí x t Gx = 0 e como G = G ′<br />
obtemos x t G ′ x = 0. Mas,<br />
x t G ′ x =<br />
k<br />
i,j=1<br />
g ′ ijxixj =<br />
k<br />
i,j=1<br />
〈P ′<br />
i , P ′ j〉xixj =<br />
Portanto concluímos que o vetor v =<br />
k<br />
k<br />
i,j=1<br />
〈xiP ′<br />
i , xjP ′ j〉 =<br />
k<br />
j=1<br />
xjP ′ j ,<br />
j=1<br />
span{P ′ 1, . . . , P ′ k }. Por outro lado, <strong>de</strong> Gx = 0 e consequentemente G ′ x = 0, todas as compo-<br />
k<br />
j=1<br />
xjP ′ j<br />
xjP ′ j é um vetor isotrópico contido em W ′ =<br />
nentes <strong>de</strong>ste vetor são iguais ao número zero. Mas, <strong>de</strong> modo análogo à equação (4.7), vemos<br />
que a i-ésima componente do vetor G ′ x é igual a<br />
0 = (G ′ x)i =<br />
k<br />
j=1<br />
g ′ ijxj =<br />
k<br />
j=1<br />
〈P ′<br />
i , P ′ j〉xj =<br />
<br />
P ′<br />
i ,<br />
k<br />
j=1<br />
xjP ′ j<br />
<br />
= 〈P ′<br />
i , v〉.<br />
Assim, concluímos que 〈P ′<br />
i , v〉 = 0 para todo i = 1, 2, . . . , k. Como W ′ = span{P ′ 1, . . . , P ′ k },<br />
isto implica que 〈w, v〉 = 0 para todo w ∈ W ′ . Logo v ∈ Rad(W ′ ) = {0 }, e isso implica que<br />
v = 0. Assim, v =<br />
k<br />
j=1<br />
xjP ′ j = 0, ou seja, x1P ′ 1 +· · ·+xkP ′ k = 0, como queríamos <strong>de</strong>monstrar.<br />
54<br />
<br />
= 0 .
A implicação inversa x1P ′ 1 + · · · + xkP ′ k = 0 ⇒ x1P1 + · · · + xkPk = 0 tem <strong>de</strong>monstração<br />
análoga à que acabamos <strong>de</strong> fazer.<br />
Utilizando esta proposição, o teorema 4.5 po<strong>de</strong> ser re-enunciado como o teorema a seguir.<br />
Observamos que este teorema <strong>de</strong>sempenhará um papel central na teoria que será <strong>de</strong>senvolvida<br />
nos próximos capítulos.<br />
Teorema 4.6. Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n , e sejam (P1, P2, . . . , Pk)<br />
e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn , que geram dois subespaços<br />
não-<strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R n . Existe uma isometria f ∈ O(R n , q) tal que f(Pi) = P ′<br />
i , para i =<br />
1, 2, . . . , k, se, e somente se, a condição (4.3) é satisfeita.<br />
Exemplo: Veremos agora um exemplo que nos mostra que, em geral, a condição (4.3)<br />
não implica a condição (4.4), e que o teorema anterior po<strong>de</strong> ser falso se os espaços W =<br />
span{P1, . . . , Pk} e W ′ = span{P ′ 1, . . . , P ′ k } são subespaços <strong>de</strong>generados <strong>de</strong> Rn . De fato, em<br />
R 3 consi<strong>de</strong>re a seguinte forma bilinear simétrica não-<strong>de</strong>generada 〈x, y〉 = x1y1 + x2y2 − x3y3.<br />
Agora consi<strong>de</strong>re os seguintes vetores <strong>de</strong> R 3<br />
e<br />
P1 =<br />
P ′ 1 =<br />
⎡ ⎤<br />
1<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
⎣0⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P2<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣1⎥<br />
⎦<br />
0<br />
e P3<br />
⎡ ⎤<br />
1<br />
⎢ ⎥<br />
= P1 + P2 = ⎢<br />
⎣1⎥<br />
⎦<br />
1<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
⎣1⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P ′ ⎡ ⎤<br />
1<br />
⎢ ⎥<br />
2 = ⎢<br />
⎣0⎥<br />
0<br />
⎦ e P ′ 3 = P ′ 2 − P ′ 1 =<br />
⎡ ⎤<br />
1<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
⎣−1⎥<br />
⎦<br />
−1<br />
.<br />
Por um cálculo imediato verifica-se que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> P1, P2, P3 é igual a matriz <strong>de</strong><br />
Gram <strong>de</strong> P ′ 1, P ′ 2, P ′ 3 e que esta matriz é dada por<br />
G =<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢<br />
⎣0<br />
0<br />
1<br />
0<br />
⎥<br />
1⎥<br />
⎦<br />
0 1 1<br />
.<br />
55
Deste modo, para os vetores P1, P2, P3 e P ′ 1, P ′ 2, P ′ 3 a condição (4.3) é satisfeita. Entretanto,<br />
como P3 = P1 + P2 e P ′ 3 = P ′ 2 − P ′ 1 tem-se que a condição (4.4) não é satisfeita. Assim,<br />
não existe uma isometria f <strong>de</strong> R 3 tal que f(Pi) = P ′<br />
i , i = 1, 2, 3. Finalmente observe<br />
que W = span{P1, P2, P3} e W ′ = span{P ′ 1, P ′ 2, P ′ 3} são subespaços <strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R 3 pois<br />
P1 ∈ Rad(W ) e P ′ 1 ∈ Rad(W ′ ).<br />
Apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>snecessário, vamos concluir este capítulo apresentando uma nova <strong>de</strong>monstração<br />
para o teorema 4.5. Esta parece ser um pouco mais simples que a <strong>de</strong>monstração apresentada<br />
anteriormente. Então vamos re-<strong>de</strong>monstrar o seguinte resultado:<br />
[Teorema 4.5] Seja q uma forma quadrática não-<strong>de</strong>generada em R n , e sejam (P1, P2, . . . , Pk)<br />
e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn . Existe uma isometria<br />
f ∈ O(R n , q) tal que f(Pi) = P ′<br />
i , para i = 1, 2, . . . , k, se, e somente se, as condições<br />
(4.3) e (4.4) são satisfeitas.<br />
Demonstração. Como observado no início <strong>de</strong>ste capítulo, as condições (4.3) e (4.4) são<br />
hipóteses necessárias para a existência da <strong>de</strong>sejada isometria f.<br />
Reciprocamente, suponhamos que (P1, P2, . . . , Pk) e (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ) são dois conjuntos<br />
or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k vetores em Rn que satisfazem as condições (4.3) e (4.4). Vamos mostrar a<br />
existência da <strong>de</strong>sejada isometria f. Para isto, consi<strong>de</strong>re os seguintes subespaços <strong>de</strong> R n :<br />
W = span{P1, P2, . . . , Pk} e W ′ = span{P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k} .<br />
Entre os vetores P1, P2, . . . , Pk vamos consi<strong>de</strong>rar um subconjunto linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> vetores que também geram W . Simplesmente para não <strong>de</strong>ixar a notação muito car-<br />
regada, reor<strong>de</strong>nando os vetores (P1, P2, . . . , Pk), e <strong>de</strong>pois reor<strong>de</strong>nando os respectivos vetores<br />
em (P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k ), vamos supor que os primeiros m vetores em (P1, P2, . . . , Pk) formem uma<br />
base <strong>de</strong> W . Isto é, vamos supor que {P1, P2, . . . , Pm} seja uma base <strong>de</strong> W .<br />
Afirmamos que os respectivos vetores <strong>de</strong> W ′ , P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ m, formam um conjunto linear-<br />
mente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. De fato, utilizando (4.4) temos que:<br />
56
x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m = 0 ⇒ x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m + 0P ′ m+1 + · · · 0P ′ k = 0 ⇒<br />
⇒ x1P1 + · · · + xmPm + 0Pm+1 + · · · 0Pk = 0 ⇒<br />
⇒ x1P1 + · · · + xmPm = 0 ⇒<br />
⇒ x1 = · · · = xm = 0,<br />
pois os vetores P1, . . . , Pm são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Afirmamos também que os vetores P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ m geram W ′ . Observe que para <strong>de</strong>monstrar<br />
isso, é suficiente mostrar que para todo i > m, i ≤ k, o vetor P ′<br />
i é uma combinação<br />
linear dos vetores P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ m. Vamos mostrar isso. De fato, como P1, . . . , Pm geram<br />
W , para todo i > m existem escalares x1, . . . , xm tais que Pi = x1P1 + · · · + xmPm. Logo,<br />
x1P1 + · · · + xmPm − Pi = 0 e <strong>de</strong> (4.4) obtemos x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m − P ′<br />
i = 0 ⇒ P ′<br />
i =<br />
x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m.<br />
Portanto acabamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que {P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ m} é uma base <strong>de</strong> W ′ . Consi<strong>de</strong>re agora<br />
a seguinte transformação linear σ : W → W ′ entre os subespaços W e W ′ <strong>de</strong> R n , <strong>de</strong>finida<br />
através dos seguintes valores na base {P1, . . . , Pm} <strong>de</strong> W :<br />
σ(Pj) = P ′ j, j = 1, 2, . . . , m .<br />
Como {P1, . . . , Pm} é base <strong>de</strong> W , e como σ transforma esta base na base {P ′ 1, . . . , P ′ m} <strong>de</strong><br />
W ′ , vemos que σ : W → W ′ é um isomorfismo linear. Agora, utilizando a hipótese (4.3),<br />
que nos diz que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores P1, P2, . . . , Pk é igual a matriz <strong>de</strong> Gram dos<br />
vetores P ′ 1, P ′ 2, . . . , P ′ k , é fácil mostrar que σ preserva a forma bilinear simétrica <strong>de</strong>finida por<br />
q em W . Isto é,<br />
〈σ(x), σ(y)〉 = 〈x, y〉, ∀ x, y ∈ W .<br />
Portanto, concluímos que σ : W → W ′ é uma isometria entre dois subespaços <strong>de</strong> R n . Observe<br />
que, por <strong>de</strong>finição, σ(Pj) = P ′ j para todo j ∈ {1, 2, . . . , m}. Além disso, para todo i > m,<br />
i ≤ k, <strong>de</strong> (4.4), vemos que se Pi = x1P1 + · · · + xmPm então P ′<br />
i = x1P ′ 1 + · · · + xmP ′ m. Daí é<br />
fácil provar que σ(Pi) = P ′<br />
i para todo i ∈ {m + 1, m + 2, . . . , k}. Portanto, temos que<br />
σ(Pi) = P ′<br />
i , ∀ i = 1, 2, . . . , k . (4.8)<br />
57
Por outro lado, como σ : W → W ′ é uma isometria, aplicando o Teorema <strong>de</strong> Extensão <strong>de</strong><br />
Witt, vemos que σ se esten<strong>de</strong> a uma isometria f : R n → R n <strong>de</strong>finida em todo o espaço R n ,<br />
f(w) = σ(w), para todo w ∈ W . Daí, como para todo i = 1, 2, . . . , k temos que Pi ∈ W ,<br />
concluímos que f(Pi) = σ(Pi) = P ′<br />
i , pela igualda<strong>de</strong> (4.8). Portanto concluímos que f é a<br />
<strong>de</strong>seja isometria que manda Pi no respectivo vetor P ′<br />
i .<br />
58
Capítulo 5<br />
Preliminares Algébricas<br />
Este capítulo é <strong>de</strong>dicado ao estudo <strong>de</strong> alguns resultados importantes da álgebra linear,<br />
que serão utilizados mais adiante. Veremos teoremas do posto <strong>de</strong> uma matriz e vamos<br />
relacionar matrizes <strong>de</strong>finidas positivas com matrizes <strong>de</strong> Gram.<br />
5.1 Posto<br />
Esta seção é <strong>de</strong>dicada à <strong>de</strong>finição do posto <strong>de</strong> uma matriz e mostrar os principais<br />
resultados do assunto. Tais resultados serão utilizados no capítulo seguinte para <strong>de</strong>monstrar<br />
um importante teorema <strong>de</strong> caracterização <strong>de</strong> matrizes simétricas da forma (6.3) e <strong>de</strong> entradas<br />
reais que são matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H n<br />
R.<br />
Como sempre, vetores x ∈ R n serão representados como matrizes coluna n × 1.<br />
Definições e notações: Seja G = (gij) uma matriz k × k e seja I = {i1, . . . , im} uma<br />
coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em {1, 2, . . . , k}.<br />
• Denotamos por |I| o número <strong>de</strong> elementos do cunjunto I. Se I = {i1, . . . , im}, então<br />
|I| = m.<br />
• Eliminando-se uma linha e uma coluna que se encontram na diagonal principal <strong>de</strong> G,<br />
forma-se um menor principal <strong>de</strong> G <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m (k − 1) × (k − 1). Continuando <strong>de</strong>sse<br />
modo, a cada passo eliminando uma linha e uma coluna que se encontram na diagonal<br />
principal <strong>de</strong> G, po<strong>de</strong>-se formar menores principais <strong>de</strong> qualquer or<strong>de</strong>m.<br />
• Vamos <strong>de</strong>notar por GI ou Gi1···im a submatriz m × m <strong>de</strong> G cujas entradas são guv, com<br />
u e v variando no conjunto {i1, . . . , im}. Observe que GI é um menor principal <strong>de</strong><br />
59
G. Neste caso foram eliminadas as linhas e as colunas <strong>de</strong> G <strong>de</strong> índices que não estão<br />
contidos em I.<br />
• No caso particular em que I = {1, 2, . . . , m}, a matriz GI é um menor principal<br />
lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> G. Neste caso, GI é a submatriz obtida <strong>de</strong> G pela eliminação <strong>de</strong> todas as<br />
linhas e todas as colunas <strong>de</strong> índices maiores que m. Este menor principal lí<strong>de</strong>r também<br />
po<strong>de</strong>rá ser representado por Gm.<br />
Definição 5.1. Seja A uma matriz n × m. Chamamos posto <strong>de</strong> A ao número máximo <strong>de</strong><br />
linhas <strong>de</strong> A que contituem um conjunto linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> vetores em R m .<br />
Em qualquer matriz o número <strong>de</strong> linhas linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes coinci<strong>de</strong> com o<br />
número <strong>de</strong> colunas linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Po<strong>de</strong>mos, então <strong>de</strong>finir o posto <strong>de</strong> A como<br />
sendo o número máximo <strong>de</strong> linhas ou colunas <strong>de</strong> A que constituem um conjunto linearmente<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
Observe que para uma matriz quadrada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n, o valor máximo do posto <strong>de</strong> uma<br />
matriz é igual ao número n.<br />
Veremos agora algumas proprieda<strong>de</strong>s do posto <strong>de</strong> uma matriz, que serão utilizadas nas<br />
próximas seções e po<strong>de</strong>m ser encontradas no livro Matrix Analysis, [6], página 13.<br />
Proprieda<strong>de</strong>s:<br />
1. posto(A t )= posto(A).<br />
2. Se posto(A)=r, então existe uma submatriz <strong>de</strong> A <strong>de</strong> tamanho r × r com <strong>de</strong>terminante<br />
não nulo, mas todas as submatrizes <strong>de</strong> A <strong>de</strong> tamanho maior ou igual a (r + 1) × (r + 1)<br />
possuem <strong>de</strong>terminante igual a zero.<br />
3. Se A e B são matrizes <strong>de</strong> mesmo tamanho, então posto(A)=posto(B) se e somente<br />
se existem matrizes X e Y tais que B = XAY . Como um caso particular em que<br />
B = P AP −1 , temos que o posto <strong>de</strong> uma matriz é invariante por conjugação.<br />
4. Se A é matriz simétrica <strong>de</strong> posto r, então existe um menor principal <strong>de</strong> A <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m r<br />
com <strong>de</strong>terminante não nulo (ver [10]).<br />
Po<strong>de</strong>mos agora <strong>de</strong>monstrar o seguinte torema:<br />
60
Teorema 5.1. Seja M matriz simétrica k × k <strong>de</strong> entradas reais. Então, posto(M) ≤ r se,<br />
e somente se, <strong>de</strong>t(MI) = 0, para todo I ⊂ {1, 2, · · · , k} tal que |I| > r, sendo MI menor<br />
principal <strong>de</strong> M.<br />
Demonstração. Se posto(M) ≤ r, o resultado segue da proprieda<strong>de</strong> 2 acima. Por outro lado,<br />
seja M tal que <strong>de</strong>t(MI) = 0 ∀ I, |I| > r. Suponha por absurdo que posto(M) = n > r.<br />
Daí, a proprieda<strong>de</strong> 4 garante que existe um menor principal MI <strong>de</strong> M, com |I| = n tal que<br />
<strong>de</strong>t(MI) = 0. Contradição.<br />
5.2 Matrizes <strong>de</strong>finidas positivas<br />
Nesta seção iremos resumir alguns resultados a respeito <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong>finidas positivas.<br />
Estes foram retirados da seção 7.2 do livro Matrix Analysis <strong>de</strong> R.A. Horn e C.R. Johnson.<br />
Definição 5.2. Uma matriz simétrica A, <strong>de</strong> entradas reais e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n × n é <strong>de</strong>finida<br />
positiva se x t Ax > 0 para todo vetor não nulo x ∈ R n . Analogamente, A é semi-<strong>de</strong>finida<br />
positiva se x t Ax ≥ 0 para todo x ∈ R n .<br />
Proposição 5.1. Seja A uma matriz simétrica n × n <strong>de</strong>finida positiva. Então todas as<br />
submatrizes menores principais <strong>de</strong> A também são <strong>de</strong>finidas positivas.<br />
Demonstração. Seja S um subconjunto próprio <strong>de</strong> {1, 2, . . . , n} e seja A(S) a submatriz<br />
menor principal <strong>de</strong> A obtida pela eliminação <strong>de</strong> todas as linhas e todas as colunas <strong>de</strong> A cujos<br />
índices não estão em S. Seja x ∈ R n um vetor não nulo que tem entradas arbitrárias nos<br />
índices contidos em S e tem entradas iguais a zero nos índices que não estão contidos em S.<br />
Seja x(S) o vetor obtido <strong>de</strong> x pela eliminação <strong>de</strong> todas as entradas <strong>de</strong> índices que não estão<br />
contidos em S. Como x(S) t A(S)x(S) = x t Ax > 0 e x(S) = 0 é arbitrário, concluímos que<br />
A(S) é uma matriz <strong>de</strong>finida positiva. Observe que A(S) também é uma matriz simétrica.<br />
Observação:<br />
• Na proposição anterior po<strong>de</strong>mos trocar “<strong>de</strong>finida positiva” por “semi-<strong>de</strong>finida posi-<br />
tiva”.<br />
• Seja ei o i-ésimo vetor da base canônica <strong>de</strong> R n . De e t iAei = aii vemos que se A é<br />
<strong>de</strong>finida positiva então os elementos da diagonal principal <strong>de</strong> A são números positivos.<br />
61
Proposição 5.2. Cada autovalor <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong>finida positiva é um número real positivo.<br />
Analogamente, os autovalores <strong>de</strong> uma matriz semi-<strong>de</strong>finida positiva são números não nega-<br />
tivos.<br />
Demonstração. Sejam A <strong>de</strong>finida positiva, λ autovalor <strong>de</strong> A e x autovetor <strong>de</strong> A associado a<br />
λ. De xtAx = xtλx = λxtx = λ x 2 obtemos λ = xtAx > 0.<br />
x 2 Como o traço é a soma, e o <strong>de</strong>terminante é o produto dos autovalores, a proposição anterior<br />
implica o seguinte corolário.<br />
Corolario 5.1. O traço, o <strong>de</strong>terminante e os <strong>de</strong>terminantes dos menores principais <strong>de</strong><br />
