Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras
Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras
Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Leo<strong>de</strong>gário A. <strong>de</strong> Azevedo Filho<br />
Aqui já não se discute se a Universida<strong>de</strong> fica com a consciência ou com o trabalho.<br />
O que se procura, na etapa inicial da <strong>de</strong>sconstrução, é “<strong>de</strong>negar o regime<br />
<strong>de</strong> certezas até bem pouco predominante”, colocando-se assim “o cidadão no<br />
cerne do sistema aberto”. São, é claro, os primeiros passos da <strong>de</strong>sconstrução,<br />
para que a reconstrução projete, no futuro, uma universida<strong>de</strong> que possa realmente<br />
preservar “o lugar reservado ao cidadão no seio das ações educacionais.<br />
Porque o cidadão é a esperança – só ele sobreviverá aos cataclismos. E somente<br />
a educação, a escola, a tela, a Universida<strong>de</strong>, conjugadamente, se acham em condições<br />
<strong>de</strong> formar cidadãos aptos.” 8<br />
Por certo, <strong>de</strong>vemos discutir e <strong>de</strong>bater as suas proposições, pois elas foram<br />
apresentadas com essa finalida<strong>de</strong>. Se é função alta da Universida<strong>de</strong> a<br />
formação <strong>de</strong> “cidadãos aptos”, certamente ela estará voltada para a instauração<br />
do conhecimento novo, valorizando-se assim a pesquisa. Não a pesquisa<br />
que por aí anda raquítica e centrada na “pedagogia da mesmice”, consumindo,<br />
<strong>de</strong>savergonhadamente, verbas públicas que <strong>de</strong>veriam ter outro<br />
<strong>de</strong>stino. Mas a verda<strong>de</strong>ira pesquisa universitária, unicamente comprometida<br />
com o saber ainda <strong>de</strong>sconhecido. Uma universida<strong>de</strong> que, se já está comprometida,<br />
não <strong>de</strong>ve então se comprometer com nenhum outro valor, até<br />
mesmo por motivos éticos.<br />
Como se vê, é pela fragmentação histórica que a poética da reconstrução se<br />
instaura no pensamento <strong>de</strong> Eduardo Portella. Um pensamento que <strong>de</strong>sconstrói<br />
para reconstruir, continuamente, a sua visão crítica da realida<strong>de</strong> brasileira.<br />
Não como algo isolado, mas como força integrante <strong>de</strong> um diálogo, verda<strong>de</strong>iramente<br />
intercultural, colocando-se a universida<strong>de</strong> no centro das mudanças,<br />
como mola propulsora do <strong>de</strong>senvolvimento e da esperança. E se aguarda, com<br />
muito interesse, a publicação do seu novo livro, com o título <strong>de</strong> O começo da História,<br />
para que se complemente a análise aqui proposta, exatamente no momento<br />
em que o ensaísta brasileiro comemora o seu septuagésimo aniversário.<br />
8 Op. cit., p. 114.<br />
156