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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Milton VargasNa “Saudação a Walt Whitman”, logo percebemos a i<strong>de</strong>ntificaçãodo poeta Álvaro <strong>de</strong> Campos com o poeta americano. Se, antes,na “O<strong>de</strong> marítima” se entregara femininamente a todas as violações,<strong>de</strong> tudo participando na própria carne, na “Saudação” é uma pessoaobjetiva como totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> irrestrito amor por tudo o que há: maresdo mundo e subjetivida<strong>de</strong> profunda, corpo e alma, <strong>de</strong>ntro e fora:E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos <strong>de</strong> mãos dadas,De mãos dadas, Walt, <strong>de</strong> mãos dadas, dançando o universo na alma.Ó sempre mo<strong>de</strong>rno e eterno, cantor dos concretos absolutos,Concubina fogosa do universo disperso,Gran<strong>de</strong> pe<strong>de</strong>rasta roçando-te contra a diversida<strong>de</strong> das coisas,................................................................................................Cantor da fraternida<strong>de</strong> feroz e terna com tudo.É impossível não ver nessa imagem do amante incondicional datotalida<strong>de</strong>, que quer ser ativamente masculino e, ao mesmo tempo,mulher violentada em sua ânsia amorosa por tudo, o poeta português,muito mais do que Walt Whitman. Nessa saudação, que émuito mais o retrato do primeiro do que do segundo, compreen<strong>de</strong>moso modo <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> Pessoa, e muito pouco do poeta <strong>de</strong> Leaves ofGrass. Caeiro – a sensação e o corpo <strong>de</strong> todos os heterônimos e dopróprio Pessoa – parece intervir em certas passagens:Não quero intervalos no mundo!Quero a contigüida<strong>de</strong> penetrada e material dos objetos!Quero que os corpos físicos sejam um dos outros como as almas,Não só dinamicamente, mas estaticamente também!É o mesmo transbordamento insaciável que dá prosseguimento à“Passagem das horas”, poema <strong>de</strong> 1916:142

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