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Chicos 45

e-zine literária de Cataguases - MG

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<strong>Chicos</strong> <strong>45</strong><br />

O banheiro do hotel tem, se muito, um metro<br />

quadrado, em fibra de vidro branca. O vaso,<br />

também bidê, é dobrável, assim como a pia, para<br />

dar espaço ao banho. Boa solução para adaptar<br />

prédios históricos às necessidades atuais,<br />

pois os antigos jogavam sua sujeira pela janela.<br />

Na parede, um pernilongo, que mato. E volto à<br />

San Marco. Num quarteirão a rua é tão estreita<br />

que espero passar uma fila de japoneses, armados<br />

de filmadoras, como sempre. Em outro, sou<br />

obrigado a ouvir o tempo todo um cara à minha<br />

frente assoviando uma música que, em português,<br />

é aquela ‘Se algum dia, à minha terra eu<br />

voltar...’ (cantada por Agnaldo Timóteo), por<br />

não poder ultrapassá-lo. Deve ser alguma canção<br />

italiana.<br />

San Marco é indescritível, portanto, não<br />

ousarei descrever. Almoço e faço uma longa caminhada<br />

por uma região quase vazia de gente,<br />

volto e procuro a Sestiere di San Marco, uma<br />

pracinha que turista não frequenta e onde a garotada<br />

local se reúne. Uns príncipes e princesas,<br />

a gente italiana é bonita demais. A ‘passegiatta’<br />

deles demora pouco e logo desaparecem, ao<br />

contrário dos espanhóis, que varam a noite nas<br />

ruas. Volto à San Marco e tomo um vinho, ouvindo<br />

as orquestras que tocam nos bares. Clássicos<br />

ligeiros, jazz, world music, MPB, por aí.<br />

Aquarela do Brasil, Garota de Ipanema e Manhã<br />

de carnaval tocam a toda hora. Esperando<br />

os Moura, que chegam e vamos jantar e colocar<br />

as abobrinhas em dia, eles encantados com Bolonha,<br />

eu, não menos, com Milão, eta ferro!<br />

Ir para o hotel é sempre um desafio, parece<br />

que na nossa ausência eles mudam os quarteirões<br />

de lugar. Da cama, ouço o schlap-schlap na<br />

água e o cantor que se acompanha ao acordeon,<br />

numa gôndola. E é noite de lua cheia. Pela manhã,<br />

vou de vaporetto ao Lido, ilha sem canais,<br />

que tem automóveis. Bairro chiquérrimo, casas<br />

ajardinadas, sem muros, dá vontade de morar<br />

aqui. De volta, vejo o Palácio Ducal por dentro,<br />

passo pela Ponte dos Suspiros e vejo um forno<br />

aceso para a fabricação de cristais. Prefiro a Accademia,<br />

diante de Mantegna, Bellini, Carpaccio,<br />

Veronese, Giorgione, Canaletto, Tintoretto<br />

e o capeta a quatro. A chamada Escola de Veneza<br />

não chega à de Florença, mas é duca.<br />

Ponte dos Suspiros e Salão do Palácio Ducal.<br />

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