Na Itália, Lula incentiva investimentos no Brasil ... - Comunità italiana
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il lettore racconta<br />
Dezembro chegou e, em São Pau l o, u m a<br />
família trabalha o a <strong>no</strong> todo pa r a q u e, na<br />
pa r t e gastronômica, não falte o tradicional<br />
ingrediente da s festas de <strong>Na</strong>ta l: o panetone.<br />
A guloseima é o carro-chefe da Confeitaria<br />
Di Cu n to c u j o patriarca Do n ato esteve pela<br />
primeira vez <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> em 1878.<br />
A saga dessa família e as delícias q u e<br />
produzem foram relatadas pelo bisneto de<br />
Do n ato, Marco Alfredo Di Cu n to,<br />
em depoimento à repórter Sílvia So u z a.<br />
Órfão de pai e com apenas 17<br />
a<strong>no</strong>s de idade, Donato saiu de<br />
Saler<strong>no</strong>, na Campânia, em<br />
busca de melhores condições<br />
de vida. Desembarcou <strong>no</strong> porto de<br />
Santos (<strong>Brasil</strong>), por enga<strong>no</strong>. Seu desti<strong>no</strong><br />
era Montevidéu (Uruguai), onde<br />
encontraria um tio.<br />
Mesmo tão jovem, Donato trazia<br />
consigo o espírito indômito do<br />
imigrante que não tem caminho de<br />
volta. Com muito esforço e dedicação,<br />
se alfabetizou e aprendeu desenho.<br />
Aplicou os conhecimentos de carpinteiro<br />
que possuía até ocupar o cargo<br />
de mestre de carpintaria do grupo<br />
construtor liderado pelo re<strong>no</strong>mado<br />
arquiteto Ramos de Azevedo.<br />
Desligado da empresa, em 1889,<br />
inaugurou uma das primeiras padarias<br />
da cidade de São Paulo. Em 1895, adquiriu<br />
diretamente do empreendedor<br />
José Borges de Figueiredo uma área<br />
de terras na Mooca, onde construiu<br />
<strong>no</strong>va padaria, que até hoje leva o <strong>no</strong>me<br />
da família. A história dessa empresa se<br />
confunde com a do clã Di Cunto.<br />
A<strong>no</strong>s depois de se estabelecer<br />
em São Paulo, Donato voltou à Itália,<br />
onde se casou. De volta ao <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong><br />
início do século 20, influenciou na<br />
escolha do ofício dos quatro filhos. No<br />
mesmo lugar em que o pai, Donato,<br />
fundou a antiga padaria <strong>no</strong>s idos de<br />
1896, os irmãos Vicente, Lorenzo, Roberto<br />
e Alfredo, <strong>no</strong> dia 14 de março<br />
de 1935, reacenderam o for<strong>no</strong> então<br />
recuperado, reiniciando a atividade<br />
de padeiro, na família.<br />
Apesar das instalações modestas,<br />
em 1936, a Di Cunto fazia a entrega<br />
em domicílios e para peque<strong>no</strong>s<br />
revendedores. Primeiro, com veículo<br />
em tração animal. Depois com furgão.<br />
Houve um grande empenho para<br />
aumentar a produção e atender ao<br />
crescimento da demanda.<br />
O início dos negócios foi muito<br />
difícil. Muitas padarias abriram<br />
e fecharam em pouco tempo. Vendiase<br />
“fiado” e os calotes eram freqüentes.<br />
Mas a união dos irmãos provou que o<br />
progresso viria rápido: em 1938 foi<br />
possível a reforma e ampliação do antigo<br />
laboratório de manipulação, além<br />
da modernização do antigo for<strong>no</strong>.<br />
— No a<strong>no</strong> seguinte, já começamos<br />
a fabricar os panetones. Somos a mais<br />
antiga fabricante de panetone em<br />
atividade <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e continuamos <strong>no</strong><br />
mesmo local (na Rua Borges de Figueiredo,<br />
coração da Mooca) desde<br />
1896. Essa tradição é motivo de orgulho<br />
para os moradores do bairro e<br />
