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Chicos 45

e-zine literária de Cataguases - MG

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<strong>Chicos</strong> <strong>45</strong><br />

As roseiras trepam pelos muros e as rosas são<br />

enormes. Insetos minúsculos, vermelhos, que penso<br />

serem formigas e, de perto, constato que são aranhas.<br />

Que as antigas romanas engoliam vivas, pensando<br />

que ajudavam a digerir o que comiam em excesso,<br />

diminuindo-lhes a obesidade. Aqui e ali um<br />

pinheiro, o ‘pinus italicus’, árvore típica de Roma,<br />

bonita pra chuchu. Também muitos ciprestes. Araújo<br />

Neto, correspondente do Jornal do Brasil, disse<br />

que italiano não gosta de árvore, mas sou de outra<br />

opinião: nas cidades, as árvores escondem a beleza<br />

dos prédios. E prédio bonito é o que mais tem na<br />

Itália.<br />

E os fóruns de César, Augusto, Nerva,<br />

Trajano, Adriano, este com a bela coluna contando<br />

suas façanhas, considerada a primeira<br />

história em quadrinhos. A Piazza e o Palazzo<br />

Venezia (de onde Mussolini arrotava sua prepotência)<br />

e aquela impostura, o monumento a<br />

Vittorio Emmanuelle, pela unificação da Itália,<br />

ocorrida em 1860 (antes eram vários reinos). Até<br />

bonito, embora imite o estilo romano clássico e<br />

não deveria estar aqui, não combina com as ruínas,<br />

ao contrário do Campidoglio, em que Michelangelo<br />

imprimiu o estilo de sua época e<br />

não tentou imitar ninguém. Vide adiante.<br />

À esquerda, o ‘vittoriano’, depois, uma igreja medieval e o Campidoglio.<br />

Numa esquina, bomba de gasolina do começo do<br />

século 20. Tudo que funciona, europeu deixa no lugar,<br />

basta dizer que aqui na Itália quase não tem su<br />

­permercados, mas aquelas vendinhas, negócios de<br />

famiglia, per omnia sæculæ. E manilhas conduzindo<br />

merda de gente desde o Império Romano. Vou<br />

pela Via del Corso, lojas elegantes, aqueles palazzi<br />

de cinema, jardins internos, estátuas, chafarizes,<br />

plantas. A Piazza Collona, onde pontifica a coluna<br />

de Marco Aurélio, feito a de Adriano. Marco Aurélio,<br />

o imperador-filósofo, do qual guardei esta frase:<br />

‘Cumpre ser direito, não desentortado’. Vou em<br />

frente, até a Via Antonio Canova, onde o ateliêmuseu<br />

dele. Escultor neoclássico, não me faz a cabeça.<br />

O ateliê, sim, com esculturas incrustadas nas<br />

paredes, velho costume romano.<br />

Volto à Corso e saio na Piazza del Poppolo, bonitona,<br />

pra variar. Via del Babuino até Piazza di Spagna,<br />

um desbunde. À direita da escadaria, casamuseu<br />

em que moraram Keats e Shelley, dois putas<br />

poetas ingleses. Desço pela Via dei Condotti,<br />

onde se exibem as grandes grifes da moda. E o Caffè<br />

Greco, mais do meu gosto, contudo, lugar de milionário<br />

não é pro meu bico. E chega a hora de encontrar<br />

Moura e Marilene, como combinado. Emocionados,<br />

tomamos um uísque e vamos ver uma exposição<br />

de impressionistas dos museus soviéticos.<br />

Vale lembrar que Francisco Inácio Peixoto escreveu<br />

que, até o impressionismo, as autoridades de lá<br />

permitiam expor; os posteriores eram comprados,<br />

mas escondidos – ‘arte degenerada’, sentenciou<br />

Stalin –, incluindo o ‘comunista’ Picasso.<br />

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