R$ 5,90 - Roteiro BrasÃlia
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luzcâmeraação<br />
oportunidade de fazer cinema. Faz uma<br />
adaptação da peça Fando y Lis, de seu<br />
companheiro Arrabal. Orgia de cores<br />
e sons, o filme expõe toda a formação<br />
anarco-surrealista de seu criador. Jodorowsky<br />
preserva o texto original escrito por<br />
Arrabal. A história – na verdade é uma<br />
fábula – aborda a relação de dependência<br />
de Fando com Lis, menina indefesa e<br />
traumatizada por fantasmas da infância.<br />
Os dois caminham pelo deserto, atrás de<br />
uma terra imaginária, representada como<br />
um ideal inalcançável, chamada Tar.<br />
No caminho, surgem situações insólitas,<br />
como uma passeata de travestis e a voracidade<br />
de velhas burguesas sedentas pelo<br />
corpo de um jovem rapaz. À medida que<br />
Fando tenta se libertar de Lis, ele percebe<br />
como se tornou impossível seguir o<br />
caminho sozinho. Referência aos cinemas<br />
do brasileiro Glauber Rocha e do<br />
espanhol Luis Buñuel são evidentes e<br />
reconhecidas pelo próprio Jodorowsky.<br />
No mesmo ano em que faz Fando y<br />
Lis, Jodorowsky roda El topo, um western<br />
surreal, ambientado numa curiosa sociedade<br />
esfarrapada e conflituosa, ao mes-<br />
mo tempo definida como uma “corte<br />
dos milagres”, onde o protagonista luta<br />
desesperadamente contra o mal através<br />
de uma série interminável de episódios<br />
alucinantes, violentos, de fugas e exaltações<br />
orgiásticas. Jodorowsky resumiu o<br />
filme como “a história de um homem<br />
em busca da espiritualidade, em busca<br />
da paz”. Diversas cenas e situações da<br />
narrativa são autobiográficas, especialmente<br />
aquelas que abordam a relação<br />
pai-filho. Jodorowsky conta um episódio<br />
emblemático de sua infância: “Certo<br />
dia, eu era uma criança de seis anos e fui<br />
com meu pai à praia. O carro quebrou<br />
e meu pai teve de me carregar por uns<br />
quatro quilômetros até o mar. Acho que<br />
esse foi o único contato de pele que tive<br />
com ele”, disse em entrevista no documentário<br />
que acompanha a coleção<br />
lançada no Reino Unido.<br />
El topo estreou sem qualquer estratégia<br />
de lançamento nos EUA em dezembro<br />
de 1970. Poderia passar inteiramente<br />
desapercebido se um fato insólito e absolutamente<br />
extraordinário não tivesse<br />
resgatado o filme de um virtual limbo.<br />
Deslumbrados com o que viram numa<br />
sessão da meia-noite no obscuro cinema<br />
alternativo The Elgin, no downtown novaiorquino,<br />
John Lennon e Yoko Ono<br />
tomaram para si a missão de divulgar o<br />
filme entre amigos influentes. Transformado<br />
em cult obrigatório, El topo sedimentou<br />
o caminho para A montanha<br />
sagrada, filme que muitos consideram a<br />
obra-prima de Jodorowsky. Essa obra inclassificável<br />
é, segundo o autor, o relato<br />
de uma “ascensão” em direção a uma<br />
vida de pureza e júbilo. O cimo dessa<br />
montanha metafórica de Jodorowsky<br />
muitas vezes está envolto na neblina e é<br />
la que terão lugar episódios ao mesmo<br />
tempo violentos, mágicos, cruéis, repletos<br />
de espiritualidade. Este seria o sublime<br />
paradoxo de Jodorowsky, presente<br />
em todos os seus filmes: a busca de uma<br />
razão mística.<br />
Festival Jodorowsky<br />
De 28/11 a 9/12, no cinema do CCBB. De<br />
3ª a 6ª feira, às 18h30 e 20h30; sábado e<br />
domingo a partir das 15h. Ingressos a <strong>R$</strong> 4<br />
e <strong>R$</strong> 2. Mais informações: 3310.7081<br />
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