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O poeta e a cidade no mundo romano - Universidade de Coimbra

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Rodrigo Furtado<br />

(Cameron 1965). Como diz Eunápio, os Egípcios eram loucos por poesia (Vit<br />

soph. 10.7.12). E Claudia<strong>no</strong> era daqui.<br />

De qualquer modo, Claudia<strong>no</strong> era uma auis rara. De facto, que um Grego<br />

soubesse algum latim, e ainda para mais com o grau <strong>de</strong> mestria que a sua poesia<br />

apresenta, seria suficiente para ser consi<strong>de</strong>rado um homem excepcional: como<br />

diz Dewar, ‘a prosódia <strong>de</strong> Claudia<strong>no</strong> é mais apuradamente clássica do que a <strong>de</strong><br />

qualquer <strong>poeta</strong> lati<strong>no</strong> dos séculos III-IV’ (Dewar 1996 liii). Isso é tanto mais<br />

estranho quanto, para os Gregos cultos do Mediterrâneo Oriental, o latim<br />

era <strong>no</strong>rmalmente mais uma das línguas que lhes soava como bar-bar-bar. Até<br />

mesmo um imperador culto como o famoso Julia<strong>no</strong> tinha tido apenas um<br />

domínio ‘suficiente’ <strong>de</strong> latim (Amm. 16.5.7).<br />

De qualquer modo, é claro que se aprendia algum latim <strong>no</strong> Oriente:<br />

para os muito poucos que queriam participar na vida política, militar ou<br />

judiciária do Império (e para quê, se tinham as suas poleis?), o latim tinha<br />

alguma importância. O <strong>de</strong>serto egípcio permitiu que sobrevivessem papiros <strong>de</strong><br />

Cícero, Salústio, Vergílio ou Juvenal; e que se tenha conservado um <strong>de</strong>licioso<br />

exercício <strong>de</strong> escola <strong>de</strong> um alu<strong>no</strong> egípcio que procurou reescrever num latim<br />

correcto parte da célebre <strong>de</strong>scrição do friso do templo <strong>de</strong> Ju<strong>no</strong> <strong>no</strong> primeiro<br />

canto da Eneida (1.477-493; cf. Moore 1924). Cristodoro, outro <strong>poeta</strong> egípcio,<br />

refere explicitamente a Eneida (Anth. Pal. 2.414) e o célebre No<strong>no</strong> parece<br />

imitar Ovídio (Cameron 1970 20). Olimpiodoro, um <strong>poeta</strong> e historiador<br />

greco-egípcio, também visita Roma (Matthews 1970). Contudo, nunca <strong>de</strong>ve<br />

ter escrito uma linha em latim. E há também o importantíssimo Amia<strong>no</strong><br />

Marceli<strong>no</strong>, o maior historiador do século IV, um Grego <strong>de</strong> Antioquia <strong>no</strong><br />

Orontes, que vive <strong>no</strong> Oci<strong>de</strong>nte e escreve a sua História em latim. Mas, apesar<br />

<strong>de</strong>stas honrosas excepções, elas são isso mesmo, excepções.<br />

Pouco ou nada se sabe sobre a carreira <strong>de</strong> Claudia<strong>no</strong>, antes <strong>de</strong> 394. Ainda<br />

em Alexandria, compôs uma Gigantomachia em Grego (c.m. 53). Alan Cameron<br />

admite que tenha também cantado Patriai (poemas <strong>de</strong>dicados à fundação <strong>de</strong><br />

<strong>cida<strong>de</strong></strong>s) em Beirute, Tarso, Anárzabo (na Cilícia) e Niceia (Anth. Pal. 1.19;<br />

cf. Cameron 1970 8-11, 26). Per<strong>de</strong>ram-se. Se Claudia<strong>no</strong> cantou estas Patriai,<br />

significa que, ao <strong>de</strong>ixar o Egipto, <strong>de</strong>ve ter rumado por terra à Fenícia e daí à<br />

Cilícia, para <strong>de</strong>pois, atravessando a Ásia Me<strong>no</strong>r, se abeirar <strong>de</strong> Constanti<strong>no</strong>pla.<br />

Para um <strong>poeta</strong> <strong>de</strong> língua grega à procura <strong>de</strong> patro<strong>no</strong>, a <strong>cida<strong>de</strong></strong> do Cor<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

Ouro <strong>de</strong>via parecer um <strong>mundo</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. E, <strong>de</strong> facto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le,<br />

pelo me<strong>no</strong>s Ciro (PLRE 2.336-339) e Pamprépio <strong>de</strong> Panópolis (Asmus 1913)<br />

hão-<strong>de</strong> ganhar fama na <strong>cida<strong>de</strong></strong> do Bósforo, nas cortes <strong>de</strong> Teodósio II e <strong>de</strong><br />

Zenão, respectivamente. Contudo, Claudia<strong>no</strong>, não.<br />

No final <strong>de</strong> 394, ele já estava em Roma: continuava à procura <strong>de</strong> um<br />

rico patro<strong>no</strong>. E <strong>de</strong>sta vez conseguiu-o, junto da família cristã dos Anícios,<br />

estirpe <strong>de</strong> cônsules e <strong>de</strong> prefeitos do pretório, <strong>no</strong> momento em que dois dos<br />

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