28.10.2014 Views

CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br

CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br

CAPA REVISTA AGCRJ_4_2010.p65 - rio.rj.gov.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

desdenhava era a situação de descaso diante do palavró<strong>rio</strong> dos representantes da administração<<strong>br</strong> />

pública, fossem os parlamentares ou os homens que desempenhavam os cargos executivos. Havia, é<<strong>br</strong> />

claro, uma sensação de menosprezo para quem assim também procedia, uma vez alçado à condição<<strong>br</strong> />

de intendente ou prefeito de uma cidade, que ganhara uma fisionomia alegre, à semelhança de sua<<strong>br</strong> />

gente, mas carente dos serviços públicos essenciais. A matéria abaixo, do jornal Archivo Vermelho<<strong>br</strong> />

sintetiza bem essa sensação.<<strong>br</strong> />

Saibamos administrar. Menos palavras e mais ação. Basta de opressões, basta de misérias e imitações!<<strong>br</strong> />

(...) O Congresso e o Conselho Municipal, em vez de decretarem impostos, que encarecem a vida e vexam<<strong>br</strong> />

os contribuintes, podiam perfeitamente decretar a reforma dos quadros de funcioná<strong>rio</strong>s, criar um código<<strong>br</strong> />

administrativo, determinar-lhes as o<strong>br</strong>igações de modo positivo, para serem um pouco lógicos...<<strong>br</strong> />

- Ou são todos imbecis, ou todos são ladrões... (6)<<strong>br</strong> />

É cu<strong>rio</strong>so como a “grande política”, a institucional, na Primeira República manifestava,<<strong>br</strong> />

através de seus mais dignos representantes, um certo desdém em relação à opinião pública. Talvez,<<strong>br</strong> />

em virtude de a força dessa opinião não ter alcançado um efetivo destaque na vida das instituições<<strong>br</strong> />

e, em particular, nos restritos e nada transparentes poderes da República. Do Conselho dos<<strong>br</strong> />

Intendentes à Câmara dos Vereadores as práticas políticas só se modificaram em relação ao tamanho<<strong>br</strong> />

dos apetites, sempre vorazes, na busca de mais prestígio e influências nada republicanas.<<strong>br</strong> />

Coube, sem dúvida, à imprensa a tarefa de zelar por conta própria de seus abnegados<<strong>br</strong> />

trabalhadores da informação, pois, caso contrá<strong>rio</strong>, a visão que os contemporâneos desses diversos<<strong>br</strong> />

períodos históricos, de mais de quarenta anos de regime republicano, seria hoje tão-somente oficial.<<strong>br</strong> />

Dessa maneira, os registros históricos sob a forma de manchetes, editoriais, artigos assinados ou de<<strong>br</strong> />

colaboradores eventuais, proporcionam uma visão mais próxima de realidades cuja construção fora<<strong>br</strong> />

fruto de uma histo<strong>rio</strong>grafia nem sempre interessada em retratar as muitas faces de uma cidade e de<<strong>br</strong> />

seu povo. E mais do que os registros de fatos que vieram com o tempo a informar e definir as<<strong>br</strong> />

circunstâncias de certos processos políticos, a imprensa a<strong>br</strong>igou o povo em suas páginas e em suas<<strong>br</strong> />

mais variadas dimensões, mesmo quando, por vezes, certos componentes estereotipados tomavam<<strong>br</strong> />

conta de articulistas mais ciosos dos valores tradicionais.<<strong>br</strong> />

Independente da vertente política e ideológica dos periódicos da época, a capacidade<<strong>br</strong> />

revelada pelos trabalhadores da notícia superava eventuais atitudes preconceituosas. Isto ficou<<strong>br</strong> />

evidente no relato do senhor Peixoto, como ficou da mesma forma a maneira como eram tratados os<<strong>br</strong> />

tipos populares, tão ao gosto de cronistas como João do Rio. É dele o uso do termo flanar, galicismo<<strong>br</strong> />

que o próp<strong>rio</strong> autor definia na mais precisa síntese: “Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser<<strong>br</strong> />

basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem”. (7) A ingenuidade<<strong>br</strong> />

conjugada com a inteligência prática tornava o tipo que seduzia o cronista uma das primeiras<<strong>br</strong> />

alegorias humanas do ca<strong>rio</strong>ca.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!