de paulista<strong>no</strong>s de pontos distantes da<br />
cidade — diz Marco Alfredo.<br />
Pastiera di Gra<strong>no</strong><br />
(serve 6 pessoas)<br />
Ingredientes:<br />
Massa: 3 ovos inteiros; 1 colher de<br />
sopa de açúcar refinado; 200 gramas<br />
de manteiga sem sal; 300<br />
gramas de farinha de trigo.<br />
Recheio: 500 gramas de ricota<br />
fresca sem sal; 1 colher de sopa<br />
de açúcar refinado; 1 ovo inteiro;<br />
50 gramas de laranja cristalizada;<br />
100 gramas de grãos de<br />
trigo cozido; 5 gotas de essência<br />
de laranja..<br />
Modo de fazer:<br />
Massa: Em uma batedeira pequena,<br />
junte os ovos, o açúcar, a manteiga e<br />
a farinha previamente peneirada.<br />
Bata até obter uma massa homogênea.<br />
Com as mãos, molde uma bola com a<br />
Existem muitas versões para se<br />
contar a história do panettone. Doce<br />
clássico e refinado, ele é presença<br />
obrigatória nas mesas de <strong>Na</strong>tal e festas<br />
de fim de a<strong>no</strong>. Por isso, do preparo<br />
a hora de saborear o produto, a família<br />
Di Cunto está sempre atenta para que<br />
o sabor permaneça impecável.<br />
massa, cubra com um pa<strong>no</strong> e deixe<br />
na geladeira por 30 minutos.<br />
Recheio: Amasse a ricota com o açúcar<br />
e o ovo. Adicione lentamente a<br />
fruta cristalizada, o trigo cozido e<br />
a essência de laranja até conseguir<br />
um creme uniforme.<br />
Com a ajuda de um rolo próprio,<br />
abra um disco de massa com espessura<br />
de mais ou me<strong>no</strong>s 3 milímetros<br />
e forre a forma de 25 centímetros<br />
de diâmetro. Distribua o recheio<br />
e decore artisticamente com<br />
tiras de massa desenhadas. Pincele<br />
com gema e leve ao for<strong>no</strong> previamente<br />
aquecido a 170 graus por 50<br />
minutos, aproximadamente. Deixe<br />
esfriar naturalmente e sirva.<br />
Segundo Marco Alfredo, o Panettone<br />
Di Cunto é diferente porque<br />
é artesanal. Ao utilizar fermentação<br />
natural, em um processo desenvolvido<br />
na primeira metade do século<br />
passado, sua umidade e textura têm<br />
características consistente e macia,<br />
além de garantir fragrância e vida<br />
longa ao produto, sem uso de aditivos<br />
químicos e conservantes. Depois é só<br />
acrescentar na massa, passas e frutas<br />
cristalizadas. O processo de feitura<br />
dura em média 72 horas.<br />
— A ligação da <strong>no</strong>ssa família<br />
com as raízes <strong>italiana</strong>s sempre esteve<br />
fortemente marcada pelo desenvolvimento<br />
da culinária. Tanto que, assim<br />
como o panetone, outras receitas<br />
centenárias do sul da Itália também<br />
são feitas na confeitaria e procuradas<br />
por pessoas até de fora do estado.<br />
Caso da Torta Regina e da Pastiera<br />
di Gra<strong>no</strong>.<br />
Família que trabalha unida...<br />
Nem tudo foram flores na caminhada<br />
da família Di Cunto. A 2ª Guerra<br />
Torta Regina<br />
(serve até 10 pessoas)<br />
Ingredientes:<br />
Massa: 1 pão de ló de 25 centímetros;<br />
250 gramas de calda<br />
(água, açúcar e rum); 700 gramas<br />
de creme de confeiteiro; 1 quilo<br />
de creme chantilly; 50 unidades<br />
de carolinas.<br />
Cobertura: 1 quilo de açúcar; 300<br />
gramas de água; 30 gramas de<br />
glicose.<br />
Mundial trouxe sérios problemas ao<br />
<strong>Brasil</strong>. De 1942 a 1945, o racionamento<br />
de gasolina, lenha e sal obrigou à<br />
volta do veículo a tração animal e ao<br />
uso do improvisado gasogênio. Em 1945,<br />
termina o racionamento do combustível<br />
e começa o de inúmeros produtos.<br />
Mas sem dúvida, o que mais afetou a<br />
