Tradução de Jorge Colaço - Saída de Emergência

Guy Carson, emperrado em mais um semáforo, olhou para o relógio do
tabliê. Estava já atrasado para o trabalho, a segunda vez nessa semana. À
sua frente, a Estrada Nacional n.º 1 corria como um sonho mau através de
Edison, New Jersey. O sinal fi cou verde, mas quando já se aproximara bastante,
fi cou vermelho de novo.
— Filho de uma puta — murmurou ele, batendo no tabliê com a
parte mais gorda da palma da mão. Olhou enquanto a chuva salpicava o
para-brisas, escutou a batida e o gemido dos limpa-para-brisas. As fi leiras
cerradas de luzes de travões formaram uma onda na sua direção à medida
que o tráfego abrandava uma vez mais. Sabia que não se habituaria nunca
àquele engarrafamento, do mesmo modo que não se habituava a toda aquela
maldita chuva.
Arrastando-se penosamente sobre uma elevação, Carson viu, a uns
meros oitocentos metros, ao fundo da estrada, a nítida fachada branca do
complexo GeneDyne Edison, uma obra-prima pós-moderna que se elevava
sobre campos de relva verde e lagos artifi ciais. Algures lá dentro, Fred
Peck estava à espera.
Carson ligou o rádio, e a pulsação do som dos Gangsta Muthas encheu
o ar. Quando girava o botão, a voz estridente de Michael Jackson destacou-se
do ruído estático. Carson desligou-o impetuosamente, com repugnância.
Algumas coisas eram ainda piores do que pensar em Peck. Porque não conseguiam
ter uma estação de jeito com música country naquele buraco?
…
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