Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
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Introdução<br />
A crise ambiental <strong>de</strong>safia algumas categorizações mo<strong>de</strong>rnas, construí<strong>da</strong>s com a<br />
finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre as quais cabe <strong>de</strong>stacar o par natureza - socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Fenômenos como o efeito estufa, o buraco na cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> ozônio não po<strong>de</strong>m ser<br />
consi<strong>de</strong>rados exclusivamente sociais, tampouco naturais ⎯ a própria noção <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Sustentável, introduzi<strong>da</strong> pelo Relatório "Nosso Futuro em Comum",<br />
propõe a incorporação <strong>da</strong>s questões ambientais à agen<strong>da</strong> política internacional, articulando<br />
o futuro <strong>da</strong>s multidões famintas, a <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> social com a finitu<strong>de</strong> dos recursos naturais.<br />
A separação entre questões sociais e naturais, cancela<strong>da</strong> pela crise ambiental,<br />
conduz diretamente à problemática <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os esforços mo<strong>de</strong>rnos, em boa parte,<br />
tentaram consagrar a concepção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> oposta ao mundo natural. O projeto<br />
mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> dominação <strong>da</strong> natureza, visto sob este ângulo, <strong>de</strong>corre <strong>de</strong>ssa oposição,<br />
constituindo uma tentativa <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r a or<strong>de</strong>m social aos domínios que eram consi<strong>de</strong>rados<br />
<strong>de</strong>stituídos <strong>de</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong> e valor. Assim, o <strong>de</strong>sejo mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> promover revoluções no<br />
âmbito político e científico foi <strong>de</strong>terminado pelo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> uma compreensão puramente<br />
racional <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que seria capaz <strong>de</strong> combater as ilusões e dogmatismos associados às<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais. As revoluções políticas afirmariam o livre arbítrio humano, as<br />
científicas <strong>de</strong>svelariam os fatos naturais. A História teve seu sentido vinculado aos avanços<br />
ou retrocessos na esfera do conhecimento, que conduziriam, no primeiro caso, à<br />
emancipação humana, e no segundo, à alienação. O futuro foi visto como espaço a ser<br />
conquistado, que teria relações diretas com o presente sob a forma <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>da</strong>s condições atuais. E por ser construído pelo homem, o futuro seria previsível.<br />
A crise ambiental modifica consi<strong>de</strong>ravelmente este quadro. Além <strong>da</strong> separação<br />
entre natureza e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, o distanciamento entre ciência e política e a previsibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
futuro sofrem transformações. A crise do meio ambiente, na medi<strong>da</strong> em que <strong>de</strong>safia a<br />
dicotomia natureza-socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, dirigindo questões simultaneamente aos cientistas ⎯<br />
responsáveis por falar do mundo objetivo ⎯ e aos políticos ⎯ a quem foi <strong>de</strong>lega<strong>da</strong> a<br />
função <strong>de</strong> representar a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> ⎯ e mo<strong>de</strong>lando o futuro segundo a imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
constitui o assunto <strong>de</strong>ste trabalho. Estas transformações colocam em pauta a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>.