José Lins do Rego:cem anosMurilo Melo FilhoNeste ano <strong>de</strong> 2001, completa-se exatamente um século donascimento, no Engenho Corredor, município paraibano<strong>de</strong> Pilar, <strong>de</strong> José Lins do Rego Cavalcanti, ou simplesmente Zélins,como é chamado e assim escrito na sua Paraíba.Ele foi um dos principais lí<strong>de</strong>res da revolução que se processouno mo<strong>de</strong>rno romance brasileiro, regionalista e nor<strong>de</strong>stino, ao lado<strong>de</strong> Amando Fontes, José Américo, Graciliano Ramos, Jorge Amadoe Rachel <strong>de</strong> Queiroz, com ênfase nas temáticas da cana-<strong>de</strong>-açúcar,do cangaço, do misticismo e da seca.Ao longo do “ciclo da cana-<strong>de</strong>-açúcar”, sobretudo em Menino <strong>de</strong>engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934) e Fogo morto (1943) –lançado em pleno apogeu do nazi-fascismo – o personagem que permeiaquase todas as suas tramas é o todo-po<strong>de</strong>roso e hegemônicochefão <strong>de</strong> engenho, com suas greis restritas. E o pano <strong>de</strong> fundo quese abre como palcoéodacasa-gran<strong>de</strong> e da senzala. Daí talvez a suaimensa afinida<strong>de</strong> e intensas relações com Gilberto Freyre.O jornalistaMurilo MeloFilho ocupa aCa<strong>de</strong>ira 20 daABL. Trabalha naimprensa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os18 anos. Comorepórter político,escreveu centenas<strong>de</strong> reportagenssobre o Brasil,entrevistoupersonalida<strong>de</strong>s domundo inteiro etem vários livrospublicados, entreos quais O mo<strong>de</strong>lobrasileiro eTestemunho político.103
Murilo Melo FilhoSeu primeiro livro, Menino <strong>de</strong> engenho, em 1932, foi rejeitado portodos os editores. Só veio à luz custeado pelo bolso do próprio autor,mas teve os dois mil exemplares da sua 1 a edição esgotados emtrês meses, após ter sido saudado efusivamente por João Ribeiro,crítico literário do Jornal do Brasil, que consi<strong>de</strong>rou o romance “um livro<strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m, escrito numa linguagem nor<strong>de</strong>stina, alheiaao vernaculismo e aos artifícios da literatura corrente”. Com esse seulivro <strong>de</strong> estréia, ganhou o prêmio da Fundação Graça Aranha.Já no “ciclo do cangaço, do misticismo e da seca”, ao qual pertencemUsina (1936), Pedra Bonita (1938) e Os cangaceiros (1953), comvinculações em Moleque Ricardo (1935), Pureza (1937) e Riacho Doce(1939) – era quase um livro por ano –, os protagonistas são quasesempre aqueles errantes bandoleiros do Nor<strong>de</strong>ste, os santeiros, osmessias, os taumaturgos e os beatos, cuja saga é <strong>de</strong>scrita em cores vivase excitantes.Com suas inesgotáveis reservas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> ficcionista, José Linsconseguiu escrever tantos livros <strong>de</strong> ambiências iguais e assemelhadas,mas <strong>de</strong> interesse distinto e permanente.Memorialista. Ele é um neo-realista do romance posterior aoMo<strong>de</strong>rnismo que, como exímio memorialista, vai buscar na sua meninicee na sua juventu<strong>de</strong> a inspiração para os provocantes enredos,que pren<strong>de</strong>m o leitor da primeira