Tradução de Jorge Colaço - Saída de Emergência

Constritor 232. Sabemos agora que uma pessoa exposta a ele torna-se contagiosa
quatro dias após a exposição, embora os sintomas demorem várias
semanas a aparecer. A taxa de mortalidade do Constritor 232 está perto
dos cem por cento. Quando o funcionário morreu, expusera já dezenas, ou
mesmo centenas, de pessoas. Poderíamos chamar-lhe vetor zero. Ao fi m
de setenta e duas horas após a sua morte, dezenas de pessoas queixavam-se
da mesma pressão gastrointestinal, e em breve sofriam o mesmo destino
horrendo.
»A única coisa que impediu uma pandemia mundial foi a localização
do surto. Em 1985, a movimentação de entrada e saída da Área Restrita
Catorze era altamente controlada. Apesar disso, quando a notícia correu,
seguiu-se o pânico generalizado. As pessoas da zona começaram a carregar
carros, camiões, e até carroças, com os seus pertences. Muitos tentaram
fugir de bicicleta, ou mesmo a pé, abandonando tudo no seu desespero de
irem para longe.
»A partir dos papéis que o coronel trouxe com ele da Rússia, podemos
reconstituir a reação do Exército Soviético. Um grupo especial, equipado
com fatos de proteção contra ameaças biológicas, colocou uma série
de bloqueios rodoviários, impedindo que alguém abandonasse a área afetada.
Isso foi relativamente fácil, uma vez que a Área Catorze era já vedada
por uma cerca e possuía pontos de controlo. À medida que a epidemia
ribombava através das povoações vizinhas, famílias inteiras morriam nas
ruas, nos campos, nos mercados. Quando uma pessoa sentia os primeiros
sintomas alarmantes, esperava-o uma morte dolorosa ao cabo de três
horas. O pânico era tão grande que nos pontos de controlo os soldados
tinham ordens para atirar a matar sobre qualquer pessoa, qualquer pessoa,
assim que estivesse ao alcance do tiro. Velhos, crianças e mulheres grávidas
foram mortos a tiro. Minas antipessoais atiradas do ar foram espalhadas
por grandes faixas através dos bosques e dos campos. O que estas medidas
não cobriram, cobriu o arame farpado e as barreiras antitanque.
»O laboratório foi depois arrasado por um tapete de bombas. Não,
claro, para destruir o vírus — as bombas não teriam qualquer efeito sobre
ele. Mas sim para apagar os vestígios, para esconder do Ocidente o que
realmente aconteceu.
»Ao fi m de oito semanas, todos os seres humanos no interior da área
em quarentena estavam mortos. As povoações estavam desertas, os porcos
e os cães devoravam os cadáveres, as vacas vagueavam por ordenhar, um
fedor imenso pairava sobre os edifícios abandonados.
Levine bebeu um gole de água, depois continuou.
— Esta é uma história chocante, o equivalente biológico de um holocausto
nuclear. Mas receio que o último capítulo ainda esteja por escrever.
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