Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
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experimental, a natureza torna-se um exterior que <strong>de</strong>ve ser diferenciado do subjetivo para<br />
que exista conhecimento, assim como, modificado pelas finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas, para que<br />
exista progresso.<br />
Outro efeito <strong>da</strong> exteriorização <strong>da</strong> natureza po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tectado na nova acepção<br />
que o termo cultura recebe no último quartel do século XVIII. O significado que, então, é<br />
conferido ao termo <strong>de</strong>staca as regras que <strong>de</strong>vem restringir os gestos, os gostos, enfim, os<br />
costumes, a fim <strong>de</strong> diferenciar o homem mo<strong>de</strong>rno dos animais e dos bárbaros. Deste modo,<br />
é cria<strong>da</strong> uma oposição, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> qual cultura passa a <strong>de</strong>signar um <strong>de</strong>terminado universo,<br />
on<strong>de</strong> alguns ⎯ os refinados, esclarecidos e educados, são melhores do que outros ⎯ os<br />
bárbaros e irracionais (BAUMAN, 1998). A racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que o processo educativo<br />
preten<strong>de</strong> atingir e refinar, operaria uma evolução do pólo <strong>da</strong> natureza para o <strong>da</strong> cultura. Na<br />
oposição cultura-natureza, o último termo aparece como exterior que <strong>de</strong>ve ser evitado, ou<br />
então, <strong>de</strong>sviado para finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s superiores que caracterizariam a cultura. Esta oposição<br />
encontra-se também presente na obra <strong>de</strong> teóricos mo<strong>de</strong>rnos do Estado, como Thomas<br />
Hobbes. Mais especificamente, a oposição se passa neste último caso entre natureza e<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A representação <strong>de</strong> natureza em Hobbes coinci<strong>de</strong> perfeitamente com o que foi<br />
explanado, pois aquilo que, segundo o autor do Leviatã, antece<strong>de</strong> à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> regula<strong>da</strong> por<br />
leis, consiste numa espécie <strong>de</strong> estado natural, no qual a guerra vigora, ou, em outros termos,<br />
on<strong>de</strong> reina a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m (BAUMAN, 1999).<br />
Por último, na antropologia do filósofo Rousseau, o termo natureza aparece em<br />
oposição à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e, por <strong>de</strong>corrência, à História. Conhecendo sucesso, o esquema<br />
formulado pelo filosofo francês será retomado e prevalecerá na obra <strong>de</strong> autores como Kant,<br />
Fichte e Sartre (FERRY, 1994). A oposição natureza-liber<strong>da</strong><strong>de</strong> surge <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> obra <strong>de</strong><br />
Rousseau como uma resposta à seguinte pergunta: o que diferencia fun<strong>da</strong>mentalmente os<br />
atos humanos dos comportamentos animais? Logo o filósofo se encaminha para uma<br />
solução, fazendo uso dos conceitos <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> ⎯ princípio <strong>da</strong>s ações no homem ⎯ e<br />
disposição natural, que se chamaria hoje <strong>de</strong> instinto ⎯ motivo do comportamento animal.<br />
O animal seria essencialmente um ser <strong>de</strong>terminado, enquanto o ser humano, essencialmente<br />
outro sistema racional e consciente; e finalmente, nos vários discursos <strong>da</strong> antroposofia mo<strong>de</strong>rna acerca <strong>da</strong>s<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s primitivas.