CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br
CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br
CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
pouco no tempo, retroceder a algumas décadas antes do movimento modernista de 1922. Esse poeta<<strong>br</strong> />
amadurece numa fase ante<strong>rio</strong>r à movimentação da Semana de Arte de São Paulo. Desse evento não<<strong>br</strong> />
participou diretamente. Apoiou as peripécias revolucionárias dos colegas, acreditava que o<<strong>br</strong> />
movimento indicaria uma libertação estética, mas manteve-se silencioso, em “monástica reclusão”,<<strong>br</strong> />
esquivo aos círculos literá<strong>rio</strong>s oficiais. Contudo, é certo, não deixou de conviver com os amigos,<<strong>br</strong> />
reunindo-se frequentemente com grupos boêmios, principalmente no bairro da Lapa, no Rio de<<strong>br</strong> />
Janeiro.<<strong>br</strong> />
De toda uma vasta gama de temáticas poéticas exploradas por Dante Milano, um dos temas<<strong>br</strong> />
mais interessantes e de importância fundamental neste trabalho de análise simbólica, que se realiza,<<strong>br</strong> />
é o elemento constituinte principal que so<strong>br</strong>essai de sua arte. Trata-se da presença recorrente dos<<strong>br</strong> />
signos vinculados ao sinistro, fantasmagórico e infernal. Mas não se precisa de muitos esforços<<strong>br</strong> />
para vê-la confirmar-se concretamente na análise de sua produção literária. Na leitura das 141<<strong>br</strong> />
poesias, que compõem a o<strong>br</strong>a milaniana, percebe-se o “tripé temático”, qual seja: a morte, o amor e<<strong>br</strong> />
o sonho. Dos dados estatísticos compilados do vocabulá<strong>rio</strong> de sua o<strong>br</strong>a, registram-se 77 referências<<strong>br</strong> />
diretas à palavra “morte”, 69 para a palavra “amor”, e 58 para a palavra “sonho”. Portanto, Milano<<strong>br</strong> />
elegeu a morte como “tema nuclear de toda a sua dolorosa e crispada mentação poética”, revelando<<strong>br</strong> />
assim uma “dramática consciência agônica de si mesmo e da existência”.<<strong>br</strong> />
Para obter maior objetividade, no trabalho de compreensão dos vínculos entre a vida e a<<strong>br</strong> />
o<strong>br</strong>a do poeta Dante Milano e a Coleção-Museu de Magia Negra, é preciso que se esclareçam e se<<strong>br</strong> />
determinem as bases de uma verdadeira “gnosiologia fantasmagórica”, que transmuta da poética<<strong>br</strong> />
milaniana e leva à “suprarrealidade” da vida. Trata-se de um dos laços que vinculam os dois<<strong>br</strong> />
conjuntos de análise. São os “assom<strong>br</strong>os e fabulações surrealistas” que, segundo Ivan Junqueira,<<strong>br</strong> />
caracterizam o seu “fulgurante lirismo visioná<strong>rio</strong>”. O mesmo lirismo pré-surrealista, que marca a<<strong>br</strong> />
o<strong>br</strong>a de outro grande poeta francês, Arthur Rimbaud, mestre da o<strong>br</strong>a Une Saison en l’Enfer<<strong>br</strong> />
(RIMBAUD, 1993). Rimbaud so<strong>br</strong>essai nesse cená<strong>rio</strong> ao lado de Charles Baudelaire. Ambos, como<<strong>br</strong> />
se sabe, criadores e pioneiros da poesia moderna no mundo ocidental.<<strong>br</strong> />
Todavia, o que é que aproxima essas personagens? O que é que vincula esses nomes à<<strong>br</strong> />
Coleção-Museu de Magia Negra e à vida e o<strong>br</strong>a de Dante Milano? A leitura dos poemas milanianos<<strong>br</strong> />
dão a resposta certeira e contundente. Sob sua mão a escrita poética desfila figuras do mundo<<strong>br</strong> />
urbano <strong>br</strong>asileiro em transformação, tipos malditos, devassos, velhacos, decrépitos, vagabundos,<<strong>br</strong> />
tresloucados, bêbados. Somam-se diversas imagens e cenas maca<strong>br</strong>as e fúne<strong>br</strong>es, num verdadeiro<<strong>br</strong> />
“baixo-relevo funerá<strong>rio</strong>” da vida.<<strong>br</strong> />
É importante também enfatizar, no sentido de fundamentar melhor a hipótese levantada<<strong>br</strong> />
neste trabalho, que em Dante Milano, numa característica destacada por Sérgio Buarque de<<strong>br</strong> />
Holanda, encontra-se uma “sistemática predominância do símile so<strong>br</strong>e a metáfora”. Destaca-se essa