03.09.2014 Views

Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ

Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ

Crise Ambiental e Modernidade - Instituto de Psicologia da UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

18<br />

I- PRESSUPOSTOS PARA A CONSTRUÇÃO DA CRISE<br />

AMBIENTAL<br />

A crise ambiental <strong>de</strong>termina práticas que transformam completamente a<br />

representação mo<strong>de</strong>rna do processo civilizador. Civilizar significava conquistar um espaço<br />

exterior à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> organiza<strong>da</strong>; espaço ilimitado, capaz <strong>de</strong> fornecer proventos ilimitados<br />

para as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas, mas também selvagem, ameaçador, que <strong>de</strong>veria ser dominado<br />

para que houvesse cultura e progresso.<br />

Este espaço exterior que, do ponto <strong>de</strong> vista mo<strong>de</strong>rno, era a natureza, passou a<br />

ser consi<strong>de</strong>rado frágil e finito, ao invés <strong>de</strong> ilimitado. De exterior e inumano, passou a ser a<br />

questão por on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s conten<strong>da</strong>s e lutas humanas se cruzam. O que <strong>de</strong>veria ser<br />

conquistado, agora, <strong>de</strong>ve ser salvo. O que era <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> conseqüências e po<strong>de</strong>ria ser<br />

utilizado como se quisesse passou a ser o contexto on<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as ações humanas repercutem<br />

<strong>de</strong> modo imprevisível, objeto <strong>de</strong> temor e cautela. O ambiente natural feito tema político,<br />

econômico e social se apresenta distintamente <strong>da</strong> natureza mo<strong>de</strong>rna nestes quatro sentidos.<br />

Mas os princípios mo<strong>de</strong>rnos ⎯ que configuravam o processo civilizador como conquista <strong>de</strong><br />

um exterior ⎯ possibilitaram também to<strong>da</strong>s estas transformações. A exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

natureza e a previsibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do futuro forneceram condições para a ampliação do papel <strong>da</strong>s<br />

ciências e técnicas na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que, por sua vez, geraram, além <strong>da</strong> mistura entre natureza e<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, riscos ambientais imprevisíveis. A crítica, que alimentava o distanciamento <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> natureza, passou a forçar a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> a modificar sua marcha e seu sentido.<br />

Para compreen<strong>de</strong>r a dinâmica que conduz as transformações <strong>da</strong> natureza factual mo<strong>de</strong>rna<br />

no tema ambiental contemporâneo, serão estu<strong>da</strong>dos neste capítulo os pressupostos <strong>da</strong><br />

extensão do papel <strong>da</strong>s ciências e técnicas na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem como os <strong>da</strong> ampliação <strong>da</strong><br />

crítica.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!