família foi o da farinha de trigo.<br />
Em 1949, com uma razoável melhora<br />
<strong>no</strong> abastecimento, estava criada<br />
a confeitaria. Melhor abastecimento<br />
significa melhora na qualidade dos<br />
produtos e a história dos Di Cunto<br />
recebeu muitas pitadas de superação.<br />
Assim, em 1950, a família passou a<br />
atender festas de todos os tipos, inclusive<br />
banquetes para mais de três<br />
mil pessoas, <strong>no</strong>s salões de grandes<br />
clubes e entidades de São Paulo.<br />
— Conseguimos abrir <strong>no</strong>ssa primeira<br />
loja em 1957, na Rua Augusta,<br />
para <strong>no</strong>vos <strong>investimentos</strong> e ampliação<br />
do estabelecimento matriz. Assim,<br />
em 1961, a loja da Rua Augusta<br />
foi transferida. Trabalhando para<br />
crescer, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 60, inauguramos<br />
a rotisserie especializada em massas<br />
frescas, recheadas, semi-prontas e<br />
prontas — conta Marco Alfredo.<br />
O a<strong>no</strong> de 1972 marca a abertura<br />
da filial na Rua Tuiutí, <strong>no</strong> Tatuapé,<br />
substituída em 1997 por uma <strong>no</strong>va loja<br />
com modernas instalações, totalmente<br />
informatizada, na rua Padre<br />
Estevão Pernet <strong>no</strong> mesmo bairro.<br />
Com o falecimento dos quatro<br />
irmãos fundadores, passam a tocar<br />
os negócios Reinaldo, herdeiro de<br />
Roberto; Marco Alfredo e Antonio<br />
Carlos, herdeiros de Lorenzo, além<br />
de Paula, herdeira de Alfredo.<br />
— Tenho orgulho em dizer que<br />
conseguimos agregar valor ao <strong>no</strong>sso<br />
trabalho e construir uma história que<br />
dura mais de 70 a<strong>no</strong>s. No mês de setembro,<br />
fomos homenageados pela Câmara<br />
Municipal de São Paulo. Recebemos<br />
a Salva de Prata por <strong>no</strong>ssa<br />
Modo de fazer: Corte um pão de<br />
ló ao meio, umedeça uma das partes<br />
com a calda e espalhe o creme<br />
com uma espátula. Por cima, coloque<br />
uma camada de chantilly. Corte as<br />
carolinas ao meio e recheie com<br />
chantilly. Coloque sobre o bolo e feche<br />
cada uma delas. Leve o açúcar e<br />
a glicose para ferver em água até o<br />
ponto de 160 graus e deixe esfriar.<br />
Passe o caramelo sobre o bolo, usando<br />
uma “escova” de confeitar.<br />
contribuição histórica junto à comunidade<br />
<strong>italiana</strong> e brasileira. Foi uma<br />
cerimônia emocionante. Hoje, a família<br />
está na quarta geração e nem<br />
todo mundo trabalha <strong>no</strong> ramo alimentício<br />
— diz Marco Alfredo.<br />
Ainda que a correria do mundo<br />
moder<strong>no</strong> não permita encontros<br />
freqüentes entre os integrantes de<br />
toda a família, os Di Cunto aproveitam<br />
ocasiões como o <strong>Na</strong>tal para celebrar<br />
sua união. Sempre em volta da<br />
mesa, claro, mas também apreciando<br />
a boa musica <strong>italiana</strong>. Marco Alfredo<br />
observa que é em momentos assim<br />
que todos se reaproximam das raízes<br />
da família.<br />
— Quando meu avô era vivo, essas<br />
reuniões eram um acontecimento.<br />
Lembro-me dos meus primos, das<br />
conversas. Hoje, não é tão fácil a gente<br />
se ver, mas o carinho e a união<br />
sempre existirão — afirma ele que<br />
presenteia os leitores de Comunità<br />
com duas receitas da família.<br />
Marco Alfredo Di Cunto – bisneto<br />
de Donato Di Cunto<br />
Mande sua história com material fotográfico para:<br />
redacao@comunita<strong>italiana</strong>.com.br<br />
58 C o m u n i t à I t a l i a n a / De z e m b r o 2008<br />
D e z e m b r o 2008 / Co m u n i t à I t a l i a n a 59