Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras
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Da Costa e Silva e o sincretismo<br />
Nos <strong>de</strong>cassílabos <strong>de</strong> “Ego...”, <strong>de</strong> “...Sum” e <strong>de</strong> “Elêusis”, há mais traços do<br />
Parnaso do que <strong>de</strong> qualquer outra estética. Em “Ego...” há referências a Vênus,<br />
aos “cinzéis helenos”, a Bóreas e às “correções marmóreas”, sendo assim o primeiro<br />
quarteto:<br />
Sou, talvez, o mais triste ser humano<br />
Que vive sob o céu ou sobre o solo,<br />
Porque possuo o espírito <strong>de</strong> Apolo<br />
Na feia catadura <strong>de</strong> Vulcano.<br />
Em “...Sum”, porém, o poeta se consola <strong>de</strong> sua suposta feiúra física ao dizer,<br />
nos tercetos:<br />
Minhas forças vitais, em luta, exigem<br />
Que eu seja forte e bravo como Marte,<br />
Sereno e altivo como um <strong>de</strong>us <strong>de</strong> origem.<br />
A Natureza, que os seus dons reparte,<br />
Porque feio me fez, <strong>de</strong>u-me a vertigem<br />
De lutar e vencer em toda parte.<br />
Nem falta, ao Parnasianismo do poeta, a nota <strong>de</strong> sensualismo, ausente da corrente<br />
francesa mas presente na do Brasil. É o que se verifica no soneto que era o<br />
<strong>de</strong> número III <strong>de</strong> “Elêusis” nas Poesias Completas <strong>de</strong> 1950, e passou a ser o <strong>de</strong><br />
número II do “Canto do Fauno” na terceira edição, <strong>de</strong> 1985:<br />
A oréada mais linda <strong>de</strong>ste outeiro,<br />
Sem a menor hesitação, foi minha:<br />
Tive-a nos braços como me convinha<br />
E fui o fauno que a beijou primeiro.<br />
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