12.07.2015 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

César Lealpo<strong>de</strong>rá viver sem a arte, mas não viveria bem. Mondrian não especuloumuito sobre esse aspecto, mas sua afirmativa não quer dizer quea arte <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> existir. O que ocorrerá é o término <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong>que sempre existira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o homem aparecera na terra. Isso querdizer que a arte continuaria sua vida institucional, como fragmentosda história do espírito: no Museu, na Ópera, na Biblioteca, on<strong>de</strong> todospo<strong>de</strong>riam ver esculturas <strong>de</strong> Fídias ou Miguelângelo, quadros <strong>de</strong>Leonardo ou <strong>de</strong> Picasso, ouvir composições <strong>de</strong> Bach ou <strong>de</strong> Beethoven,ou ler poemas <strong>de</strong> Homero, Dante ou Shakespeare. Será que oshomens do futuro ficariam satisfeitos em viver nesse estranho universoda ‘arte realizada’, tal como vivemos no meio da Natureza?Carlos Nejar, poeta que não <strong>de</strong>monstra nenhuma adoração aosídolos da era técnica, resiste à idéia <strong>de</strong> que a arte, em particular a poesia,venha a <strong>de</strong>saparecer. As linguagens criadas pela cultura são monumentos,e os monumentos, ensina-nos Ernst Cassirer, costumam‘durar’, pois não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> transmissibilida<strong>de</strong> hereditária. Daíacreditar – assim pensava Eliot – que a cultura não se herda: conquista-secom muito esforço. E uma vez conquistada, não se <strong>de</strong>ixahipnotizar, como ocorre com largos segmentos das massas humanas,pela mídia sofisticada, repressiva, <strong>de</strong>sidiosa que domina os mo<strong>de</strong>rnosmeios <strong>de</strong> comunicação, a serviço <strong>de</strong> interesses políticos e da economia<strong>de</strong> mercado.Carlos Nejar publicou seus primeiros livros na década <strong>de</strong> 60.Des<strong>de</strong> seu aparecimento, goza <strong>de</strong> sólida reputação nos meios intelectuais.O ‘fim’ da arte, possivelmente, está presente aos movimentos<strong>de</strong> seu espírito, mas ele faz o quanto é possível, em seu relato épico-lírico,para anular nas obras que escreve aquilo a que Luc Ferry<strong>de</strong>nomina as partes subjetivas da aparência. Thomas Mann, com rigor,exuberância e beleza, mostrou-nos a “tragédia da arte mo<strong>de</strong>r-150

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!