à última página dos seus romances,numa tessitura sobre o feiticismo da paisagem, do vento, do massapê,dos canaviais, dos poentes, dos rios, das chuvas, das cigarras, dasserras, da mata, da várzea, da floresta, da caatinga.Dizia ele: “Sou um literato da cabeça aos pés e nada me arreda <strong>de</strong>arrancar das entranhas da terra a seiva dos meus romances.”A imaginação e a memória são duas vertentes e viés que balizam esinalizam quase toda a área do trabalho zelinsniano, no qual estápresente uma simbiose da pobreza com o <strong>de</strong>samparo, da tristeza104
- Page 1: Disco de Faístos, CretaMuseu do Lo
- Page 6 and 7: Diretrizes do culturalismoO ‘cult
- Page 8 and 9: Diretrizes do culturalismode propri
- Page 10: Diretrizes do culturalismotico do e
- Page 13 and 14: Arnaldo Niskierescolas públicas do
- Page 15 and 16: Arnaldo NiskierAlguém menos avisad
- Page 17 and 18: Arnaldo Niskier- A humanização, o
- Page 20 and 21: Eça de Queirós eEduardo PradoJoã
- Page 22 and 23: Eça de Queirós e Eduardo PradoNes
- Page 24 and 25: Eça de Queirós e Eduardo Pradouma
- Page 26 and 27: Eça de Queirós e Eduardo Pradopes
- Page 28: Eça de Queirós e Eduardo Pradosoc
- Page 31 and 32: João de ScantimburgoPrado que Eça
- Page 33 and 34: João de Scantimburgo16 AntônioSar
- Page 35 and 36: João de Scantimburgovelhos resídu
- Page 37 and 38: João de ScantimburgoEduardo tudo p
- Page 39 and 40: João de ScantimburgoAs personagens
- Page 41 and 42: João Guimarães Rosa e os pais, Do
- Page 43 and 44: Carlos Heitor Conyno Itamaraty, Jo
- Page 45 and 46: Carlos Heitor Conyera primária, a
- Page 47 and 48: Carlos Heitor Conyalma ao demônio
- Page 49: José Lins do Rego, de Portinari, 1
- Page 53 and 54: Murilo Melo Filhopessimista do regi
- Page 55 and 56: Murilo Melo FilhoFaleceu no Hospita
- Page 57 and 58: Louis Pasteur(1822-1895)
- Page 59 and 60: Carlos A. LeiteO Instituto Pasteur
- Page 61 and 62: Carlos A. Leitepara evitar as crít
- Page 64 and 65: Pessoa: personagense poesiaMilton V
- Page 66 and 67: Pessoa: personagens e poesiacomo ob
- Page 68 and 69: Pessoa: personagens e poesiaancestr
- Page 70 and 71: Pessoa: personagens e poesiaPor cim
- Page 72 and 73: Pessoa: personagens e poesiaE gozan
- Page 74 and 75: Pessoa: personagens e poesiaJá se
- Page 76 and 77: Pessoa: personagens e poesiamitos,
- Page 78 and 79: Pessoa: personagens e poesiado poet
- Page 80 and 81: Pessoa: personagens e poesiaE a gl
- Page 82 and 83: Pessoa: personagens e poesiaAntes d
- Page 84 and 85: Pessoa: personagens e poesiaVem sen
- Page 86 and 87: Pessoa: personagens e poesiaReis, o
- Page 88 and 89: Pessoa: personagens e poesiatoso e
- Page 90 and 91: Pessoa: personagens e poesiaTrago d
- Page 92 and 93: Pessoa: personagens e poesiaórfico
- Page 94 and 95: Pessoa: personagens e poesia Afinal
- Page 96 and 97: Os viventesCésar LealMitos, pessoa
- Page 98 and 99: Os viventesna”, em um de seus úl
- Page 100 and 101:
Os viventesnamento, arrasta consigo
- Page 102 and 103:
Os viventesteza de um imenso rio de
- Page 104 and 105:
Os viventesAs imagens não buscam s
- Page 106 and 107:
Os viventesPode o coraçãocorrer c
- Page 108 and 109:
Nosso DickensJosé Guilherme Merqui
- Page 110 and 111:
Nosso Dickensde Jorge Amado. Os mes
- Page 112:
Nosso DickensQuando Ernest Gellner,