uma matriz <strong>de</strong>finida positiva são números positivos. Analogamente, esses números são não-<br />
negativos para matrizes semi-<strong>de</strong>finidas positivas.<br />
Caracterizações <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong>finidas positivas<br />
Teorema 5.2. Uma matriz simétrica <strong>de</strong> entradas reais A n × n é <strong>de</strong>finida positiva se, e<br />
somente se, todos os seus autovalores são positivos. Do mesmo modo A é semi-<strong>de</strong>finida<br />
positiva se, e somente se, todos os seus autovalores são não negativos.<br />
Demonstração. Seja A uma matriz simétrica n×n <strong>de</strong> entradas reais. Se A é <strong>de</strong>finida positiva,<br />
então a proposição 5.2 implica que todos os autovalores <strong>de</strong> A são positivos.<br />
Reciprocamente, suponhamos que todos os autovalores <strong>de</strong> A são positivos. Como A<br />
é simétrica, sabemos que A é diagonalizável por uma matriz ortogonal. Isto é A = P t DP<br />
sendo P −1 = P t e D matriz diagonal dos autovalores <strong>de</strong> A. Daí, para cada vetor não nulo<br />
x ∈ R n , temos que<br />
x t Ax = x t P t DP x = y t Dy =<br />
sendo y = P x. Como cada λi > 0 e y = −→ 0 pois P é invertível e x = −→ 0 , vemos que<br />
x t n<br />
Ax = λi y 2 i > 0. Isso implica que A é <strong>de</strong>finida positiva. O caso em que A é semi-<br />
i=1<br />
<strong>de</strong>finida positiva é análogo.<br />
62<br />
n<br />
i=1<br />
λi y 2 i
Pela proposição 5.1 sabemos que se A é <strong>de</strong>finida positiva então todas as suas submatrizes<br />
menores principais também são <strong>de</strong>finidas positivas. Veremos agora que a inversa <strong>de</strong>ste resul-<br />
tado também é verda<strong>de</strong>ira. Entretanto, o próximo teorema nos mostra que esta implicação<br />
inversa po<strong>de</strong> ser enunciada <strong>de</strong> uma forma mais interessante. Lembre-se <strong>de</strong> que uma subma-<br />
triz menor principal li<strong>de</strong>r <strong>de</strong> A é <strong>de</strong>notada por Ai, sendo essa a submatriz constituída das<br />
primeiras i linhas e pelas primeiras i colunas <strong>de</strong> A.<br />
Teorema 5.3. Seja A uma matriz simétrica n × n <strong>de</strong> entradas reais. Então A é <strong>de</strong>finida<br />
positiva se, e somente se <strong>de</strong>t(Ai) > 0 para i = 1, 2, . . . , n. De forma mais geral, A é <strong>de</strong>finida<br />
positiva se, e somente se, para qualquer seqüência encaixante B1, B2, . . . , Bn = A <strong>de</strong><br />
matrizes menores principais <strong>de</strong> A (não necessariamente <strong>de</strong> menores principais lí<strong>de</strong>res), cada<br />
Bi for tal que <strong>de</strong>t(Bi) > 0.<br />
Demonstração. Se A é <strong>de</strong>finida positiva, então a proposição 5.1 garante que cada Ai é <strong>de</strong>finida<br />
positiva e portanto <strong>de</strong>t(Ai) > 0.<br />
Reciprocamente, suponhamos que <strong>de</strong>t(Ai) > 0 para i = 1, 2, . . . , n. Vamos <strong>de</strong>monstrar<br />
que A é <strong>de</strong>finida positiva por indução finita. Nesta indução aplicaremos o “lema <strong>de</strong> au-<br />
tovalores encaixantes para matrizes simétricas”(ver teorema 4.3.8 do livro Matrix Analysis<br />
<strong>de</strong> Horn/Johnson). Como <strong>de</strong>t(A1) > 0 e A1 é uma matriz 1 × 1 vemos que A1 é <strong>de</strong>finida<br />
positiva. Agora suponhamos que Ak é <strong>de</strong>finida positiva para algum k ∈ {1, 2, . . . , n − 1}.<br />
Nesse caso, todos os autovalores <strong>de</strong> Ak são positivos e pelo “lema dos autovalores<br />
encaixantes” concluímos que todos os autovalores <strong>de</strong> Ak+1 são positivos exceto, possivel-<br />
mete, o menor dos seus autovalores. Entretanto <strong>de</strong>t(Ak+1) > 0 e <strong>de</strong>t(Ak+1) é o produto dos<br />
autovalores <strong>de</strong> Ak+1. Como todos os autovalores <strong>de</strong> Ak+1 são positivos, exceto possivelmente<br />
um <strong>de</strong>les, e o produto <strong>de</strong>sses números é positivo vemos que esse autovalor também <strong>de</strong>ve ser<br />
um número positivo. Assim concluímos que todos os autovalores <strong>de</strong> Ak+1 são positivos e isso<br />
implica que Ak+1 é uma matriz <strong>de</strong>finida positiva. Então, por esta indução finita, concluímos<br />
que An = A é <strong>de</strong>finida positiva.<br />
Para o caso geral <strong>de</strong> uma seqüência encaixante <strong>de</strong> menores principais, observe que<br />
efetuando uma certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pares <strong>de</strong> operações elementares do tipo Li ↔ Lj e<br />
Ci ↔ Cj po<strong>de</strong>mos transformar estes menores principais em menores principais lí<strong>de</strong>res. Daí<br />
o resultado segue do que acabamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar e do lema a seguir.<br />
Lema 5.1. Seja A uma matriz n × n. Fixados índices i e j, seja B a matriz obtida <strong>de</strong> A<br />
63
através <strong>de</strong> duas operações elementares: Li ↔ Lj e Ci ↔ Cj. Então as seguintes afirmações<br />
são verda<strong>de</strong>iras:<br />
(a) <strong>de</strong>t(A) = <strong>de</strong>t(B).<br />
(b) A é simétrica se, e somente se, B é simétrica.<br />
⎡ ⎤<br />
.<br />
⎢ ⎥<br />
⎢ ⎥<br />
⎢xi⎥<br />
⎢ ⎥<br />
(c) Se X = ⎢ . ⎥ é um vetor qualquer em R<br />
⎢ ⎥<br />
⎢xj⎥<br />
⎣ ⎦<br />
.<br />
n ⎡ ⎤<br />
.<br />
⎢ ⎥<br />
⎢ ⎥<br />
⎢xj⎥<br />
⎢ ⎥<br />
e Y = ⎢ . ⎥ é o vetor obtido <strong>de</strong> X pela troca<br />
⎢ ⎥<br />
⎢xi⎥<br />
⎣ ⎦<br />
.<br />
da sua entrada i pela sua entrada j, então XtAX = Y tBY .<br />
(d) A é uma matriz simétrica <strong>de</strong>finida positiva se, e somente se, B é uma matriz simétrica<br />
<strong>de</strong>finida positiva.<br />
A <strong>de</strong>monstração do teorema anterior po<strong>de</strong> ser utilizada linha a linha para provar o<br />
seguinte resultado.<br />
Teorema 5.4. Seja A uma matriz simétrica n × n <strong>de</strong> entradas reais. Se <strong>de</strong>t(A1) > 0,<br />
<strong>de</strong>t(A2) > 0, . . ., <strong>de</strong>t(An−1) > 0 e <strong>de</strong>t(An) ≥ 0, então A é semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />
<br />
0 0<br />
Observação: A matriz A =<br />
nos mostra que se A é uma matriz simétrica <strong>de</strong><br />
0 −1<br />
entradas reais e <strong>de</strong>t(Ai) ≥ 0 para i = 1, 2, . . . , n então isso não implica que A é semi-<strong>de</strong>finida<br />
positiva. Deste modo, o teorema anterior, em que os <strong>de</strong>terminantes dos menores principais<br />
lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> A são assumidos estritamente positivos não po<strong>de</strong> ser enfraquecido. Entretanto,<br />
como veremos no próximo resultado, se consi<strong>de</strong>ramos todos os menores principais <strong>de</strong> uma<br />
matriz (e não somente os menores principais lí<strong>de</strong>res) teremos um resultado verda<strong>de</strong>iro.<br />
Teorema 5.5. Seja A uma matriz simétrica n × n <strong>de</strong> entradas reais. Então A é semi-<br />
<strong>de</strong>finida positiva se, e somente se, os <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> todos os menores principais <strong>de</strong> A<br />
são números não negativos.<br />
64
Demonstração. Se A é semi-<strong>de</strong>finida positiva, o corolário 5.1 nos mostra que todos os menores<br />
principais <strong>de</strong> A possuem <strong>de</strong>terminantes não negativos.<br />
Reciprocamente, suponhamos que todos os menores principais <strong>de</strong> A possuem <strong>de</strong>termi-<br />
nantes não negativos. Po<strong>de</strong>mos escrever a equação polinomial em λ<br />
<strong>de</strong>t(λI − A) = λ n − δ1λ n−1 + δ2λ n−2 − · · · (−1) n <strong>de</strong>t A, (5.1)<br />
em que cada δi é a soma dos <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> todos os menores principais <strong>de</strong> A <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
i. Como esses <strong>de</strong>terminantes são todos não negativos, então cada δi é não negativo. Logo, a<br />
equação 5.1 não possui raízes negativas. Concluímos que A é semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />
Observe que aqui estamos consi<strong>de</strong>rando todos os menores principais e não somente<br />
os menores principais lí<strong>de</strong>res. A segunda parte da <strong>de</strong>monstração do teorema anterior foi<br />
extraída do Teorema 6.2, página 160 do livro [14].<br />
Os próximos lemas serão utilizados na caracterização <strong>de</strong> matrizes semi-<strong>de</strong>finidas positivas<br />
em termos <strong>de</strong> Matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> vetores no Espaço Euclidiano R n . (ver<br />
teorema 5.6)<br />
Lema 5.2. Seja A uma matriz n × n <strong>de</strong> entradas reais semi-<strong>de</strong>finida positiva. Então existe<br />
(uma única) matriz simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva B tal que B 2 = A. Mais ainda, tal<br />
matriz satisfaz:<br />
(a) AB = BA.<br />
(b) posto(B) = posto(A).<br />
(c) se A é <strong>de</strong>finida positiva, então B também é <strong>de</strong>finida positiva.<br />
Demonstração. Como A é simétrica sabemos que A é diagonalizável por uma matriz<br />
ortogonal. Isto é, se D = diag(λ1, . . . , λn) é a matriz diagonal dos autovalores <strong>de</strong> A,<br />
existe uma matriz ortogonal P (P −1 = P t ) tal que A = P DP t . Sendo A semi-<strong>de</strong>finida<br />
positiva, cada λi ≥ 0. Assim po<strong>de</strong>mos construir a matriz diagonal Dr = diag( √ λ1, . . . , √ λn).<br />
Evi<strong>de</strong>ntemente D 2 r = D. Seja B = P DrP t . Temos que:<br />
• B 2 = P DrP t · P DrP t = P D 2 rP t = P DP t = A.<br />
65
• B t = (P DrP t ) t = P D t rP t = P DrP t = B. Logo B é simétrica.<br />
• os autovalores <strong>de</strong> B são √ λ1, . . . , √ λn e esses números são não negativos. Logo B é<br />
semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />
Agora vamos <strong>de</strong>monstrar os itens (a), (b) e (c) do lema,<br />
(a) AB = P DP t · P DrP t = P DDrP t = P DrDP t = P DrP t · P DP t = BA.<br />
(b) Como o posto <strong>de</strong> uma matriz é invariante por conjugação (veja proprieda<strong>de</strong> 3 do<br />
posto, página 60), vemos que posto(A) = posto(D) e que posto(B) = posto(Dr).<br />
Mas posto(D) = posto(Dr) pois essas duas matrizes diagonais possuem exatamente a<br />
mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas não nulas, neste caso, isso siginifica linhas linearmente<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Logo, posto(A) = posto(B).<br />
(c) Os autovalores <strong>de</strong> A são λ1, . . . , λn e os autovalores <strong>de</strong> B são √ λ1, . . . , √ λn. Logos os<br />
autovalores <strong>de</strong> A são todos positivos se, e somente se, os autovalores <strong>de</strong> B são todos<br />
positivos. O resultado segue agora do teorema 5.2.<br />
Consi<strong>de</strong>re agora o produto escalar usual em R n : 〈x, y〉 = x1y1 + x2y2 + · · · + xnyn. Se<br />
{v1, . . . , vk} é um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R n , a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores é G = (gij)<br />
sendo gij = 〈vi, vj〉 = v t ivj. Observe que se M = [v1 · · · vk] é a matriz que tem como colunas<br />
os vetores v1, · · · , vk então G = M t M.<br />
Observação: Embora o próximo resultado seja um caso particular da proposição 4.1,<br />
vamos apresentar uma <strong>de</strong>monstração mais direta para ele.<br />
Lema 5.3. Seja G a matriz <strong>de</strong> Gram do conjunto {v1, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R n , e seja<br />
M = [v1 · · · vk] a matriz que tem como colunas esses vetores. Então:<br />
(a) G é semi-<strong>de</strong>finida positiva. Isto implica que <strong>de</strong>t(G) ≥ 0.<br />
(b) G é singular se, e somente se, os vetores v1, · · · , vk são linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em<br />
R n .<br />
66
(c) posto(G) = posto(M) e esse número é igual a quantida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> vetores linear-<br />
mente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes no conjunto {v1, . . . , vk}.<br />
Demonstração. (a) Se G = (gij) e gij = 〈vi, vj〉 então G é simétrica pois 〈vi, vj〉 = 〈vj, vi〉.<br />
Além disso, para todo vetor x = (xi) em R k ,<br />
x t Gx =<br />
=<br />
k<br />
i,j=1<br />
k<br />
i=1<br />
gijxixj =<br />
xivi ,<br />
k<br />
i=1<br />
k<br />
i,j=1<br />
xivi<br />
<br />
〈vi, vj〉xixj =<br />
<br />
<br />
k<br />
<br />
= <br />
<br />
i=1<br />
xivi<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
k<br />
i,j=1<br />
2<br />
≥ 0,<br />
〈xivi, xjvj〉 =<br />
sendo || · || a norma usual em R k . Como x t Gx ≥ 0 concluímos que G é semi-<strong>de</strong>finida<br />
positiva.<br />
Observação: mostramos que x t Gx = ||x1v1 + · · · + xkvk|| 2 . Como a norma <strong>de</strong> um<br />
vetor é zero se, e somente se, o vetor em questão é nulo, vemos que x t Gx = 0 ⇔<br />
x1v1 + · · · + xkvk = −→ 0 .<br />
(b) Suponhamos que G seja singular. Então existe um vetor não nulo x = (xi) em R k<br />
tal que Gx = −→ 0 . Logo temos que x t Gx = 0. Da observação acima vemos que isto<br />
implica que x1v1 + · · · + xkvk = −→ 0 . Portanto concluímos que os vetores v1, · · · , vk são<br />
linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Reciprocamente, suponhamos que os vetores v1, · · · , vk sejam linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Então existe um vetor não nulo x = (xi) ∈ R k tal que x1v1 +· · ·+xkvk = −→ 0 . A i-ésima<br />
componente do vetor Gx é dada por<br />
(Gx)i =<br />
k<br />
j=1<br />
gijxj =<br />
k<br />
<br />
〈vi, vj〉xj = vi,<br />
j=1<br />
k<br />
j=1<br />
xjvj<br />
<br />
= 〈vi, −→ 0 〉 = 0 .<br />
Como i é arbitrário, concluímos que o vetor Gx tem todas as componentes nulas. Assim<br />
Gx = −→ 0 e x não é o vetor nulo. Isto implica que G é uma matriz singular.<br />
(c) Se Gx = −→ 0 então x t Gx = 0 ⇒ x t M t Mx = 0 ⇒ (Mx) t (Mx) = 0 ⇒ ||Mx|| 2 = 0<br />
⇒ Mx = −→ 0 . Reciprocamente, se Mx = −→ 0 então Gx = M t (Mx) = −→ 0 . Assim,<br />
as matrizes G e M possuem o mesmo núcleo quando olhadas como transformações<br />
lineares G : R k → R k e M : R k → R n . Isto implica que posto(G) = posto(M). Além<br />
67
disso, por <strong>de</strong>finição, o posto-coluna <strong>de</strong> M é o número máximo <strong>de</strong> vetores linearmente<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes no conjunto {v1, . . . , vk}.<br />
Para a teoria que preten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolver (estudar pontos na fronteira do espaço<br />
hiperbólico real), precisaremos caracterizar matrizes simétricas semi-<strong>de</strong>finidas positivas como<br />
matrizes <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> vetores no Espaço Euclidiano R n . Os próximos três teoremas nos<br />
fornecem esta caracterização. O último <strong>de</strong>sses teoremas é o mais geral <strong>de</strong>les, pois os dois<br />
primeiros são casos particulares do último.<br />
Teorema 5.6. Seja A uma matriz n × n <strong>de</strong> entradas reais. Então A é uma matriz simétrica<br />
semi-<strong>de</strong>finida positiva <strong>de</strong> posto r se, e somente se, existe um conjunto {v1, . . . , vn} <strong>de</strong> n<br />
vetores em R n , contendo exatamente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, tal que A é a<br />
matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong> vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n .<br />
Demonstração. Se A é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> {v1, . . . , vn} então o resultado segue do lema<br />
anterior.<br />
Agora suponhamos que A é uma matriz simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva <strong>de</strong> posto r. Pelo<br />
lema 5.2, sabemos que existe uma matriz simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva B tal que B 2 = A<br />
e posto(B) = posto(A). Como A = B 2 = BB = B t B vemos que A é a matriz <strong>de</strong> Gram<br />
dos vetores coluna <strong>de</strong> B, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n . Como r = posto(A) = posto(B)<br />
vemos que B possui exatamente r vetores coluna linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Observação: No teorema anterior temos n vetores em R n , ou seja, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vetores<br />
é igual a dimensão do espaço Euclidiano que os contém. Entretanto, po<strong>de</strong>mos aumentar essa<br />
dimensão do seguinte modo. Sejam dados k vetores v1, . . ., vk em R n , e seja G = (〈vi, vj〉) a<br />
matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores no produto escalar usual <strong>de</strong> R n . Consi<strong>de</strong>re agora a inclusão<br />
f : R n → R n+m dada por f(v) = (v, 0, 0, . . . , 0) que acrescenta m coor<strong>de</strong>nadas iguais à zero<br />
as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> v. Evi<strong>de</strong>ntemente, temos que 〈v, w〉 = 〈f(v), f(w)〉 para quaisquer vetores<br />
em R n , em que 〈v, w〉 é o produto escalar usual <strong>de</strong> R n e 〈f(v), f(w)〉 é o produto escalar<br />
usual <strong>de</strong> R n+m . Deste modo se G ′ = ( 〈f(vi), f(vj)〉 ) <strong>de</strong>nota a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores<br />
f(v1), . . ., f(vk) no produto escalar usual <strong>de</strong> R n+m então temos que G = G ′ . Portanto G<br />
também é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> vetores em R n+m .<br />
68
Desta observação e do teorema <strong>de</strong>monstra-se o seguinte teorema.<br />
Teorema 5.7. Seja A uma matriz simétrica k × k <strong>de</strong> entradas reais e seja n um inteiro<br />
tal que n ≥ k. Então A é uma matriz semi-<strong>de</strong>finida positiva se, e somente se, existe um<br />
