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Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ

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op. cit.). O meio ambiente como contexto geral <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as ações humanas, que não<br />

conhece fronteiras territoriais ou nacionais, po<strong>de</strong> ser apreciado como construção histórica<br />

recente e impulsiona<strong>da</strong> pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> ciência, observação sistemática dos efeitos<br />

<strong>da</strong> tecnologia sobre o meio ambiente, além dos investimentos políticos e comerciais. Esta<br />

idéia será ain<strong>da</strong> melhor <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>, mais adiante. Por enquanto, é importante assinalar<br />

que o modo segundo o qual o movimento ambientalista questiona a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser<br />

explicado recorrendo-se ao processo <strong>de</strong> ampliação <strong>da</strong> crítica, processo que envia a crítica a<br />

alguns fun<strong>da</strong>mentos mo<strong>de</strong>rnos.<br />

Para o filósofo Michel Foucault (1987), a busca <strong>da</strong> cultura oci<strong>de</strong>ntal pelos<br />

fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> tem início no século XVIII. Na análise <strong>de</strong> Foucault, o<br />

elemento no qual este movimento se torna mais aparente é encontrado na filosofia crítica <strong>de</strong><br />

Kant, que operaria uma conversão no modo <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r a representação, ou melhor, na<br />

“relação <strong>da</strong> representação para com o que nela é <strong>da</strong>do” (id., p. 253).<br />

Se, no saber clássico a representação não era uma questão, ou seja, algo que<br />

<strong>de</strong>vesse ser explicado, isto se <strong>de</strong>via à ligação <strong>de</strong> Deus com a or<strong>de</strong>m do mundo. Esta or<strong>de</strong>m<br />

po<strong>de</strong>ria ser aprecia<strong>da</strong> pelo homem, aparecendo-lhe como um <strong>da</strong>do. Cabia ao pensamento<br />

esclarecê-la, através <strong>de</strong> idéias claras e distintas, mais especificamente através <strong>de</strong> um método<br />

universal: a análise.<br />

O pensamento é somente problematizado quando integrado na tecedura <strong>da</strong>s<br />

representações. O momento em que ele se vê investido do po<strong>de</strong>r não somente <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r representações, mas <strong>de</strong> as criar, o estatuto do homem é modificado. Esta<br />

mu<strong>da</strong>nça é capta<strong>da</strong> por Dreyfus & Rabinow (1995), como o importante instante no qual “o<br />

homem, que era um ser entre outros, torna-se agora um sujeito entre objetos” (p. 30). Esta<br />

diferença dos outros seres rompe com uma continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ⎯ a gran<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia dos seres ⎯<br />

que Deus teria criado, dotando <strong>de</strong> correspondência os signos e os elementos primitivos do<br />

mundo. Colocando-se o homem como autor <strong>da</strong>s representações, esta ca<strong>de</strong>ia se vê quebra<strong>da</strong>,<br />

e a fonte <strong>da</strong>s representações <strong>de</strong>verá, a partir <strong>de</strong>ste momento, ser explica<strong>da</strong>.<br />

A conclusão <strong>de</strong>sta análise é que as ciências humanas trazem como marca uma<br />

preocupação reflexiva que torna todo conhecimento por elas produzido, questionável.<br />

Contudo, se a reflexão <strong>da</strong> cultura tem seu mo<strong>de</strong>lo na filosofia crítica <strong>de</strong> Kant, um

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