O poeta e a cidade no mundo romano - Universidade de Coimbra
O poeta e a cidade no mundo romano - Universidade de Coimbra
O poeta e a cidade no mundo romano - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Rodrigo Furtado<br />
o basileus; contudo, os teóricos da retórica antiga não pareciam fazer a distinção.<br />
Na época <strong>de</strong> Claudia<strong>no</strong>, o texto mais conhecido que ensinava como organizar um<br />
discurso em honra <strong>de</strong> alguém era o manual <strong>de</strong> retórica <strong>de</strong> Menandro retor (Russell<br />
& Nilson 1981, ed.). E Claudia<strong>no</strong> segue a grelha com eficácia: <strong>no</strong> Panegírico pelo<br />
sexto consulado encontramos uma ‘introdução’ (vv. 1-25; prooimion), o elogio da<br />
linhagem <strong>de</strong> Honório (vv. 25-64; gens/genesis), a referência à sua educação (vv.<br />
65-100; natrophê), o <strong>de</strong>senvolvimento dos seus feitos (vv. 101-648; praxeis) e o<br />
epílogo (vv. 649-60; epilogos) 1 . Naturalmente, a parte mais <strong>de</strong>senvolvida é a dos<br />
feitos do Imperador: aqui são tão óbvios os tons épicos que Dewar sugere que pelo<br />
me<strong>no</strong>s uma parte <strong>de</strong>stes ‘feitos’ possa ter originalmente sido elaborada para um<br />
poema épico, talvez para o segundo livro do De bello Getico do mesmo Claudia<strong>no</strong>,<br />
que nunca se chegou a compor (Dewar 1996 xxviii).<br />
*<br />
Este é, pois, o contexto em que <strong>de</strong>corre a actio, ou seja, a <strong>de</strong>clamação<br />
do Panegírico pelo sexto consulado <strong>de</strong> Honório. E é numa perspectiva histórica<br />
que me quero manter. O objectivo inicial <strong>de</strong>ste trabalho era o <strong>de</strong> comentar<br />
a prosopopeia <strong>de</strong> Roma neste poema (356-493). Não é a única na obra <strong>de</strong><br />
Claudia<strong>no</strong>. Roma aparece com as vestes <strong>de</strong> Minerva logo <strong>no</strong> Panegírico pelo<br />
consulado <strong>de</strong> Olíbrio e Probi<strong>no</strong> (75-173), como faminta e esquálida <strong>no</strong> Da guerra<br />
contra Gildão (17-122), como anciã veneranda <strong>no</strong> Contra Eutrópio (vv. 1.371-<br />
513), ou a dirigir-se em <strong>no</strong>me das restantes regiões da terra ao próprio regente<br />
<strong>no</strong> Panegírico pelo consulado <strong>de</strong> Estilicão (2.223-407). A tarefa, <strong>no</strong> entanto,<br />
revelou-se pouco proveitosa. De facto, o comentário à prosopopeia <strong>de</strong> Roma<br />
<strong>no</strong> Panegírico pelo Sexto consulado foi magistralmente conseguido há já quinze<br />
a<strong>no</strong>s por M. Dewar (1996). Pelo contrário, pareceu-me do maior interesse<br />
<strong>de</strong>bruçar-me sobre um problema histórico-cultural que releva da presença <strong>de</strong><br />
Honório em Roma e do contexto i<strong>de</strong>ológico em que Claudia<strong>no</strong> o insere. Neste<br />
ambiente, Poeta, Cida<strong>de</strong> e Imperador surgem <strong>de</strong> forma particular.<br />
204<br />
4.<br />
‘Se áureos templos os antigos <strong>de</strong>dicavam à Fortuna Regressada<br />
Quando do retor<strong>no</strong> dos generais, nunca mais dig<strong>no</strong> foi que<br />
merecidamente esta <strong>de</strong>usa solicitasse amplos santuários<br />
do que agora quando, <strong>de</strong> igual modo, a sua majesta<strong>de</strong> restaurou<br />
as trábeas e a Cida<strong>de</strong>’.<br />
Claudia<strong>no</strong>, Pelo Sexto consulado <strong>de</strong> Honório Augusto 1-5a.<br />
São estes os primeiros quatro versos e meio do panegírico <strong>de</strong>dicado ao<br />
sexto consulado do jovem Honório. O texto começa com uma referência à<br />
1 Ver Dewar 1996 xxvi-xxvii. Este autor consi<strong>de</strong>ra que o Sexto panegírico tem influências do<br />
tipo <strong>de</strong> discurso sobre o Aduentus do rei numa <strong>cida<strong>de</strong></strong>.