CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br
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contradições. Neste despontava o embate entre o cultivo da tradição e o frenesi da modernidade,<<strong>br</strong> />
ideia de progresso levada ao cubo por uma geração que, no limiar do século vinte, deslum<strong>br</strong>ara-se<<strong>br</strong> />
com os grandes centros metropolitanos do mundo ocidental europeu e americano. E esse traço de<<strong>br</strong> />
irreverência esteve como nunca expresso na imprensa, notadamente naqueles periódicos que se<<strong>br</strong> />
assumiam abertamente como de opinião, cuja essência de suas ideias se originava do humor. Era o<<strong>br</strong> />
caso do jornal de Aparício Torelly, A Manha. Nele, costumes e críticas desfilavam com elegância e<<strong>br</strong> />
talento próp<strong>rio</strong> aos editorialistas identificados com o gosto dos leitores imersos numa metrópole em<<strong>br</strong> />
construção e, so<strong>br</strong>etudo, numa cidade que se tornara cosmopolita. Irreverência e ironia<<strong>br</strong> />
demonstradas na nota editada em seu jornal.<<strong>br</strong> />
Regime Comunista<<strong>br</strong> />
Um vespertino desta capital deu uma notícia estranhando que os intendentes comunistas Octávio<<strong>br</strong> />
Brandão e Minervino de Oliveira tivessem comparecido ao Conselho Municipal trajando elegantíssimos<<strong>br</strong> />
ternos novos. Esse fato, porém, nada tem de esquisito, pois qualquer pessoa, mesmo o pequeno burguês,<<strong>br</strong> />
poderá fazer roupas nessas condições, pagando-as em 10 prestações na CAPITAL. É esse, aliás, o regime<<strong>br</strong> />
ideal para o qual está evoluindo a extrema esquerda: - o comunismo dentro do “capitalismo”. (5)<<strong>br</strong> />
A loja CAPITAL, objeto da sátira do barão, vestia o cidadão. Não chegava a ser um refrão.<<strong>br</strong> />
Tinha a função de dotar os cavalheiros que circulavam pelo espaço público de um vestuá<strong>rio</strong> decente<<strong>br</strong> />
para as normas impostas pelo poder público aos habitantes da cidade. A exigência do traje “passeio<<strong>br</strong> />
completo” não se aplicava apenas aos intendentes, mas igualmente a todos os que fluíam pelas ruas<<strong>br</strong> />
e as novas avenidas que se a<strong>br</strong>iram após as intervenções urbanísticas do inicio do século vinte.<<strong>br</strong> />
Assim, bons negócios esse comércio de roupas auferiu com a exigência a visar, na realidade, o<<strong>br</strong> />
cidadão, daquele definido pelas autoridades policiais como vadio. Decorre daí que a vadiagem era<<strong>br</strong> />
configurada como contravenção, e como tal, foi pretexto para ações persecutórias junto aos setores<<strong>br</strong> />
populares, alvos preferenciais e sistemáticos dos agentes da ordem urbana.<<strong>br</strong> />
Diferentemente da malandragem, a presença de desocupados perambulando pela cidade não<<strong>br</strong> />
estava necessariamente associada ao desemprego, pois esta figura só acontece quando se constitui<<strong>br</strong> />
um mercado formal de trabalho. O Rio crescia e, portanto, as ocupações também acompanhavam<<strong>br</strong> />
esse ritmo progressivo de expansão dos serviços, em particular. Por isso, a vadiagem por vezes se<<strong>br</strong> />
misturava à malandragem como opção existencial. Mas o malandro possui códigos inerentes à<<strong>br</strong> />
função que desempenhava distintamente dos desocupados, normalmente entregues ao alcoolismo,<<strong>br</strong> />
droga permanente das classes populares, e as depressões provocadas por situações as mais diversas.<<strong>br</strong> />
A saúde pública, naquele Rio das primeiras décadas da República, ocupava-se, especial e<<strong>br</strong> />
obstinadamente, apenas com as doenças sexualmente transmissíveis. Para os arautos dessa política,<<strong>br</strong> />
a promiscuidade era um indicador característico de nosso baixo índice de civilização.<<strong>br</strong> />
Mas esse tipo de crítica às autoridades não era muito frequente. O que a imprensa