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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Diretrizes do culturalismotico do espírito. O tempo do Lebenswelt não é, assim, tempo histórico(como tal categorizado) mas mero tempo cultural correspon<strong>de</strong>nte aomundo intuitivo da vida cotidiana, à expontânea experiência comumou corrente não or<strong>de</strong>nada em objetos do conhecimento. 1Se assim é, pon<strong>de</strong>ro eu, cumpre reconhecer a universalida<strong>de</strong> a priorida cultura, a qual é inerente ao ser humano, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as origens nãopo<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser visto como um ente cultural.Em verda<strong>de</strong>, quando surge a cultura? Quando o ser humano sevale <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s individuais e introduz algo <strong>de</strong> novo na natureza,passando do grito animalesco – que é sempre o mesmo –para a fala, que nasce, se transforma e se <strong>de</strong>senvolve; ou, então, plasmaos dados da natureza para convertê-los em utensílios, <strong>de</strong>les se servindopara múltiplos fins, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as armas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa ao preparo <strong>de</strong>alimentos, não faltando a espontânea disposição à dança e ao recreio,bem como a inclinação a fazer os primitivos <strong>de</strong>senhos e esculturas,que até hoje nos surpreen<strong>de</strong>m, como projeção <strong>de</strong> origináriaforça emocional. Como contestar que essas criações já não implicamo po<strong>de</strong>r a priori <strong>de</strong> instaurar cultura? É com base, pois, nesses dados <strong>de</strong>experiência que afirmo existir um a priori cultural como conditio sine quanon <strong>de</strong> projeção do po<strong>de</strong>r nomotético do espírito.Se, como geralmente se admite, o ser humano é um ente histórico,éporque originariamente é um agente cultural, instaurador dos bens <strong>de</strong>cultura, graças aos a priori subjetivo e material que Kant e Husserl souberam<strong>de</strong>terminar no ato cognoscitivo.O homem, em suma, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua chegada ao mundo, é um agente cultural,sendo, a um só tempo natureza e cultura, estando a projeção <strong>de</strong>staa priori em sua mente, ou melhor, em sua subjetivida<strong>de</strong> criadora. Istoposto, a extensão que fiz da fenomenologia ao mundo históricocultural,importa no reconhecimento <strong>de</strong> um a priori cultural, sem oqual não surgiria a relação sujeito-objeto, base da ontognoseologia.Este é o ponto comum <strong>de</strong> partida da infinita aventura universaldo espírito.1 Sobre oconceitohusserliano <strong>de</strong>Lebenswelt erespectivabibliografia, cfr.Miguel Reale –Experiência eCultura, 2 a ed.revista,Campinas, 2000,pág. 126 e segs.Quanto àdistinção entretempo cultural etempo histórico, v.,no mesmo livro,Cap. VIII, § IV,pág. 254 e segs.63

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