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CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br

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tornou-se uma política de Estado organizada e com sérias consequências para milhares de<<strong>br</strong> />

moradores de favelas do Rio de Janeiro.<<strong>br</strong> />

Uma <strong>br</strong>eve história da relação entre estado e favelas<<strong>br</strong> />

É a partir da década de 1920 do século passado, que a favela passa efetivamente a substituir<<strong>br</strong> />

o cortiço como moradia das camadas mais po<strong>br</strong>es, passando a figurar como uma forma de habitação<<strong>br</strong> />

específica destas, inicialmente associada aos morros da cidade, e consequentemente, tornando-se<<strong>br</strong> />

alvo das preocupações <strong>gov</strong>ernamentais desde então. À medida que a cidade se expandia, terrenos<<strong>br</strong> />

‘vazios’, encostas, pântanos, demais terrenos sem-proprietá<strong>rio</strong> ou de propriedade duvidosa vão<<strong>br</strong> />

sendo ocupados por aqueles que não podem arcar com os custos ‘convencionais’ de moradia, cada<<strong>br</strong> />

vez mais altos pela valorização dos imóveis, ou com o transporte para os subúrbios do Rio. Assim,<<strong>br</strong> />

sem a saída do aluguel, e sem que houvesse um mercado imobiliá<strong>rio</strong> acessível às classes po<strong>br</strong>es, só<<strong>br</strong> />

lhes restou a auto-construção de suas moradias em favelas ou em loteamentos nos subúrbios<<strong>br</strong> />

(solução de maior custo em todos os aspectos). (2)<<strong>br</strong> />

Por outro lado, os órgãos de Estado lidaram com a favela sempre considerando-a como um<<strong>br</strong> />

‘problema’, definindo sua condição de moradia ilegal e/ou irregular. Intrinsecamente, seus<<strong>br</strong> />

moradores são considerados marginais por ocuparem a cidade de modo ilegal (além de toda uma<<strong>br</strong> />

gama de preconceitos quanto à origem rural e/ou étnica destes e, consequentemente, suas<<strong>br</strong> />

qualidades morais). Nas sucessivas políticas do Estado para as favelas, predominou a permanente<<strong>br</strong> />

tentativa de controle e normalização do espaço urbano e de suas camadas mais po<strong>br</strong>es, através das<<strong>br</strong> />

inúmeras ações de despejo, fossem por razões higienizadoras, urbanísticas, etc.(3) A palavra favela<<strong>br</strong> />

adquiriu, então, uma conotação negativa perante os diversos grupos sociais existentes na cidade, de<<strong>br</strong> />

onde a palavra adquire o caráter de um estigma que pesa so<strong>br</strong>e as populações po<strong>br</strong>es que habitam a<<strong>br</strong> />

cidade ‘fora’ do mercado formal. (4)<<strong>br</strong> />

Um estigma construído socialmente e internalizado pelos favelados, dentro do que Pierre<<strong>br</strong> />

Bourdieu define como as condições sociais de produção dos enunciados. (5) O estigma não é uma<<strong>br</strong> />

via de mão única, mas se constitui numa relação social que é partilhada por diversos agentes, dentre<<strong>br</strong> />

eles, aqueles so<strong>br</strong>e quem o estigma recai. Este estigma é um dos elementos que determina sua<<strong>br</strong> />

autoidentificação como parte integrante de uma mesma categoria, favelados, mesmo que<<strong>br</strong> />

economicamente heterogêneos.<<strong>br</strong> />

Não podemos, no entanto, desconsiderar que alguns aspectos econômicos são fundamentais no<<strong>br</strong> />

tema de nosso estudo. Como vimos acima, as condições econômicas estão na origem das favelas<<strong>br</strong> />

como opção de moradia das classes po<strong>br</strong>es, já que as relações típicas do capitalismo efetivamente se<<strong>br</strong> />

consolidaram no Brasil, desde a virada do século XX, incluindo aí a produção da habitação, que<<strong>br</strong> />

passou a ser regida pelo mercado. Ainda que isto não seja algo que deva ser absolutizado, a produção

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