Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ
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I- PRESSUPOSTOS PARA A CONSTRUÇÃO DA CRISE<br />
AMBIENTAL<br />
A crise ambiental <strong>de</strong>termina práticas que transformam completamente a<br />
representação mo<strong>de</strong>rna do processo civilizador. Civilizar significava conquistar um espaço<br />
exterior à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> organiza<strong>da</strong>; espaço ilimitado, capaz <strong>de</strong> fornecer proventos ilimitados<br />
para as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas, mas também selvagem, ameaçador, que <strong>de</strong>veria ser dominado<br />
para que houvesse cultura e progresso.<br />
Este espaço exterior que, do ponto <strong>de</strong> vista mo<strong>de</strong>rno, era a natureza, passou a<br />
ser consi<strong>de</strong>rado frágil e finito, ao invés <strong>de</strong> ilimitado. De exterior e inumano, passou a ser a<br />
questão por on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s conten<strong>da</strong>s e lutas humanas se cruzam. O que <strong>de</strong>veria ser<br />
conquistado, agora, <strong>de</strong>ve ser salvo. O que era <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> conseqüências e po<strong>de</strong>ria ser<br />
utilizado como se quisesse passou a ser o contexto on<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as ações humanas repercutem<br />
<strong>de</strong> modo imprevisível, objeto <strong>de</strong> temor e cautela. O ambiente natural feito tema político,<br />
econômico e social se apresenta distintamente <strong>da</strong> natureza mo<strong>de</strong>rna nestes quatro sentidos.<br />
Mas os princípios mo<strong>de</strong>rnos ⎯ que configuravam o processo civilizador como conquista <strong>de</strong><br />
um exterior ⎯ possibilitaram também to<strong>da</strong>s estas transformações. A exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
natureza e a previsibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do futuro forneceram condições para a ampliação do papel <strong>da</strong>s<br />
ciências e técnicas na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que, por sua vez, geraram, além <strong>da</strong> mistura entre natureza e<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, riscos ambientais imprevisíveis. A crítica, que alimentava o distanciamento <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> natureza, passou a forçar a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> a modificar sua marcha e seu sentido.<br />
Para compreen<strong>de</strong>r a dinâmica que conduz as transformações <strong>da</strong> natureza factual mo<strong>de</strong>rna<br />
no tema ambiental contemporâneo, serão estu<strong>da</strong>dos neste capítulo os pressupostos <strong>da</strong><br />
extensão do papel <strong>da</strong>s ciências e técnicas na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem como os <strong>da</strong> ampliação <strong>da</strong><br />
crítica.