Estudos48O mo<strong>de</strong>lo simétricoé <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>importância porquepermite que gestores<strong>de</strong> questões<strong>em</strong>ergentes ganh<strong>em</strong>conhecimento daquestão a partir <strong>de</strong>uma perspectiva <strong>de</strong>fora da organizaçãoe incorpor<strong>em</strong> esseconhecimento <strong>em</strong>sua <strong>tomada</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>cisão.A comunicação<strong>de</strong>ve ser contínua eusada <strong>para</strong>contribuir noprocesso <strong>de</strong> <strong>tomada</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, b<strong>em</strong>como <strong>para</strong> informaros públicos sobre a<strong>de</strong>cisão. Além disso,o uso dacomunicaçãosimétrica é coerentecom a filosofiamoral kantiana.ções públicas ao se fornecer o conhecimentonecessário <strong>para</strong> as pessoastomar<strong>em</strong> suas próprias <strong>de</strong>cisões, baseadas<strong>em</strong> seu próprio julgamento,permitindo-lhes a dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umagente autônomo e racional.No mo<strong>de</strong>lo prático aqui proposto,chamo esta fase da teoria <strong>de</strong>“triângulo da consi<strong>de</strong>ração ética” <strong>para</strong>facilitar sua discussão entre as equipes<strong>de</strong> questões <strong>em</strong>ergentes. Cada vérticedo triângulo correspon<strong>de</strong> a uma dasformulações <strong>de</strong> Kant do imperativocategórico: (a) <strong>de</strong>ver; (b) dignida<strong>de</strong> erespeito pelos outros; (c) intenção ouboa vonta<strong>de</strong> moral. Sob cada classificação,está uma pergunta queexplica o conceito. As perguntas são:“Dever: estou fazendo a coisa certa?Dignida<strong>de</strong> e respeito: A dignida<strong>de</strong> e orespeito pelos <strong>de</strong>mais estão sendomantidos? E intenção: estou agindocom moralida<strong>de</strong> e boa vonta<strong>de</strong>?”Dentro do triângulo, <strong>em</strong> or<strong>de</strong>marbitrária, está o que os gestores dosgrupos <strong>de</strong> questões <strong>em</strong>ergentes<strong>de</strong>veriam consi<strong>de</strong>rar quanto a <strong>de</strong>ver,dignida<strong>de</strong> e respeito e intenção. Essesgrupos são públicos estratégicos, aorganização e a socieda<strong>de</strong>. Os gestores<strong>de</strong> questões <strong>em</strong>ergentes <strong>de</strong>v<strong>em</strong>consi<strong>de</strong>rar cada um dos grupos comcada um dos vértices do triângulo,correspon<strong>de</strong>ndo a um aspecto da teoriakantiana. Os gestores precisam consi<strong>de</strong>rarmúltiplos grupos individualmente,como os vários grupos <strong>de</strong> umaorganização. Essas consi<strong>de</strong>rações levamo gestor <strong>de</strong> questões <strong>em</strong>ergentes a fazeruma análise completa da perspectiva<strong>de</strong> cada grupo envolvido num assunto<strong>em</strong>ergente. Os públicos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser organizados<strong>para</strong> customizar o triângulo <strong>para</strong>cada organização e situação,permitindo uma análise ética sofisticadae complexa que é única <strong>para</strong> cadacaso <strong>em</strong> que é usada.Comunicação simétricaComunicação simétrica, <strong>de</strong> acordocom J. E. Grunig (2001, p. 12), existequando “profissionais usam pesquisae diálogo <strong>para</strong> ocasionar mudançassimbióticas <strong>em</strong> idéias, atitu<strong>de</strong>s e comportamentostanto da organizaçãocomo dos públicos”. O mo<strong>de</strong>losimétrico (Grunig & Hunt, 1984) é umamediação inclusiva entre advocacia eacomodação que envolve mudançamútua e adaptação à nova informação.O profissional <strong>de</strong> relaçõespúblicas facilita a mudança mútua <strong>em</strong>vez <strong>de</strong> agir apenas como um advogadoda organização, conforme verificadona abordag<strong>em</strong> assimétrica(Dozier, L. A.Grunig e J. E. Grunig, 1995;J. E.Grunig, 2001; J. E.Grunig, 1992a; J.E. Grunig & L. A.Grunig, 1992). L. A.Grunig, J. E. Grunig e Dozier (2002)<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a abordag<strong>em</strong> simétrica<strong>para</strong> a comunicação é inerent<strong>em</strong>ent<strong>em</strong>ais ética do que outras abordagensporque é baseada no diálogo.Pearson (1989a, 1989c), ao esten<strong>de</strong>ra teoria <strong>de</strong> Habermas (1979, 1984,1987), argumentou que as organizaçõestêm o <strong>de</strong>ver moral <strong>de</strong> promovero diálogo. J. E. Grunig e L. A.Grunig (1996) incluíram a obrigação <strong>de</strong>diálogo <strong>de</strong> Pearson <strong>em</strong> sua teoria <strong>de</strong>ética da comunicação, usando asimetria como uma forma <strong>de</strong> satisfazêla.A simetria é uma forma <strong>de</strong> comunicaçãoinerent<strong>em</strong>ente ética(Bowen, 2000; J. E. Grunig & L. A.Grunig, 1996) e seu uso como componente<strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo prático <strong>de</strong>gerenciamento das questões éticasfortalece a base conceitual do mo<strong>de</strong>lo.A última fase da impl<strong>em</strong>entaçãodo mo<strong>de</strong>lo prático colocada nesteestudo é comunicar consi<strong>de</strong>raçõeséticas <strong>para</strong> os grupos <strong>de</strong>ntro dotriângulo das consi<strong>de</strong>rações éticas elevar <strong>em</strong> conta sua força na <strong>tomada</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Com essa consi<strong>de</strong>ração,po<strong>de</strong> ser alcançada uma <strong>de</strong>cisãomais justa e mutuamente satisfatóriado que com os métodos não-simétricos.A informação obtida dospúblicos po<strong>de</strong> ter um papel vital noprocesso <strong>de</strong> <strong>tomada</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão daEstudos, revista s<strong>em</strong>estral do Curso <strong>de</strong> Jornalismo e Relações Públicas da Universida<strong>de</strong> Metodista <strong>de</strong> São Paulo
