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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Milton Vargas<strong>de</strong>le se apo<strong>de</strong>rando, e <strong>de</strong>le fazendo seu instrumento. Segundo a concepçãojunguiana expressa em “Psicologia e poesia” e en<strong>de</strong>reçando-aa Fernando Pessoa por minha conta: “Em última análise, o que oanima e nele quer não é ele mesmo enquanto instância pessoal, mas aobra <strong>de</strong> arte a criar.”Para conferirmos esta temática com a realida<strong>de</strong>, seria necessáriorecorrer a alguém que tivesse convivido com ele, e dotado <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>para captar os sinais que confirmassem ou negassem o que foidito. Esse alguém felizmente existiu. Foi Casais Monteiro, que nosforneceu os dados que confirmam a teoria.Neste sentido, Casais Monteiro cita dois pontos <strong>de</strong> real importância.Primeiro, testemunha que os heterônimos não são “invençõesda inteligência” <strong>de</strong> Fernando Pessoa, antes, brotando “instintivae subconscientemente” <strong>de</strong> sua mente. De início, os personagensbrotam autônomos, como no caso <strong>de</strong> Alberto Caeiro na noite<strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1914. Só então é que o centro consciente <strong>de</strong> Pessoaos “fixa em mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>”, como diz o próprio poeta emcarta a Casais Monteiro: “Graduei as influências, conheci as amiza<strong>de</strong>s,ouvi <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim as discussões e as divergências <strong>de</strong> critérios,e, em tudo isso, me parece que fui eu, criador <strong>de</strong> tudo, o menos que alihouve. Parece que tudo se passou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> mim. E pareceque assim se passa.”O segundo ponto importante no <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Casais Monteiroé sua observação acerca da intemporalida<strong>de</strong> e da falta <strong>de</strong> evolução dapoesia <strong>de</strong> Fernando Pessoa, confirmada e admitida pelo próprio poeta.Diz ele: “Tenho uma vaga idéia <strong>de</strong> ter escrito a Fernando Pessoamais ou menos neste teor: a sua obra me parecia testemunha <strong>de</strong> umaintemporalida<strong>de</strong> quase absoluta, não havendo nela nem passado, nemfuturo; mas apenas um eterno atual, que é o verda<strong>de</strong>iro tempo em que<strong>de</strong> fato vivem os gran<strong>de</strong>s imaginativos.” Ao que respon<strong>de</strong>u FernandoPessoa: “O que sou essencialmente por trás das máscaras involuntárias130

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