conjunto {v1, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R n , tal que A é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong><br />
vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n .<br />
Observação: Na observação anterior vimos que se G é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto<br />
<strong>de</strong> k vetores em R n então G também é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k vetores em<br />
R n+m , para todo m > 0. Entretanto, em geral, não po<strong>de</strong>mos diminuir a dimensão. Isto é,<br />
em geral G não é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k vetores em Rn−m .<br />
⎡ ⎤<br />
Para ver isso, consi<strong>de</strong>re a matriz diagonal G =<br />
λ1<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
0<br />
λ2<br />
0<br />
⎥<br />
0 ⎥<br />
⎦<br />
0 0 λ3<br />
, em que λ1, λ2 e λ3<br />
são números positivos. Como esses são os autovalores <strong>de</strong> G temos que G é <strong>de</strong>finida positiva.<br />
Mais ainda, é claro que G é a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1 = ( √ λ1 , 0, 0), v2 = (0, √ λ2 , 0)<br />
e v3 = (0, 0, √ λ3 ) em R 3 . Vejamos agora que G não é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> vetores<br />
w1, w2 e w3 em R 2 . De fato, se este fosse o caso, <strong>de</strong>veríamos ter 〈wi, wi〉 = λi = 0 e<br />
〈w1, w2〉 = 〈w1, w3〉 = 〈w2, w3〉 = 0. Estas equações implicam que w1, w2 e w3 <strong>de</strong>vem ser três<br />
vetores não nulos mutuamente ortogonais em R 2 . Como isto não existe, vemos que G não<br />
é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> vetores em R 2 . Evi<strong>de</strong>ntemente este exemplo po<strong>de</strong> ser ampliado para<br />
matrizes semi-<strong>de</strong>finidas positivas que não são positivas.<br />
Entretanto, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do posto da matriz G po<strong>de</strong>mos diminuir sim a dimensão n que<br />
aparece nos dois teoremas anteriores. Isto será <strong>de</strong>monstrado agora, e o próximo teorema é o<br />
resultado que será utilizado no estudo <strong>de</strong> k pontos distintos na fronteira do espaço hiperbólico<br />
real Hn R . (veja teorema 6.2)<br />
Teorema 5.8. (a) Seja {v1, . . . , vk} um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R n , contendo exata-<br />
mente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e seja A a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto<br />
<strong>de</strong> vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n . Então A é matriz simétrica semi-<strong>de</strong>finida<br />
positiva <strong>de</strong> posto r.<br />
(b) Reciprocamente, seja A uma matriz k × k simétrica, semi-<strong>de</strong>finida positiva e <strong>de</strong> en-<br />
tradas reais, seja r o posto <strong>de</strong> A e seja n um inteiro tal que n ≥ r. Então existe um<br />
69
conjunto {v1, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R n , contendo exatamente r vetores linearmente<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, tal que A é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong> vetores, no produto<br />
escalar usual <strong>de</strong> R n .<br />
(c) Nas hipóteses <strong>de</strong> (b), A não é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R m ,<br />
para todo m < r.<br />
Demonstração. (a) Seja {v1, . . . , vk} um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R n , contendo exata-<br />
mente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e seja A a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto<br />
<strong>de</strong> vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n . O lema 5.3 implica que A é uma matriz<br />
simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva <strong>de</strong> posto r.<br />
(b) Reciprocamente, seja A uma matriz simétrica k × k semi-<strong>de</strong>finida positiva <strong>de</strong> posto r,<br />
e seja n um inteiro tal que n ≥ r. Pelo teorema 5.6, existem k vetores v1, v2, . . ., vk<br />
em R k , contendo exatamente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, tal que A é matriz<br />
<strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong> vetores no produto escalar usual <strong>de</strong> R k . Como o conjunto<br />
{v1, v2, . . . , vk} gera um subespaço <strong>de</strong> dimensão r <strong>de</strong> R k , aplicando uma isometria <strong>de</strong><br />
R k , po<strong>de</strong>mos supor que estes vetores estão contidos em R r , on<strong>de</strong> estamos supondo que<br />
R r ⊂ R k é o subconjunto dos vetores <strong>de</strong> R k que possuem as últimas k − r coor<strong>de</strong>nadas<br />
iguais a zero. Consi<strong>de</strong>rando isso, vemos que A é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto<br />
{v1, v2, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R r . Agora incluindo R r em R n acrescentando n − r<br />
coor<strong>de</strong>nadas iguais a zero às coor<strong>de</strong>nadas dos vetores <strong>de</strong> R r , po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar os<br />
vetores v1, v2, . . ., vk como <strong>de</strong> R n . Deste modo, concluímos que A é matriz <strong>de</strong> Gram<br />
<strong>de</strong> um conjunto {v1, v2, . . . , vk} <strong>de</strong> k vetores em R n tal que esse conjunto contém<br />
exatamente r vetores linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
(c) Para terminar a <strong>de</strong>monstração, suponhamos, por redução ao absurdo, que A seja matriz<br />
<strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R m para algum m < r. Neste caso, o lema 5.3<br />
implica que posto(A) ≤ m, isto é, r ≤ m. Mas como m < r, obtemos uma contradição.<br />
Exemplo: A matriz a seguir nos mostra que as hipóteses do teorema anterior são as melhores<br />
possíveis. Dados inteiros positivos r e k com r ≤ k, consi<strong>de</strong>re a seguinte matriz k × k <strong>de</strong><br />
posto r.<br />
70
A =<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
Ir<br />
0<br />
0 O(k−r)×(k−r)<br />
Esta matriz é formada por blocos, sendo um <strong>de</strong>les a matriz i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Ir e o outro formado<br />
pela matriz nula O(k−r)×(k−r). Para todo n ≥ r, sejam v1 = e1, v2 = e2, . . ., vr = er os<br />
primeiros r vetores da base canônica <strong>de</strong> R n e sejam vr+1 = −→ 0 , vr+2 = −→ 0 , . . ., vk = −→ 0 . É<br />
fácil ver que A é matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1, v2, . . ., vk.<br />
Agora sejam v1, v2, . . ., vk um conjunto <strong>de</strong> k vetores em R m , e seja G(v1, . . . , vk) a matriz<br />
<strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores. Para G ser igual a G(v1, . . . , vk) os vetores v1, v2, . . ., vr <strong>de</strong>vem ser<br />
ortonormais, em particular <strong>de</strong>vem ser linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em R m . Logo <strong>de</strong>vemos ter<br />
r vetores L.I. em R m . Isso implica que m ≥ r.<br />
71<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦
Capítulo 6<br />
A matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> k pontos em<br />
∂H n R<br />
Neste capítulo, vamos mostrar que a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> k pontos distintos<br />
na fronteira do espaço hiperbólico real H n<br />
R caracteriza unicamente esses pontos a menos <strong>de</strong><br />
isometrias <strong>de</strong> H n<br />
R. Além disso, veremos como escrever as entradas <strong>de</strong>sta matriz <strong>de</strong> Gram<br />
normalizada em termos <strong>de</strong> invariantes <strong>de</strong> Korányi e Riemann, os quais <strong>de</strong>finiremos mais<br />
adiante.<br />
Daqui em diante, com exceção do capítulo 9, vamos consi<strong>de</strong>rar uma base em R n+1 <strong>de</strong><br />
modo que a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> assinatura (n, 1) em R n,1 se expresse da seguinte<br />
forma:<br />
〈V, W 〉 = v1wn+1 + v2w2 + v3w3 + · · · + vnwn + vn+1w1 . (6.1)<br />
⎡ ⎤ ⎡ ⎤<br />
Assim, se os vetores V e W <strong>de</strong> R n,1 são escritos como V =<br />
xn+1<br />
x1, xn+1, y1 e yn+1 números reais, e v e w vetores em Rn−1 , então<br />
⎢<br />
⎣<br />
x1<br />
v<br />
⎥ ⎢<br />
⎥<br />
⎦ e W = ⎢<br />
⎣<br />
y1<br />
w<br />
yn+1<br />
72<br />
⎥<br />
⎦ , com<br />
〈V, W 〉 = x1yn+1 + 〈〈v, w〉〉 + xn+1y1 , (6.2)<br />
sendo 〈〈v, w〉〉 o produto escalar usual dos vetores v e w em R n−1 .
6.1 Classes <strong>de</strong> congruência <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> Gram<br />
Dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) na fron-<br />
teira do espaço hiperbólico real são equivalentes se existir uma isometria f ∈ P O(n, 1) =<br />
Isom(H n<br />
R) tal que f(pi) = qi, ∀ i = 1, 2, · · · , k. Evi<strong>de</strong>ntemente essa equivalência é uma<br />
relação <strong>de</strong> equivalência. O conjunto das classes <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong>sta relação, munido da<br />
topologia quociente, é chamado <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> configurações <strong>de</strong> k pontos em ∂H n<br />
R e <strong>de</strong>notado<br />
por C(k, n).<br />
Observações:<br />
• Se G é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> k vetores em R n,1 e<br />
P1, P2, · · · , Pk são vetores isotrópicos, então, pelo critério <strong>de</strong> Sylvester, <strong>de</strong>t(G) ≤ 0.<br />
• Se σ é uma permutação <strong>de</strong> {1, 2, · · · , k}, então,<br />
<strong>de</strong>t G(P1, P2, · · · , Pk) = <strong>de</strong>t G(Pσ(1), Pσ(2), · · · , Pσ(k)),<br />
sendo G a matriz <strong>de</strong> Gram em cada caso. Basta ver que a permutação σ é uma<br />
composição <strong>de</strong> transposições e uma transposição transforma a matriz G por operações<br />
elementares.<br />
• Sejam p1, p2, . . . , pk pontos distintos em ∂H n R e sejam P1, P2, . . . , Pk respectivos levan-<br />
tamentos <strong>de</strong>stes pontos para R n,1 . Seja G a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> P1, P2, . . . , Pk. Como o<br />
grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R<br />
age triplamente transitivamente na fronteira, é fácil provar<br />
que gij = 0, para todos os índices distintos i e j. Logo G é uma matriz simétrica k × k,<br />
com números zero ao longo <strong>de</strong> toda a sua diagonal principal, e números diferentes <strong>de</strong><br />
zero fora da diagonal principal.<br />
• Se P ′<br />
i = λiPi sendo λi um número real não nulo, então as matrizes <strong>de</strong> Gram G <strong>de</strong><br />
P = (P1, P2, · · · , Pk) e G ′ <strong>de</strong> P ′ = (P ′ 1, P ′ 2, · · · , P ′ k ) estão relacionadas por G′ = DGD<br />
sendo D a matriz diagonal D = (λiδij).<br />
Definição 6.1. Duas matrizes simétricas G e G ′ k × k são equivalentes se existir uma<br />
matriz diagonal D = (λiδij), sendo λi um número real diferente <strong>de</strong> zero, tal que G ′ = DGD.<br />
Observe que se esse é o caso, G ′ = DGD, então <strong>de</strong>t(G ′ ) = (λ1 · · · λk) 2 <strong>de</strong>t(G). Desse<br />
modo matrizes simétricas equivalentes possuem <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> mesmo sinal.<br />
73
Proposição 6.1. Sejam p1, p2, · · · , pk pontos distintos em ∂H n<br />
R. Para cada i, po<strong>de</strong>mos<br />
escolher um levantamento Pi <strong>de</strong> pi tal que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> P = (P1, P2, . . . , Pk) satisfaz<br />
as condições<br />
Ou seja, G tem a seguinte aparência<br />
g23 = −1 e g1j = 1, ∀ j = 2, 3, . . . k .<br />
⎡<br />
⎤<br />
0 1 1 1 1 · · · 1<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢ 1 0 −1 g24 g25 · · · g2k ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢ 1 −1 0 g34 g35 · · ·<br />
⎥<br />
g3k ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
G = ⎢ 1 g24 g34 0 g45 · · · g4k ⎥ . (6.3)<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢ 1 g25 g35 g45 0 · · · g5k ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢<br />
..<br />
⎣ . . . . . .<br />
⎥<br />
. ⎦<br />
1 g2k g3k g4k g5k . . . 0<br />
Além disso, existe uma única matriz com essa aparência que é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> levanta-<br />
mentos <strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk.<br />
Demonstração. Sejam P1, P2, . . . , Pk levantamentos quaisquer <strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk. Vamos <strong>de</strong>-<br />
terminar λj ∈ R, λj = 0, tal que se P ′ j = λjPj então<br />
g ′ 23 = 〈P ′ 2, P ′ 3〉 = λ2λ3〈P2, P3〉 = −1 e<br />
g ′ 1j = 〈P ′ 1, P ′ j〉 = λ1λj〈P1, Pj〉 = 1, ∀ j = 2, 3, . . . k .<br />
Dado λ1, o qual iremos <strong>de</strong>terminar a seguir, <strong>de</strong>fina λj =<br />
Se esse é o caso, então g ′ 1j = 1, ∀ j = 2, 3, . . . k.<br />
1<br />
para j = 2, 3, . . . , k.<br />
λ1 〈P1, Pj〉<br />
Agora vamos <strong>de</strong>terminar λ1 para que g ′ 23 = −1. Isto ocorre se λ2λ3〈P2, P3〉 = −1. Mas,<br />
como já <strong>de</strong>terminamos λ2 e λ3 vemos que<br />
λ2λ3〈P2, P3〉 = −1 ⇔<br />
1 1<br />
λ1 〈P1, P2〉 λ1 〈P1, P3〉 〈P2, P3〉 = −1 ⇔ λ 2 〈P2, P3〉<br />
1 = −<br />
〈P1, P2〉 〈P1, P3〉 .<br />
Entretanto, como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> Hn R age triplamente transitivamente em<br />
∂Hn R , no mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar p1 = (0, 0, . . . , 0), p2 =<br />
74
⎡ ⎤<br />
⎡ ⎤<br />
−1<br />
⎢ √ ⎥ ⎡ ⎤<br />
−1 ⎢<br />
⎢ ⎥ ⎢ 2 ⎥ 0<br />
⎢ 0 ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥<br />
⎥ ⎢ 0 ⎥ ⎢ ⎥<br />
(1, 0, . . . , 0) e p3 = ∞. Então, P1 = ⎢ ⎥ , P2 = ⎢ ⎥ ⎢ . ⎥<br />
⎢<br />
⎣ . ⎥ ⎢ ⎥ , P3 = ⎢ ⎥ são levantamentos<br />
⎦ ⎢ . ⎥ ⎢<br />
⎢ ⎥ ⎣ 0 ⎥<br />
⎦<br />
0 ⎢<br />
⎣ 0 ⎥<br />
⎦ 1<br />
1<br />
〈P2, P3〉<br />
<strong>de</strong> p1, p2, p3, 〈P1, P2〉 = −1, 〈P2, P3〉 = −1 e 〈P1, P3〉 = −1. Logo,<br />
= −1 < 0.<br />
〈P1, P2〉 〈P1, P3〉<br />
Ou seja, <strong>de</strong>monstramos que se P1, P2 e P3 são levantamentos quaisquer <strong>de</strong> três pontos distintos<br />
em ∂Hn 〈P2, P3〉<br />
R , então<br />
〈P1, P2〉 〈P1, P3〉 < 0. Deste modo, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir λ1 como sendo o<br />
número real<br />
E daí, g ′ 23 = −1.<br />
λ1 =<br />
<br />
〈P2, P3〉<br />
−<br />
. (6.4)<br />
〈P1, P2〉 〈P1, P3〉<br />
Logo, para os valores <strong>de</strong>terminados acima <strong>de</strong> λ1, · · · , λk, os levantamentos P ′ 1, . . . , P ′ k<br />
<strong>de</strong> p1, . . . , pk são tais que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> P ′ = (P ′ 1, . . . , P ′ k ) tem a aparência <strong>de</strong>sejada.<br />
A parte da unicida<strong>de</strong> segue do fato <strong>de</strong> que (a menos do sinal <strong>de</strong> λ1) os escalares<br />
λ1, · · · , λk ficam <strong>de</strong>terminados unicamente a partir <strong>de</strong> dados levantamentos <strong>de</strong> p1, . . . , pk.<br />
Além disso, a troca do sinal <strong>de</strong> λ1 na expressão (6.4) não afeta na aparência da matriz <strong>de</strong><br />
Gram <strong>de</strong>sejada.<br />
Definição 6.2. Seja p = (p1, p2, . . . , pk) um conjunto or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> k pontos distintos em<br />
∂Hn R . A matriz G da proposição anterior é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> p.<br />
Observação: A matriz escrita na forma (6.3), que é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H n R , possui todos os números gij negativos (i ≥ 2, j ≥ 4,<br />
i < j). De fato, continuando com a notação da <strong>de</strong>monstração da proposição anterior temos<br />
que<br />
g ′ ij = 〈P ′<br />
i , P ′ j〉 = λiλj〈Pi, Pj〉 =<br />
1<br />
λ1 〈P1, Pi〉<br />
1<br />
λ1 〈P1, Pj〉 〈Pi, Pj〉 = 1<br />
λ1 2<br />
〈Pi, Pj〉<br />
〈P1, Pi〉 〈P1, Pj〉 .<br />
Como P1, Pi e Pj são levantamentos <strong>de</strong> três pontos distintos em ∂Hn R , temos que<br />
〈Pi, Pj〉<br />
〈P1, Pi〉 〈P1, Pj〉 < 0. Isto implica então que g′ ij < 0.<br />
75
Agora estamos prontos para <strong>de</strong>monstrar o teorema principal <strong>de</strong>sta seção: a matriz<br />
<strong>de</strong> Gram normalizada caracteriza unicamente, a menos <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> Hn R , um conjunto<br />
<strong>de</strong> k pontos distintos e or<strong>de</strong>nados em ∂Hn R . Entretanto, como este resultado é uma conseqüência<br />
do teorema 4.6, precisamos primeiramente <strong>de</strong>monstrar que o espaço gerado por<br />
vetores isotrópicos, dois a dois não paralelos, em R n,1 é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong><br />
R n,1 . Este é o tema da próxima proposição. Na <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>sta proposição será uti-<br />
lizada a seguinte observação, que é um fato válido para a forma bilinear simétrica (6.2) <strong>de</strong><br />
assinatura (n, 1) <strong>de</strong>finida em R n,1 , e que, com certeza, não é um fato válido para qualquer<br />
forma bilinear simétrica não-<strong>de</strong>generada em R n+1 .<br />
Observação: Sejam P e Q vetores isotrópicos em R n,1 . Pela <strong>de</strong>finição do espaço hiperbólico<br />
real, vemos que P e Q são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes se, e somente se, esses vetores se proje-<br />
tam em pontos distintos p e q em ∂Hn R . Além disso, utilizando o fato do grupo <strong>de</strong> isometrias<br />
<strong>de</strong> Hn R agir duplamente transitivamente em ∂HnR , po<strong>de</strong>mos escolher vetores isotrópicos para<br />
<strong>de</strong>monstrar que: se P e Q são vetores isotrópicos em Rn,1 então 〈P, Q〉 = 0 se, e somente se,<br />
P e Q são linearmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, ou seja, existe λ ∈ R tal que P = λ Q.<br />
Proposição 6.2. Sejam p1, p2, . . . , pk pontos distintos em ∂H n R e sejam P1, P2, . . . , Pk<br />
respectivos levantamentos <strong>de</strong>stes pontos para vetores isotrópicos em R n,1 . Neste caso, o<br />
