Pessoa: personagens e poesiatoso e ambivalente <strong>de</strong> um amor infeliz. Po<strong>de</strong>mos percebê-lo na“O<strong>de</strong> triunfal” e na “O<strong>de</strong> marítima” e também na “Saudação aWalt Whitman”: “Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera /Amo-vos carnivoramente, / Pervertidamente e enroscando aminha vista / Em vós, ó coisas gran<strong>de</strong>s, banais, úteis, inúteis / Ócoisas todas mo<strong>de</strong>rnas.” E não é raro que esse frenético amor pelahumanida<strong>de</strong> seja transfigurado no simbolismo da viagem –enamais simbólica das viagens: a marítima –, percorrendo os maresque abraçam, mas que também separam toda a humanida<strong>de</strong>.Como <strong>de</strong>ve ressoar fortemente para um português “o chamamentoconfuso das águas”:E eu, que amo a civilização mo<strong>de</strong>rna, eu que beijo com a alma as máquinasEu o engenheiro, eu o civilizado, eu o educado no estrangeiro,Gostaria <strong>de</strong> ter outra vez ao pé da minha vista só veleiros e barcos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,De não saber doutra vida marítima que a antiga vida dos mares!Porque os mares antigos são a Distância Absoluta,O Puro Longe, liberto do peso do Atual...E ah, como aqui tudo me lembra essa vida melhor,Esses mares, maiores, porque se navega mais <strong>de</strong>vagar.Esses mares misteriosos, porque se sabia menos <strong>de</strong>les.A princípio, a “O<strong>de</strong> marítima” é a evocação da viagem comoaventura pelos mares do mundo, a encontrar estranha gente em lugaresestranhos. Mas logo se transforma no mergulho pelos mares tenebrososda obscura interiorida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> há piratas terríveis, se<strong>de</strong>ntos<strong>de</strong> sangue, cheios <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong> e paroxismo. Mas tudo termina,num tom ao mesmo tempo sarcástico e seco, pela retomada da regularida<strong>de</strong>exigida pelo tráfego comercial, dirigido por faturas e cartasprotocolares, que garantem a segurança da carga a ser conduzida a<strong>de</strong>stino certo.141
Milton VargasNa “Saudação a Walt Whitman”, logo percebemos a i<strong>de</strong>ntificaçãodo poeta Álvaro <strong>de</strong> Campos com o poeta americano. Se, antes,na “O<strong>de</strong> marítima” se entregara femininamente a todas as violações,<strong>de</strong> tudo participando na própria carne, na “Saudação” é uma pessoaobjetiva como totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> irrestrito amor por tudo o que há: maresdo mundo e subjetivida<strong>de</strong> profunda, corpo e alma, <strong>de</strong>ntro e fora:E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos <strong>de</strong> mãos dadas,De mãos dadas, Walt, <strong>de</strong> mãos dadas, dançando o universo na alma.Ó sempre mo<strong>de</strong>rno e eterno, cantor dos concretos absolutos,Concubina fogosa do universo disperso,Gran<strong>de</strong> pe<strong>de</strong>rasta roçando-te contra a diversida<strong>de</strong> das coisas,................................................................................................Cantor da fraternida<strong>de</strong> feroz e terna com tudo.É impossível não ver nessa imagem do amante incondicional datotalida<strong>de</strong>, que quer ser ativamente masculino e, ao mesmo tempo,mulher violentada em sua ânsia amorosa por tudo, o poeta português,muito mais do que Walt Whitman. Nessa saudação, que émuito mais o retrato do primeiro do que do segundo, compreen<strong>de</strong>moso modo <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> Pessoa, e muito pouco do poeta <strong>de</strong> Leaves ofGrass. Caeiro – a sensação e o corpo <strong>de</strong> todos os heterônimos e dopróprio Pessoa – parece intervir em certas passagens:Não quero intervalos no mundo!Quero a contigüida<strong>de</strong> penetrada e material dos objetos!Quero que os corpos físicos sejam um dos outros como as almas,Não só dinamicamente, mas estaticamente também!É o mesmo transbordamento insaciável que dá prosseguimento à“Passagem das horas”, poema <strong>de</strong> 1916:142
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