Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
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or<strong>de</strong>m e caos. Como não existem problemas e soluções em si, o que é assim consi<strong>de</strong>rado<br />
recebe sentido quando posto em relação com os propósitos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação que ca<strong>da</strong> pequena<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong> - <strong>da</strong> filosofia, <strong>da</strong> ciência, <strong>da</strong> administração ou do Estado - tem para si. Em<br />
conseqüência disto, ca<strong>da</strong> solução termina sendo provisória, contribuindo para criar eventos<br />
ou objetos que irão, em momento posterior, ser consi<strong>de</strong>rados problemas. Bauman (id.)<br />
oferece alguns exemplos <strong>de</strong>ste empenho na busca <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> problemas, que na<strong>da</strong> mais<br />
faz do que adiantar sua proliferação:<br />
“Houve a tarefa <strong>de</strong> aumentar as colheitas agrícolas - cumpri<strong>da</strong> graças aos nitratos. E<br />
houve a tarefa <strong>de</strong> estabilizar o fornecimento <strong>de</strong> água - cumpri<strong>da</strong> graças ao estancamento do<br />
fluxo dos rios por meios <strong>de</strong> represas. Depois veio a tarefa <strong>de</strong> purificar os reservatórios <strong>de</strong> água<br />
envenenados pelo <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> nitratos não absorvidos ⎯ cumpri<strong>da</strong> graças à aplicação <strong>de</strong><br />
fosfatos em estações especialmente construí<strong>da</strong>s para o processamento <strong>de</strong> águas servi<strong>da</strong>s. Depois<br />
veio a tarefa as algas tóxicas que proliferam em reservatórios ricos <strong>de</strong> compostos fosfatados<br />
(...)” (p. 21)<br />
A repartição <strong>de</strong> competências, como foi visto, envolve a <strong>de</strong>composição <strong>da</strong><br />
guerra mais geral pela or<strong>de</strong>m em pequenas batalhas. Formam-se centros que se relacionam<br />
entre si, mas que almejam tornarem-se autônomos. Ao entrarem em conflito, eles<br />
comprometem a própria idéia <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> absoluta que dá fun<strong>da</strong>mento às suas ações. O caso<br />
<strong>da</strong> ciência é bastante ilustrativo. Como já foi antes observado, a ciência teria ocupado na<br />
mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> um posto or<strong>de</strong>nador. Ela, neste sentido, teria se tornado uma espécie <strong>de</strong><br />
tradição, mantenedora <strong>de</strong> certezas. To<strong>da</strong>via, na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> ela per<strong>de</strong> sua hegemonia ⎯ não<br />
só por estar comprometi<strong>da</strong> com certos eventos ocorridos durante o século XX que<br />
questionam o seu benefício, mas também pela própria expansão <strong>da</strong> autonomia dos campos<br />
que encarnam a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Quanto aos acontecimentos que colocaram a idéia do<br />
benefício <strong>da</strong> ciência em questão, Gid<strong>de</strong>ns (op. cit, 1995) observa que:<br />
“A ciência per<strong>de</strong>u boa parte <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> que um dia possuiu. De certa forma, isto<br />
provavelmente é resultado <strong>da</strong> <strong>de</strong>silusão com os benefícios que, associados à tecnologia, ela<br />
alega ter trazido para a humani<strong>da</strong><strong>de</strong>. Duas guerras mundiais, a invenção <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> guerra<br />
terrivelmente <strong>de</strong>strutivas, a crise ambiental global e outros <strong>de</strong>senvolvimentos do presente século