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CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br

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Fonte: BN, Divisão de Manuscritos, Arquivo Edmar Morel<<strong>br</strong> />

Os temas históricos eram frequentemente escolhidos pelo repórter Morel e ele utilizava<<strong>br</strong> />

métodos próximos aos do historiador, como o recurso a fontes impressas localizadas em arquivos e<<strong>br</strong> />

nas coleções da imprensa. Porém, ele sempre se apresentou como jornalista ou repórter. Seu<<strong>br</strong> />

trabalho oferece inúmeras pistas para se pensar so<strong>br</strong>e as fronteiras entre seu estilo de reportagem e a<<strong>br</strong> />

construção da narrativa histórica, como a importância dos fatos, a reconstituição fundada nas fontes,<<strong>br</strong> />

a relevância do tempo como variante principal, as relações entre memória, história oficial e<<strong>br</strong> />

esquecimento. Porém, o jornalista assume mais facilmente a importância do tempo presente como<<strong>br</strong> />

ponto de partida e o passado somente tem sentido quando relacionado com as questões da<<strong>br</strong> />

atualidade, como problemas que retornam ao debate, uma data comemorativa, um personagem<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ado. Além disso, outras precisões merecem ser feitas. Primeiro, o livro A Revolta da Chibata<<strong>br</strong> />

não é uma biografia de João Cândido, como Edmar gostava de dizer, mas so<strong>br</strong>etudo uma mistura de<<strong>br</strong> />

dados biográficos do protagonista com uma reconstituição histórica, às vezes bastante factual, do<<strong>br</strong> />

levante de 1910. Em segundo lugar, se o procedimento de investigação do autor é próximo do<<strong>br</strong> />

método do historiador, sua escrita é bastante diferente. Enquanto o historiador sente necessidade de<<strong>br</strong> />

citar datas, de fazer referências às fontes, de interromper seu texto com notas de rodapé, o repórter<<strong>br</strong> />

Morel prefere privilegiar a fluência da narrativa, que não deve ser muito interrompida com esse<<strong>br</strong> />

gênero de referências (4). Finalmente, um último aspecto deve ser evidenciado: o autor não<<strong>br</strong> />

menciona – e não deseja mencionar – nenhum vínculo com as correntes histo<strong>rio</strong>gráficas de seu<<strong>br</strong> />

tempo. No entanto, mesmo sem evidenciar suas relações com outras escolas do pensamento,<<strong>br</strong> />

estabelece diálogos com outras linhas de trabalhos da histo<strong>rio</strong>grafia, nomeadamente através da<<strong>br</strong> />

recuperação da figura de um “herói da ralé”, nos seus dizeres. Nesse sentido, propõe tanto uma<<strong>br</strong> />

leitura da “história vista de baixo” quanto um compromisso biográfico que busca revelar histórias<<strong>br</strong> />

de homens comuns, mas extraordiná<strong>rio</strong>s, perspectivas lançadas pela história social inglesa, como<<strong>br</strong> />

através de E. P. Thompson e Eric Hobsbawn, ou pela micro-história italiana, cuja maior referência<<strong>br</strong> />

seria o trabalho de Carlo Ginzburg(5).<<strong>br</strong> />

O impacto do livro foi maior do que se esperava. A imprensa e o público receberam-no de<<strong>br</strong> />

forma entusiasmada e as novas gerações podiam, enfim, conhecer a história da sublevação. Em um<<strong>br</strong> />

mês, eram contados mais de 275 artigos publicados pela imprensa <strong>br</strong>asileira (MOREL, 2009:266).<<strong>br</strong> />

Em dezem<strong>br</strong>o de 1959, "A Revolta da Chibata" ocupava, de acordo com O Globo do dia 30 de<<strong>br</strong> />

dezem<strong>br</strong>o, o terceiro lugar dentre os livros mais vendidos, atrás apenas de Ga<strong>br</strong>iela, Cravo e<<strong>br</strong> />

Canela, de Jorge Amado, e de Bilhetinhos de Jânio, de J. Pereira.<<strong>br</strong> />

A segunda edição do livro é lançada num clima político mais tenso. No dia 3 de janeiro de<<strong>br</strong> />

1963, Edmar Morel conta que, no avião, numa viagem entre o Rio e Recife, leu na revista O

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