espaço gerado pelos vetores P1, P2, . . . , Pk é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n,1 .<br />
Demonstração. Como observado acima, para todos os índices distintos i e j, como pi = pj,<br />
vemos que os vetores Pi e Pj são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e isto implica que 〈Pi, Pj〉 = 0.<br />
Seja W = span{P1, . . . , Pk} o espaço gerado pelos vetores P1, . . . , Pk. Devemos mostrar que<br />
se w0 ∈ W é tal que 〈w0, x〉 = 0 para todo x ∈ W , então w0 = 0. Observe que para isto<br />
é suficiente mostrar que se w0 ∈ W é tal que 〈w0, Pi〉 = 0 para todo i = 1, 2, . . . , k, então<br />
w0 = 0.<br />
Então seja w0 = α1P1 + · · · + αkPk um vetor em W tal que 〈w0, Pi〉 = 0 para todo i =<br />
1, 2, . . . , k. Como<br />
〈w0, w0〉 = 〈w0, α1P1 + · · · + αkPk〉 =<br />
76<br />
k<br />
αi 〈w0, Pi〉 = 0<br />
i=1
vemos que w0 é um vetor nulo. Além disso, w0 é vetor nulo tal que 〈w0, P1〉 = 0, sendo P1 um<br />
vetor isotrópico. Da observação anterior po<strong>de</strong>mos concluir daí que w0 e P1 são linearmente<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e que existe λ ∈ R tal que w0 = λ P1. Por outro lado, temos que 〈w0, P2〉 = 0 ⇒<br />
〈λ P1, P2〉 = 0 ⇒ λ〈P1, P2〉 = 0. Mas, como 〈P1, P2〉 = 0 por hipótese, a igualda<strong>de</strong> anterior<br />
implica que λ = 0, ou seja w0 = 0, como queríamos <strong>de</strong>monstrar.<br />
Agora sim estamos prontos para <strong>de</strong>monstrar o teorema principal <strong>de</strong>sta seção.<br />
Teorema 6.1. Dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distintos p = (p1, p2, . . . , pk) e<br />
q = (q1, q2, . . . , qk) em ∂Hn R são equivalentes se, e somente se, suas respectivas matrizes<br />
<strong>de</strong> Gram normalizadas são iguais.<br />
Demonstração. Suponhamos que p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) são dois conjuntos<br />
or<strong>de</strong>nados equivalente <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂Hn R . Seja f uma isometria <strong>de</strong> Hn R tal que<br />
f(pi) = qi para todo i. Como Isom(Hn R ) = PO(n, 1), sabemos que f po<strong>de</strong> ser representada<br />
por uma transformação linear ortogonal T ∈ O(n, 1). Sejam P1, P2, . . . , Pk levantamentos <strong>de</strong><br />
p1, p2, . . . , pk tal que a matriz <strong>de</strong> Gram G <strong>de</strong> P1, P2, . . . , Pk é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada<br />
<strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk. Para cada i, <strong>de</strong>fina Qi = T (Pi). Como T é levantamento <strong>de</strong> f, temos que<br />
Qi é levantamento <strong>de</strong> qi. Além disso, como T é isometria <strong>de</strong> R n,1 , T evi<strong>de</strong>ntemente preserva<br />
a forma bilinear simétrica <strong>de</strong> R n,1 , e isto implica que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> Q1, Q2, . . . , Qk<br />
é igual a matriz G. Portanto, essa matriz também tem a forma <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong> Gram<br />
normalizada. Assim provamos que p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) possuem as<br />
mesmas matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas.<br />
Reciprocamente, suponhamos que p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) são dois con-<br />
juntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />
que possuem as mesmas matrizes <strong>de</strong> Gram<br />
normalizadas. Para cada i, seja Pi levantamento <strong>de</strong> pi tal que que a matriz <strong>de</strong> Gram<br />
normalizada <strong>de</strong> p = (p1, p2, . . . , pk) é a matriz <strong>de</strong> Gram G(P1, P2, . . . , Pk). Analogamente,<br />
para cada i, seja Qi levantamento <strong>de</strong> qi tal que que a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong><br />
q = (q1, q2, . . . , qk) é a matriz <strong>de</strong> Gram G(Q1, Q2, . . . , Qk).<br />
Sejam W = span{P1, P2, . . . , Pk} e W ′ = span{Q1, Q2, . . . , Qk}. Pela proposição anterior,<br />
temos que W e W ′ são subespaços não-<strong>de</strong>generados <strong>de</strong> R n,1 . Além disso, como a matriz <strong>de</strong><br />
77
Gram <strong>de</strong> P1, P2, . . . , Pk é igual a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> Q1, Q2, . . . , Qk, o teorema 4.6 implica que<br />
existe uma isometria T <strong>de</strong> R n,1 tal que T (Pi) = Qi para todo i. Como o grupo <strong>de</strong> isometrias<br />
<strong>de</strong> Rn,1 é o grupo O(n, 1), e como Isom(Hn R ) = PO(n, 1), vemos que esta aplicação T induz<br />
uma isometria f <strong>de</strong> H n R tal que f(pi) = qi para todo i.<br />
Embora o próximo corolário não seja utilizado nesta dissertação, vale a pena <strong>de</strong>ixá-lo<br />
registrado aqui. Ele é uma conseqüência imediata do teorema anterior e da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
matrizes simétricas equivalentes.<br />
Corolario 6.1. Dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k pontos distintos p = (p1, p2, . . . , pk) e<br />
q = (q1, q2, . . . , qk) em ∂Hn R são equivalente se, e somente se, a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> quaisquer<br />
levantamentos <strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk é equivalente a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> quaisquer levantamentos<br />
<strong>de</strong> q1, q2, . . . , qk.<br />
6.2 Caracterização <strong>de</strong> matrizes simétricas que são ma-<br />
trizes <strong>de</strong> Gram<br />
Nesta seção vamos caracterizar quando uma matriz simétrica da forma (6.3) e <strong>de</strong> en-<br />
tradas reais é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em<br />
∂H n R .<br />
Lema 6.1. Seja G = (gij) uma matriz simétrica k × k <strong>de</strong> entradas reais e que tem a forma<br />
(6.3). Isto é,<br />
• g23 = −1 .<br />
• gii = 0 .<br />
• g1j = 1 para todo j = 2, 3, . . . , k .<br />
Então, via operações elementares nas linhas e nas colunas <strong>de</strong> G, esta po<strong>de</strong> ser transformada<br />
na matriz <strong>de</strong> blocos<br />
G ′ =<br />
⎡<br />
⎢<br />
⎣<br />
0 1 0<br />
1 0 0<br />
0 0 G<br />
78<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦
sendo G a seguinte matriz simétrica (k − 2) × (k − 2)<br />
G =<br />
⎡<br />
2<br />
⎢<br />
1 − g24 + g34<br />
⎢ 1 − g25 + g35<br />
⎢<br />
⎣ .<br />
1 − g24 + g34<br />
−2g24<br />
−g25 − g24 + g45<br />
.<br />
1 − g25 + g35<br />
−g25 − g24 + g45<br />
−2g25<br />
.<br />
· · ·<br />
· · ·<br />
· · ·<br />
. ..<br />
⎤<br />
1 − g2k + g3k<br />
⎥<br />
−g2k − g24 + g4k ⎥<br />
−g2k − g25 + g5k ⎥<br />
.<br />
⎥<br />
⎦<br />
1 − g2k + g3k −g2k − g24 + g4k −g2k − g25 + g5k · · · −2g2k<br />
Demonstração. Basta utilizar as operações elementares<br />
(1) Lj ← Lj − L2 .<br />
(2) Cj ← Cj − C2 .<br />
(3) Lj ← Lj − g2j L1 .<br />
(4) Cj ← Cj − g2j C1 .<br />
para j = 3, 4, . . . , k. Observe que, sendo G simétrica, os pares (1)-(2) e (3)-(4) <strong>de</strong> operações<br />
elementares em linhas e colunas garantem que G é simétrica.<br />
Definição 6.3. A matriz simétrica G do lema anterior é a matriz associada da matriz<br />
simétrica G.<br />
Observação: Seja I = {i1, i2, . . . , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em<br />
{1, 2, . . . , k − 2}, e seja GI o menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e das colunas<br />
<strong>de</strong> G cujos índices estão em I. Seja G12,I o menor principal <strong>de</strong> G constituído das suas linhas<br />
e colunas 1, 2, i1 + 2, i2 + 2, . . . , im + 2, e seja G ′ 12,I o correspon<strong>de</strong>nte menor principal <strong>de</strong> G′ .<br />
Analisando as operações elementares que foram utilizadas na <strong>de</strong>monstração do lema anterior,<br />
vemos que <strong>de</strong>t(G12,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 12,I ). Como G′ é uma matriz <strong>de</strong> blocos, temos então que<br />
<strong>de</strong>t(G12,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 12,I) = <strong>de</strong>t<br />
0 1<br />
1 0<br />
<br />
· <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t( GI) . (6.5)<br />
Agora po<strong>de</strong>mos enunciar e <strong>de</strong>monstrar o teorema <strong>de</strong> caracterização <strong>de</strong> matrizes<br />
simétricas da forma (6.3) e <strong>de</strong> entradas reais que são matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong><br />
um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H n R . Aqui vale a pena relembrar que se G = (gij) é<br />
79
a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos <strong>de</strong> ∂H n R<br />
então, como<br />
observado na página 75, temos que todos os termos indicados por gij na matriz (6.3) são<br />
negativos. Isto é, gij < 0 para i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j.<br />
Observação: Na <strong>de</strong>monstração do teorema a seguir, mostraremos que G é matriz <strong>de</strong> Gram<br />
<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k − 2 vetores em R n−1 munido com o seu produto escalar usual. Pelo<br />
teorema 5.8, sabemos que isso é verda<strong>de</strong> se, e somente se, G é semi-<strong>de</strong>finida positiva e<br />
posto( G) ≤ n − 1. Mas, como queremos condições sobre G e não sobre G, precisamos<br />
traduzir a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> posto( G) ≤ n − 1 para uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> que envolva G e não G.<br />
Pelo teorema 5.1, temos que posto( G) ≤ n−1 ⇔ <strong>de</strong>t( GI) = 0 ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k −2}, |I| ≥ n.<br />
De (6.5), temos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G12,I). Assim, vemos que<br />
posto( G) ≤ n − 1 ⇔ <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀ I ⊂ {1, 2 · · · , k − 2}, |I| ≥ n. (6.6)<br />
Daí, concluímos então que G é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k−2 vetores em R n−1<br />
se, e somente se, G é semi-<strong>de</strong>finida positiva e <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k−2}, |I| ≥ n.<br />
Como se vê a seguir, essas são as hipóteses do teorema que vamos <strong>de</strong>monstrar.<br />
Teorema 6.2. (a) Se G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos<br />
distintos em ∂H n R , então G tem a forma (6.3), gij < 0 (i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j), sua<br />
matriz associada G é semi-<strong>de</strong>finida positiva e <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k − 2} se<br />
|I| ≥ n.<br />
(b) Reciprocamente, seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) <strong>de</strong> entradas reais da forma<br />
(6.3), com gij < 0 (i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j). Se n é um inteiro positivo tal que<br />
<strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k −2} se |I| ≥ n e a matriz associada G é semi-<strong>de</strong>finida<br />
positiva, então G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos<br />
em ∂H n R .<br />
(c) Se uma matriz G da forma (6.3) tem posto r, então G não é a matriz <strong>de</strong> Gram<br />
normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H m R<br />
m − 1 < r − 2.<br />
para todo m tal que<br />
Demonstração. (a) Suponhamos que G seja matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto<br />
<strong>de</strong> k pontos distintos {p1, p2, . . . , pk} em ∂H n R . Seja G a matriz associada <strong>de</strong> G. De<br />
acordo com o teorema 5.5, para mostrar que G é semi-<strong>de</strong>finida positiva basta mostrar-<br />
mos que todos os menores principais <strong>de</strong> G possuem <strong>de</strong>terminantes não negativos. Então<br />
80
seja I = {i1, i2, . . . , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em {1, 2, . . . , k −2}, e<br />
seja GI o menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e das colunas <strong>de</strong> G cujos índices<br />
estão em I. Pela equação (6.5) temos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G12,I), sendo G12,I o<br />
menor principal <strong>de</strong> G constituido das suas linhas e colunas 1, 2, i1 +2, i2 +2, . . . , im +2.<br />
Como G12,I é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> levantamentos <strong>de</strong> p1, p2, pi1+2, pi2+2, . . ., pim+2,<br />
pela observação da página 73, sabemos que isto implica que <strong>de</strong>t(G12,I) ≤ 0. Logo<br />
concluímos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G12,I) ≥ 0. Portanto todos os menores principais<br />
<strong>de</strong> G possuem <strong>de</strong>terminante não negativo e, pelo teorema 5.5, concluímos que G é<br />
semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />
Agora só falta mostrar que <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k − 2}, |I| ≥ n. Para<br />
<strong>de</strong>monstrar isso, como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R<br />
age triplamente transitivamente<br />
na fronteira, po<strong>de</strong>mos supor que p1, p2, . . . , pk são tais que seus levantamentos são os<br />
seguintes vetores nulos <strong>de</strong> R n,1<br />
P1 =<br />
⎡ ⎤<br />
1<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
⎣0⎥<br />
⎦<br />
0<br />
, P2<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣0⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P3<br />
⎡ ⎤<br />
x3<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣v3<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P4<br />
⎡ ⎤<br />
x4<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣v4<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P5<br />
⎡ ⎤<br />
x5<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣v5<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, . . . , Pk<br />
⎡ ⎤<br />
xk<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣vk<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
,<br />
on<strong>de</strong> estamos consi<strong>de</strong>rando xj ∈ R, vj ∈ R n−1 , x3 = −1 e v3 = √ 2e1 on<strong>de</strong> e1 é o<br />
primeiro vetor da base canônica <strong>de</strong> R n−1 . Da expressão (6.2) do produto 〈·, ·〉 em R n,1 ,<br />
vemos que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores é<br />
⎡<br />
⎤<br />
0 1 1 1 1 · · · 1<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢ 1 0 x3 x4 x5 · · · xk ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢ 1 x3 2x3 + v33 x3 + v34 + x4 x3 + v35 + x5 · · · x3 + v3k +<br />
⎥<br />
xk ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
G = ⎢ 1 x4 x3 + v34 + x4 2x4 + v44 x4 + v45 + x5 · · · x4 + v4k + xk ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢ 1 x5 x3 + v35 + x5 x4 + v45 + x5 2x5 + v55 · · · x5 + v5k + xk ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢<br />
.<br />
⎣ . . .<br />
.<br />
. ..<br />
⎥<br />
. ⎦<br />
1 xk x3 + v3k + xk x4 + v4k + xk x5 + v5k + xk . . . 2xk + vkk<br />
sendo vij = 〈〈vi, vj〉〉 o produto escalar usual dos vetores vi e vj <strong>de</strong> R n−1 .<br />
Escrevendo as entradas <strong>de</strong>sta matriz G como gij, lembrando que P1, P2, . . . , Pk são<br />
vetores nulos, obtemos as seguintes relações:<br />
81
⎧<br />
⎪⎨<br />
⎪⎩<br />
xj = g2j<br />
2xj + vjj = 0<br />
xj + vjl + xl = gjl<br />
Substituindo xj = g2j nas relações 2xj + vjj = 0 e xj + vjl + xl = gjl, obtemos as<br />
igualda<strong>de</strong>s<br />
vjj = −2g2j<br />
vjl = −g2j − g2l + gjl<br />
Lembrando que x3 = g23 = −1, essas igualda<strong>de</strong>s implicam que a matriz <strong>de</strong> Gram dos<br />
vetores v3 = √ 2e1, v4, . . ., vk no produto escalar usual <strong>de</strong> R n−1 é exatamente a matriz<br />
G:<br />
⎡<br />
2<br />
⎢<br />
1 − g24 + g34<br />
G<br />
⎢<br />
= ⎢ 1 − g25 + g35<br />
⎢<br />
⎣ .<br />
1 − g24 + g34<br />
−2g24<br />
−g25 − g24 + g45<br />
.<br />
1 − g25 + g35<br />
−g25 − g24 + g45<br />
−2g25<br />
.<br />
· · ·<br />
· · ·<br />
· · ·<br />
. ..<br />
⎤<br />
1 − g2k + g3k<br />
⎥<br />
−g2k − g24 + g4k ⎥<br />
−g2k − g25 + g5k ⎥<br />
.<br />
⎥<br />
⎦<br />
1 − g2k + g3k −g2k − g24 + g4k −g2k − g25 + g5k · · · −2g2k<br />
Aplicando o lema 5.3 concluímos, <strong>de</strong> uma outra maneira, que a matriz G é semi-<strong>de</strong>finida<br />
positiva. Além disso, como G é matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k − 2 vetores em<br />
R n−1 , a observação da página 80 implica que <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k −<br />
2}, |I| ≥ n, como queríamos.<br />
(b) Seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) <strong>de</strong> entradas reais da forma (6.3). Suponha<br />
que n é um inteiro positivo tal que <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {1, 2, · · · , k − 2}, |I| ≥ n, e<br />
que a matriz associada G é semi-<strong>de</strong>finida positiva. Devemos mostrar que, neste caso,<br />
G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em ∂H n R .<br />
Isto é, <strong>de</strong>vemos mostrar que existem k vetores nulos P1, P2, . . ., Pk tal que a matriz<br />
<strong>de</strong> Gram G(P1, P2, . . . , Pk) <strong>de</strong>sses vetores seja igual a G. Como o grupo <strong>de</strong> isometrias<br />
<strong>de</strong> H n R<br />
nulos são<br />
age duplamente transitivamente na fronteira po<strong>de</strong>mos supor que esses vetores<br />
82
P1 =<br />
⎡ ⎤<br />
1<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
⎣0⎥<br />
⎦<br />
0<br />
, P2<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣0⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P3<br />
⎡ ⎤<br />
x3<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣v3<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P4<br />
⎡ ⎤<br />
x4<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣v4<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P5<br />
⎡ ⎤<br />
x5<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣v5<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, . . . , Pk<br />
⎡ ⎤<br />
xk<br />
⎢ ⎥<br />
= ⎢<br />
