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Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ

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38<br />

mo<strong>de</strong>rnos:<br />

“Procuram ver como se comporta a natureza em circunstâncias não observa<strong>da</strong>s<br />

anteriormente ou anteriormente inexistentes. A natureza é interroga<strong>da</strong> em condições a que ela<br />

jamais chegaria sem intervenção do homem: os homens que, por exemplo, colocavam pequenos<br />

animais, sementes <strong>de</strong> plantas ou elementos químicos no vácuo criado por uma bomba<br />

pneumática, inseriam-se plenamente nesta tradição” (ROSSI, id, p. 140).<br />

O sucesso <strong>da</strong> ciência, que se faz íntima <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> experimentos<br />

laboratoriais, <strong>de</strong> acordo com Séris (1994), doa um novo sentido à técnica e ao artifício. Ao<br />

invés <strong>de</strong> serem vistas como imitações <strong>da</strong> natureza, as criações técnicas passam a ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s enriquecimento do mundo natural. O filósofo Francis Bacon, antes <strong>de</strong> Hobbes<br />

e Vico, já havia <strong>de</strong>ixado bastante claro que a ação técnica não <strong>de</strong>ve ser entendi<strong>da</strong> como<br />

uma continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ação natural. Muito pelo contrário, advertia Bacon:<br />

“Enganamo-nos pensando que a técnica humana não po<strong>de</strong> introduzir mu<strong>da</strong>nças<br />

radicais e abalar (a natureza) ate em seus fun<strong>da</strong>mentos; eis uma opinião que muitas vezes levou<br />

os homens a <strong>de</strong>sesperarem <strong>de</strong> seus empreendimentos.” ( BACON apud LEISS, 1975, p. 35)<br />

.<br />

Geralmente a ciência mo<strong>de</strong>rna e a própria razão acabaram sendo i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s<br />

com a diferenciação entre mundo objetivo e subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que, como já vimos, po<strong>de</strong> ser<br />

remeti<strong>da</strong> ao dualismo socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e natureza. Cabe pensar a partir <strong>da</strong>í o aspecto <strong>da</strong> mistura<br />

entre estes campos, que se <strong>de</strong>u a <strong>de</strong>speito do esmero dos dispositivos críticos. Foi utiliza<strong>da</strong><br />

a locução adverbial a <strong>de</strong>speito, mas Bruno Latour (op. cit,1994) <strong>de</strong>dica uma boa parte <strong>de</strong><br />

seus esforços no ensaio Jamais fomos mo<strong>de</strong>rnos para mostrar que a busca por <strong>de</strong>purar<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza, implicou em um aumento <strong>da</strong> fusão entre estes dois domínios.<br />

Latour (id.) elabora uma espécie <strong>de</strong> explicação para tornar inteligível a<br />

ocorrência <strong>de</strong> duas espécies <strong>de</strong> práticas: uma crítica, que busca separar natureza <strong>de</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>/ cultura e outra que promove hibri<strong>da</strong>ções. Seriam os temores do sagrado que<br />

habitariam, para a civilização pré-mo<strong>de</strong>rna, todos os recantos do mundo, que teriam<br />

impedido o avanço sobre a natureza, ou melhor, a fusão em maior escala entre socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

elementos naturais. Eliminando estes temores, através <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> que o

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