Eça <strong>de</strong> Queirós eEduardo PradoJoão <strong>de</strong> ScantimburgoFenômeno psicológico, a simpatia mereceu <strong>de</strong> Max Schelerprofundo e <strong>de</strong>nso estudo na filosofia <strong>de</strong>ste século. Segundoo filósofo, a simpatia é o próprio fundamento do sentimento social,e consiste em participarmos do outro, enquanto outro. Acentua o filósofoque “todo o participar implica a intenção <strong>de</strong> sentir dor ou alegriapela vivência do próximo”. 1 Opera-se a i<strong>de</strong>ntificação entre doissujeitos através <strong>de</strong>sse profundo mistério psíquico, o qual, a rigor, <strong>de</strong>veriaatormentar todos os filósofos. Temos simpatia ou antipatia,não raro gratuitamente, sem encontrarmos explicação para o estadoda alma em que nos encontramos. O cristão, por exemplo, <strong>de</strong>ve sersimpático e <strong>de</strong>spertar simpatia, mas nem sempre o consegue, poistodos carregamos conosco, durante a vida inteira, essa incógnita psíquicaque se <strong>de</strong>nomina simpatia, ou seu antônimo, a antipatia. MasScheler foi ao âmago da questão, e outros filósofos também a estudaram.Já o velho Aristóteles meditou sobre a simpatia. Atribui-lheo sentido <strong>de</strong> estado afetivo consciente, e qualifica-a como virtu<strong>de</strong>,João <strong>de</strong>Scantimburgoé jornalista,ensaísta,historiador,autor <strong>de</strong> Tratadogeral do Brasil,Introdução àfilosofia <strong>de</strong> MauriceBlon<strong>de</strong>l, Ospaulistas, Memóriasda Pensão Humaitá(lembrançasda casa dohistoriador Yan<strong>de</strong> AlmeidaPrado), Eça <strong>de</strong>Queiroz e atradição.73
João <strong>de</strong> Scantimburgo1 Max Scheler,Esencia y forma <strong>de</strong>la simpatia,Buenos Aires,EditorialLosada, 1943,passim2 Et. Nic., VIII, I.3 Émile Brehier,Historia <strong>de</strong> laFilosofia. BuenosAires, EditorialSudamericana,1942, passim.4 HenriBergson,Évolutioncréatrice. Paris,PUF, 1969,p. 179.ou sempre acompanhada <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, vendo nela, ainda, uma das necessida<strong>de</strong>sa vida. 2 Adam Smith, conhecido pelo seu tratado A riquezadas nações, foi um moralista. A sua Teoria dos sentimentos morais trata dasimpatia. Para Smith a simpatia concorda com o sentimento que asnações <strong>de</strong>ixam transparecer. Ainda segundo o autor, a simpatia não éuma espécie <strong>de</strong> intuição que leva o ser humano a se introduzir naconsciência do outro. 3 Para Bergson, a intuição conduz a inteligênciaa reconhecer que a vida não entra nem na categoria do múltiplo nemdo uno, que nem pela causalida<strong>de</strong> mecânica nem pela comunicaçãosimpática se estabelece relação entre seres vivos. Pela dilatação queobterá <strong>de</strong> nossa consciência, ela nos introduzirá no próprio domínioda vida, a qual é compenetração recíproca e criação in<strong>de</strong>finidamentecontinuada. 4Não nos <strong>de</strong>teremos no fenômeno. Fomos buscar em Max Schelere outros filósofos uma <strong>de</strong>finição. Consignando-a aqui, procuramostomá-la na exatidão <strong>de</strong> seus termos. Pela simpatia realiza-se a fusão<strong>de</strong> dois seres, não no sentido amoroso ou erótico, mas no sentidoético. Não haveria amiza<strong>de</strong>s duradouras, não haveria casamento, nãohaveria fraternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> idéias e i<strong>de</strong>ais, não haveria comunhão <strong>de</strong> sentimentosse não palpitasse no fundo <strong>de</strong> cada ser humano esse enigmainsondável a que se dá o nome <strong>de</strong> simpatia. As ciências do espírito<strong>de</strong>vem levar em conta esse fato, para interpretarem as ações do serhumano em toda a complexida<strong>de</strong>, da sua formação profunda à suaexpressão em atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>finidas. Tomando a simpatia como amor,no sentido elevado da palavra, todos os filósofos <strong>de</strong>la se ocuparam, emais ainda o fizeram os teólogos, sobretudo quando estudaram e interpretaramo versículo primeiro do Evangelho segundo São João.Max Scheler tratou objetivamente do tema no capítulo das relaçõesdo amor com a simpatia. Baste-nos, por isso, o conceito do filósofoe o que disseram outros.74
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