Estudos49organização. A comunicação <strong>de</strong>ve sercontínua e usada <strong>para</strong> contribuir noprocesso <strong>de</strong> <strong>tomada</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, b<strong>em</strong>como <strong>para</strong> informar os públicos sobrea <strong>de</strong>cisão. Além disso, o uso dacomunicação simétrica é coerentecom a filosofia moral kantiana. Kant(1785/1964, p. 73) escreveu: “Assim, arazão comum, quando cultivada <strong>em</strong>seu uso prático, eleva insensivelmentea dialética que a compele a pedirajuda na filosofia”.A contribuição mais importantedas relações públicas <strong>para</strong> a eficáciaorganizacional po<strong>de</strong> ser mensuradanos relacionamentos construídos <strong>em</strong>antidos pela função. O uso do mo<strong>de</strong>loprático aqui exposto enfatiza ainter<strong>de</strong>pendência e natureza ética<strong>de</strong>sses relacionamentos. O uso <strong>de</strong>st<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ve aumentar a habilida<strong>de</strong>do profissional <strong>para</strong> manter relacionamentosmutuamente benéficos comos públicos.Perguntas <strong>de</strong> pesquisaCom base da teoria aqui discutidae <strong>em</strong> outra anterior, o mo<strong>de</strong>lo normativo<strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong> questõeséticas <strong>em</strong>ergentes, <strong>de</strong>senhei um mo<strong>de</strong>loprático <strong>para</strong> o gerenciamento <strong>de</strong>questões éticas <strong>em</strong>ergentes (cf. quadro1). Esse mo<strong>de</strong>lo prático foi totalmentebaseado na teoria aqui apresentada,mas foi testado eaperfeiçoado durante o uso <strong>de</strong> estudo<strong>em</strong>pírico discutido a seguir.Duas organizações <strong>de</strong> estudo permitiram-mecoletar dados a respeito<strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong>questões <strong>em</strong>ergentes e sua ética. Useiesses dados <strong>para</strong> reescrever, esclarecere fortalecer o mo<strong>de</strong>lo prático, afim <strong>de</strong> que possa ser facilmente usadopor seus gestores. Na porção <strong>em</strong>píricado estudo, três perguntas investigativasforam colocadas:• PI 1 – Qual é a estrutura do gerenciamento<strong>de</strong> questões <strong>em</strong>ergentes ea <strong>tomada</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão na organização,inclusive o acesso àcoalizão dominante ou ao presi<strong>de</strong>nte(por ex<strong>em</strong>plo, autonomia)?• PI 2 – Com que grau <strong>de</strong> importânciaos gestores <strong>de</strong> questões<strong>em</strong>ergentes consi<strong>de</strong>ram a ética <strong>em</strong>sua <strong>tomada</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões sobrequestões <strong>em</strong>ergentes?• PI 3 – A organização confia primariamentenuma conceituação daética baseada no utilitarismo ou na<strong>de</strong>ontologia?MetodologiaEscolha da amostra e dosparticipantesO estudo <strong>em</strong>pírico foi <strong>de</strong>senvolvidopor meio <strong>de</strong> observação longitudinal e43 entrevistas <strong>em</strong> duas <strong>em</strong>presas farmacêuticasglobais. O mo<strong>de</strong>lo normativo<strong>de</strong> questões éticas foi utilizadocomo um guia <strong>para</strong> construir o mo<strong>de</strong>loprático, baseado nos comentários dosgestores <strong>de</strong> questões <strong>em</strong>ergentes nasorganizações participantes.Para obter esta amostra, foiutilizado o Hoover’s handbook ofAmerican business (Hoover, 1997) <strong>para</strong>i<strong>de</strong>ntificar os maiores produtores <strong>de</strong>fármacos distribuídos nos EstadosUnidos. Cartas <strong>de</strong> consulta foramenviadas <strong>para</strong> os maiores profissionais<strong>de</strong> relações públicas <strong>de</strong> 21 corporaçõese se fez o acompanhamentopor outra carta, s<strong>em</strong>elhante,três s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong>pois, e um telefon<strong>em</strong>a.Duas indústrias farmacêuticas, <strong>de</strong>21 organizações convidadas a participar,permitiram-me a coleta <strong>de</strong>dados <strong>em</strong> suas organizações. Essascorporações concordaram <strong>em</strong> participarnesse estudo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> enviodos convites iniciais, várias conversastelefônicas, negociações acerca <strong>de</strong>confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong>, envio <strong>de</strong> correspondências<strong>de</strong>screvendo o estudo,assinatura <strong>de</strong> documentos legais ereuniões <strong>de</strong> cre<strong>de</strong>nciamento.Thomas (1995) e Yeager e Kram(1995), especialistas no estudo <strong>de</strong>executivos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a reuniãoA contribuição maisimportante dasrelações públicas<strong>para</strong> a eficáciaorganizacional po<strong>de</strong>ser mensurada nosrelacionamentosconstruídos <strong>em</strong>antidos pelafunção.<strong>Mo<strong>de</strong>lo</strong> prático <strong>para</strong> <strong>tomada</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão ética <strong>em</strong> questões <strong>em</strong>ergentes nas relações públicas