12.07.2015 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

José Guilherme Merquiorcanela levou uns bons vinte anos para alcançar um milhão <strong>de</strong> exemplares– tiragem entre nós espetacular, mas banal no mundo do romanceem inglês, já que ao alcance da primeira edição <strong>de</strong> qualquerHarold Robbins, Leon Uris ou Arthur Hailey, o tal <strong>de</strong> Aeroporto, Hotel,Hospital, etc.; e somente agora, que ele caiu tanto <strong>de</strong> nível, <strong>de</strong> GarciaMárquez, com essa lamentável Crônica <strong>de</strong> uma morte anunciada.Não é, portanto, no seu uso que resi<strong>de</strong> a robusta vocação popularda obra amadiana: é antes na sua forma, conteúdo e mensagem (emprego<strong>de</strong> propósito essas duas últimas palavras, seqüestradas pela pedantocraciaformalista que usurpou o discurso crítico na atualida<strong>de</strong>).Mas aqui, o “caso” Jorge Amado é um mar <strong>de</strong> equívocos. Nossoescritor duplamente mais popular, assim que purgou seus livros dacatequese política, viu-se confrontado com os catões da i<strong>de</strong>ologia.Quando Gabriela surgiu, o plantão da ortodoxia comunista con<strong>de</strong>nou-lhea visão “amoral e carnavalesca” – visão, segundo o mesmocensor, própria apenas das classes altas e marginais, como se a saga<strong>de</strong> Mundinho, Nacib e sua saborosa cozinheira exprimisse tão-só aótica “<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte” da grã-finagem e do lumpemproletariado, indignada virtu<strong>de</strong> proletária... Não admira que uma das nossas mediocrida<strong>de</strong>smais pretensiosas tenha consi<strong>de</strong>rado o livro uma encomendapartidária, escrita pelo ex-staliniano autor dos Subterrâneos da liberda<strong>de</strong>para bajular a política revisionista <strong>de</strong> Kruschev!Quanto à crítica propriamente dita, se não engrossou tanto, nempor isso <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> brandir preconceitos. “Populismo literário”, diziamos bem-pensantes do progressismo –, e torciam o nariz a tamanhafuga aos ditames do realismo crítico. São Lukács, invocado paraa canonização <strong>de</strong> Graciliano, servia para a excomunhão ritual do autor<strong>de</strong> Jubiabá, no entanto publicado no mesmo fecundo triênio – omeio dos anos 30 – que viu nascer São Bernardo e Angústia.O que constrangia toda essa crítica, dona da verda<strong>de</strong> e senhorado Sentido da História, era a irredutível constante “romântica”162

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!