Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
32<br />
“Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s resi<strong>de</strong>ntes nos sujeitos externos, não tem ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente outra<br />
existência senão em nós e fora <strong>de</strong> nós na<strong>da</strong> mais são que nomes (...) eu penso que estes sabores,<br />
odores, cores, etc. por parte do sujeito no qual parecem residir, na<strong>da</strong> mais sejam que puros<br />
nomes, tenham sua residência somente no corpo sensitivo; <strong>de</strong> tal modo que , removido o<br />
animal, são aniquila<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s estas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s” (GALILEU, apud, ROSSI, 1992, p. 184).<br />
Com efeito, o cientista, nesta passagem, assinala a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se distinguir<br />
o que integra o domínio do percebido ⎯ logo, subjetivo ⎯ <strong>da</strong>quilo que é unicamente<br />
mecanismo impessoal e, por esta razão, pertence ao universo objetivo. Do mesmo modo,<br />
Maquiavel e Hobbes <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram o <strong>de</strong>svencilhamento do Estado <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus e do<br />
Papa. O soberano po<strong>de</strong>ria ter, afirmavam estes autores, sua autori<strong>da</strong><strong>de</strong> reconheci<strong>da</strong> pela<br />
mera referência a um contrato feito entre a população e o Rei, ou mesmo, à própria idéia <strong>de</strong><br />
Estado (CHÂTELET, DUHAMEL & PISIER- KOUCHNER, 2000).<br />
Tendo sido a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> equipara<strong>da</strong> à ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> separar fatos e valores,<br />
isto é, <strong>de</strong> respeitar a imanência <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e a transcendência <strong>da</strong> natureza, como<br />
conseqüência, qualquer mistura, ou erro <strong>de</strong> atribuições entre estas esferas, tornou-se motivo<br />
para o imediato <strong>de</strong>spertar <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> crítica. On<strong>de</strong> não fosse reconhecido o potencial<br />
libertador <strong>da</strong>s ciências e técnicas, ou, então, on<strong>de</strong> se confundisse objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos fatos<br />
científicos com leis sociais, os mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> modo inclemente <strong>de</strong>squalificavam os agentes<br />
<strong>de</strong> tais misturas.<br />
Mas aquilo que, segundo Latour (op. cit, 1994.), permite o uso e a ampliação <strong>da</strong><br />
crítica resi<strong>de</strong> na possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>stes recursos serem remo<strong>de</strong>lados ⎯ o domínio que é<br />
consi<strong>de</strong>rado transcen<strong>de</strong>nte ocasionalmente adquire características imanentes e vice-versa.<br />
Por vezes, a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> mobiliza a natureza no interior <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, para dizer que é<br />
possível construir o futuro racionalmente, através do conhecimento e controle <strong>da</strong> natureza.<br />
Em outros momentos, a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> transcen<strong>de</strong>nte para se provar que esta é<br />
racional ⎯ e, portanto, <strong>de</strong>ve possuir limites e leis. Tampouco Deus é poupado nestes<br />
cruzamentos dos recursos críticos, dos quais Latour (id.) fornece diversos exemplos:<br />
“Você acredita que o trovão é uma divin<strong>da</strong><strong>de</strong>? A crítica irá mostrar que se trata, neste<br />
caso, <strong>de</strong> mecanismos físicos sem influência sobre acontecimentos do mundo humano. Você está