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CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br

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percurso diá<strong>rio</strong> ao sair nos intervalos do almoço ou no fim das tardes depois do expediente e antes<<strong>br</strong> />

de peregrinar flanando, com uma ponta de satisfação pelos conselhos invariavelmente bem<<strong>br</strong> />

sucedidos. “Meu bombom”, era dessa maneira que se dirigia a cada das suas protegidas. Deliciosas,<<strong>br</strong> />

nos raros momentos de felicidade, exibiam a ternura de suas fragilidades ao homem que as adotara<<strong>br</strong> />

num dia em que assistira ao choro contagiante de uma delas, ao caminhar despreocupadamente<<strong>br</strong> />

pelas ruas próximas ao Tabuleiro da Baiana. Desde esse instante, não mais deixou de levar-lhe o<<strong>br</strong> />

consolo das palavras e dos gestos de carinho.<<strong>br</strong> />

O relato acima ilustra uma faceta do Rio da Primeira República. A cidade convivia com<<strong>br</strong> />

práticas sociais responsáveis pela aparição de tipos que iam de encontro às aspirações das classes<<strong>br</strong> />

dominantes de dotarem o centro da cidade de uma aparência de civilização. A noção de<<strong>br</strong> />

contravenção firmava-se à medida que prosperava o processo de embelezamento iniciado pelas<<strong>br</strong> />

reformas urbanísticas do prefeito Pereira Passos e concluídas - no que concerne às grandes<<strong>br</strong> />

intervenções públicas da época - com o desmonte do morro do Castelo, pelo então prefeito Carlos<<strong>br</strong> />

Sampaio.(3) E uma dessas práticas era a coexistência de figuras muito características da vida<<strong>br</strong> />

ca<strong>rio</strong>ca, como a do intermediá<strong>rio</strong> dos amores alheio e, ao mesmo tempo, conselheiro delicado para<<strong>br</strong> />

os seguidos casos de desilusão amorosa.<<strong>br</strong> />

Para aquelas elites das elites, isto é, para os ideólogos das classes dominantes, além do<<strong>br</strong> />

problema da falta d´água a infernizar o cotidiano dos ca<strong>rio</strong>cas, havia uma calamidade maior, a<<strong>br</strong> />

crescente prostituição. Não bastasse a presença de uma zona do meretrício a exigir o recato<<strong>br</strong> />

necessá<strong>rio</strong> e as caçadoras de amores passageiros a vagarem pelas ruas mais movimentadas do centro<<strong>br</strong> />

da cidade, era preciso conviver com a promiscuidade entre os pirulitos e os homens aventureiros,<<strong>br</strong> />

muitos dos quais detentores de cargos públicos. E dentre eles, naturalmente, encontravam-se<<strong>br</strong> />

também os intendentes do Conselho Municipal. A ausência de posturas era um traço que chamara a<<strong>br</strong> />

atenção de um português exilado, João Pinheiro Chagas, (4) que escrevera uma longa crônica so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

a cidade, cuja edição sob a forma de livro foi intitulada de De Bond.<<strong>br</strong> />

Nesse relato impressionista, o revolucioná<strong>rio</strong> republicano de 1890, chegado ao Brasil no ano<<strong>br</strong> />

seguinte, descreve os primeiros momentos da República recém-instalada no Brasil. Muitas coisas o<<strong>br</strong> />

surpreendem, como o tratamento quase o<strong>br</strong>igató<strong>rio</strong> de cidadãos a todos que se relacionassem formal<<strong>br</strong> />

ou informalmente pelas ruas do Rio, ou a habilidade dos garotos vendedores de doces nos estribos<<strong>br</strong> />

dos bondes, transporte através do qual percorrera boa parte da então capital <strong>br</strong>asileira. Mas, por<<strong>br</strong> />

certo, o que mais detivera sua atenção foi o descaso com a coisa pública, a absoluta falta de<<strong>br</strong> />

posturas, de modo a produzir uma sensação de anarquia, de abandono dos princípios elementares de<<strong>br</strong> />

convívio civilizado.<<strong>br</strong> />

Naqueles tempos de um Rio às voltas com um passado repleto de carências que se<<strong>br</strong> />

acumularam e com um progresso a contagiar os políticos, já se tinha uma dupla representação da

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