Nosso DickensJosé Guilherme MerquiorNão serão as i<strong>de</strong>ologias por acaso a <strong>de</strong>sgraça do nosso tempo? O pensamentocriador submergido, afogado pelas teorias, pelos conceitos dogmáticos, oavanço do homem travado por regras imutáveis?Jorge Amado, O Menino GrapiúnaQue significa – nos seus setenta anos – a figura <strong>de</strong> JorgeAmado na literatura latino-americana? Antes <strong>de</strong> maisnada, um caso <strong>de</strong> forte enraizamento popular da obra literária, numuniverso on<strong>de</strong> o livro culto permanece objeto do consumo <strong>de</strong> luxo, eos escritores vivem vidas inteiras na nostalgia <strong>de</strong> imensos públicospotenciais – os únicos que correspon<strong>de</strong>m ao tamanho das populaçõesluso- ou hispanófonas. Entretanto essa amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura ainda équase nula, comparada com o best-seller das verda<strong>de</strong>iras “culturas dolivro”, a começar, naturalmente, pela anglo-saxônica. Gabriela, cravo eEstudopublicado noJornal do Brasil,10-8-82, e emO elixir doapocalipse. Rio,Nova Fronteira,1983, p.178-181.O ensaísta JoséGuilhermeMerquior(1941-1991)ocupou aCa<strong>de</strong>ira n o 36da ABL.161
José Guilherme Merquiorcanela levou uns bons vinte anos para alcançar um milhão <strong>de</strong> exemplares– tiragem entre nós espetacular, mas banal no mundo do romanceem inglês, já que ao alcance da primeira edição <strong>de</strong> qualquerHarold Robbins, Leon Uris ou Arthur Hailey, o tal <strong>de</strong> Aeroporto, Hotel,Hospital, etc.; e somente agora, que ele caiu tanto <strong>de</strong> nível, <strong>de</strong> GarciaMárquez, com essa lamentável Crônica <strong>de</strong> uma morte anunciada.Não é, portanto, no seu uso que resi<strong>de</strong> a robusta vocação popularda obra amadiana: é antes na sua forma, conteúdo e mensagem (emprego<strong>de</strong> propósito essas duas últimas palavras, seqüestradas pela pedantocraciaformalista que usurpou o discurso crítico na atualida<strong>de</strong>).Mas aqui, o “caso” Jorge Amado é um mar <strong>de</strong> equívocos. Nossoescritor duplamente mais popular, assim que purgou seus livros dacatequese política, viu-se confrontado com os catões da i<strong>de</strong>ologia.Quando Gabriela surgiu, o plantão da ortodoxia comunista con<strong>de</strong>nou-lhea visão “amoral e carnavalesca” – visão, segundo o mesmocensor, própria apenas das classes altas e marginais, como se a saga<strong>de</strong> Mundinho, Nacib e sua saborosa cozinheira exprimisse tão-só aótica “<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte” da grã-finagem e do lumpemproletariado, indignada virtu<strong>de</strong> proletária... Não admira que uma das nossas mediocrida<strong>de</strong>smais pretensiosas tenha consi<strong>de</strong>rado o livro uma encomendapartidária, escrita pelo ex-staliniano autor dos Subterrâneos da liberda<strong>de</strong>para bajular a política revisionista <strong>de</strong> Kruschev!Quanto à crítica propriamente dita, se não engrossou tanto, nempor isso <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> brandir preconceitos. “Populismo literário”, diziamos bem-pensantes do progressismo –, e torciam o nariz a tamanhafuga aos ditames do realismo crítico. São Lukács, invocado paraa canonização <strong>de</strong> Graciliano, servia para a excomunhão ritual do autor<strong>de</strong> Jubiabá, no entanto publicado no mesmo fecundo triênio – omeio dos anos 30 – que viu nascer São Bernardo e Angústia.O que constrangia toda essa crítica, dona da verda<strong>de</strong> e senhorado Sentido da História, era a irredutível constante “romântica”162
- Page 1:
Disco de Faístos, CretaMuseu do Lo
- Page 6 and 7:
Diretrizes do culturalismoO ‘cult
- Page 8 and 9:
Diretrizes do culturalismode propri
- Page 10:
Diretrizes do culturalismotico do e
- Page 13 and 14:
Arnaldo Niskierescolas públicas do
- Page 15 and 16:
Arnaldo NiskierAlguém menos avisad
- Page 17 and 18:
Arnaldo Niskier- A humanização, o
- Page 20 and 21:
Eça de Queirós eEduardo PradoJoã
- Page 22 and 23:
Eça de Queirós e Eduardo PradoNes
- Page 24 and 25:
Eça de Queirós e Eduardo Pradouma
- Page 26 and 27:
Eça de Queirós e Eduardo Pradopes
- Page 28:
Eça de Queirós e Eduardo Pradosoc
- Page 31 and 32:
João de ScantimburgoPrado que Eça
- Page 33 and 34:
João de Scantimburgo16 AntônioSar
- Page 35 and 36:
João de Scantimburgovelhos resídu
- Page 37 and 38:
João de ScantimburgoEduardo tudo p
- Page 39 and 40:
João de ScantimburgoAs personagens
- Page 41 and 42:
João Guimarães Rosa e os pais, Do
- Page 43 and 44:
Carlos Heitor Conyno Itamaraty, Jo
- Page 45 and 46:
Carlos Heitor Conyera primária, a
- Page 47 and 48:
Carlos Heitor Conyalma ao demônio
- Page 49 and 50:
José Lins do Rego, de Portinari, 1
- Page 51 and 52:
Murilo Melo FilhoSeu primeiro livro
- Page 53 and 54:
Murilo Melo Filhopessimista do regi
- Page 55 and 56:
Murilo Melo FilhoFaleceu no Hospita
- Page 57 and 58: Louis Pasteur(1822-1895)
- Page 59 and 60: Carlos A. LeiteO Instituto Pasteur
- Page 61 and 62: Carlos A. Leitepara evitar as crít
- Page 64 and 65: Pessoa: personagense poesiaMilton V
- Page 66 and 67: Pessoa: personagens e poesiacomo ob
- Page 68 and 69: Pessoa: personagens e poesiaancestr
- Page 70 and 71: Pessoa: personagens e poesiaPor cim
- Page 72 and 73: Pessoa: personagens e poesiaE gozan
- Page 74 and 75: Pessoa: personagens e poesiaJá se
- Page 76 and 77: Pessoa: personagens e poesiamitos,
- Page 78 and 79: Pessoa: personagens e poesiado poet
- Page 80 and 81: Pessoa: personagens e poesiaE a gl
- Page 82 and 83: Pessoa: personagens e poesiaAntes d
- Page 84 and 85: Pessoa: personagens e poesiaVem sen
- Page 86 and 87: Pessoa: personagens e poesiaReis, o
- Page 88 and 89: Pessoa: personagens e poesiatoso e
- Page 90 and 91: Pessoa: personagens e poesiaTrago d
- Page 92 and 93: Pessoa: personagens e poesiaórfico
- Page 94 and 95: Pessoa: personagens e poesia Afinal
- Page 96 and 97: Os viventesCésar LealMitos, pessoa
- Page 98 and 99: Os viventesna”, em um de seus úl
- Page 100 and 101: Os viventesnamento, arrasta consigo
- Page 102 and 103: Os viventesteza de um imenso rio de
- Page 104 and 105: Os viventesAs imagens não buscam s
- Page 106 and 107: Os viventesPode o coraçãocorrer c
- Page 110 and 111: Nosso Dickensde Jorge Amado. Os mes
- Page 112: Nosso DickensQuando Ernest Gellner,