10.01.2015 Views

Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O curan<strong>de</strong>iro dos olhos em gaze<br />

Então o farmacêutico atentou melhor para o indiciado e tentou abrir-lhe as<br />

pálpebras, cobertas por uma espécie <strong>de</strong> véu branco, carnoso. Queria certificar-se,<br />

pensando em embuste, se <strong>de</strong> fato não via.<br />

Paulino não se moveu.<br />

– Mas ele não agüenta ser levado daqui até a cida<strong>de</strong>! – reconheceu o sacerdote.<br />

– Então, não vai ser punido, como precisa – revidou o <strong>de</strong>legado.<br />

– Está mais pra lá do que pra cá! – confirmou o farmacêutico.<br />

– É um caso <strong>de</strong> consciência e humanida<strong>de</strong>! Nesse estado precisa <strong>de</strong> remédios,<br />

não <strong>de</strong> castigo... – continuou a dizer o padre.<br />

– E nós, então, o que viemos fazer aqui Fazer o papel <strong>de</strong> bobos – disse o<br />

<strong>de</strong>legado.<br />

O soldado, <strong>de</strong>sconcertado, começou a enfiar, disfarçadamente, as algemas<br />

<strong>de</strong> couro que trouxera numa bolsa do cinturão.<br />

– De minha parte lavo as mãos! Quero dizer, não vou tomar nenhum <strong>de</strong>poimento<br />

– disse o escrevente, que até ali só estivera atento.<br />

Os homens se olhavam <strong>de</strong>senxabidos, sem saber como proce<strong>de</strong>r.<br />

<br />

Zoca, na esteira, parecia <strong>de</strong>sfalecido.<br />

– Se afastem. Se afastem! – gritou Zé-Gilim, revoltado.<br />

Nem o <strong>de</strong>legado nem ninguém se atreveu a <strong>de</strong>tê-lo.<br />

– O Pauli precisa curar o Zoca! – disse o Manco, <strong>de</strong>cidido.<br />

– É isso! É isso! – confirmavam os companheiros chegando mais perto.<br />

– Cure ele! – pediu o Pelado ao amigo. – Tire as dor do coitado!<br />

O farmacêutico, ao ver o doente a ar<strong>de</strong>r em febre, tentou colocar-lhe um vidrinho<br />

no sovaco.<br />

– O termômetro vai dizer a temperatura! – disse o <strong>de</strong>legado.<br />

– Sai pra lá estafermo! – gritou Zé-Gilim, impedindo-o.<br />

177

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!