Os viventesna”, em um <strong>de</strong> seus últimos gran<strong>de</strong>s romances: o Doutor Fausto, <strong>de</strong>nunciando-a,como um trabalho do Demônio. Tais <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong>ssaspessimistas visões sobre o futuro da arte contemporânea reforçama confiança <strong>de</strong> Carlos Nejar na persistência da arte, através dostempos, ao invés <strong>de</strong> aceitá-las como válidas, como fazem as vanguardassibilinas e filisteínas, sempre atentas em atrair à sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> mentirase mistificações o leitor <strong>de</strong>sprevenido.Há um eco do profetismo hegeliano no pensamento <strong>de</strong> Mondrian.Para o pintor holandês, não estamos distante daquele momento emque a realização do puramente escultórico, na realida<strong>de</strong>, substituirá aobra <strong>de</strong> arte. Então não haverá necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quadros. O que tinha <strong>de</strong>ser feito já o fizeram os pintores anteriores ao nosso tempo. Mondrianfala <strong>de</strong> uma ‘contra-natureza’, que será adotada e nela <strong>de</strong>sapareceráo artista. Assim, iremos viver em meio da arte realizada. Para Mondrian,essa contra-natureza será a construção elevada à ‘categoria <strong>de</strong> ídolo’.Tal contra-natureza será orientada – diz o pintor – pelo cientismo epela técnica. Acredito que há um forte componente <strong>de</strong> ironia nas afirmações<strong>de</strong> Mondrian. Se assim for, Mondrian está <strong>de</strong> nosso lado.Mas, quando ele afirmou isso, podia estar a falar com toda a serieda<strong>de</strong>.A ironia só é ironia quando comporta elevados índices <strong>de</strong> ambigüida<strong>de</strong>.Não po<strong>de</strong>mos duvidar <strong>de</strong> um artista teoricamente bem armado,quando ele diz que “a arte <strong>de</strong>saparecerá na medida em que a vida tenhamais equilíbrio, na medida simplesmente em que tenha adotado anova ‘contra-natureza’, e nela <strong>de</strong>saparecido”. De qualquer forma –ironia ou não – se Mondrian assim fala, tendo em vista principalmentea pintura, então po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r sua profecia às <strong>de</strong>mais artes, como,em relação à música, Thomas Mann fez o Demônio <strong>de</strong>monstrar, coma mais rica erudição histórica e filosófica, ser contra as obras,emuma<strong>de</strong> suas conversas com Adrian Leverkühn.151
César LealO poeta <strong>de</strong> Os viventes resiste à elástica simplicida<strong>de</strong> dos que, emborase julgando artistas, são incapazes <strong>de</strong> distinguir a arte da não-arte,o falso do verda<strong>de</strong>iro. Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, ao escreversobre o livro <strong>de</strong> Nejar, por ocasião <strong>de</strong> seu aparecimento em 1979,afirmou que Os viventes é uma criação on<strong>de</strong> o próprio Drummondsentia o calor existencial, “é obra que, suce<strong>de</strong>ndo ao canto, anterior,e antecipando o canto que continuará extraindo <strong>de</strong> sua mina poética,nos dá um belo exemplo <strong>de</strong> permanência e invenção contínua”, escreveuo autor <strong>de</strong> O sentimento do mundo ao proclamar a importância<strong>de</strong>sse livro.Os viventes se divi<strong>de</strong>m em oito partes, a começar com o Anel do vento eterminando com O Livro das Bestas. Entre essa coor<strong>de</strong>nada bipolar estãoos gran<strong>de</strong>s poemas bíblicos, os profetas, Moisés, Lázaro, os pequenose os gran<strong>de</strong>s do Velho e do Novo Testamento. No canto inicial, se lêque nos Viventes tudo é julgado, ou é julgamento in progress.Viventes o que sabeis– que mundo o poema! – ?Em sua terranada se queima.Viventes o que sabeisda morte e o restose nem sabemos <strong>de</strong> nósno anel do vento?Como diria o Dr. Richards, na poesia <strong>de</strong> Nejar po<strong>de</strong>mos observarum conjunto <strong>de</strong> aspectos dos quais “participam não só os acontecimentosmentais, mas também todos os acontecimentos”. Assim é nopoema a “Casa dos nomes”. Indaga-se, inicialmente, pela Casa Amarelae a resposta é que tal casa, ao iniciar o seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoro-152
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