Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
14<br />
série para o surgimento <strong>da</strong> crise ambiental resi<strong>de</strong> na ampliação <strong>da</strong>s inter-relações entre<br />
natureza e socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e na fabricação <strong>de</strong> riscos. A segun<strong>da</strong> série é importante por conferir<br />
um <strong>de</strong>terminado sentido à crise ambiental, o que é feito <strong>de</strong>ntro dos parâmetros <strong>da</strong> <strong>de</strong>núncia<br />
<strong>da</strong>s mistificações, <strong>da</strong>s máscaras i<strong>de</strong>ológicas do capitalismo, <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> dominadora e<br />
antropocêntrica, <strong>da</strong> disciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> científica, etc... No primeiro capítulo, a primeira e<br />
segun<strong>da</strong> série são estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s em seus pressupostos. As condições <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
expansão <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> técnica são aponta<strong>da</strong>s na exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> natureza e na<br />
previsibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do futuro. A expansão <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> científica e técnica pressupõe a<br />
concepção <strong>da</strong> natureza como um exterior <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que, <strong>de</strong>stituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong> e valor,<br />
po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser reorienta<strong>da</strong> <strong>de</strong> acordo com os propósitos humanos. A exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
natureza, além <strong>de</strong> ser aponta<strong>da</strong> no campo <strong>da</strong> ciência, é também analisa<strong>da</strong> em relação à<br />
História e à cultura. A noção <strong>de</strong> uma natureza estável aparece, na mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, contraposta<br />
à historici<strong>da</strong><strong>de</strong> humana, enquanto a noção <strong>de</strong> natureza <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> aparece como uma<br />
origem sobre a qual a cultura <strong>de</strong>ve se elevar. Em todo estes campos, a natureza se oferece<br />
como um exterior, <strong>de</strong>finido negativamente em relação ao homem, ou seja, pela ausência <strong>de</strong><br />
características humanas. O projeto empreendido pelas ciências e técnicas <strong>de</strong> reor<strong>de</strong>nar a<br />
natureza é colocado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma narrativa histórica, na qual o futuro é consi<strong>de</strong>rado uma<br />
construção executa<strong>da</strong> pelas ações humanas no presente. O futuro seria, por conseqüência,<br />
previsível, um espaço a ser conquistado.<br />
A crítica está liga<strong>da</strong> diretamente à mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, mais especificamente, à<br />
concepção <strong>de</strong> natureza transcen<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> imanente, além <strong>de</strong> um Deus<br />
Suprimido. Partindo <strong>da</strong> lógica <strong>da</strong> superação, a crítica se dirige às ilusões e mistificações do<br />
passado que impediriam uma cultura <strong>de</strong> conquistar a emancipação humana. As misturas<br />
entre natureza e socie<strong>da</strong><strong>de</strong> são ataca<strong>da</strong>s; a excessiva religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas também a ausência<br />
completa <strong>de</strong> religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> são igualmente <strong>de</strong>nuncia<strong>da</strong>s. Neste momento, a crítica se insere<br />
em uma lógica <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> controle sobre a natureza e sobre os homens, apontando as<br />
falhas e equívocos <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, incitando um aperfeiçoamento <strong>de</strong> suas práticas.<br />
O segundo capítulo trata do processo propriamente dito <strong>de</strong> expansão <strong>da</strong>s<br />
ciências e técnicas, assim como <strong>de</strong> ampliação <strong>da</strong> crítica. Em primeiro lugar, as ciências e<br />
técnicas, ao se expandirem, socializam a natureza, ampliando a fusão entre socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e