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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Carlos Heitor Conyalma ao <strong>de</strong>mônio para obter a música <strong>de</strong>sejada, tal como o seu antepassadogoethiano ven<strong>de</strong>ra a alma para recuperar a mocida<strong>de</strong>. “O jagunçoRiobaldo e o compositor Leverkuhen– analisa um crítico –têm, cada qual a seu modo, uma tarefa a cumprir, tarefa que está além<strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s. É preciso, então, convocar a energia obscura pormeio do pacto diabólico.” Conquistado o gran<strong>de</strong> fim (a morte dobandido Hermógenes para Riobaldo, a criação da gran<strong>de</strong> música paraLeverkuhen), os dois personagens se retiram para uma espécie <strong>de</strong> aposentadoriasinistra: o compositor, minado pela sífilis, torna-se idiota.Riobaldo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> graves doenças e <strong>de</strong>lírios, transforma-se num caipirapensativo e estéril. Em ambos os casos, a narração é feita <strong>de</strong> memória,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>corridos alguns anos dos fatos principais.Thomas Mann e Guimarães Rosa eram, acima <strong>de</strong> tudo, homenseruditos, dois humanistas no sentido pleno e nobre da palavra. Elesespremeriam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas histórias, por mais banais que parecessem,a carga cultural que os condicionava. Daí, muita gente tirou suas conclusõesa respeito do Dr. Faustus e o regime nazista. E pelo mesmo processomuitos leitores e críticos enxergaram na obra <strong>de</strong> GuimarãesRosa uma ontologia, uma metafísica e até mesmo uma teologia. Ocerto é que o romance <strong>de</strong> Rosa guarda todas as proporções <strong>de</strong> umaepopéia medieval–eopróprio Sertão que serve <strong>de</strong> cenário, sujeito epredicado da ação, é uma ilha medieval cravada no imenso corpo doBrasil. O livro, assim, entendido, resulta numa canção <strong>de</strong> gesta, on<strong>de</strong> otrovador (o ex-jagunço Riobaldo) narra ou canta – para um presumívelouvinte – “a sua vida <strong>de</strong> aventura, tendo como leit-motiv o seu amorimpossível por Diadorim e a sua ânsia do absoluto”.Guimarães Rosa não chegou, como querem alguns, a criar umalíngua realmente nova, embora tenha empregado uma linguagem criadapara ele. Quem está habituado a ler os clássicos, sobretudo osquinhentistas, i<strong>de</strong>ntifica o filão que abastece a sua prosa. Lembremoscomo exemplo um texto conhecido, o da carta <strong>de</strong> Pero Vaz Caminha:“Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa von-100

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