Chicos 45
e-zine literária de Cataguases - MG
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<strong>Chicos</strong> <strong>45</strong><br />
Ele produziu a obra memorialística mais importante<br />
da literatura brasileira. É um mergulho no<br />
inconsciente coletivo brasileiro. Seu livro Baú de<br />
ossos, segundo Otto Lara Resende, sozinho<br />
“funda toda uma cultura” deu-me o que toneladas<br />
de jornais nunca darão. Há muito tempo o<br />
amigo Emerson Teixeira Cardoso, o Toquinho,<br />
sugeriu-me ler Pedro Nava, o que recomendo a<br />
todos. Ele tem gosto pela temática e seus autores;<br />
é capaz de, com entusiasmo, falar-nos de<br />
coisas como o ambiente pecaminoso e sem escrúpulos<br />
dos internatos masculino de Balão Cativo<br />
e Chão de ferro do Pedro Nava e do O Ateneu<br />
de Raul Pompéia. Segundo Toquinho a fieira de<br />
autores é grande, vem desde Visconde de Taunay<br />
que escreveu sobre os absurdos e atrocidades da<br />
Guerra do Paraguai. Até mesmo Machado de Assis<br />
com Memórias póstumas de Brás Cubas e<br />
Memorial de Aires, nos permitem andar pela história<br />
tanto quanto obras como Itinerário de Pasárgada<br />
de Manuel Bandeira; Um homem sem<br />
profissão: Sob as ordens de mamãe de Oswald de<br />
Andrade; A idade do serrote de Murilo Mendes;<br />
Viagem no tempo e no espaço, de Cassiano Ricardo.<br />
A literatura ensinou-me muito mais do que vários<br />
professores que passaram pela minha vida e<br />
olhe que muitos eram ótimos. Mostraram-me as<br />
diversas realidades do país. A realidade de Itaobim,<br />
onde nasceu meu pai, a de Cataguases, onde<br />
nasci, e a de Curitiba, onde nasceu meu primo<br />
(só para ficar entre nós), são distintas e até divergentes,<br />
são poucas as convergências. As visões<br />
de Brasil serão sempre diferentes. Nossos<br />
espasmos democráticos não resistem às mesquinharias<br />
de nosso anacronismo político, eles teimam<br />
em não evoluir, turbinados por uma histórica<br />
e resiliente burrice. Mesmo porque os detentores<br />
do poder não querem mudar nada. Não dá<br />
para ficar preso neste discurso do sim-não, certo<br />
-errado, black-white. Isto é reducionismo. A nossa<br />
diversidade é enorme. Somos enquanto raça:<br />
brancos, pretos, amarelos e mestiços. Até os gêneros<br />
não cabem mais no binário masculinofeminino.<br />
Infelizmente a mídia monocórdica retrata<br />
uma realidade filtrada, é só o que o dono da<br />
pauta quer que o leitor veja. E o leitor só compra<br />
o que repete seu olhar. Não gostam de ser confrontados<br />
com o novo, o diferente. Preferem, como<br />
bem dizia Raul Seixas: "ter aquela velha opinião<br />
formada sobre tudo".<br />
Eu não quero viver dentro deste círculo.<br />
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