⎣vk<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
,<br />
on<strong>de</strong> estamos consi<strong>de</strong>rando xj ∈ R e vj ∈ R n−1 . Da expressão (6.2) do produto 〈·, ·〉<br />
em R n,1 , vemos que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores é<br />
G(P1, . . . , Pk) =<br />
⎡<br />
⎤<br />
0 1 1 1 1 · · · 1<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢ 1 0 x3 x4 x5 · · · xk ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢ 1 x3 2x3 + v33 x3 + v34 + x4 x3 + v35 + x5 · · · x3 + v3k +<br />
⎥<br />
xk ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
= ⎢ 1 x4 x3 + v34 + x4 2x4 + v44 x4 + v45 + x5 · · · x4 + v4k + xk ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢ 1 x5 x3 + v35 + x5 x4 + v45 + x5 2x5 + v55 · · · x5 + v5k + xk ⎥<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢<br />
.<br />
⎣ . . .<br />
.<br />
. ..<br />
⎥<br />
. ⎦<br />
1 xk x3 + v3k + xk x4 + v4k + xk x5 + v5k + xk . . . 2xk + vkk<br />
sendo vij = 〈〈vi, vj〉〉 o produto escalar usual dos vetores vi e vj <strong>de</strong> R n−1 .<br />
Para G ser igual a G(P1, . . . , Pk) <strong>de</strong>vemos ter<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
⎪⎩<br />
xj = g2j<br />
2xj + vjj = 0<br />
xj + vjl + xl = gjl<br />
Observe que, dada a matriz G = (gij), da primeira <strong>de</strong>stas equações, obtemos que<br />
xj = g2j, para j = 3, 4, . . . , k. Assim, para a <strong>de</strong>terminação completa dos vetores P1,<br />
P2, . . ., Pk falta o cálculo dos vetores vj em termos das entradas <strong>de</strong> G. Para efetuar<br />
isso, substitua xj = g2j nas duas últimas equações do sistema linear acima. Neste caso,<br />
estas equações tomam a forma<br />
vjj = −2g2j<br />
vjl = −g2j − g2l + gjl<br />
83
Lembrando que g23 = −1, essas equações implicam que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores<br />
procurados v3, v4, . . ., vk no produto escalar usual <strong>de</strong> R n−1 <strong>de</strong>ve ser exatamente a<br />
matriz G:<br />
⎡<br />
2<br />
⎢<br />
1 − g24 + g34<br />
G<br />
⎢<br />
= ⎢ 1 − g25 + g35<br />
⎢<br />
⎣ .<br />
1 − g24 + g34<br />
−2g24<br />
−g25 − g24 + g45<br />
.<br />
1 − g25 + g35<br />
−g25 − g24 + g45<br />
−2g25<br />
.<br />
· · ·<br />
· · ·<br />
· · ·<br />
. ..<br />
⎤<br />
1 − g2k + g3k<br />
⎥<br />
−g2k − g24 + g4k ⎥<br />
−g2k − g25 + g5k ⎥<br />
.<br />
⎥<br />
⎦<br />
1 − g2k + g3k −g2k − g24 + g4k −g2k − g25 + g5k · · · −2g2k<br />
Mas como G é uma matriz (k − 2) × (k − 2) simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva e, por<br />
hipótese, a equação (6.6) implica que posto( G) ≤ n − 1, o teorema 5.8 implica que<br />
existem vetores v3, v4, . . ., vk em R n−1 tais que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores, no<br />
produto escalar usual <strong>de</strong> R n−1 , é exatamente a matriz G.<br />
Como já havíamos calculados os valores <strong>de</strong> x3, · · · , xk e agora provamos a existência<br />
<strong>de</strong> vetores v3, · · · , vk (tudo isso em termos das entradas das matriz G) <strong>de</strong>monstramos<br />
que existem vetores nulos P1, . . ., Pk tais que G é a matriz <strong>de</strong> Gram dos pontos p1,<br />
. . ., pk <strong>de</strong> ∂H n R <strong>de</strong>finidos por esses vetores nulos. Finalmente, como gij = 0 para i = j,<br />
vemos que os pontos p1, . . ., pk são dois a dois distintos.<br />
(c) Suponhamos, por redução ao absurdo, que uma matriz G da forma (6.3) e <strong>de</strong> posto<br />
r seja matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos em ∂H m R<br />
sendo que<br />
m − 1 < r − 2. Analisando a prova da parte (a), isso implica que G é matriz <strong>de</strong> Gram<br />
<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k − 2 vetores em R m−1 , no produto escalar usual <strong>de</strong> R m−1 . Como<br />
posto( G) = r − 2, o teorema 5.8 implica que m − 1 ≥ r − 2. Da hipótese m − 1 < r − 2,<br />
obtemos então uma contradição.<br />
Utilizando o teorema 5.5, que nos diz que uma matriz é semi-<strong>de</strong>finida positiva se, e<br />
somente se, o <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> todos os seus menores principais são não negativos, po<strong>de</strong>mos<br />
reescrever o teorema anterior do seguinte modo. Observamos que no teorema a seguir, dado<br />
84
um subconjunto I <strong>de</strong> índices i1 < i2 < · · · < il em {4, 5, . . . , k} a notação G123,I indica a<br />
submatriz menor principal <strong>de</strong> G constituida das linhas e das colunas <strong>de</strong> G <strong>de</strong> índices iguais<br />
a 1, 2, 3, i1, i2, . . ., il.<br />
Teorema 6.3. (a) Se G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4<br />
pontos distintos em ∂H n R , então G tem a forma (6.3), gij < 0 (i ≥ 2, j ≥ 4 e<br />
i < j), <strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, |I| ≥ n, e <strong>de</strong>t(G123,J) ≤ 0 para todo<br />
J ⊂ {4, 5, . . . , k}.<br />
(b) Reciprocamente, seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) <strong>de</strong> entradas reais da forma<br />
(6.3) com gij < 0 (i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j). Seja n é um inteiro positivo tal que<br />
<strong>de</strong>t(G12,I) = 0 ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, |I| ≥ n. Se para todo subconjunto J ⊂ {4, 5, . . . , k}<br />
temos <strong>de</strong>t(G123,J) ≤ 0, então G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k<br />
pontos distintos em ∂H n R .<br />
Vamos consi<strong>de</strong>rar agora o caso particular n = 3. Isto é, vamos caracterizar as ma-<br />
trizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos distintos em ∂H3 R . As duas<br />
afirmações do teorema anterior po<strong>de</strong>m ser escritas do seguinte modo:<br />
Teorema 6.4. (a) Seja G a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos<br />
distintos em ∂H 3 R . Então <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, |I| ≥ 3, gij < 0 (i ≥ 2,<br />
j ≥ 4 e i < j) e <strong>de</strong>t(G123,J) ≤ 0 para todo J ⊂ {4, 5, . . . , k}.<br />
(b) Reciprocamente, seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) da forma (6.3) e <strong>de</strong> entradas<br />
reais. Suponhamos que <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, |I| ≥ 3 e que gij < 0 (i ≥ 2,<br />
j ≥ 4 e i < j). Se para todo subconjunto J ⊂ {4, 5, . . . , k} temos <strong>de</strong>t(G123,J) ≤ 0,<br />
então G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em<br />
∂H 3 R .<br />
6.3 O invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann<br />
Sejam p1, p2, p3 e p4 quatro pontos distintos na fronteira do espaço hiperbólico real<br />
∂H n R . O invariante <strong>de</strong> Korányi e Riemann <strong>de</strong>sses pontos é o número real χ(p1, p2, p3, p4)<br />
<strong>de</strong>finido por:<br />
χ(p1, p2, p3, p4) = 〈P1, P3〉〈P2, P4〉<br />
〈P1, P2〉〈P3, P4〉<br />
85
sendo P1, P2, P3 e P4 vetores nulos em R n,1 que se projetam, respectivamente em p1, p2, p3<br />
e p4.<br />
Observe que χ está bem <strong>de</strong>finido pois não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha dos levantamentos <strong>de</strong><br />
p1, p2, p3 e p4 e, como Isom(H n R ) = PO(n, 1), se f é uma isometria <strong>de</strong> Hn R então<br />
χ(f(p1), f(p2), f(p3), f(p4)) = χ(p1, p2, p3, p4) .<br />
Como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R age triplamente transitivamente na fronteira ∂Hn R ,<br />
escolhendo a<strong>de</strong>quadamente p1, p2 e p3 po<strong>de</strong>mos provar que χ(p1, p2, p3, p4) > 0 para quaisquer<br />
quatro pontos distintos p1, p2, p3 e p4 <strong>de</strong> ∂H n R .<br />
Simetrias do invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann<br />
sejam<br />
Dado um conjunto or<strong>de</strong>nado p = (p1, p2, p3, p4) <strong>de</strong> quatro pontos distintos <strong>de</strong> ∂H n R ,<br />
χ1 = χ1(p) = χ(p1, p2, p3, p4)<br />
χ2 = χ2(p) = χ(p2, p1, p3, p4)<br />
Efetuando algumas contas simples, prova-se que o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann <strong>de</strong><br />
qualquer permutação <strong>de</strong> p1, p2, p3 e p4 po<strong>de</strong> ser escrito em termos que χ1 e χ2, conforme a<br />
lista a seguir:<br />
χ(p1, p2, p3, p4) = χ(p4, p3, p2, p1) = χ(p2, p1, p4, p3) = χ(p3, p4, p1, p2) = χ1<br />
χ(p2, p1, p3, p4) = χ(p4, p3, p1, p2) = χ(p1, p2, p4, p3) = χ(p3, p4, p2, p1) = χ2<br />
χ(p1, p3, p2, p4) = χ(p4, p2, p3, p1) = χ(p3, p1, p4, p2) = χ(p2, p4, p1, p3) = 1<br />
χ1<br />
χ(p1, p4, p2, p3) = χ(p3, p2, p4, p1) = χ(p4, p1, p3, p2) = χ(p2, p3, p1, p4) = 1<br />
χ(p1, p4, p3, p2) = χ(p2, p3, p4, p1) = χ(p4, p1, p2, p3) = χ(p3, p2, p1, p4) = χ1<br />
χ(p1, p3, p4, p2) = χ(p2, p4, p3, p1) = χ(p3, p1, p2, p4) = χ(p4, p2, p1, p3) = χ2<br />
86<br />
χ2<br />
χ2<br />
χ1
6.4 Matrizes <strong>de</strong> Gram e o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann<br />
Neste capítulo vimos que a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong>termina a classe <strong>de</strong> con-<br />
gruência <strong>de</strong> uma k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R . Entretanto, como um ponto em ∂Hn R<br />
possui vários levantamentos, como as entradas <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da es-<br />
colha dos levantamentos, e como para o cálculo da matriz <strong>de</strong> Gram normalizada fazemos<br />
uma escolha bastante especial <strong>de</strong> levantamentos, é interessante formular a classificação <strong>de</strong><br />
classes <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />
numa linguagem que utilize<br />
invariantes do espaço hiperbólico. Nesta seção, veremos como <strong>de</strong>terminar as entradas da<br />
matriz <strong>de</strong> Gram normalizada em termos <strong>de</strong> invariantes <strong>de</strong> Korányi-Riemann. Feito isto,<br />
teremos uma lista <strong>de</strong> invariantes associada a uma k-upla <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R que<br />
terão a seguinte proprieda<strong>de</strong>: duas <strong>de</strong>ssas k-uplas serão equivalentes se, e somente se, esses<br />
invariantes forem iguais para estes dois conjuntos <strong>de</strong> pontos.<br />
Proposição 6.3. Seja G = (gij) a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k ≥ 4<br />
pontos distintos p1, p2, . . . , pk em ∂Hn R . Então para todos os índices i e j tais que i =<br />
3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j temos que<br />
(a) χ(p1, pj, p3, p2) = −g2j .<br />
(b) χ(p2, pi, p1, pj) = gij<br />
Reciprocamente,<br />
g2i<br />
(A) g2j = −χ(p1, pj, p3, p2).<br />
(B) gij = −χ(p1, pi, p3, p2) χ(p2, pi, p1, pj) .<br />
.<br />
Demonstração. Sejam P1, P2, . . . , Pk levantamentos <strong>de</strong> p1, p2, . . . , pk tais que a matriz <strong>de</strong><br />
Gram normalizada G é dada por G = ( gij = 〈Pi, Pj〉 ). Pela <strong>de</strong>finição do invariante <strong>de</strong><br />
Korányi-Riemann temos:<br />
(a) χ(p1, pj, p3, p2) = g13 gj2<br />
g1j g32<br />
(b) χ(p2, pi, p1, pj) = g21 gij<br />
g2i g1j<br />
= −g2j .<br />
= gij<br />
g2i<br />
.<br />
87
Os itens (A) e (B) seguem imediatamente dos itens (a) e (b).<br />
Observação: Como o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemman <strong>de</strong> quatro pontos distintos <strong>de</strong> ∂H n R<br />
sempre é um número positivo, as igualda<strong>de</strong>s (A) e (B) da proposição anterior implicam que<br />
todos os termos indicados por gij (i ≥ 2, j ≥ 4 e i < j) na matriz (6.3), são números<br />
negativos. Isto já havia sido concluído na observação da página 75.<br />
Utilizando o teorema 6.1, que nos diz que duas k-uplas <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />
são equivalentes se, e somente se, elas possuem a mesma matriz <strong>de</strong> Gram normalizada, e<br />
utilizando a proposição anterior que permite o cálculo das entradas da Matriz <strong>de</strong> Gram<br />
normalizada em termos <strong>de</strong> invariantes <strong>de</strong> Korányi-Riemann, po<strong>de</strong>mos concluir o seguinte<br />
resultado.<br />
Teorema 6.5. Se k ≥ 4, então duas k-uplas or<strong>de</strong>nadas p = (p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk)<br />
<strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R<br />
são equivalentes se, e somente se<br />
χ(p1, pj, p3, p2) = χ(q1, qj, q3, q2) e χ(p2, pi, p1, pj) = χ(q2, qi, q1, qj)<br />
para todos os índices i e j tais que i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j.<br />
Observação: Dada uma k-upla or<strong>de</strong>nada p = (p1, p2, . . . , pk) <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H n R ,<br />
associamos a ela d =<br />
k(k − 3)<br />
2<br />
invariantes:<br />
χj = χ(p1, pj, p3, p2) e χij = χ(p2, pi, p1, pj)<br />
k(k − 3)<br />
on<strong>de</strong> i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j. Observe que esta quantida<strong>de</strong> d = <strong>de</strong><br />
2<br />
invariantes é igual a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entradas representadas pelas letras gij (i ≥ 2, j ≥ 4, i <<br />
j) na matriz <strong>de</strong> Gram normalizada (6.3).<br />
88
6.5 O espaço <strong>de</strong> Módulos para C(k, n)<br />
Lembre-se da seguinte <strong>de</strong>finição: dois conjuntos or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos p =<br />
(p1, p2, . . . , pk) e q = (q1, q2, . . . , qk) na fronteira do espaço hiperbólico real são equivalentes<br />
se existir uma isometria f ∈ PO(n, 1) = Isom(H n R ) tal que f(pi) = qi, ∀i = 1, 2, . . . , k.<br />
Evi<strong>de</strong>ntemente essa equivalência é uma relação <strong>de</strong> equivalência. O conjunto das classes <strong>de</strong><br />
equivalência <strong>de</strong>sta relação, munido da topologia quociente, é chamado <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> con-<br />
figurações <strong>de</strong> k pontos em ∂Hn R . Este espaço <strong>de</strong> configurações é <strong>de</strong>notado por C(k, n).<br />
Nesta seção vamos construir um espaço <strong>de</strong> Módulos M(k, n) para este<br />
espaço <strong>de</strong> configurações. Seja M(k, n) o conjunto dos vetores (χj, χij) <strong>de</strong> R d +<br />
(i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j) que satisfazem as seguintes relações: construa a<br />
matriz simétria G = (gij), que tem a forma (6.3), sendo suas entradas dadas pela proposição<br />
6.3:<br />
• g1j = 1 para todo j = 2, 3, . . . , k .<br />
• g23 = −1 .<br />
• gii = 0 .<br />
• g2j = −χj se j = 4, 5, . . . , k.<br />
• gij = −χi χij se i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j.<br />
Observação: como χj só está <strong>de</strong>finido para j = 4, 5, . . . , k, para a última igualda<strong>de</strong> da lista<br />
acima fazer sentido para i = 3 consi<strong>de</strong>re que χ3 = 1.<br />
Assuma que os d =<br />
hipóteses do teorema 6.3:<br />
k(k − 3)<br />
2<br />
(1) <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, tal que|I| ≥ n.<br />
número χj e χij sejam tais que a matriz G satisfaça as<br />
(2) Para todo subconjunto I ⊂ {4, 5, . . . , k} temos <strong>de</strong>t(G123,I) ≤ 0.<br />
Dada uma k-upla or<strong>de</strong>nada p = (p1, p2, . . . , pk) <strong>de</strong> pontos distintos em ∂Hn R , represente<br />
por m(p) ∈ C(k, n) a classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> p em C(k, n). Agora <strong>de</strong>fina a aplicação<br />
τ : C(k, n) −→ R d +<br />
89
por τ(m(p)) = (χj, χij), sendo (χj, χij) o vetor <strong>de</strong> R d + (i = 3, 4, . . . , k , j = 4, 5, . . . , k e i < j)<br />
cujas coor<strong>de</strong>nadas χj e χij são dadas pela observação da página 88:<br />
χj = χ(p1, pj, p3, p2) e χij = χ(p2, pi, p1, pj)<br />
Feitas estas <strong>de</strong>finições, po<strong>de</strong>mos enunciar o teorema principal <strong>de</strong>ste capítulo.<br />
Teorema 6.6. A aplicação τ : C(k, n) −→ R d + está bem <strong>de</strong>finida e ela induz uma bijeção<br />
σ : C(k, n) −→ M(k, n).<br />
Demonstração.<br />
• A aplicação τ está bem <strong>de</strong>finida pois o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann é preservado por<br />
isometrias do espaço hiperbólico. Logo, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> τ(m(p)) in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha<br />
do representante p = (p1, p2, . . . , pk) em m(p).<br />
• O teorema 6.3 implica que realmente σ(m(p)) é um ponto no conjunto M(k, n).<br />
• Este mesmo teorema garante que a aplicação σ é sobrejetiva.<br />
• O teorema 6.5 implica que σ é injetiva.<br />
O conjunto M(k, n) é um espaço <strong>de</strong> módulos para o espaço <strong>de</strong> configurações C(k, n).<br />
90
Capítulo 7<br />
Quatro pontos distintos na fronteira<br />
<strong>de</strong> H 3 R<br />
Nesta seção vamos consi<strong>de</strong>rar o conjunto M4 <strong>de</strong> quádruplas or<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> pontos distin-<br />
tos na fronteira do espaço hiperbólico real H3 R . Vamos ver que cada uma <strong>de</strong>ssas quádruplas<br />
fica bem caracterizada, a menos <strong>de</strong> transformações <strong>de</strong> Möbius, pela razão cruzada clássica<br />
dos pontos, e que elas ficam caracterizadas a menos <strong>de</strong> qualquer isometria <strong>de</strong> H 3 R<br />
91<br />
por dois<br />
invariantes <strong>de</strong> Korányi-Riemann dos quatro pontos. Nosso objetivo é caracterizar o espaço<br />
<strong>de</strong> configurações<br />
C4 =<br />
M4<br />
Isom(H 3 R )<br />
obtido pela relação <strong>de</strong> quivalência: se z = (z1, z2, z3, z4) e w = (w1, w2, w3, w4) são pontos<br />
em M4 então z é equivalente a w se existir uma isometria f <strong>de</strong> H 3 R tal que f(zj) = wj<br />
para j = 1, 2, 3, 4. Em M4 consi<strong>de</strong>ramos a topologia produto e em C4 a topologia quociente.<br />
Representaremos a classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> um ponto z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 por 〈z〉 ∈ C4.<br />
