Tradução de Jorge Colaço - Saída de Emergência
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— Não pu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ouvir, sem querer. — Fossey abriu um dos<br />
registos, procurou uma caneta no bolso, hesitou. — O nosso amigo barulhento<br />
é meu?<br />
— O Dr. Garriot fi cou com ele — retorquiu a enfermeira. Levantou<br />
os olhos. — O primeiro era seu.<br />
Abriu-se uma porta algures e, subitamente, ouviram-se os gritos <strong>de</strong><br />
novo, agora muito mais sonoros, com várias vozes urgentes servindo <strong>de</strong><br />
contraponto. Depois a porta fechou-se outra vez e apenas fi caram ruídos<br />
<strong>de</strong> escritório.<br />
— Gostaria <strong>de</strong> ver o internado — disse Fossey, <strong>de</strong>volvendo os registos<br />
e pegando na prancheta metálica. Observou rapidamente os sinais<br />
vitais, dando conta do sexo e ida<strong>de</strong>, tentando ao mesmo tempo reconstituir<br />
mentalmente os constrangimentos do andamento <strong>de</strong> Dvořák. Os olhos pararam<br />
quando chegaram às palavras Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Involuntários.<br />
— Viu o primeiro a entrar? — perguntou ele, calmamente.<br />
A enfermeira abanou a cabeça.<br />
— Deverá falar com Will. Ele levou o doente para baixo há cerca <strong>de</strong><br />
uma hora.<br />
Havia apenas uma janela na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Involuntários em Featherwood<br />
Park. Dessa janela via-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o posto <strong>de</strong> vigilância até à escadaria que<br />
levava até à Enfermaria Dois, na cave. Ao premir a campainha, o Dr. Fossey<br />
viu a cabeça pálida e <strong>de</strong>sgrenhada <strong>de</strong> Will Hartung aparecer do outro lado<br />
do painel <strong>de</strong> plexiglas. Will <strong>de</strong>sapareceu e a porta <strong>de</strong>strancou-se mecanicamente<br />
com um ruído <strong>de</strong> disparo.<br />
— Como vai isso, Sotôr? — disse ele, <strong>de</strong>slizando por trás da secretária<br />
e pondo <strong>de</strong> lado um exemplar dos sonetos <strong>de</strong> Shakespeare.<br />
— Sr. W. H., tudo é felicida<strong>de</strong> — replicou Fossey, olhando <strong>de</strong> relance<br />
para o livro.<br />
— Muito engraçado, Dr. Fossey. Está a <strong>de</strong>sperdiçar os seus talentos<br />
na profi ssão médica. — Will passou-lhe o registo <strong>de</strong> entradas, fungando<br />
ruidosamente. Na outra extremida<strong>de</strong> do balcão, a nova auxiliar <strong>de</strong> enfermagem<br />
preenchia impressos médicos.<br />
— Fale-me sobre o primeiro a chegar — disse Fossey, assinando o<br />
registo e <strong>de</strong>volvendo-o, enfi ando a prancheta <strong>de</strong>baixo do braço enquanto<br />
o fazia.<br />
Will encolheu os ombros.<br />
— Do tipo reformado. Não muito conversador. — Encolheu os<br />
ombros <strong>de</strong> novo. — Não surpreen<strong>de</strong>nte, dado a sua recente dieta <strong>de</strong><br />
Haldol.<br />
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