R$ 5,90 - Roteiro BrasÃlia
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Fotos: Divulgação<br />
se sacrificava para levá-lo às sessões das<br />
sextas-feiras, ao descobrir um velho gravador<br />
abandonado num armário ele<br />
tenta recuperá-lo para, com a colaboração<br />
de amigos, criar histórias sonoras à<br />
semelhança das que acompanhava nos<br />
filmes. Por ser criativo, ele desperta, entretanto,<br />
a ira do diretor do estabelecimento,<br />
também deficiente visual, mas<br />
um ser retrógrado e muito ranzinza.<br />
Mirco recebe, contudo, o apoio de Don<br />
Giulio, que o presenteia com um gravador<br />
novo para continuar criando suas<br />
histórias.<br />
A originalidade do trabalho de Bortone<br />
não está propriamente em sua linguagem<br />
narrativa, nem na sua mise-emscène,<br />
que peca pelo uso imoderado de<br />
clichês de filmes do gênero e de algumas<br />
situações esdrúxulas para apresentar<br />
personagens, mas pela maneira como<br />
mostra a descoberta que Mirco faz, com<br />
os amigos, do mundo mágico, presidido<br />
pela força das palavras e dos sons, am-<br />
Comovente,<br />
sem ser piegas<br />
Como um garoto pobre, deficiente visual, soube se<br />
adaptar ao mundo de imagens recriadas por meio de<br />
sons e de palavras, tornando-se um homem de sucesso<br />
POR REYNALDO DOMINGOS FERREIRA<br />
Vermelho como o céu, do cineasta italiano<br />
Cristiano Bortone, é a história verídica<br />
de Mirco Mencacci, compositor e<br />
renomado editor de som do cinema italiano,<br />
que guarda semelhança com a do<br />
tenor Andréa Bocelli, de fama internacional.<br />
Isso porque ambos, além de serem<br />
naturais da Toscana, ficaram cegos<br />
na infância em conseqüência de acidentes<br />
– um, por uma queda ao tentar, aos<br />
dez anos, apanhar a arma do pai suspensa<br />
numa parede da casa; outro, por ter<br />
nascido com glaucoma congênito e, jogando<br />
futebol, aos 12 anos, ter sido<br />
atingido por uma bola na cabeça.<br />
A diferença é que Mirco (Luca Capriotti)<br />
era um garoto pobre que, nos<br />
anos 70, na Itália, por ser deficiente visual,<br />
ficou impedido de continuar estudando<br />
na escola pública. Por isso, os pais<br />
tiveram de levá-lo para uma instituição<br />
especializada no ensino de cegos, pelo<br />
método Braile, de um grupo católico, na<br />
cidade de Gênova, o Instituto Gassone,<br />
com mais de 100 anos de tradição.<br />
Mirco, porém, se recusa a aprender<br />
o Braile por entender, como seus pais,<br />
que não perdera totalmente a visão,<br />
uma vez que se sentia ainda capaz de<br />
identificar vultos à sua frente. E é assim,<br />
em grau de superioridade, que ele se<br />
posiciona em relação aos demais garotos<br />
cegos da instituição até que o professor,<br />
Don Giulio (Paolo Sassanelli), o adverte<br />
de que há coisas belas a serem descobertas<br />
se ele desenvolver mais os outros sentidos,<br />
como o da audição:<br />
– Você nunca observou, Mirco, que<br />
muitos instrumentistas fecham os olhos,<br />
isto é, anulam a visão, para sentir mais<br />
profundamente a música que eles próprios<br />
executam Há cinco sentidos, Mirco.<br />
Por que você só quer usar um – ele<br />
lhe pergunta.<br />
Como Mirco, antes do acidente, gostava<br />
de ir ao cinema com o pai, que até<br />
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