7.1 A razão cruzada clássica em C<br />
Sejam dados quatro pontos distintos z1, z2, z3 e z4 no plano complexo estendido C.<br />
Utilizando a mesma nomencladutra do livro do Beardon [1], página 75, a razão cruzada<br />
<strong>de</strong>sses pontos é o número complexo [z1, z2, z3, z4] <strong>de</strong>finido por:<br />
[z1, z2, z3, z4] = (z1 − z3)(z2 − z4)<br />
(z1 − z2)(z3 − z4) , se z1, z2, z3, z4 ∈ C<br />
[∞, z2, z3, z4] = z2 − z4<br />
, se z1 = ∞<br />
z3 − z4
Observações:<br />
[z1, ∞, z3, z4] = z3 − z1<br />
, se z2 = ∞<br />
z3 − z4<br />
[z1, z2, ∞, z4] = z4 − z2<br />
, se z3 = ∞<br />
z1 − z2<br />
[z1, z2, z3, ∞] = z1 − z3<br />
, se z4 = ∞<br />
z1 − z2<br />
• Para todo z ∈ C tal que z = 0 e z = 1 tem-se que<br />
[1, 0, ∞, z] = z .<br />
• Dados três pontos distintos z1, z2 e z3 em C, se f : C → C é <strong>de</strong>finida por<br />
f(z) = [z1, z2, z3, z] ,<br />
então f é o único elemento <strong>de</strong> PSL(2, C), ou seja, o conjunto <strong>de</strong> todas as transformações<br />
<strong>de</strong> Möbius, tal que f(z1) = 1, f(z2) = 0 e f(z3) = ∞.<br />
• Das expressões que <strong>de</strong>finem a razão cruzada clássica segue que<br />
para qualquer z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4.<br />
Simetrias da razão cruzada<br />
[z1, z2, z3, z4] = 0 e [z1, z2, z3, z4] = 1<br />
Dado um conjunto or<strong>de</strong>nado (z1, z2, z3, z4) <strong>de</strong> quatro pontos distintos no plano complexo<br />
estendido, seja<br />
λ = [z1, z2, z3, z4] .<br />
Efetuando algumas contas simples (ver Beardon [1], páginas 76-77), prova-se que a<br />
razão cruzada <strong>de</strong> qualquer permutação <strong>de</strong> z1, z2, z3 e z4 po<strong>de</strong> ser escrita em termos que λ,<br />
conforme a seguinte lista:<br />
[z1, z2, z3, z4] = [z4, z3, z2, z1] = [z2, z1, z4, z3] = [z3, z4, z1, z2] = λ<br />
[z2, z1, z3, z4] = [z4, z3, z1, z2] = [z1, z2, z4, z3] = [z3, z4, z2, z1] = 1 − λ<br />
[z1, z3, z2, z4] = [z4, z2, z3, z1] = [z3, z1, z4, z2] = [z2, z4, z1, z3] = 1<br />
λ<br />
92
[z1, z4, z2, z3] = [z3, z2, z4, z1] = [z4, z1, z3, z2] = [z2, z3, z1, z4] = 1<br />
1 − λ<br />
[z1, z4, z3, z2] = [z2, z3, z4, z1] = [z4, z1, z2, z3] = [z3, z2, z1, z4] = λ<br />
λ − 1<br />
[z1, z3, z4, z2] = [z2, z4, z3, z1] = [z3, z1, z2, z4] = [z4, z2, z1, z3] =<br />
O seguinte teorema está <strong>de</strong>monstrado no livro do Beardon [1], página 75.<br />
λ − 1<br />
λ<br />
az + b<br />
Teorema 7.1. (a) Se g : C → C é uma transformação <strong>de</strong> Möbius, g(z) =<br />
cz + d com<br />
ad − bc = 0, então [g(z1), g(z2), g(z3), g(z4)] = [z1, z2, z3, z4], para quaisquer quatro<br />
pontos distintos z1, z2, z3 e z4 em C.<br />
(b) Sejam z1, z2, z3 e z4 quatro pontos distintos em C, e sejam w1, w2, w3 e w4 quatro pon-<br />
tos distintos em C. Se [z1, z2, z3, z4] = [w1, w2, w3, w4], então existe uma transformação<br />
<strong>de</strong> Möbius g : C → C tal que g(zj) = wj, j = 1, 2, 3, 4.<br />
Definição 7.1. I<strong>de</strong>ntificando a fronteira do espaço hiperbólico H 3 R<br />
estendido C, vamos representar por<br />
C4 + =<br />
M4<br />
PSL(2, C)<br />
com o plano complexo<br />
o conjunto obtido <strong>de</strong> M4 pela relação <strong>de</strong> equivalência: se z = (z1, z2, z3, z4) e w = (w1, w2, w3, w4)<br />
são pontos em M4 então z é equivalente a w se existir uma transformação <strong>de</strong> Möbius g <strong>de</strong> C<br />
tal que g(zj) = wj para j = 1, 2, 3, 4. Neste caso, vamos representar a classe <strong>de</strong> equivalência<br />
<strong>de</strong> um ponto z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 por 〈z〉+ ∈ C4.<br />
Consi<strong>de</strong>re agora a aplicação τ : C4 + → C <strong>de</strong>finida por: se 〈z〉+ ∈ C4 é classe <strong>de</strong><br />
equivalência <strong>de</strong> z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, então<br />
τ(〈z〉+) = [z1, z2, z3, z4] ,<br />
ou seja, τ(〈z〉+) é igual a razão cruzada dos pontos z = (z1, z2, z3, z4).<br />
Teorema 7.2. Esta aplicação τ : C4 + → C \ {0, 1} está bem <strong>de</strong>finida e é uma bijeção.<br />
Demonstração.<br />
93
• Devemos mostrar que a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> τ, τ(〈z〉+) = [z1, z2, z3, z4], não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha<br />
do representante z da classe <strong>de</strong> equivalência 〈z〉+. Então sejam z = (z1, z2, z3, z4) e<br />
w = (w1, w2, w3, w4) pontos equivalentes em M4, isto é, 〈z〉+ = 〈w〉+. Isso significa<br />
que existe uma transformação <strong>de</strong> Möbius g : C → C tal que g(zj) = wj, j = 1, 2, 3, 4.<br />
Da parte (a) do teorema 7.1 isso implica que [z1, z2, z3, z4] = [w1, w2, w3, w4]. Logo<br />
τ(〈z〉+) = [z1, z2, z3, z4] é igual a τ(〈w〉+) = [w1, w2, w3, w4]. Desse modo, mostramos<br />
que a aplicação τ está bem <strong>de</strong>finida.<br />
• Agora vamos mostrar que τ é injetiva. Para isso suponhamos que τ(〈z〉+) = τ(〈w〉+),<br />
em que 〈z〉+ ∈ C4 é classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 e 〈w〉+ ∈ C4<br />
é classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> w = (w1, w2, w3, w4) ∈ M4. Como τ(〈z〉+) = τ(〈w〉+)<br />
vemos que [z1, z2, z3, z4] = [w1, w2, w3, w4] e, pela parte (b) do teorema 7.1, existe uma<br />
transformação <strong>de</strong> Möbius g : C → C tal que g(zj) = wj, j = 1, 2, 3, 4. Assim, z e w<br />
são pontos equivalentes em M4, 〈z〉+ = 〈w〉+, e portanto τ é injetiva.<br />
• Finalmente vamos mostrar que τ é sobrejetiva. Para isso seja c um número complexo<br />
qualquer, c = 0 e c = 1. Se z1 = 0, z2 = 1, z3 = c e z4 = ∞ então esses pontos são<br />
distintos e [z1, z2, z3, z4] = [0, 1, c, ∞] = c. Para esses pontos, se 〈z〉+ ∈ C4 é a classe <strong>de</strong><br />
equivalência <strong>de</strong> z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, segue que τ(〈z〉+) = c. Logo τ é sobrejetiva.<br />
O teorema 7.1 nos mostra que a razão cruzada caracteriza, a menos <strong>de</strong> aplicações <strong>de</strong><br />
Möbius, quatro pontos distintos no plano complexo estendido. Para caracterizarmos esses<br />
pontos a menos <strong>de</strong> qualquer isometria do espaço hiperbólico, utilizaremos dois invariantes,<br />
a razão cruzada clássica e o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann.<br />
7.2 A razão cruzada clássica e o invariante <strong>de</strong> Korányi-<br />
Riemann<br />
Teorema 7.3. No mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior, para quaisquer quatro pontos distintos<br />
z1, z2, z3, z4 em C,<br />
χ(z1, z2, z3, z4) = [z1, z2, z3, z4] .<br />
94
Demonstração. Como o invariante <strong>de</strong> Korányi-Riemann e a razão cruzada são invariantes<br />
por transformações <strong>de</strong> Möbius, e como PSL(2, C) age triplamente transitivamente em C, sem<br />
perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos supor que z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy qualquer.<br />
Daí<br />
Logo<br />
[z1, z2, z3, z4] = [0, 1, ∞, z4] = z4 − 1<br />
0 − 1 = 1 − z4 = 1 − x − iy .<br />
<br />
[z1, z2, z3, z4] = (1 − x) 2 + y 2 = 1 − 2x + x 2 + y 2 .<br />
Por outro lado, pela aplicação (3.7), po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar os seguintes levantamentos <strong>de</strong><br />
z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy:<br />
Assim,<br />
P1 =<br />
⎡ ⎤<br />
−1<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
⎥<br />
⎦<br />
0<br />
, P2<br />
⎡ ⎤<br />
−1<br />
⎢√<br />
⎥<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
2 ⎥<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P3<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣0<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
e P4<br />
⎡<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
⎣<br />
−1<br />
√<br />
2 x<br />
√<br />
2 y<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ .<br />
χ(z1, z2, z3, z4) = 〈P1, P3〉〈P2, P4〉<br />
〈P1, P2〉〈P3, P4〉 = (−1) · (−x2 − y2 + 2x − 1)<br />
(−1) · (−1)<br />
Portanto concluímos que χ(z1, z2, z3, z4) = [z1, z2, z3, z4] .<br />
x 2 + y 2<br />
= x 2 + y 2 − 2x + 1 .<br />
Seguindo a mesma notação do capítulo anterior, temos que, dada uma quádrupla<br />
or<strong>de</strong>nada p = (p1, p2, p3, p4), para i = 3, 4, j = 4 e i < j, temos<br />
χ4 = χ(p1, p4, p3, p2) e χ34 = χ(p2, p3, p1, p4).<br />
E até o final <strong>de</strong>sta seção, usaremos a seguinte <strong>de</strong>finição:<br />
Definição 7.2. Dado z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 vamos consi<strong>de</strong>rar as seguintes notações:<br />
χ1 = χ4 = χ(z1, z4, z3, z2)<br />
χ2 = χ34 = χ(z2, z3, z1, z4).<br />
95
Pelo teorema 6.3, temos que a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada G <strong>de</strong> uma quádrupla<br />
or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> pontos distintos em ∂H3 R , po<strong>de</strong> ser escrita como<br />
⎡<br />
0<br />
⎢<br />
G = ⎢<br />
1<br />
⎢<br />
⎣ 1<br />
1<br />
0<br />
−1<br />
1<br />
−1<br />
0<br />
⎤<br />
1<br />
⎥<br />
−χ1 ⎥<br />
−χ2 ⎦<br />
1 −χ1 −χ2 0<br />
Vamos relembrar as hipóteses do teorema 6.3:<br />
(1) <strong>de</strong>t(G12,I) = 0, ∀I ⊂ {3, 4, · · · , k}, tal que|I| ≥ n.<br />
(2) Para todo subconjunto I ⊂ {4, 5, . . . , k} temos <strong>de</strong>t(G123,I) ≤ 0.<br />
Se aplicarmos essas hipóteses para n = 3 e k = 4, o item (1) <strong>de</strong>saparece e teremos que<br />
G123,I = G. Logo,<br />
∂H 3 R<br />
<strong>de</strong>t(G) ≤ 0 ⇒ 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2 ≥ 0<br />
E como sabemos que χ(p1, p2, p3, p4) > 0 para quaisquer quatro pontos distintos <strong>de</strong><br />
, vamos utilizar a seguinte <strong>de</strong>finição:<br />
Definição 7.3. Seja M4 a seguinte região do plano R 2 : (χ1, χ2) ∈ M4 se, e somente se,<br />
4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2 ≥ 0 , χ1 > 0 e χ2 > 0 .<br />
Este conjunto M4 é chamado <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> moduli do espaço <strong>de</strong> configurações C4.<br />
Esta região M4 correspon<strong>de</strong> a área hachurada na figura 7.1, juntamente com o seu<br />
contorno, excluíndo-se os dois pontos em que esse contorno parabólico fica tangente aos<br />
eixos coor<strong>de</strong>nados χ1 e χ2.<br />
Observação: Apesar do próximo resultado ser exatamente o teorema 6.6 para o caso n = 3<br />
e k = 4, apresentaremos uma nova <strong>de</strong>monstração para este caso especial.<br />
Teorema 7.4. A aplicação σ : C4 → M4 dada por σ(〈z〉) = (χ1(z), χ2(z)) está bem <strong>de</strong>finida<br />
e é um homeomorfismo.<br />
Demonstração.<br />
96
χ2<br />
1<br />
1<br />
M4<br />
χ1<br />
Figura 7.1: O espaço <strong>de</strong> moduli M4.<br />
• A aplicação σ está bem <strong>de</strong>finida pois o invariante <strong>de</strong> Korányi-Rimann é invariante por<br />
isometrias.<br />
• Vamos mostrar que para todo z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, a imagem τ(〈z〉) = (χ1, χ2) está<br />
contida na região M4. De fato, se z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, como o grupo <strong>de</strong> isometrias<br />
<strong>de</strong> H3 R age triplamente transitivamente em ∂H3R , e como o invariante <strong>de</strong> Korányi-<br />
Riemann é invariante por isometrias, po<strong>de</strong>mos supor, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que<br />
z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x+iy qualquer. Pela aplicação (3.7), po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar<br />
os seguintes levantamentos <strong>de</strong> z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy:<br />
Assim,<br />
P1 =<br />
⎡ ⎤<br />
−1<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
⎥<br />
⎦<br />
0<br />
, P2<br />
⎡ ⎤<br />
−1<br />
⎢√<br />
⎥<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
2 ⎥<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P3<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣0<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
e P4<br />
⎡<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
⎣<br />
−1<br />
√<br />
2 x<br />
√<br />
2 y<br />
x2 + y2 ⎤<br />
⎥<br />
⎦ .<br />
χ1 = χ(z1, z4, z3, z2) = 〈P1, P3〉〈P4, P2〉<br />
〈P1, P4〉〈P3, P2〉 = x2 + y2 − 2x + 1<br />
x2 + y2 χ2 = χ(z2, z3, z1, z4) = 〈P2, P1〉〈P3, P4〉<br />
〈P2, P3〉〈P1, P4〉 =<br />
1<br />
x2 .<br />
+ y2 De χ1 = (x − 1)2 + y2 x2 + y2 1<br />
e χ2 =<br />
x2 + y2 segue que χ1 ≥ 0 e χ2 ≥ 0. Além disso, como<br />
z4 = x + iy é diferente <strong>de</strong> z1 = 0 vemos que x2 + y2 = 0 e, como z4 = x + iy é diferente<br />
97<br />
.
<strong>de</strong> z2 = 1 vemos que (x − 1) 2 + y 2 = 0. Assim, provamos que χ1 > 0 e χ2 > 0. Agora,<br />
observe que das expressões <strong>de</strong> χ1 e χ2 obtemos χ1<br />
χ1<br />
χ2<br />
= 1<br />
− 2x + 1, o que implica que<br />
χ2<br />
x = χ2 − χ1 + 1<br />
2χ2<br />
e y 2 = 1<br />
χ2<br />
χ2<br />
= x 2 + y 2 − 2x + 1 e, portanto,<br />
− x 2 = 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2<br />
4χ 2 2<br />
Desta expressão <strong>de</strong> y 2 segue que 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2 ≥ 0. Assim <strong>de</strong>monstramos que<br />
para todo z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, a imagem τ(〈z〉) = (χ1, χ2) realmente está contida<br />
na região M4.<br />
• Vamos mostrar que σ é sobrejetiva. Para isso seja dado (χ1, χ2) ∈ M4. Devemos<br />
mostrar que existe z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4 tal que τ(〈z〉) = (χ1, χ2). Observe que,<br />
como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H3 R age triplamente transitivamente em ∂H3R , sem<br />
perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos provar a existência <strong>de</strong>sses pontos supondo que z1 = 0,<br />
z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy qualquer. Além disso, aplicando, se necessário, a<br />
isometria (z, t) ↦→ (z, t), po<strong>de</strong>mos supor ainda que y ≥ 0. Pela aplicação (3.7), po<strong>de</strong>mos<br />
consi<strong>de</strong>rar os seguintes levantamentos <strong>de</strong> z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e z4 = x + iy:<br />
P1 =<br />
⎡ ⎤<br />
−1<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
⎥<br />
⎦<br />
0<br />
, P2<br />
⎡ ⎤<br />
−1<br />
⎢√<br />
⎥<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
2 ⎥<br />
⎢<br />
⎣ 0<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
, P3<br />
⎡ ⎤<br />
0<br />
⎢ ⎥<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
0 ⎥<br />
⎢<br />
⎣0<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
e P4<br />
⎡<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
⎣<br />
−1<br />
√<br />
2 x<br />
√<br />
2 y<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦ .<br />
Assim, precisamos <strong>de</strong>terminar x e y tais que<br />
x 2 + y 2<br />
χ1 = χ(z1, z4, z3, z2) = 〈P1, P3〉〈P4, P2〉<br />
〈P1, P4〉〈P3, P2〉 = x2 + y2 − 2x + 1<br />
x2 + y2 χ2 = χ(z2, z3, z1, z4) = 〈P2, P1〉〈P3, P4〉<br />
〈P2, P3〉〈P1, P4〉 =<br />
Destas expressões <strong>de</strong> χ1 e χ2 obtemos χ1<br />
x = χ2 − χ1 + 1<br />
2χ2<br />
χ2<br />
e y 2 = 1<br />
χ2<br />
= x 2 + y 2 − 2x + 1 e<br />
1<br />
x2 .<br />
+ y2 − x 2 = 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2<br />
4χ 2 2<br />
Como (χ1, χ2) ∈ M4 temos que 4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2 ≥ 0. Assim, dados (χ1, χ2) em<br />
M4 po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir os seguintes números reais:<br />
98<br />
.<br />
.<br />
.
x = χ2 − χ1 + 1<br />
2χ2<br />
e y =<br />
<br />
4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2<br />
4χ 2 2<br />
. (7.1)<br />
Agora consi<strong>de</strong>re o número complexo z4 = x+iy, em que x e y são dados pelas expressões<br />
1<br />
acima. Como χ2 =<br />
x2 + y2 e χ2 > 0, vemos que z4 = 0. Como χ1 = (x − 1)2 + y2 x2 + y2 e<br />
χ1 > 0, vemos que z4 = 1. Assim, concluímos que os pontos z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞<br />
e z4 = x + iy são distintos, z = (z1, z2, z3, z4) ∈ M4, e que σ(〈z〉) = (χ1, χ2). Isso<br />
<strong>de</strong>monstra que a aplicação σ : C4 → M4 é sobrejetiva.<br />
• Agora vamos <strong>de</strong>monstrar que σ é injetiva. Para isso, sejam dados z = (z1, z2, z3, z4) ∈<br />
M4 e w = (w1, w2, w3, w4) ∈ M4 tais que σ(〈z〉) = σ(〈w〉) = (χ1, χ2).<br />
Sabemos que existe uma isometria f <strong>de</strong> H 3 R tal que f(z1) = 0, f(z2) = 1, f(z3) = ∞<br />
e f(z4) = x1 + iy1 com y1 ≥ 0. Da argumentação que <strong>de</strong>mos para provar que σ é<br />
sobrejetiva, vemos que os números x1 e y1 são escritos em termos <strong>de</strong> σ(〈z〉) = (χ1, χ2)<br />
como na equação (7.1).<br />
Analogamente, sabemos que existe uma isometria g <strong>de</strong> H 3 R tal que g(w1) = 0, g(w2) =<br />
1, g(w3) = ∞ e g(w4) = x2 + iy2 com y2 ≥ 0. E, como acima, os números x2 e y2 são<br />
escritos em termos <strong>de</strong> σ(〈w〉) = (χ1, χ2) como na equação (7.1).<br />
Como σ(〈z〉) = σ(〈w〉), estas consi<strong>de</strong>rações implicam que x1 = x2 e y1 = y2. Assim<br />
vemos que f(z1) = g(w1), f(z2) = g(w2), f(z3) = g(w3) e f(z4) = g(w4). Desse modo<br />
a isometria g −1 ◦ f e tal que g −1 ◦ f(zi) = wi, i = 1, 2, 3, 4. Daí vemos que 〈z〉 = 〈w〉 e<br />
que a aplicação σ é injetiva.<br />
Observação: Da <strong>de</strong>monstração do teorema anterior temos que se z1, z2, z3, z4 são quatro<br />
pontos distintos em C, se calculamos os números χ1 = χ(z1, z4, z3, z2) e χ2 = χ(z2, z3, z1, z4),<br />
então existe uma isometria f do espaço hiperbólico real tal que f(z1) = 0, f(z2) = 1,<br />
f(z3) = ∞ e f(z4) = x + iy, em que<br />
x = χ2 − χ1 + 1<br />
2χ2<br />
e y =<br />
<br />
4χ2 − (χ2 − χ1 + 1) 2<br />
Observação: Agora vamos dar uma intepretação para as três componentes do conjunto dos<br />
4χ 2 2<br />
pontos <strong>de</strong> M4 que estão na sua fronteira. Observe a figura a seguir.<br />
99<br />
.
