Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
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Decidir, por exemplo, entre o uso <strong>de</strong> certas técnicas ou sobre a sua abolição não é na<strong>da</strong><br />
simples, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do contexto no qual estas se apresentam, seu caráter se modifica.<br />
Como observam Latour, Schwartz & Charvolin (op. cit, 1998):<br />
“O sujo nuclear <strong>de</strong> repente po<strong>de</strong> se inclinar para o limpo quando se trata <strong>de</strong> proteger a<br />
cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> ozônio contra os poluentes <strong>da</strong> indústria do carvão. Uma técnica “apropria<strong>da</strong>” po<strong>de</strong><br />
revelar-se subitamente mais <strong>de</strong>strutiva para a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que uma técnica “imperialista”.”<br />
(p.104).<br />
Um último aspecto <strong>da</strong> atual imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> diz respeito às mu<strong>da</strong>nças<br />
provoca<strong>da</strong>s pelo conhecimento em seu objeto. Gid<strong>de</strong>ns (op. cit,1991) chama a atenção para<br />
o papel que o conhecimento possui na modificação do modo <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> seu objeto. O<br />
autor cita o exemplo <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças introduzi<strong>da</strong>s pelos conceitos econômicos, como capital<br />
e investimento. Apesar <strong>de</strong> a maioria <strong>da</strong>s pessoas não po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>fini-los formalmente, elas<br />
<strong>de</strong>monstram uma espécie <strong>de</strong> conhecimento prático <strong>de</strong>stas noções que se corporifica, por<br />
exemplo, no uso <strong>de</strong> uma conta bancária. Estes conceitos acabam por construir e modificar o<br />
comportamento dos agentes sociais, na medi<strong>da</strong> em que eles “constituem ativamente o que é<br />
o comportamento e informam as razões pelas quais ele é empreendido” (p. 48).<br />
Gid<strong>de</strong>ns (id.) assinala também que as ciências são alimenta<strong>da</strong>s pelas noções e<br />
referenciais que os “leigos agentes” (p.24) utilizam; este é exatamente o substrato <strong>da</strong>s<br />
ciências sociais. Entretanto, ao abor<strong>da</strong>r a situação dos riscos atuais, Gid<strong>de</strong>ns (id.), expan<strong>de</strong><br />
sua análise <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça efetua<strong>da</strong> pelo conhecimento a outras áreas além <strong>da</strong>s ciências<br />
sociais. Os riscos ambientais seriam <strong>de</strong> uma espécie distinta dos riscos mo<strong>de</strong>rnos. Eles<br />
<strong>de</strong>rivam “<strong>da</strong> transformação <strong>da</strong> natureza por sistemas <strong>de</strong> conhecimento humano” (p. 129).<br />
Se, na mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, os riscos têm sua fonte localiza<strong>da</strong> no exterior <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a situação<br />
atual inverte a origem <strong>da</strong> fonte, pois são a ação e o conhecimento humanos que geram as<br />
inquietações quanto ao futuro. Os riscos ambientais não dizem respeito a um exterior <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, pelo contrário eles expressam <strong>de</strong> modo eloqüente a presente inter<strong>de</strong>pendência<br />
entre natureza e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Uma <strong>da</strong>s características <strong>de</strong>stes riscos é serem controversos, <strong>de</strong><br />
modo que não há como sustentar ou abandonar com to<strong>da</strong> certeza a hipótese <strong>da</strong> ocorrência<br />
<strong>de</strong> eventos como efeitos ambientais resultantes <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes nucleares, a não ser que estes