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Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ

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estas mesmas que estão envolvi<strong>da</strong>s no diagnóstico dos riscos e nas soluções para os<br />

problemas ambientais. Como efeito do conflito entre especialistas surge a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nas <strong>de</strong>cisões políticas acerca do meio ambiente. Os riscos<br />

ambientais, na medi<strong>da</strong> em que são imprevisíveis, fazem com que a natureza volte a ser<br />

causa, no sentido jurídico, entre os humanos. Este ponto será <strong>de</strong>senvolvido mais adiante, no<br />

último capítulo.<br />

Para a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, no processo <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, o conhecimento é<br />

consi<strong>de</strong>rado essencial, na medi<strong>da</strong> em que quanto mais <strong>de</strong>le se dispuser maior será a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> controle. A relação direta entre <strong>de</strong>cisão, controle e conhecimento po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s prerrogativas <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> (BAUMAN, op. cit, 1999). Neste<br />

contexto a clareza do conhecimento tornou-se um pré-requisito importantíssimo: as<br />

categorias <strong>de</strong>vem estar bem arruma<strong>da</strong>s, os seres, bem classificados. Entretanto, o próprio<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> categorizar engendrou resultado completamente inesperado, pois a incerteza, ao<br />

invés <strong>de</strong> ser liqui<strong>da</strong><strong>da</strong>, acabou por se multiplicar. Como atesta Beck (op. cit, 1995), “a<br />

expansão e a intensificação do controle terminam produzindo o oposto” (p. 21).<br />

Com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar compreensíveis os processos que possibilitaram os<br />

resultados inesperados <strong>da</strong> busca pelo controle, serão analisados a repartição <strong>de</strong><br />

competências para a resolução <strong>de</strong> problemas e a modificação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo<br />

conhecimento. Como resultado <strong>de</strong>stes dois processos, os riscos que provinham <strong>de</strong> um<br />

domínio consi<strong>de</strong>rado exterior à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> (riscos externos), não ocupam mais lugar<br />

principal na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>. São os riscos fabricados ⎯ dos quais fazem parte os riscos<br />

ambientais ⎯ que preenchem agora a lista <strong>da</strong>s preocupações e que remo<strong>de</strong>lam a narrativa<br />

histórica mo<strong>de</strong>rna, tornando o futuro um espaço imprevisível.<br />

Po<strong>de</strong>-se buscar as razões <strong>da</strong> imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> com a qual nos <strong>de</strong>paramos no<br />

presente, <strong>de</strong>bruçando-se sobre o modo como a or<strong>de</strong>nação mo<strong>de</strong>rna foi empreendi<strong>da</strong>. De<br />

acordo com Bauman (op. cit, 1999), existem duas gran<strong>de</strong>s estratégias mo<strong>de</strong>rnas para<br />

or<strong>de</strong>nar. Um primeiro procedimento e a separação territorial, que cria uma oposição entre<br />

exterior e interior, a partir <strong>da</strong> qual o po<strong>de</strong>r é exercido com maior facili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esta foi a<br />

estratégia utiliza<strong>da</strong> pelos Estados nacionais mo<strong>de</strong>rnos. Tendo como objetivo fazer vigorar<br />

leis próprias <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus territórios, eles procuraram fazer com que suas fronteiras

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