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Fotos: Divulgação<br />
Anárquico e excêntrico<br />
Ex-palhaço, ex-manipulador de marionetes, filósofo, roteirista<br />
de quadrinhos, o chileno Alejandro Jodorowsky tem pela<br />
primeira vez uma mostra de seus filmes no Brasil<br />
POR SÉRGIO MORICONI<br />
Não se incomode se você nunca ouviu<br />
falar nele. Alejandro Jodorowsky se<br />
transformou numa lenda entre os aficcionados<br />
do cinema experimental pela<br />
simples razão de que seus filmes estão,<br />
há décadas, absolutamente indisponíveis<br />
para o público em todo o mundo. Foi<br />
preciso que a Inglaterra lançasse uma<br />
coleção com algumas de suas principais<br />
obras para que seu nome voltasse a circular<br />
no meio cinematográfico. Mas, entre<br />
os fãs dos quadrinhos, Jodorowsky é<br />
uma referência incontornável. Só para<br />
dar alguns exemplos, são dele as histórias<br />
O Incal e Os Bórgia, ilustradas, por<br />
Guido Manara e Moebius. O Festival<br />
Jodorowsky, do dia 28 a 9 de dezembro,<br />
no CCBB, não só vai exibir toda sua filmografia<br />
como trará o artista em pessoa<br />
para participar de debates, conferências<br />
e de uma noite de autógrafos (dia 3, às<br />
20h, na Fnac), quando lançará a inédita<br />
história em quadrinhos Antes de Incal.<br />
No que diz respeito ao cinema, bem,<br />
é preciso antes colocar as coisas em perspectiva:<br />
nascido numa província litorânea<br />
do Chile, depois de experimentar o<br />
circo, o teatro de marionetes, a cenografia,<br />
e de se transformar ele próprio em<br />
ator, Jodorowsky correu o mundo. Primeiro<br />
México, depois Estados Unidos,<br />
finalmente Europa. Na França, onde<br />
mora até hoje, uniu-se a Roland Topor,<br />
Arrabal, ao célebre mímico Marcel Maceau<br />
– que à época ainda não era célebre<br />
– e a Jerôme Savary para dar vida a um<br />
movimento pós-surrealista chamado Pânico.<br />
O movimento foi muito influenciado<br />
pelos encontros que manteve com<br />
André Breton, um dos principais articuladores<br />
intelectuais do surrealismo.<br />
A partir de então, Jodorowsky começa<br />
a incorporar os mais diversos elementos<br />
oníricos a sua obra.<br />
O fato de também estar ligado à cultura<br />
popular afasta Jodorowsky e seus<br />
companheiros de Breton, cuja formação<br />
era estritamente erudita. O Pânico estava<br />
alicerçado em três elementos básicos –<br />
“terror, humor e simultaneidade”.<br />
Postulava transcender os limites impostos<br />
pela sociedade e buscava rechaçar a<br />
seriedade artística com uma explosão<br />
criativa sem regras. A afinidade com o<br />
pensamento de Alfred Jarry – expresso<br />
na peça Ubu Rei – era evidente. Nas palavras<br />
de Fernando Arrabal: “O Pânico é<br />
a crítica da razão pura, é o convívio sem<br />
leis e sem mando, é a ode ao talento louco,<br />
é o antimovimento, é a arte de viver<br />
(que leva em conta a confusão e o azar)”.<br />
Peças como Cabaret trágico foram inspiradas<br />
nos mandamentos preconizados<br />
pelo movimento. Não vamos esquecer<br />
que a personagem principal de Ubu Rei<br />
preconiza a instauração da “patafísica”:<br />
ciência das coisas inúteis, pensamento<br />
antagônico à razão burguesa. No Pânico,<br />
os três fundam uma corrente de pensamento<br />
e expressão artística em homenagem<br />
ao deus grego Pan.<br />
Fundado o Pânico, Jodorowsky volta<br />
para o México, onde tem sua primeira<br />
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