Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
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passado, pela transformação contínua <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Almejando a inovação, a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
aponta Bauman (1999), buscou dissolver autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s intermediárias <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />
tradições que orientavam os indivíduos a respeito <strong>da</strong> sua conduta e existência. Para<br />
remediar o turbilhão que passou a cercar o ser humano, um estreito relacionamento entre as<br />
classificações e a regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do mundo teve que ser postulado. Os mo<strong>de</strong>rnos foram<br />
obrigados a sustentar, em primeiro lugar, a existência <strong>de</strong> uma regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> no mundo e, em<br />
segundo, que houvesse condições <strong>de</strong>sta regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> ser conheci<strong>da</strong>, <strong>de</strong> modo a permitir uma<br />
certa estimativa <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> os eventos se concretizarem. A crença em um mundo<br />
dotado <strong>de</strong> regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> permite que nele se diferencie entre acontecimentos com gran<strong>de</strong><br />
probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serem realizados e outros com pouca, ou nenhuma chance, <strong>de</strong> sê-lo. Deste<br />
modo, a estimativa <strong>de</strong> probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s tornou possível mover-se em um mundo on<strong>de</strong> a<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong> do costume ou <strong>da</strong> tradição fora dissolvi<strong>da</strong>.<br />
Se a estimativa <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos eventos ⎯ <strong>de</strong> um modo não matemático<br />
⎯ não é necessariamente uma característica exclusiva <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar,<br />
em primeiro lugar, que a busca <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m amplia as preocupações com a equivalência entre<br />
o quadro intelectual e as regulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s do mundo. Equivalência que, se não implica<br />
obrigatoriamente em um espelhamento perfeito do mundo, pelo menos, <strong>de</strong>ve passar por<br />
métodos empenhados na busca <strong>de</strong> uma representação fiel <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, como aquele<br />
elaborado por Descartes. No Discurso do Método (1973) encontram-se alguns exemplos<br />
<strong>de</strong>ste caminho. Para <strong>da</strong>r um exemplo: o terceiro princípio do método cartesiano diz respeito<br />
à abor<strong>da</strong>gem do objeto <strong>de</strong> conhecimento. Segundo este princípio <strong>de</strong>veríamos começar:<br />
“(...) Pelos objetos mais simples e mais fáceis <strong>de</strong> serem conhecidos, para subir, pouco<br />
a pouco, como por <strong>de</strong>graus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo certa<br />
or<strong>de</strong>m entre os que não se prece<strong>de</strong>m naturalmente uns aos outros” (p.64).<br />
Em segundo lugar, a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> constantemente formula uma relação entre<br />
conhecer e controlar. Des<strong>de</strong> as famosas enunciações <strong>de</strong> Francis Bacon e Saint-Simon<br />
acerca <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s ofereci<strong>da</strong>s pela aplicação social <strong>da</strong> ciência, até a sociologia<br />
marxista que, <strong>de</strong> acordo com Gid<strong>de</strong>ns (1991), compartilha este projeto, po<strong>de</strong>-se ver a<br />
crença no papel atribuído ao conhecimento em tornar a prática mais po<strong>de</strong>rosa.