Narciso <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, o poeta do vento e das maresias Ah! receber todos os a<strong>de</strong>uses, todos os abraços, todos os olhares <strong>de</strong> ida e volta e permanecer ancorado na paisagem imutável. Este poema da década <strong>de</strong> 60, já da fase madura, exprime a sua i<strong>de</strong>ntificação com o mar e o porto, que é a chave que dá acesso à mundividência fundamental do poeta. Repórter marítimo na juventu<strong>de</strong>, trabalhando <strong>de</strong>pois no centro antigo <strong>de</strong> Santos, junto ao porto, Narciso construiu sua poesia usando sempre como metáfora a existência dos homens do cais, a vida junto ao mar, a paisagem e os sons que a cercam. Poeta nada místico, <strong>de</strong>scrente na existência <strong>de</strong> um Deus transcen<strong>de</strong>ntal, que estivesse sempre disposto a punir e recompensar a humanida<strong>de</strong>, Narciso solidariza-se em sua poesia com o homem e a sua solidão no universo, o seu drama diante dos embates da vida. É a mesma solidão que marca a poesia <strong>de</strong> Fernando Pessoa, um dos poetas <strong>de</strong> sua predileção, como se po<strong>de</strong> notar no poema acima, verda<strong>de</strong>iro intertexto <strong>de</strong> referências, alusões e reminiscências da produção pessoana, como o “cais sauda<strong>de</strong> em pedra” ou as “velas pandas”. Apesar das remissões pessoanas, Narciso é um poeta marcadamente santista, o que po<strong>de</strong> significar quase a mesma coisa, não fosse Santos uma das cida<strong>de</strong>s mais portuguesas do Brasil, a que mais se assemelha a Lisboa e que se assemelhava ainda mais ao tempo da juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Narciso, nos anos 40 e 50, antes que a discutível sanha do progresso tivesse botado abaixo muito do casario que lembrava zonas lisboetas, como Santos-o-Velho, Alcântara, São Bento e Xabregas, ou portuenses, como Campanhã. Se <strong>de</strong> algumas imagens po<strong>de</strong>mos tirar evocações pessoanas, já os efeitos sinestésicos <strong>de</strong> sua poesia fazem parte <strong>de</strong> uma paisagem da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santos, <strong>de</strong> outros tempos, é verda<strong>de</strong>, como a sirene que o jornal A Tribuna fazia disparar ao meio-dia para avisar à população que era a hora <strong>de</strong> parar o trabalho e almoçar – Sirene arrepiando/ a epi<strong>de</strong>rme do meio-dia. 217
A<strong>de</strong>lto Gonçalves Paul Klee (1879-1940) Porto e veleiros, 1937 Óleo sobre tela, 80 x 60,5 cm Musée National d’Art Mo<strong>de</strong>rne, Paris 218
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