χ2<br />
1<br />
x > 1<br />
0 < x < 1<br />
1<br />
x < 0<br />
χ2 = 1 − χ1<br />
χ2 = χ1 − 1<br />
Figura 7.2: As três componentes da fronteira do espaço <strong>de</strong> moduli M4.<br />
Temos que os pontos do espaço <strong>de</strong> moduli M4 que estão na sua fronteira correspon<strong>de</strong>m<br />
a configurações <strong>de</strong> quatro pontos z1, z2, z3 e z4 que estão na fronteira <strong>de</strong> um subespaço<br />
totalmenete geodésico (isomorfo a H2 R ) contido em H3R . De fato, pela equação (7.1) vemos<br />
que nesse contorno, temos que y = 0, e assim po<strong>de</strong>mos supor z1 = 0, z2 = 1, z3 = ∞ e<br />
z4 = x = χ2 − χ1 + 1<br />
, que estão sobre o eixo real do plano complexo. Observe também<br />
2χ2<br />
que esse contorno do espaço <strong>de</strong> moduli possui três componentes conexas. Cada uma <strong>de</strong>stas<br />
componentes po<strong>de</strong> ser interpretada do seguinte modo: seja Σ é a reta ou o círculo que contém<br />
z1, z2, z3 e z4. Observe que os pontos z1, z2 e z3 divi<strong>de</strong>m Σ em três componentes conexas.<br />
Então as três componentes conexas dos pontos <strong>de</strong> M4 que estão em ∂M4 correspon<strong>de</strong>m a<br />
posição <strong>de</strong> z4 sobre cada uma <strong>de</strong>stas componentes <strong>de</strong> Σ, isto é, se z4 está entre z1 e z2, ou<br />
se z4 está entre z2 e z3, ou se z4 está entre z3 e z1. De fato, consi<strong>de</strong>rando z1 = 0, z2 = 1,<br />
z3 = ∞ e z4 = x = χ2 − χ1 + 1<br />
vemos que<br />
2χ2<br />
x > 1 ⇔ χ2 − χ1 + 1<br />
2χ2<br />
x < 0 ⇔ χ2 − χ1 + 1<br />
2χ2<br />
χ1<br />
> 1 ⇔ χ2 < 1 − χ1 .<br />
< 0 ⇔ χ2 < χ1 − 1 .<br />
Além disso, as retas χ2 = 1 − χ1 e χ2 = χ1 − 1 divi<strong>de</strong>m o contorno do espaço <strong>de</strong> moduli nas<br />
suas três componentes. Em uma <strong>de</strong>las x < 0, na outra 0 < x < 1 e na outra x > 1. E isso<br />
100
correspon<strong>de</strong>, respectivamente, às situações: se z4 está entre z1 e z3, ou se z4 está entre z1 e<br />
z2, ou se z4 está entre z2 e z3 (veja figura 7.2).<br />
101
Capítulo 8<br />
O espaço <strong>de</strong> k pontos distintos na<br />
fronteira <strong>de</strong> H 3 R<br />
Neste capítulo, vamos consi<strong>de</strong>rar o conjunto Mk <strong>de</strong> k pontos distintos e or<strong>de</strong>nados<br />
na fronteira do espaço hiperbólico real H3 R . Neste conjunto vamos <strong>de</strong>finir duas relações <strong>de</strong><br />
equivalência: dois conjuntos or<strong>de</strong>nados p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) em Mk são<br />
• PSL-equivalentes se existir uma transformação <strong>de</strong> Möbuis f ∈ PSL(2, C) tal que<br />
f(zi) = wi, ∀i = 1, 2, . . . , k.<br />
• equivalentes se existir uma uma isometria h <strong>de</strong> H 3 R tal que h(zi) = wi, ∀i = 1, 2, . . . , k.<br />
Obviamente PSL-equivalência implica equivalência. Os conjuntos das classes <strong>de</strong> equivalência<br />
<strong>de</strong>stas relações, munidos da topologia quociente, são respectivamente chamados <strong>de</strong> espaço<br />
<strong>de</strong> PSL-configurações e espaço <strong>de</strong> configurações <strong>de</strong> k pontos em ∂H 3 R :<br />
Ck + =<br />
Mk<br />
PSL(2, C)<br />
Ck =<br />
Mk<br />
Isom(H 3 R )<br />
O objetivo é construir espaços <strong>de</strong> moduli Mk + e Mk para estes espaços <strong>de</strong> configurações.<br />
Para isso usaremos razões cruzadas clássicas.<br />
8.1 O espaço <strong>de</strong> PSL-configurações<br />
Teorema 8.1. Sejam p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados<br />
<strong>de</strong> k ≥ 4 pontos distintos em ∂H3 R . Existe uma transformação <strong>de</strong> Möbius f ∈ PSL(2, C) tal<br />
102
que f(zi) = wi, i = 1, 2, . . . , k se, e somente se,<br />
para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />
[z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj]<br />
Demonstração. Sejam p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) dois pontos em Mk. Se p e q<br />
são PSL-equivalentes, pela parte (a) do teorema 7.1, segue que [z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj]<br />
para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />
Reciprocamente, suponhamos que [z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj] para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />
Consi<strong>de</strong>re agora a transformação <strong>de</strong> Möbuis g tal que g(z1) = 1, g(z2) = 0 e g(z3) = ∞, e<br />
também consi<strong>de</strong>re a transformação <strong>de</strong> Möbius h tal que h(w1) = 1, h(w2) = 0 e h(w3) = ∞.<br />
Vamos <strong>de</strong>monstrar que a hipótese consi<strong>de</strong>rada implica que g(zj) = h(wj) para todo j =<br />
4, 5, . . . , k. De fato, utilizando a proprieda<strong>de</strong> dada na observação da página 92, temos<br />
g(zj) = [1, 0, ∞, g(zj)]<br />
= [g(z1), g(z2), g(z3), g(zj)]<br />
= [z1, z2, z3, zj]<br />
= [w1, w2, w3, wj]<br />
= [h(w1), h(w2), h(w3), h(wj)]<br />
= [1, 0, ∞, h(wj)]<br />
= h(wj) .<br />
Assim concluímos que g(zi) = h(wi) para todo i = 1, 2, . . . , k. Portanto f = h −1 g é tal que<br />
f(zi) = wi, i = 1, 2, . . . , k. Portanto p e q são PSL-equivalentes.<br />
Seja (z1, z2, . . . , zk) um conjunto or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> k ≥ 4 pontos distintos em ∂H3 R . Consi<strong>de</strong>re<br />
os números complexos rj = [z1, z2, z3, zj] para j = 4, 5, . . . , k. Consi<strong>de</strong>re também a<br />
aplicação <strong>de</strong> Möbius g tal que g(z1) = 1, g(z2) = 0 e g(z3) = ∞. Como na <strong>de</strong>monstração<br />
acima temos que:<br />
103
j = [z1, z2, z3, zj]<br />
= [g(z1), g(z2), g(z3), g(zj)]<br />
= [1, 0, ∞, g(zj)]<br />
= g(zj) .<br />
De rj = g(zj) e do fato <strong>de</strong> g ser injetiva, concluímos que os números r4, r5, . . ., rk<br />
são distintos. Além disso, dada uma lista <strong>de</strong> números complexos distintos r4, r5, . . ., rk no<br />
conjunto R = C \ {0, 1}, <strong>de</strong>finindo z1 = 1, z2 = 0, z3 = ∞ e zj = rj para j = 4, 5, . . . , k,<br />
obtemos k pontos distintos em ∂H 3 R tais que [z1, z2, z3, zj] = rj.<br />
Seja Mk + o subconjunto dos vetores (r4, r5, . . . , rk) ∈ R k−3 que possuem todas as<br />
coor<strong>de</strong>nadas diferentes. As consi<strong>de</strong>rações que acabamos <strong>de</strong> fazer implicam que esse conjunto<br />
po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como um espaço <strong>de</strong> Moduli para o espaço <strong>de</strong> PSL-configurações Ck + .<br />
O próximo teorema resume a discussão <strong>de</strong>sta seção.<br />
Teorema 8.2. Para todo k ≥ 4, consi<strong>de</strong>re a aplicação τ : Ck + −→ Mk + <strong>de</strong>finida por:<br />
se p ∈ Ck + representa a classe <strong>de</strong> PSL-equivalência <strong>de</strong> (z1, z2, . . . , zk) ∈ Mk então τ(p) =<br />
(r4, r5, . . . , rk) sendo rj = [z1, z2, z3, zj]. Temos que τ está bem <strong>de</strong>finida e é um homeomor-<br />
fismo.<br />
8.2 O espaço <strong>de</strong> configurações<br />
Sabemos que cada isometria f <strong>de</strong> H3 R , no mo<strong>de</strong>lo do semi-espaço superior, se restringe<br />
a uma aplicação <strong>de</strong> um dos seguintes tipos em C:<br />
f(z) =<br />
az + b<br />
cz + d<br />
ou f(z) =<br />
az + b<br />
cz + d ,<br />
sendo a, b, c e d números complexos tais que ad − bc = 0. As aplicações do primeiro<br />
tipo são as transformações <strong>de</strong> Möbius que constituem um grupo isomorfo a PSL(2, C). As<br />
aplicações do segundo tipo não constituem um grupo e, segundo Maskit, são chamadas <strong>de</strong><br />
reflexões fracionárias lineares. O próximo resultado, análogo ao teorema 7.1, mostra algumas<br />
proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stas aplicações em relação a razão cruzada clássica.<br />
104
az + b<br />
Teorema 8.3. (a) Se g : C → C é uma reflexão fracionária linear, g(z) =<br />
cz + d com<br />
ad − bc = 0, então [g(z1), g(z2), g(z3), g(z4)] = [z1, z2, z3, z4], para quaisquer quatro<br />
pontos distintos z1, z2, z3 e z4 em C.<br />
(b) Sejam z1, z2, z3 e z4 quatro pontos distintos em C, e sejam w1, w2, w3 e w4 quatro<br />
pontos distintos em C. Se [z1, z2, z3, z4] = [w1, w2, w3, w4], então existe uma reflexão<br />
fracionária linear g : C → C tal que g(zj) = wj, j = 1, 2, 3, 4.<br />
Agora po<strong>de</strong>mos enunciar o seguinte resultado, análogo ao teorema 8.1.<br />
Teorema 8.4. Sejam p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) dois conjuntos or<strong>de</strong>nados<br />
<strong>de</strong> k ≥ 4 pontos distintos em ∂H3 R . Existe uma reflexão fracionária linear f : C → C tal que<br />
f(zi) = wi, i = 1, 2, . . . , k se, e somente se,<br />
para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />
[z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj]<br />
Demonstração. Sejam p = (z1, z2, . . . , zk) e q = (w1, w2, . . . , wk) dois pontos em Mk. Se<br />
existe uma tal f, com f(zi) = wi, então [z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj] pela parte (a) do<br />
teorema anterior.<br />
Reciprocamente, suponhamos que [z1, z2, z3, zj] = [w1, w2, w3, wj] para todo j = 4, 5, . . . , k.<br />
Consi<strong>de</strong>re agora uma transformação <strong>de</strong> Möbuis g tal que g(z1) = 1, g(z2) = 0 e g(z3) = ∞, e<br />
também consi<strong>de</strong>re a reflexão fracionária linear h tal que h(w1) = 1, h(w2) = 0 e h(w3) = ∞.<br />
Vamos <strong>de</strong>monstrar que a hipótese consi<strong>de</strong>rada implica que g(zj) = h(wj) para todo j =<br />
4, 5, . . . , k. De fato, utilizando a proprieda<strong>de</strong> dada na observação da página 92 e o teorema<br />
anterior, temos<br />
g(zj) = [1, 0, ∞, g(zj)]<br />
= [g(z1), g(z2), g(z3), g(zj)]<br />
= [z1, z2, z3, zj]<br />
= [w1, w2, w3, wj]<br />
= [h(w1), h(w2), h(w3), h(wj)]<br />
= [1, 0, ∞, h(wj)]<br />
= h(wj) .<br />
105
Assim concluímos que g(zi) = h(wi) para todo i = 1, 2, . . . , k. Portanto f = h −1 g é tal que<br />
f(zi) = wi, i = 1, 2, . . . , k. Como g é transformação <strong>de</strong> Möbius e h é reflexão fracionária<br />
linear, vemos que f é reflexão fracionária linear.<br />
106
Capítulo 9<br />
A matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> k pontos no<br />
interior <strong>de</strong> H n R<br />
Neste capítulo, vamos <strong>de</strong>finir e caracterizar matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> k pontos<br />
distintos no interior <strong>de</strong> H n<br />
R, além <strong>de</strong> mostrar os principais resultados relacionados a essa<br />
matriz.<br />
Para isso, vamos consi<strong>de</strong>rar uma base em R n+1 <strong>de</strong> modo que a forma bilinear simétrica<br />
<strong>de</strong> assinatura (n, 1) em R n,1 se expresse do seguinte modo:<br />
〈V, W 〉 = v1w1 + v2w2 + · · · + vnwn − vn+1wn+1,<br />
em que V = (v1, v2, · · · , vn+1) e W = (w1, w2, · · · , wn+1). Daí, temos que<br />
e nesse caso, H n<br />
R = P(V−) B n .<br />
V− = {X ∈ R n,1 |v 2 1 + v 2 2 + · · · + v 2 n − v 2 n+1 < 0}<br />
Seja Mk o conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos e or<strong>de</strong>nados no interior do espaço hiperbólico<br />
real H n<br />
R. Com isso po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir:<br />
Definição 9.1. Sejam p = (p1, p2, · · · , pk) ∈ Mk e Pi levantamento <strong>de</strong> pi, para i = 1, 2, · · · , k.<br />
Se gij = 〈Pi, Pj〉, então a matriz kxk simétrica<br />
é a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> p.<br />
G = (gij), i, j = 1, 2, · · · , k<br />
107
Observe que essa matriz <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos levantamentos escolhidos e por isso ela não é<br />
única. Para <strong>de</strong>finir uma matriz <strong>de</strong> Gram que seja única para cada p ∈ Mk, vamos ajustar os<br />
levantamentos escolhidos.<br />
Proposição 9.1. Seja p = (p1, p2, · · · , pk) ∈ Mk. Para cada i = 1, 2, · · · , k po<strong>de</strong>mos escolher<br />
um levantamento Pi <strong>de</strong> pi tal que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> p satisfaz as condições<br />
gii = −1 e g1j > 0 ∀ j = 2, 3, · · · , k.<br />
Ou seja, G tem a seguinte aparência:<br />
⎡<br />
−1<br />
⎢ g12 ⎢<br />
G = ⎢ g13<br />
⎢<br />
⎣ .<br />
g12<br />
−1<br />
g23<br />
.<br />
g13<br />
g23<br />
−1<br />
· · ·<br />
· · ·<br />
. ..<br />
⎤<br />
g1k<br />
⎥<br />
g2k ⎥<br />
g3k ⎥ ,<br />
⎥<br />
.<br />
⎥<br />
⎦<br />
(9.1)<br />
g1k g2k g3k · · · −1<br />
com g1j > 0 para j = 2, 3, · · · , k. Além disso, existe uma única matriz com essa aparência,<br />
que é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> p.<br />
Demonstração. Sejam P1, P2, · · · , Pk levantamentos quaisquer <strong>de</strong> p1, p2, · · · , pk. Devemos<br />
<strong>de</strong>terminar λi ∈ R, λi = 0, tal que se P ′<br />
i = λiPi, então<br />
g ′ ii = 〈P ′<br />
i , P ′<br />
i 〉 = λ 2 i 〈Pi, Pi〉 = λ 2 i gii = −1 e<br />
g ′ 1j = 〈P ′ 1, P ′ j〉 = λ1λj〈P1, Pj〉 = λ1λjg1j > 0, ∀ j = 2, 3, · · · , k.<br />
<br />
−1<br />
Da primeira equação acima, obtemos que λi = ± . Dessa forma, fixado λ1, como<br />
gii<br />
g ′ 1j = λ1λjg1j, po<strong>de</strong>mos escolher o sinal <strong>de</strong> λ2, λ3, · · · , λk <strong>de</strong> forma que g ′ 1j > 0, para j =<br />
2, 3, · · · , k.<br />
Para os valores <strong>de</strong>terminados acima <strong>de</strong> λ1, · · · , λk, os levantamentos <strong>de</strong> P ′ 1, · · · , P ′ k <strong>de</strong><br />
p1, · · · , pk são tais que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> p tem a apareência <strong>de</strong>sejada.<br />
A parte da unicida<strong>de</strong> segue do fato <strong>de</strong> que (a menos do sinal <strong>de</strong> λ1) os escalares<br />
λ1, · · · , λk ficam <strong>de</strong>terminados unicamente a partir <strong>de</strong> dados levantamentos <strong>de</strong> p1, · · · , pk.<br />
Além disso, a troca do sinal <strong>de</strong> λ1 não afeta a aparência da matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sejada.<br />
Lema 9.1. Se V é um vetor negativo e W é um vetor isotrópico <strong>de</strong> R n,1 então 〈V, W 〉 = 0.<br />
108
Demonstração. Como V é negativo e W é isotrópico temos que o vetor V se projeta para<br />
um ponto v no interior do espaço hiperbólico real e o vetor W se projeta para um ponto na<br />
fronteira do espaço hiperbólico real. Além disso, como o grupo Isom(Hn R ) = PO(n, 1) age<br />
transitivamente em Hn R , po<strong>de</strong>mos assumir, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que v é o centro da<br />
bola B n ∼ = H n R = P(V−).<br />
Assim, para <strong>de</strong>monstrar o lema <strong>de</strong>sejado, consi<strong>de</strong>rando V um levantamento do centro da<br />
bola, po<strong>de</strong>mos supor que V = (0, 0, . . . , 0, vn+1) e que W = (w1, w2, . . . , wn, wn+1) é um<br />
vetor isotrópico qualquer. Sendo V um vetor negativo e W um vetor nulo, é claro que<br />
vn+1 = 0 e wn+1 = 0. Portanto, concluímos que 〈V, W 〉 = −vn+1wn+1 = 0.<br />
Proposição 9.2. Sejam p1, p2, . . . , pk pontos distintos em H n R e sejam P1, P2, . . . , Pk respec-<br />
tivos levantamentos <strong>de</strong>stes pontos para vetores negativos em R n,1 . Então W = span{P1, . . . , Pk}<br />
é um subespaço não-<strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n,1 .<br />
Demonstração. Suponhamos, por redução ao absurdo, que W = span{P1, . . . , Pk} seja um<br />
subespaço <strong>de</strong>generado <strong>de</strong> R n,1 . Assim, existe um vetor w0 ∈ W , w0 = 0, tal que 〈w0, x〉 = 0<br />
para todo x ∈ W . Isto implica, em particular, que 〈w0, w0〉 = 0 e que 〈w0, P1〉 = 0. Logo<br />
w0 é um vetor isotrópico tal que 〈w0, P1〉 = 0, sendo P1 um vetor negativo. Isto contraria a<br />
