10.01.2015 Views

Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Luiz Carlos Lisboa<br />

Com Myra Breckenridge, em 1968, ele investiu pela primeira vez pesadamente<br />

nesse terreno, estudando um personagem masculino que morre e volta como<br />

mulher. Quatro anos antes, Gore Vidal havia publicado Juliano, romance que<br />

inaugurava um autor em parte ficcionista e em parte historiador, sem qualquer<br />

conflito com essa conciliação. Viriam <strong>de</strong>pois sete romances examinando a história<br />

dos Estados Unidos do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s personagens históricos,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a guerra pela In<strong>de</strong>pendência até o final do século XX. Muito a seu modo,<br />

Vidal inovou outra vez quando quebrou a série <strong>de</strong> biografias romanceadas com<br />

livros <strong>de</strong> um gênero que chamou “romance <strong>de</strong> invenções”, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacaram<br />

Duluth (1983) e Ao vivo do Gólgota (1992). Ao fim <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>pois do romance The<br />

Gol<strong>de</strong>n Age (A Era Dourada), mandou para seu editor a coleção revista dos seus<br />

últimos ensaios políticos, The Last Empire (O último Império, 2001).<br />

Pouco antes <strong>de</strong>sse longo ritual, ainda na <strong>de</strong>spedida que alguns críticos comparam<br />

a uma sinfonia inacabada, o escritor quis abordar o tema que esteve<br />

sempre sob sua pele, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro romance em 1946, Williwaw, inspirado<br />

nas experiências do jovem autor na II Guerra Mundial: a sexualida<strong>de</strong> ou, dizendo<br />

melhor, sua homossexualida<strong>de</strong>. Alguns <strong>de</strong>sses ensaios saíram na revista<br />

Playboy, outros na Partisan Review,noThe New York Review of Books,naThe Nation e<br />

no suplemento literário do solene The Times, <strong>de</strong> Londres, versando os mais variados<br />

aspectos <strong>de</strong>sse assunto até há pouco proibido. A segunda parte da coletânea<br />

reúne entrevistas dadas por Gore Vidal, on<strong>de</strong> ele se isenta um pouco da<br />

responsabilida<strong>de</strong> pela abordagem <strong>de</strong> temas pessoais, ce<strong>de</strong>ndo a culpa naturalmente<br />

aos entrevistadores.<br />

A <strong>de</strong>sinibida, intencional e até certo ponto obscura obra <strong>de</strong> Henry Miller<br />

(que só teria <strong>de</strong> bom mesmo o Trópico <strong>de</strong> Câncer) é alvo <strong>de</strong> algumas franquezas<br />

<strong>de</strong> Vidal, com as quais concordam talvez muitos leitores. Porque não pu<strong>de</strong>ram<br />

ser publicados nos Estados Unidos, os livros <strong>de</strong> Miller se transformaram em<br />

“cult”e ele ficou rico <strong>de</strong> repente. Para Vidal, Sexus é um hino <strong>de</strong> louvor a Henry<br />

Miller entoado por ele mesmo. Finalmente, Vidal acusa Miller <strong>de</strong> saber todas<br />

as respostas – daquilo mesmo <strong>de</strong> que acusam o próprio Vidal. Ainda bem que<br />

também nesse caso “não há problema humano que não possa ser resolvido”.<br />

158

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!