conclusão do lema anterior pois, neste caso, <strong>de</strong>veríamos ter 〈w0, P1〉 = 0.<br />
Teorema 9.1. Se p = (p1, · · · , pk) ∈ Mk e q = (q1, · · · , qk) ∈ Mk, então existe f ∈<br />
Isom(H n R ) tal que f(pi) = qi se, e somente se, p e q possuem as mesmas matrizes <strong>de</strong> Gram<br />
normalizadas.<br />
Demonstração. Análoga à <strong>de</strong>monstração do teorema 6.1.<br />
Vamos caracterizar agora quando uma matriz da forma (9.1) realmente é matriz <strong>de</strong><br />
Gram normalizada <strong>de</strong> k pontos distintos em H n R .<br />
Lema 9.2. Seja G = (gij) uma matriz simétrica k × k <strong>de</strong> entradas reais e que tem a forma<br />
(9.1). Isto é,<br />
• gii = −1.<br />
109
• g1j > 0, para j = 2, · · · , k.<br />
Então, via operações elementares nas linhas e colunas <strong>de</strong> G, esta po<strong>de</strong> ser transformada<br />
na matriz <strong>de</strong> blocos<br />
G ′ =<br />
−1 0<br />
0 G<br />
sendo G a seguinte matriz simétrica (k − 1) × (k − 1)<br />
⎡<br />
g<br />
⎢<br />
G<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
⎣<br />
2 12 − 1<br />
g13g12 + g23<br />
g12g13 + g23<br />
g<br />
g12g14 + g24 · · · g12g1k + g2k<br />
2 g14g12 + g24<br />
13 − 1<br />
g14g13 + g34<br />
g13g14 + g34<br />
g<br />
· · · g13g1k + g3k<br />
2 .<br />
.<br />
14 − 1<br />
.<br />
· · ·<br />
. ..<br />
g14g1k + g4k<br />
.<br />
g1kg12 + g2k g1kg13 + g3k g1kg14 + g4k · · · g2 ⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
1k − 1<br />
Demonstração. Basta utilizar as seguintes operações elementares<br />
1. Li ← Li + g1iL1<br />
2. Ci ← Ci + g1iC1<br />
para i = 2, 3, · · · , k. Observe que, sendo G simétrica, este par <strong>de</strong> operações elementares em<br />
linhas e colunas garante que G é simétrica.<br />
Definição 9.2. A matriz simétrica G do lema anterior é a matriz associada da matriz<br />
simétrica G.<br />
Observação: Seja I = {i1, i2, . . . , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em<br />
{1, 2, . . . , k − 1}, e seja GI o menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e das colunas<br />
<strong>de</strong> G cujos índices estão em I. Seja G1,I o menor principal <strong>de</strong> G constituído das suas linhas<br />
e colunas 1, i1 + 1, i2 + 1, . . . , im + 1, e seja G ′ 1,I o correspon<strong>de</strong>nte menor principal <strong>de</strong> G′ .<br />
Analisando as operações elementares que foram utilizadas na <strong>de</strong>monstração do lema anterior,<br />
vemos que <strong>de</strong>t(G1,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 1,I ). Como G′ é uma matriz <strong>de</strong> blocos, temos então que<br />
<br />
<strong>de</strong>t(G1,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 1,I) = <strong>de</strong>t [−1] · <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t( GI) . (9.2)<br />
Com isso, po<strong>de</strong>mos enunciar e <strong>de</strong>monstrar o teorema <strong>de</strong> caracterização <strong>de</strong> matrizes<br />
simétricas da forma (9.1) e <strong>de</strong> entradas reais que são matrizes <strong>de</strong> Gram normalizadas <strong>de</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em H n R .<br />
110
Teorema 9.2. Uma matriz simétrica G da forma (9.1) é matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong><br />
k pontos distintos em H n R se, e somente se, sua matriz associada G é semi-<strong>de</strong>finida positiva<br />
e posto( G) ≤ n.<br />
Demonstração. Suponhamos que G seja matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />
k pontos distintos {p1, p2, . . . , pk} em H n R . Seja G a matriz associada <strong>de</strong> G. De acordo<br />
com o teorema 5.5, para mostrar que G é semi-<strong>de</strong>finida positiva basta mostrarmos que<br />
todos os menores principais <strong>de</strong> G possuem <strong>de</strong>terminantes não negativos. Então seja I =<br />
{i1, i2, . . . , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em {1, 2, . . . , k − 1}, e seja GI o<br />
menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e das colunas <strong>de</strong> G cujos índices estão em I.<br />
Pela equação (??) temos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G1,I), sendo G1,I o menor principal <strong>de</strong> G<br />
constituido das suas linhas e colunas 1, i1+1, i2+1, . . . , im+1. Como G1,I é a matriz <strong>de</strong> Gram<br />
<strong>de</strong> levantamentos <strong>de</strong> p1, pi1+1, pi2+1, . . ., pim+1, pela observação da página 73, sabemos que<br />
isto implica que <strong>de</strong>t(G1,I) ≤ 0. Logo concluímos que <strong>de</strong>t( GI) = − <strong>de</strong>t(G1,I) ≥ 0. Portanto<br />
todos os menores principais <strong>de</strong> G possuem <strong>de</strong>terminante não negativo e, pelo teorema 5.5,<br />
concluímos que G é semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />
Para mostrar que posto( G) ≤ n, po<strong>de</strong>mos escrever X =<br />
que X ′ e Y ′ ∈ R n .<br />
X ′<br />
xn+1<br />
<br />
e Y =<br />
Y ′<br />
Daí, o produto interno em R n,1 <strong>de</strong>finido por 〈X, Y 〉 = x1y1 + · · · + xnyn − xn+1yn+1<br />
po<strong>de</strong> ser escrito como<br />
em que 〈〈 . , . 〉〉 é o produto escalar usual em R n .<br />
Como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R<br />
yn+1<br />
<br />
, em<br />
〈X, Y 〉 = 〈〈X ′ , Y ′ 〉〉 − xn+1yn+1, (9.3)<br />
age simplesmente transitivamente no interior do<br />
espaço hiperbólico real, po<strong>de</strong>mos supor que p1, p2, · · · , pk são tais que seus levantamentos<br />
são os seguintes vetores <strong>de</strong> R n,1 :<br />
vetores é<br />
P1 =<br />
0<br />
1<br />
<br />
, P2 =<br />
v2<br />
w2<br />
<br />
, P3 =<br />
v3<br />
w3<br />
<br />
, · · · , Pk =<br />
vk<br />
em que vi ∈ R n e wj ∈ R. Da expressão (9.3), vemos que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses<br />
111<br />
wk<br />
<br />
,
⎡<br />
−1<br />
⎢ −w2<br />
⎢<br />
G = ⎢<br />
⎣<br />
−w2<br />
v22 − w<br />
−w3 −w4 · · · −wk<br />
2 −w3<br />
2<br />
v23 − w2w3<br />
v23 − w2w3<br />
v33 − w<br />
v24 − w2w4 · · · v2k − w2wk<br />
2 −w4 v24 − w2w4<br />
3<br />
v34 − w3w4<br />
v34 − w3w4<br />
v44 − w<br />
· · · v3k − w3wk<br />
2 ⎤<br />
. .<br />
.<br />
4<br />
.<br />
· · ·<br />
. ..<br />
⎥<br />
vk4 −<br />
⎥<br />
wkw4 ⎥<br />
. ⎥<br />
⎦<br />
−wk v2k − w2wk v3k − w3wk vk4 − wkw4 . . . vkk − w 2 k<br />
sendo vij = 〈〈vi, vj〉〉 o produto escalar usual dos vetores vi e vj <strong>de</strong> R n .<br />
Escrevendo as entradas <strong>de</strong>sta matriz G como gij, obtemos as seguintes relações:<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
⎪⎩<br />
wj = −g1j<br />
vjj − w 2 j = −1<br />
vjl − wjwl = gjl<br />
Substituindo wj = −g1j <strong>de</strong>mais relações, obtemos as igualda<strong>de</strong>s<br />
vjj = g 2 1j − 1<br />
vjl = gjl − g1j<br />
Essas igualda<strong>de</strong>s implicam que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1, · · · , vk no produto<br />
escalar usual <strong>de</strong> R n é exatamente a matriz G:<br />
⎡<br />
g<br />
⎢<br />
G<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
⎣<br />
2 12 − 1<br />
g13g12 + g23<br />
g12g13 + g23<br />
g<br />
g12g14 + g24 · · · g12g1k + g2k<br />
2 g14g12 + g24<br />
13 − 1<br />
g14g13 + g34<br />
g13g14 + g34<br />
g<br />
· · · g13g1k + g3k<br />
2 .<br />
.<br />
14 − 1<br />
.<br />
· · ·<br />
. ..<br />
g14g1k + g4k<br />
.<br />
g1kg12 + g2k g1kg13 + g3k g1kg14 + g4k · · · g2 ⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
1k − 1<br />
Aplicando o lema 5.3, concluímos <strong>de</strong> uma outra maneira que a matriz G é semi-<strong>de</strong>finida<br />
positiva e que posto( G) ≤ n.<br />
Por outro lado, seja G = (gij) uma matriz k × k (k ≥ 4) <strong>de</strong> entradas reais da forma<br />
(9.1). Suponha que n é um inteiro positivo tal que posto( G) ≤ n e que a matriz associada G é<br />
semi-<strong>de</strong>finida positiva. Devemos mostrar que, neste caso, G é a matriz <strong>de</strong> Gram normalizada<br />
<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> k pontos distintos em Hn R . Isto é, <strong>de</strong>vemos mostrar que existem k vetores<br />
112
negativos P1, P2, . . ., Pk tais que a matriz <strong>de</strong> Gram G(P1, P2, . . . , Pk) <strong>de</strong>sses vetores seja<br />
igual a G. Como o grupo <strong>de</strong> isometrias <strong>de</strong> H n R<br />
po<strong>de</strong>mos supor que esses vetores são<br />
vetores é<br />
P1 =<br />
0<br />
1<br />
<br />
, P2 =<br />
v2<br />
w2<br />
<br />
, P3 =<br />
age simplesmente transitivamente na fronteira<br />
v3<br />
w3<br />
<br />
, · · · , Pk =<br />
vk<br />
em que vi ∈ R n e wj ∈ R. Da expressão (9.3), vemos que a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses<br />
⎡<br />
−1<br />
⎢ −w2<br />
⎢<br />
G = ⎢<br />
⎣<br />
−w2<br />
v22 − w<br />
−w3 −w4 · · · −wk<br />
2 −w3<br />
2<br />
v23 − w2w3<br />
v23 − w2w3<br />
v33 − w<br />
v24 − w2w4 · · · v2k − w2wk<br />
2 −w4 v24 − w2w4<br />
3<br />
v34 − w3w4<br />
v34 − w3w4<br />
v44 − w<br />
· · · v3k − w3wk<br />
2 ⎤<br />
. .<br />
.<br />
4<br />
.<br />
· · ·<br />
. ..<br />
⎥<br />
vk4 −<br />
⎥<br />
wkw4 ⎥<br />
. ⎥<br />
⎦<br />
−wk v2k − w2wk v3k − w3wk vk4 − wkw4 . . . vkk − w 2 k<br />
sendo vij = 〈〈vi, vj〉〉 o produto escalar usual dos vetores vi e vj <strong>de</strong> R n .<br />
Para G ser igual a G(P1, · · · , Pk), <strong>de</strong>vemos ter<br />
⎧<br />
⎪⎨<br />
⎪⎩<br />
wj = −g1j<br />
vjj − w 2 j = −1<br />
vjl − wjwl = gjl<br />
Observe que, dada a matriz G = (gij), da primeira <strong>de</strong>stas equações, obtemos que wj = −g1j,<br />
para j = 2, 3, . . . , k. Assim, para a <strong>de</strong>terminação completa dos vetores P1, P2, . . ., Pk falta o<br />
cálculo dos vetores vj em termos das entradas <strong>de</strong> G. Para efetuar isso, substitua wj = −g1j<br />
nas duas últimas equações do sistema linear acima. Neste caso, estas equações tomam a<br />
forma<br />
vjj = g 2 1j − 1<br />
vjl = gjl − g1j<br />
Essas igualda<strong>de</strong>s implicam que a matriz <strong>de</strong> Gram dos vetores v1, · · · , vk no produto<br />
escalar usual <strong>de</strong> R n <strong>de</strong>ve ser exatamente a matriz G:<br />
113<br />
wk<br />
<br />
,
⎡<br />
g<br />
⎢<br />
G<br />
⎢<br />
= ⎢<br />
⎣<br />
2 12 − 1<br />
g13g12 + g23<br />
g12g13 + g23<br />
g<br />
g12g14 + g24 · · · g12g1k + g2k<br />
2 g14g12 + g24<br />
13 − 1<br />
g14g13 + g34<br />
g13g14 + g34<br />
g<br />
· · · g13g1k + g3k<br />
2 .<br />
.<br />
14 − 1<br />
.<br />
· · ·<br />
. ..<br />
g14g1k + g4k<br />
.<br />
g1kg12 + g2k g1kg13 + g3k g1kg14 + g4k · · · g2 ⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
1k − 1<br />
Mas como G é uma matriz (k − 1) × (k − 1) simétrica semi-<strong>de</strong>finida positiva e, por hipótese,<br />
posto( G) ≤ n, o teorema 5.8 implica que existem vetores v2, v3, . . ., vk em R n tais que a<br />
matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong>sses vetores, no produto escalar usual <strong>de</strong> R n , é exatamente a matriz G.<br />
Como já havíamos calculados os valores <strong>de</strong> w2, · · · , wk e agora provamos a existência <strong>de</strong><br />
vetores v2, · · · , vk (tudo isso em termos das entradas das matriz G) <strong>de</strong>monstramos que<br />
existem vetores nulos P1, . . ., Pk tais que G é a matriz <strong>de</strong> Gram dos pontos p1, . . ., pk <strong>de</strong> H n R<br />
<strong>de</strong>finidos por esses vetores nulos. Finalmente, como gij = 0 para i = j, vemos que os pontos<br />
p1, . . ., pk são dois a dois distintos.<br />
Agora vamos ver como essas duas condições<br />
1. G é semi-<strong>de</strong>finida positiva.<br />
2. posto( G) ≤ n.<br />
se expressam em termos da matriz G.<br />
Observação: Seja I = {i1, i2, · · · , im} uma coleção <strong>de</strong> índices distintos contidos em<br />
{1, 2, · · · , k − 1} e seja GI o menor principal <strong>de</strong> G constituído das linhas e colunas <strong>de</strong><br />
G cujos índices estão em I. Seja G1,I o menor principal <strong>de</strong> G constituído das suas linhas e<br />
colunas <strong>de</strong> índices 1, i1 +1, i2 +1, · · · , im +1, e seja G ′ 1,I o correspon<strong>de</strong>nte menor principal <strong>de</strong><br />
G ′ , ou seja, formado pelas linhas e colunas <strong>de</strong> G ′ <strong>de</strong> índices 1, i1 + 1, i2 + 1, · · · , im + 1.<br />
Analisando as operações elementares que foram utilizadas no lema anterior, vemos que<br />
<strong>de</strong>t(G1,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 1,I ). Como G′ é uma matriz <strong>de</strong> blocos, temos então que<br />
Mas<br />
<strong>de</strong>t(G1,I) = <strong>de</strong>t(G ′ 1,I) = (−1). <strong>de</strong>t( GI)<br />
114
1. G é semi-<strong>de</strong>finida positiva ⇔ <strong>de</strong>t( GI) ≥ 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1} ⇔ <strong>de</strong>t(G1,I) ≤<br />
0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1}.<br />
2. Pelo teorema 5.1, temos que posto( G) ≤ n ⇔ <strong>de</strong>t( GI) = 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1} e<br />
|I| > n ⇔ <strong>de</strong>t(G1,I) = 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1} e |I| > n.<br />
Isso <strong>de</strong>monstra o seguinte teorema:<br />
Teorema 9.3. Uma matriz simétrica G da forma (9.1) é matriz <strong>de</strong> Gram normalizada <strong>de</strong><br />
k pontos distintos em H n R<br />
se, e somente se,<br />
1. <strong>de</strong>t(G1,I) ≤ 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1}.<br />
2. <strong>de</strong>t(G1,I) = 0, ∀ I ⊂ {1, 2, · · · , k − 1} e |I| > n.<br />
115
Referências Bibliográficas<br />
[1] Beardon, A. F. The geometry of discrete groups. Graduate Texts in Mathematics, 91.<br />
Springer-Verlag, New York (1983).<br />
[2] Bhatia, R. Positive <strong>de</strong>finite matrices. Graduete Texts in Mathematcs, 169. Spring-<br />
Verlag, New York (1997).<br />
[3] Cunha, H.; Dutenhefner, F.; Goussevskii, N. Pontos na Fronteira do espaço Hiperbólico<br />
Real H n<br />
R. Preprint (2009).<br />
[4] Cunha, H. O espaço <strong>de</strong> módulos <strong>de</strong> k-uplas <strong>de</strong> pontos na fronteira do espaço hiperbólico<br />
complexo. Tese <strong>de</strong> Doutorado (2009), UFMG, Belo Horizonte.<br />
[5] Goldman, W.M. Complex hyperbolic geometry. Oxford Mathematical Monographs. Ox-<br />
ford Science Publications. The Clarendon Press, Oxford University Press, New York<br />
(1999).<br />
[6] Horn, R. A.; Johnson, C. R. Matrix Analysis. Cambridge University Press, Cambridge<br />
(1985).<br />
[7] Maskit, Bernard.Kleinian Groups. Springer-Verlag Berlin Hei<strong>de</strong>lberg (1988).<br />
[8] Ratcliffe, J. G. Foundations of hyperbolic manifolds. Graduate Texts in Mathematics,<br />
149. Springer-Verlag (1994), New York.<br />
[9] Scharlau, Winfried. Quadratic and Hermitian Forms. Springer-Verlag (1985).<br />
[10] Egan, M.F. Symmetric matrices and quadratic forms. The Mathematical Gazetti,<br />
vol.29, n ◦ 285, pp.89-91 (julho 1945).<br />
[11] Iversen, Birger. Hyperbolic Geometry. London Mathematical Society Stu<strong>de</strong>nt Texts,<br />
Cambridge University Press (1992).<br />
116
[12] Roman, Steven. Advanced Linear Algebra. Graduate Texts in Mathematics, Springer<br />
(2007).<br />
[13] Höfer, Roland m-Point Invariants of Real Geometries, Beiträge zur Algebra und<br />
Geometrie, Contributions to Algebra and Geometry, Volume 40 (1999), No. 1, pp.<br />
261-266.<br />
[14] Zhang, Fuzhen Matrix Theory, basic results and techniques, Series: Universitext,<br />
Springer-Verlag (1999).<br />
117